POESIA MARGINAL – ANOS 70.

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Transcrição da apresentação:

POESIA MARGINAL – ANOS 70

“Modéstia à parte Exagerado em matéria de ironia e em matéria de matéria moderado”. Cacaso Organizada por Heloisa Buarque de Hollanda, a antologia 26 poetas Hoje, foi lançada em 1976 reunindo a chamada “poesia marginal dos anos 70”. Na época de seu lançamento, causou polêmica e recebeu críticas por todos os lados: A Academia Brasileira de Letras, por exemplo, não conseguiu ver nada além de um simples valor “sociológico” naqueles “sujos” e “pornográficos” versos produzidos por ilustres desconhecidos. Na leitura da introdução do livro podemos ilustrar melhor algumas questões.

Francisco Alvim O RISO AMARELO DO MEDO Brandindo um espadim do melhor aço de Toledo ele irrompeu pela Academia Cabeças rolam por toda parte é preciso defender o pão de nossos filhos respeitar a autoridade O atualíssimo evangelho dos discursos diz que um deus nos fez desiguais. QUEM FALA Está de malas prontas? Aproveite bastante Leia jornais; não ouça rádio de jeito nenhum Tudo de bom Não volte nunca AQUELA TARDE Disseram-me que ele morrera na véspera. Fora preso, torturado. Morreu no Hospital do Exército. O enterro seria naquela tarde. (Um padre escolheu um lugar de tribuno. Parecia que ia falar. Não falou. A mãe e a irmã choravam.) COM ANSIEDADE Os dias passam ao lado o sol passa ao lado de quem desceu as escadas Nas varandas tremula o azul de um céu redondo, distante Quem tem janelas que fique a espiar o mundo

Carlos Saldanha

Antônio Carlos de Brito (Cacaso) AQUARELA O corpo no cavalete é um pássaro que agoniza exausto do próprio grito. As vísceras vasculhadas principiam a contagem regressiva. No assoalho o sangue se decompõe em matizes que a brisa beija e balança: o verde – de nossas matas o amarelo – de nosso ouro o azul – de nosso céu o branco o negro o negro HÁ UMA GOTA DE SANGUE NO CARTÃO-POSTAL eu sou manhoso eu sou brasileiro finjo que vou mas não vou minha janela é a moldura do luar do sertão a verde mata nos olhos verdes da mulata sou brasileiro e manhoso por isso dentro da noite e de meu quarto fico cismando na beira [de um rio na imensa solidão de latidos e araras lívido de medo e de amor Antônio Carlos de Brito (Cacaso) Grupo escolar Sonhei com um general de ombros largos                                           que fedia  e que no sonho me apontava a poesia  enquanto um pássaro pensava suas penas  e já sem resistência resistia.  O general acordou e eu que sonhava  face a face deslizei à dura via         vi seus olhos que tremiam, ombros largos,         vi seu queixo modelado a esquadria         vi que o tempo galopando evaporava         (deu pra ver qual a sua dinastia)  mas em tempo fixei no firmamento  esta imagem que rebenta em ponta fria:  poeesia, esta química perversa,  este arco que desvela e me repõe             nestes tempos de alquimia.  REFLEXO CONDICIONADO pense rápido: Produto Interno Bruto ou brutal produto interno ?

“Isto não é um movimento literário. É um poemão “Isto não é um movimento literário. É um poemão. É como se todos estivéssemos escrevendo o mesmo poema a 1.000 mãos.”

                        A estampa de Cacaso era rigorosamente 68: cabeludo, óculos John Lennon, sandálias, paletó vestido em cima de camisa de meia, sacola de couro. Na pessoa dele, entretanto, esses apetrechos da rebeldia vinham impregnados de outra conotação mais remota. Sendo um cavalheiro de masculinidade ostensiva, Cacaso usava a sandália com meia soquete branca, exatamente como era obrigatório no jardim-de-infância. A sua bolsa a tiracolo fazia pensar numa lancheira, o cabelo comprido lembrava a idade dos cachinhos, os óculos de vovó pareciam de brinquedo, e o paletó, que emprestava um decoro meio duvidoso ao conjunto, também (SCHWARZ apud CACASO, 1997, p. 307). Nos nossos estudos evidenciamos o destaque que esse autor alcançou entre os poetas dessa geração. “O mais comum é chamar de “marginal” o autor que, barrado nas editoras, acaba editando e até distribuindo por conta própria, com recursos próprios (...). Para se entender essa literatura, (...) acho conveniente aprofundar o que significou pra vida cultural brasileira o período posterior a fins de 68, 69 (...).  (CACASO, 1997, p. 12-13).” Cacaso viveu essa situação, e, valendo-se de seus conhecimentos como professor de Teoria da Literatura e Literatura Brasileira da PUC-RJ, em diversos ensaios e entrevistas pensou de forma crítica o momento cultural por que passava Brasil, sendo um dos primeiros intelectuais a teorizar sobre este movimento.

OBRAS: A palavra cerzida, A palavra cerzida, em 1967: um tanto quanto grave para os que estão habituados aos seus livros, literalmente, marginais. Tamanho foi o fracasso que pôs em xeque a confiança de Cacaso em sua própria poesia. Justificou-se, afirmando que o livro tinha uma pretensão um pouco filosófica, que era – e ele utiliza essas palavras – um livro de estudante de Filosofia. Tal abatimento ante a produção poética resultou em um intervalo de sete anos entre A palavra cerzida e o segundo livro, Grupo escolar, de 1974. E, numa nota, Cacaso se explicou:   “Depois de cinco anos sem escrever um só verso, desconfiado mesmo da poesia, voltei a arriscar encorajado pela Ana Luisa, que me chamou para trabalharmos juntos em sua tese para a Escola Superior de Desenho Industrial (CACASO, 2002, p. 139).” Grupo escolar foi o primeiro livro produzido artesanalmente pelo autor, onde se sente muito mais à vontade com sua própria poesia. Entre as quatro “lições” que o compõem – “Os extrumentos técnicos”, “Rachados e perdidos”, “Dever de caça” e “A vida passada a limbo” –, pode-se perceber uma verve crítica que se desenvolve em versos com humor, muito mais atento aos acontecimentos diários e que lhe será tão comum daqui pra frente.

nascemos um para o outro agora só falta quem nos apresente. Esses fatos cotidianos incluem, obviamente, a política. Começa a se destacar, então, a naturalidade com que Cacaso lida com a situação em que se encontrava o Brasil: a ditadura militar. Chamam a atenção o humor e a ironia ao tratar de assuntos tão sérios, e, em maior grau, a dor da repressão. Sua poética agora era mais livre: ganhava o matiz marginal que lhe faltava em A palavra cerzida:   Uma poesia alegre, que troca o mofo e o esquecimento das estantes por uma participação mais viva na cena cultural, uma poesia que sai para as ruas, que se vale das formas de sobrevivência as mais variadas e sugestivas (CACASO, 1997, p. 19). Nesse clima, de vez aos moldes marginais, lança em 1975, um ano após o anterior, Beijo na boca. Agora, com maior freqüência, Cacaso registra os acontecimentos do cotidiano em flashes através de poemas-piada, demonstrando a forte influência de Oswald de Andrade sobre a poesia dessa época: Happy end O meu amor e eu nascemos um para o outro agora só falta quem nos apresente.                                                              

Ainda em 1975, o poeta, em parceria com Luis Olavo Fontes, escreve o livro Segunda Classe, fruto de uma viagem que fizeram pelo rio São Francisco de Pirapora a Juazeiro. Sobre Segunda Classe, diz Raimundo Carvalho:   Os poemas de Segunda Classe, no seu aparente descompromisso, dão-nos o testemunho da tragédia que se abateu sobre o rio e o povo das margens e também revela o compromisso ético daquela geração de poetas (CARVALHO, 2007). Pois então é numa viagem de vapor que se chega à quinta produção de Cacaso, “revista e diminuída”: Na corda bamba, de 1978. Com seu formato reduzido, os poemas desse livrinho têm, em sua grande maioria, de um a três versos, chegando ao máximo de seis. É importante destacar que este é o primeiro livro que Antônio Carlos de Brito assina como Cacaso, representando uma nova marca em sua obra. O poeta está mais maduro e já se consagra como um grande estudioso da Poesia Marginal. Sua poesia agora era definitivamente parte do “poemão”, tese em que ele defendia a total desindividualização da produção, em que todos faziam parte de um grande projeto coletivo. É nesse livro que se encontra o talvez poema-chave de sua obra, e o que melhor representa a forma de conceber a poesia: NA CORDA BAMBA Poesia Eu não te escrevo Eu te Vivo E viva nós!

Em 1982, chega o último livro de Cacaso: Mar de mineiro, vindo à sombra de Na corda bamba, que confirma a solidez de sua obra em meio a tantos poetas da Geração Mimeógrafo, agora ainda mais experiente. OBRA ABERTA   Quando eu era criancinha O anjo bom me protegia Contra os golpes de ar. Como conviver agora com Os golpes? Militar?