Castração precoce em felinos domésticos

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Transcrição da apresentação:

Castração precoce em felinos domésticos Profa. Dra. Maria Anete Lallo

Conceitos Esterilização precoce ou gonadectomia pré-puberal Corresponde à realização da OSH (em fêmeas) ou da orquiectomia (em machos) em cães e gatos com idade entre 8 e 16 semanas de vida (2 e 4 meses). Esterilização de animais sexualmente imaturos.

Fatores relacionados Superpopulação felina e canina é um problema mundial. Disseminação de doenças, tais como a raiva e outras zoonoses. Sofrem acidentes automobilísticos. Ataque de pessoas e a animais silvestres (risco ecológico).

Histórico Nos EUA, existem cerca de 2 milhões de animais abandonados. American Humane Association 1992 – determinou que nenhum animal adotado de um abrigo deveria se reproduzir, dando suporte para a castração precoce. American Veterinary Medical Association 1993 – reforçou a necessidade da gonadectomia pré-puberal. American Animal Hospital Association 1998 – aprovou o conceito da castração precoce em cães e gatos.

Uma par único de gatos pode produzir 174 Uma par único de gatos pode produzir 174.760 filhotes em 7 anos, se eles e sua prole continuarem a se reproduzir. A disponibilidade de informações para estudantes e veterinários é limitada. Nos Estados Unidos, cerca de 40% a 50% dos veterinários atuantes apresentam familiaridade com esta técnica.

Técnica Anestesia pediátrica requer vários cuidados: Limitar a excitação dos gatinhos antes da anestesia. Conhecer as características fisiológicas que alteram a farmacocinética e o comportamento das drogas anestésicas. Monitorar adequadamente o animal.

Excitabilidade pré-operatória: Promove liberação de catecolaminas que podem tornar o filhote mais resistente à manipulação e à ação dos tranqüilizantes utilizados na pré-anestesia. Para diminuir a excitabilidade: Colocar os animais em grupos num local quieto. Não manipular excessivamente os animais antes da indução anestésica. Administrar pré-anestésicos preferencialmente por via IM.

Farmacocinética Absorção (local de aplicação e características dos fármacos) Distribuição (proteínas plasmáticas) Biotransformação (realizada pelos sistemas enzimáticos hepáticos) Excreção (renal ou pulmonar)

Considerações fisiológicas importantes para a anestesia de filhotes Baixa taxa de proteínas plasmáticas Sistema enzimático hepático (P450 entre outros) apresenta imaturidade, comprometendo a biotransformação dos fármacos utilizados. Excreção renal comprometida pela baixa taxa de filtração glomerular.

Baixa capacidade para controlar a temperatura corporal: Predisposição à hipoglicemia pelo decréscimo rápido da taxa de glicogênio: Pequeno tamanho do fígado Menor massa muscular esquelética Baixa capacidade para controlar a temperatura corporal: Menor quantidade de gordura corporal Incapacidade de apresentar tremores

Como evitar a hipoglicemia? O jejum não deve ultrapassar 8 horas. Gatos com menos de 10 semanas devem jejuar por, no máximo, 3 a 4 horas aproximadamente. Uma pequena porção de alimentos deve ser oferecida uma hora após a recuperação anestésica. O estado de alerta e a atividade motora podem aumentar nos gatinhos que recebem solução de glicose 50% por via oral, após a recuperação anestésica.

Como minimizar a hipotermia? Utilizar colchões ou cobertores térmicos durante o procedimento cirúrgico. Realizar a menor tricotomia possível. Utilizar soluções antissépticas (líquidas ou na forma de sabões líquidos) ligeiramente aquecidas. Aferir a temperatura retal ao término da cirurgia: Prolongar a anestesia de animais hipotérmicos para diminuir seu metabolismo.

Sugestão de padrão anestésico: Gatinhas: Pré-anestesia: Midazolam (0,22mg/kg IM) Indução: Cetamina (11mg/kg IM) Manutenção: Isofluorano Gatinhos: Tiletamina-zolazepam (11mg/kg IM) Complicações anestésicas: Incidência baixa Arritmias cardíacas, dilatação gástrica e overdose de anestésico

Cirurgia Minimizar o tempo de cirurgia e de manipulação tecidual (pinça ou gancho de castração). Prevenir e controlar hemorragias. Utilizar as técnicas de OSH e Orquiectomia convencionais. Evitar as técnicas que utilizam a realização de nó nos vasos e no cordão espermático, devido à fragilidade dos tecidos.

Complicações cirúrgicas Raras Inflamação da ferida cirúrgica (1 a 2 dias pós-cirurgia). Castrações realizadas em filhotes com menos de 12 semanas de vida levaram a 6,5% de complicações. Castrações realizadas em filhotes com mais de 23 semanas de vida levaram a 10,8% de complicações.

Vantagens da castração precoce Rapidez (baixo tempo cirúrgico) Mínimo sangramento Baixo nível de estresse para o filhote Baixo índice de complicações anestésicas e pós-operatórias

Argumentos contrários à castração precoce

Doença do trato urinário inferior em felinos Engle (1977) relatou maior incidência de DTUI em gatos machos castrados. “Doença do trato urinário inferior é secundária à diminuição do diâmetro uretral pós-castração”. Estudos de dissecação têm demonstrado que o diâmetro da uretra em gatos castrados x gatos inteiros x gatos castrados suplementados com testosterona x vasectomizados não apresentam diferenças.

A uretrocistografia de gatos castrados com 7 semanas ou 7 meses não revelou diferença de tamanho das uretras dos mesmos. Dificuldade de exteriorizar o pênis após a castração precoce. A dissolução da prega bálano-prepucial (tecido que liga o pênis à mucosa prepucial ao nascimento) é dependente de andrógenos produzidos pelos testículos.

0 a 60% de aderências prepuciais em gatos castrados com 7 meses de vida. 0 a 10% de aderências prepuciais em gatos castrados com 7 semanas de vida. Importância desconhecida

Obesidade Problema multifatorial: Cães dieta x exercício x raça x idade x condição sexual Cães castrados 7 semanas x castrados 7 meses x não-castrados = não houve diferença significante

Gatos (Stubbs et al., 1996) castrados com 7 semanas x castrados com 7 meses apresentaram maior ganho de peso e depósito de gordura lateral (mensurado por radiografias abdominais) quando comparados ao animais intactos. Root et al. (1995) também detectaram aumento da obesidade, calculada pelo peso corporal e índice de massa corporal (IMC).

Root et al. (1996) observaram metabolismo diminuído (índice de calorimetria indireto). Não foram identificadas diferenças entre os gatos castrados precocemente ou com 7 meses de vida.

Incontinência urinária e dermatite perivulvar Não é um problema observado em gatas

Crescimento ósseo e desenvolvimento muscular O fechamento das epífises ósseas e o crescimento das cartilagens depende dos hormônios gonadais. Animais castrados com 7 meses ou 7 semanas de idade apresentam maior crescimento dos ossos longos do que animais não-castrados. O desenvolvimento muscular dos gatos depende dos hormônios androgênicos e ocorre redução da massa muscular após a castração.

Comportamento Gatos machos e fêmeas castrados com 7 semanas ou 7 meses mostram menor agressividade com outros gatos e maior afetividade do que gatos não-castrados. As conseqüências da realização da castração no período de aquisição do medo são desconhecidas.

Incidência maior de hiperadrenocorticismo associado a tumor de adrenal ou à hiperplasia nodular foi relatada em furões gonadetomizados precocemente. Nos EUA, não houve relato de caso de alteração de adrenal observada em cães e gatos precocemente castrados.

Entrevistas pelo telefone Howe et al. (2000) – 263 gatos castrados divididos de acordo com a idade da gonadectomia Precoce (menos que 24 semanas de vida) Convencional (acima de 24 semanas de vida) Entrevistas pelo telefone Não houve aumento na incidência de doenças infecciosas, alterações de comportamento ou qualquer tipo de doença durante 37 meses após a castração.

Conclusões É um procedimento seguro. Programa de captura, castração e soltura de gatos em substituição à eutanásia. Diminui a superpopulação de animais errantes e o risco de transmissão de zoonoses. A castração precoce não determinou aumento do número de adoções nos EUA.