Texto: Marcos 12, / 31 T.O. –B- Comentários e apresentação: Asun Gutiérrez Cabriada. Música:Veracini. Sonata nº 3. Largo (Cantabile). Não basta que o povo se pergunte o que é ser leal à lei. Agora é necessário perguntar-se o que é ser leais ao Deus da compaixão. Jesus confronta as pessoas, não com aquelas leis das quais falam os escribas, mas com um Deus compassivo. O importante no reino de Deus não é contar com pessoas observantes das leis, mas com filhos e filhas que se pareçam a Deus e tratem de ser bons como Ele o é. Jesus busca a verdadeira vontade de Deus com uma liberdade surpreendente. Não se preocupa em absoluto em discutir questões de moral casuística; busca directamente o que é que pode fazer bem às pessoas. O amor a Deus e ao próximo é a síntese da lei, o princípio supremo que dá nova luz a todo o sistema legal. O amor relativiza tudo. Se um preceito não se deduz do amor ou vai contra o amor, fica vazio de sentido; não serve para construir a vida tal como Deus a quer. José Antonio Pagola. Jesus: Uma abordagem histórica.

Jesus tratou temas delicados nas suas discuções com os dirigentes judeus: a sua autoridade pessoal (11,28), o tributo a César (12, 13s), o futuro dos mortos no mais além (12,18s)... As discussões iam subindo de tom. O texto de está situado neste contexto de confrontação. Marcos, ao contrário de Mateus e Lucas, não diz que este homem faz a pergunta a Jesus para O tentar.

Naquele tempo, aproximou-se de Jesus um escriba e perguntou-Lhe: – Qual é o primeiro de todos os mandamentos? Não se trata de uma simples curiosidade intelectual. Aparece um mestre da lei empenhado na busca do essencial. Um número exagerado – de proibições e imposições impedia ver com claridade o que realmente é importante. O actual código de Direito Canónico tem 1752 cânones. É interessante discernir o fundamental do secundário e não elevar o secundário a categoria de fundamental.

Jesus respondeu: – O primeiro é este: ‘Escuta, Israel: o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças.’ O segundo é este: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. O primeiro e fundamental mandamento é duplo. Talvez com frequência se caia na tentação e no erro de considerar o amor ao próximo como algo opcional e/ou secundário. Não se ama por lei, mas por decisão livre e pessoal. O Mandamento de Jesus é uma missão, um convite, uma libertação, uma bem-aventurança, uma resposta. N linguagem bíblica “como a ti mesmo” significa como aos da tua casa, como às pessoas que mais queres. O convite é a amar a todos como amamos a nossa família, os amigos, com a mesma solidariedade, generosidade e profundidade.

Num contexto de multidão de preceitos e normas, Jesus critica todo o legalismo e denuncia os dirigentes religiosos que carregam fardos pesados sobre as pessoas e eles não mexem nem um dedo para os levar (Mt. 23). Jesus fala com muita claridade; para O entender e para O seguir não é preciso memorizar muitos cânones nem catecismos. A única forma de O amar é amar os outros como Ele ama, como Ele nos ama, como nos amamos a nós mesmos, como queremos que nos amem. Não há nenhum mandamento maior que estes.

Disse-lhe o escriba: – Muito bem, Mestre! Tens razão quando dizes: Deus é único e não há outro além d’Ele. Amá-l’O com todo o coração, com toda a inteligência e com todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, vale mais que todos os holocaustos e sacrifícios. Muitas pessoas não sentem que Deus as ama, é-lhes difícil sentir os outros como irmãos. São pessoas exploradas, maltratadas, crucificadas pela injustiça, o abuso e a falta de solidariedade. A nossa missão é construir um mundo onde seja credível o Amor de Deus a todos sem excepção, actuar de modo que o mundo acredite. Jesus diz muito claro que estender mãos, aliviar sofrimentos, curar, acolher, lutar contra a injustiça, servir..., viver como Ele viveu é superior ao culto, às leis e aos ritos. Jesus continua a repetir: “quero misericórdia, e não sacrifícios”.

Ao ver que o escriba dera uma resposta inteligente, Jesus disse-lhe: – Não estás longe do reino de Deus. E ninguém mais se atrevia a interrogá-l’O. Está próximo do Reino quem dá importância ao amor na sua vida. Baseando-se na minha forma de falar e de actuar, Será que Jesus me diria que estou próximo do reino? O Evangelho não é lei, é Boa Notícia. Notícia libertadora de todo o temor, mas ao mesmo tempo tranquilizadora y comprometida. Amar os outros é viver como Jesus viveu. Seguir, com Ele, o seu próprio caminho. Quem o descobre e o torna vida já não necessita fazer mais perguntas.

As pessoas trabalharão para viver, em vez de viver para trabalhar. Os historiadores não acreditarão que aos países lhes encanta ser invadidos. Os políticos não acreditarão que aos pobres lhes gosta comer promessas. O mundo já não estará em guerra contra os pobres, mas contra a pobreza, e a indústria militar não terá outro remédio se não declarar-se em falência. Os meninos da rua não serão tratados como se fossem lixo, porque não já haverá meninos da rua. A justiça e a liberdade, irmãs gémeas condenadas a viver separadas, voltarão a juntar-se. Os desesperados serão esperados e os perdidos encontrados, porque são os que se desesperaram de tanto esperar e se perderam de tanto buscar. Neste mundo cada noite será vivida como se fosse a última e cada dia como se fosse o primeiro.