Pierre BOURDIEU TEORIA DA PRÁTICA com Amahbul e os Cabilas da Argélia.

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Transcrição da apresentação:

Pierre BOURDIEU

TEORIA DA PRÁTICA com Amahbul e os Cabilas da Argélia

Sumário 1.Autor e obra 2.Terreno etnográfico 3.Amahbul e o sentido da honra 4.O jogo da troca – Revisitando Marcel Mauss 5.O ethos de Bourdieu e os teóricos da segmentaridade de Abu-Lughod 6.Reflexões finais

Sumário 1.Autor e obra 2.Terreno etnográfico 3.Amahbul e o sentido da honra 4.O jogo da troca – Revisitando Marcel Mauss 5.O ethos de Bourdieu e os teóricos da segmentaridade de Abu-Lughod 6.Reflexões finais CASANOVA, José Luís “A Teoria da Prática – Uma prática menos teorizada?” Sociologia – Problemas e Práticas, nº 17, 1995, pp CARIA, Telmo “Relendo o Esboço de uma Teoria da Prática de Pierre Bourdieu” Revista Crítica de Ciências Sociais, nº 64, 2002.

Sumário 1.Autor e obra 2.Terreno etnográfico 3.Amahbul e o sentido da honra 4.O jogo da troca – Revisitando Marcel Mauss 5.O ethos de Bourdieu e os teóricos da segmentaridade de Abu-Lughod 6.Reflexões finais

Sumário 1.Autor e obra 2.Terreno etnográfico 3.Amahbul e o sentido da honra 4.O jogo da troca – Revisitando Marcel Mauss 5.O ethos de Bourdieu e os teóricos da segmentaridade de Abu-Lughod 6.Reflexões finais

Amahbul - Individuo desavergonhado e descarado - Que ultrapassa os limites da conveniência - Que abusa de um poder arbitrário Devem ser evitados ! Não se gosta de ter uma disputa com eles, porque estão a salvo da vergonha. Quem os enfrentar será vitima mesmo que tenha razão.

Dialéctica do desafio e da resposta 1. O vizinho (Amahbul) e o muro 2. O camponês roubado pelo rendeiro (que se faz de vitima e invoca Deus) 3. A disputa entre dois “partidos” (suf) e a intervenção dos marabus Pressupõe: Reconhecimento das Regras do Jogo (do desafio e da resposta) - Para haver desafio, quem o lança reconhece no outro capacidade para o aceitar - Reconhece-lhe a qualidade de homem - Sentimento da igualdade em honra

Sentimento da igualdade em honra 1. O desafio faz a honra “ O homem que não tem inimigos …é um burrico” 2. Quem desafia quem não pode responder – Desonra-se! “ Quem está numa posição favorável deve evitar levar longe a sua vantagem” 3. Só um desafio lançado por um homem igual em honra merece resposta “ Para haver desafio é necessário que o desafiado reconheça que o primeiro é digno de o desafiar” (A afronta vinda de um individuo inferior em honra recai sobre o presunçoso) “ Aquele que respondesse às injúrias de um negro, homem de condição inferior e desprovido de honra, desonrar-se-ia a si próprio.” – Para os Cabilas um homem que não se preocupa com a honra “é um negro”

Segmentaridade ? “ Odeio o meu irmão, mas odeio aquele que o odeia.” A solidariedade impõe: - Que um indivíduo proteja um parente contra um não parente - Um aliado contra um homem de outro partido (suf) - Um habitante da aldeia (ainda que do mesmo partido) contra um estranho - Um membro da tribo contra um membro de outra tribo - Mas a honra proíbe que vários combatam contra um só

Sumário 1.Autor e obra 2.Terreno etnográfico 3.Amahbul e o sentido da honra 4.O jogo da troca – Revisitando Marcel Mauss 5.O ethos de Bourdieu e os teóricos da segmentaridade de Abu-Lughod 6.Reflexões finais

O ponto de honra - nif A competição de honra como um jogo (ritualizado e institucionalizado): - Se toda a ofensa é um desafio, nem todo o desafio é ofensa O que está em causa é o ponto de honra (nif): - Vontade de ultrapassar o outro num combate de homem a homem Dom Um desafio que honra aquele a quem se endereça: - Um dom excessivo (que exclui o contradom) desonra-se a si próprio - Possibilitar e aceitar a troca é obedecer ao ponto de honra. Ripostar é sempre um novo desafio

Sumário 1.Autor e obra 2.Terreno etnográfico 3.Amahbul e o sentido da honra 4.O jogo da troca – Revisitando Marcel Mauss 5.O ethos de Bourdieu e os teóricos da segmentaridade de Abu-Lughod 6.Reflexões finais

Ortopraxis “ O sistema dos valores de honra é mais agido que pensado” - O ethos da honra opõe-se a uma moral universal nif – hurma - haram - A honra (hurma) é o que expõe o grupo aos outros - O ponto de honra (nif) permite que o grupo responda às ofensas à honra - Protegem o sagrado, o interdito (haram) “Quanto mais vulnerável é uma família, mais nif deverá ter para defender os seus valores sagrados” -O ponto de honra só tem significação para um homem para o qual existem coisas sagradas que merecem ser defendidas

Generificação da honra ? Como se define o sagrado? - “ A sabedoria cabila responde: « A casa, a mulher, as espingardas.»”

Generificação da honra ? Como se define o sagrado? - “ A sabedoria cabila responde: « A casa, a mulher, as espingardas.»” Haram (tabu) - Sagrado esquerdo - Interior - Universo feminino - Mundo do segredo - O espaço fechado da casa

Generificação da honra ? Como se define o sagrado? - “ A sabedoria cabila responde: « A casa, a mulher, as espingardas.»” Haram (tabu) - Sagrado esquerdo - Interior - Universo feminino - Mundo do segredo - O espaço fechado da casa Thajma´th (espaço público) - Sagrado direito -“Espingardas” (grupo dos agnatos) - Virilidade - Universo masculino

Generificação da honra ? Como se define o sagrado? - “ A sabedoria cabila responde: « A casa, a mulher, as espingardas.»” Haram (tabu) - Sagrado esquerdo - Interior - Universo feminino - Mundo do segredo - O espaço fechado da casa Thajma´th (espaço público) - Sagrado direito -“Espingardas” (grupo dos agnatos) - Virilidade - Universo masculino hurmanif “O dever de defender o sagrado impõe-se como um imperativo categórico.”

Generificação da honra ?

Casamento e vestuário O mundo urbano versus aldeia cabila - No primeiro o espaço masculino e o espaço feminino interferem, pelo que a clausura e o véu garantem a proteção da intimidade - Na aldeia os dois espaços estão nitidamente separados, e o uso do véu é tradicionalmente desconhecido Pureza do sangue e honra familiar - “ A precocidade do casamento compreende-se pela natureza má da mulher, que deve ser colocada o mais cedo possível sob a proteção benéfica do homem” - “ Um jovem que casou com a prima paralela diz-se que «a protegeu». Garante que a esposa se esforçará por salvaguardar a honra do marido. “Mais vale proteger o seu nif do que entregá-los nas mãos dos outros.”

Teóricos da segmentaridade O Homo Segmentarius e aTeoria do Harem ABU-LUGHOD, Lila 1989 “Zones of Theory in the Anthropology of the Arab World”, Annu. Rev. Anthropol., 18:

Teóricos da segmentaridade O Homo Segmentarius e aTeoria do Harem ABU-LUGHOD, Lila 1989 “Zones of Theory in the Anthropology of the Arab World”, Annu. Rev. Anthropol., 18:

Teóricos da segmentaridade O Homo Segmentarius e aTeoria do Harem ABU-LUGHOD, Lila 1989 “Zones of Theory in the Anthropology of the Arab World”, Annu. Rev. Anthropol., 18:

Sumário 1.Autor e obra 2.Terreno etnográfico 3.Amahbul e o sentido da honra 4.O jogo da troca – Revisitando Marcel Mauss 5.O ethos de Bourdieu e os teóricos da segmentaridade de Abu-Lughod 6.Reflexões finais ABU-LUGHOD, Lila 1989 “Zones of Theory in the Anthropology of the Arab World”, Annu. Rev. Anthropol., 18:

Sumário 1.Autor e obra 2.Terreno etnográfico 3.Amahbul e o sentido da honra 4.O jogo da troca – Revisitando Marcel Mauss 5.O ethos de Bourdieu e os teóricos da segmentaridade de Abu-Lughod 6.Reflexões finais “A crítica fundamental que se pode fazer a Said (tal como ao próprio Foucault) é a de cepticismo (alguns dizem nihilismo) epistemológico: se todos os discursos são poder, então não há alternativa ao orientalismo.” SILVA, Maria Cardeira da, 2003 “A culpa é de Said….”in Os Meus Livros, Novembro Não há alternativa à segmentaridade, ao harem e ao Islão?