DA ARTE BRASILEIRA DE LER O QUE NÃO ESTÁ ESCRITO p. 115

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Transcrição da apresentação:

DA ARTE BRASILEIRA DE LER O QUE NÃO ESTÁ ESCRITO p. 115 (Cláudio de Moura e Castro) Terminando os poucos anos de escola oferecidos em seu vilarejo nas montanhas do Líbano, o jovem Wadi Haddad foi mandado para Beirute para continuar sua educação. Ao vê-lo ausente de casa por um par de anos, a vizinha aproximou-se cautelosa de sua mãe, jurou sua amizade à família e perguntou se havia algum problema com o rapaz. Se todos os coleguinhas aprenderam a ler, por que ele continuava na escola? A nos depois, Wadi organizou a famosa Conferência de Jontiem, “Educação para Todos”, mas isso é outro assunto. Para a vizinha libanesa, há os que sabem ler e há os que não sabem. Não lhe ocorre que há níveis diferentes de compreensão. Mas infelizmente temos todos o vício de subestimar as dificuldades na arte de ler, ou, melhor dito, na arte de entender o que foi lido. Saiu da escola, sabe ler. O ensaio de hoje é sobre cartas que recebi dos leitores de VEJA, algumas generosas, outras iradas. Não tento rebater críticas, pois minhas farpas atingem também cartas elogiosas. Falo da arte da leitura. É preocupante ver a liberdade com que alguns leitores interpretam os textos. Muitos se rebelam com o que eu não disse (jamais defendi o sistema de saúde americano). Outros comentam opiniões que não expressei e nem tenho (não sou contra a universidade pública ou a pesquisa). Há os que adivinham as entrelinhas, ignorando as linhas. Indignam-se com o que acham que eu quis dizer, e não com o que eu disse. Alguns decretam que o autor é um horrendo neoliberal e decidem que ele pensa assim ou assado sobre o assunto, mesmo que o texto diga o contrário. Não generalizo sobre as epístolas recebidas – algumas de lógica modelar. Tampouco é errado ou condenável passar a ilações sobre o autor ou sobre as conseqüências do que está dizendo.

Mas nada disso pode passar por cima do que está escrito e da sua lógica. Meus ensaios têm colimado assuntos candentes e controvertidos. Sem uma correta participação da opinião pública educada, dificilmente nos encaminharemos para uma solução. Mas a discussão só avança se a lógica não for afogada pela indignação. Vale a pena ilustrar esse tipo de leitura com os comentários a um ensaio sobre nosso sistema de saúde (abril de 1997). A essência do ensaio era a inviabilidade econômica e fiscal do sistema preconizado pela Constituição. Lantejoulas e meandros à parte, o ensaio afirmava que a operação de um sistema da saúde gratuito, integral e universal consumiria uma fração do PIB que, de tão alta (até 40%), seria de implantação inverossímil. Ninguém é obrigado a aceitar essa afirmativa. Mas a lógica impõe quais são as possibilidades de discordar. Para destruir os argumentos,ou se mostra que é viável gastar 40% do PIB com saúde ou é necessário demonstrar que as contas que fiz com André Medici estão erradas. Números equivocados, erros de conta, hipóteses falsas, há muitas fontes possíveis de erro. Mas a lógica do ensaio faz com que só se possa rebatê-lo nos seus próprios termos, isto é, nas contas. Curiosamente, grande parte das cartas recebidas passou por cima desse imperativo lógico. Fui xingado de malvado e desalmado por uns. Outros fuzilaram o que inferem ser minha ideologia. Os que gostaram crucificaram as autoridades por negar aos necessitados acesso à saúde (igualmente equivocados, pois o ensaio critica as regras e não as inevitáveis conseqüências de sua aplicação). Meus comentaristas escrevem corretamente, não pecam contra a ortografia, as crases comparecem assiduamente e a sintaxe não é imolada. Contudo, alguns não sabem ler. Sua imaginação criativa não se detém sobre a lógica aborrecida do texto. É a vitória da semiótica sobre a semântica.  (Veja, 8 de outubro, 1997, p.142)

Temer: haverá conciliação no Congresso sobre royalties 01/09/2009 | 15:15 | agência estado O presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, disse não ter a menor dúvida de que haverá uma grande conciliação nacional dentro do Poder Legislativo em torno da distribuição dos royalties do óleo retirado da camada de pré-sal entre todos os Estados. "O ambiente próprio é a Câmara dos Deputados e o Senado Federal para se fazer uma grande conciliação nacional em torno desses temas", afirmou. Temer, que esteve no Rio para participar do velório do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Alberto Direito, declarou estar sendo informado pelo governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, de todas as negociações em torno da distribuição de royalties. "O Rio de Janeiro é um dos Estados mais interessados. Tenho falado muito com o governador Sérgio Cabral, que me passou antes as suas preocupações e depois do jantar me passou a hipótese da solução. Esta será uma briga, mas acho que chegaremos a um bom termo. Não tenho dúvida de que vamos fazer uma grande conciliação nacional, seja em função de São Paulo, do Rio de Janeiro, do Espírito Santo ou de todos os Estados brasileiros", disse. Segundo Temer, dos quatro projetos encaminhados ontem pelo presidente da República, dois ou três - que ele não definiu quais - deverão ser temas de comissões especiais na Câmara, cujos presidentes e relatores prometeu anunciar ainda nesta terça. Temer explicou que os projetos estão em regime de urgência constitucional, mas "não é impossível" que os parlamentares peçam que isso mude. "Evidentemente, se for possível aprovar no prazo de urgência, tudo bem. Mas caso contrário, não é impossível que se solicite a retirada da urgência para se continuar a discussão. Vamos trabalhar com muito afinco e com muito empenho", disse.

FILME DA CAMPANHA DO AGASALHO ACENTUA APARTHEID p.118 O apartheid social brasileiro está no ar e não em imagens de telejornal. O comercial da campanha do agasalho, promovida pelo Fundo Social de Solidariedade do Estado, reforça sob as boas intenções a distância que os abastados procuram manter dos miseráveis. Distância, anote-se, que ultrapassa os limites da prudência. No filme, um menino de classe média vai pela calçada, acompanhado da mãe, quando depara com um garoto pobre, sujo e tiritando de frio. O carente aparece em preto e branco a acentuar sua lastimável condição. Os dois se olham por breve instante e é só. Na cena seguinte, o primeiro aparece em seu quarto. Sua atenção é despertada para um barulho que vem da rua. Ele corre até a janela e espia o que acontece lá embaixo, na frente do seu prédio. Trata-se de uma minipasseata em prol da campanha do agasalho, composta por jovens saudáveis e ricos. Em contribuição, o menino joga pela janela um moletom vermelho. A imagem final mostra o garoto pobre do início, vestido com o agasalho atirado pelo menino. Antes em preto e branco, agora o pequeno miserável é apresentado com todas as cores. Cores da felicidade, que não bateu à sua porta, mas despencou do alto. É o caso de verificar que tipo de solidariedade e caridade o comercial vende. Ou melhor, é caso de perguntar se o filme realmente retrata um ato solidário, caridoso. Tudo leva a crer que não, ao contrário do que imaginam seus criadores e patrocinadores. Solidariedade ou caridade implicam vínculo. Somos solidários quando tomamos como nossas causas alheias as dificuldades de um concidadão. Somos caridosos quando, ao imaginar a dor do próximo, oferecemos conforto, calor. Nada disso está no filme. Não existe contato algum entre os dois garotos. Eles não estão, não são próximos em nenhum momento. Ao jogar seu moletom pela janela, o menino de classe média parece fazê-lo apenas como forma de integração com seus iguais. (SABINO,Mário. O Estado de S. Paulo,8 jun. 1994.)