O ITINERÁRIO DA TEOLOGIA PASTORAL

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Transcrição da apresentação:

O ITINERÁRIO DA TEOLOGIA PASTORAL

A ação pastoral se articula enquanto resposta a perguntas postas pela realidade, a partir das necessidades da evangelização; Essa articulação (reflexão) em torno da ação eclesial denomina-se “teologia pastoral”; Em seus dois séculos de existência a Teologia Pastoral passou por cinco etapas diferentes;

A Teologia é um produto humano, sujeito às mesmas contingências históricas como qualquer outro saber; Portanto, não é um saber absoluto, mas um saber sobre o absoluto; Agora observaremos um breve itinerário da Teologia no seio da tradição cristã e em seguida veremos o surgimento da Teologia Pastoral como disciplina autônoma.

1.O ITINERÁRIO DA TEOLOGIA NO SEIO DA TRADIÇÃO ECLESIAL

A teologia só é possível se for um discurso sobre a experiência humana da fé em Deus e sua revelação; Deus “esta por detrás das palavras humanas” (Carlos Mesters); “A revelação é recebida segundo o modo dos receptores” (Tomás de Aquino);

A Teologia Pastoral só foi possível, quando ela tomou consciência de que Deus se revela através de conceitos e símbolos, sim, mas também através de ações;

1.1. A teologia patrística ou a teologia como sabedoria Fazer teologia consiste em meditar as escrituras, com o objetivo de ajudar a conformar a vida pessoal e comunitária com a sabedoria divina, desprovida da crítica histórica e textual, ... Privilegiando o nível simbólico da mensagem revelada;

A escola de Alexandria usava o método alegórico da interpretação das Escrituras e posteriormente Agostinho, confirmou a supremacia da fé sobre a razão; No modelo teológico da Igreja Antiga, a história, a razão, o contexto social, as práticas sociais, não entram na reflexão teológica como componentes epistemológicos; Há uma subversão da cultura semita através o dualismo platônico;

1.2. A teologia escolástica ou clássica e a teologia como ciência O tomismo eleva a teologia ao patamar de ciência, quando estabelece relação entre natureza e graça, aproximando fé e razão; Tomás de Aquino pôde, assim, dar um valor absoluto à atividade humana, à política, e à vida social, e sustentar a autonomia do pensamento humano (as quais ficaram nos enunciados);

A teologia escolástica que vai se sustentar por toda a Idade Média é a teologia agostiniana do fuga mundi , a falta de apreço pela natureza, o dualismo corpo-alma, e consequentemente uma ação pastoral circunscrita à esfera espiritual; “é a graça que salva a natureza humana corrompida pelo pecado... Sobretudo através dos sacramentos”

1.3. A teologia moderna européia,as teologias do genitivo e a teologia da libertação A teologia moderna, o terceiro momento do percurso da racionalidade teológica cristã, aparece muito tardiamente em relação à Modernidade, somente nos preparativos e em torno evento Concílio Vaticano II; As grandes conquistas da modernidade ocorreram fora da Igreja (ainda que com valores evangélicos)

A primeira ilustração se caracteriza pela emancipação: da razão individual e subjetiva em relação á razão coletiva medieval; do ser humano (antropocentrismo) diante de Deus (teocentrismo); do temporal em relação ao espiritual; das ciências em torno da fé;

A segunda ilustração se caracteriza pela: Emancipação da razão prática e dos sujeitos sociais, pondo em evidência a contingência da prática em relação aos sujeitos , aos lugares e interesses; Em outras palavras... Revelou as contingências das condições materiais da elaboração dos conhecimentos e fez da práxis não um simples lugar de aterrissagem da doutrina, mas fonte criadora de idéias.

Um primeiro grupo de teólogos do século XX (primeira ilustração)elevou a teologia ao patamar da racionalidade moderna, numa perspectiva antropológica; Outro segundo grupo, chamados teólogos da transcendência, (da segunda ilustração), privilegiaram as práticas eclesiais e sociais; Metodologicamente passa do processo analítico dedutivo ao indutivo.

A teologia moderna articulada desde a primeira ilustração A teologia continua a falar de Deus, mas falando do ser humano,levando em conta a Modernidade (racionalista e autônoma em relação ao sagrado); Desenvolvendo a teologia não a partir dos símbolos e ou conceitos, mas da releitura das fontes reveladas.

A teologia moderna articulada desde a segunda ilustração Teologias do genitivo; A teologia foi elevada ao patamar da razão prática; Na América Latina surgirá a Teologia da Libertação; As teologias do genitivo trabalham as mediações de maneira mais genérica e a teologia da libertação, trabalhava com as mediações socioanalíticas.

2. Gênese, gestação e consolidação da Teologia Pastoral

No final do século XVIII, o que se refere ao objeto da teologia pastoral aparecia como um apêndice, primeiro da teologia moral, depois do direito canônico e finalmente da teologia dogmática; Contexto de uma postura apologética diante da Reforma Protestante; Ela era aplicação da ortodoxia estabelecida; operacionalização de um projeto

No século XIX a teologia pastoral se transformará em dimensão constitutiva e fundamental da teologia como um todo; Antes, as diferentes disciplinas teológicas continham a teologia pastoral: agora, é a teologia pastoral que passa a constituir o chão sobre o qual se edificam outras disciplinas; Toda sã teologia tem uma dimensão pastoral.

2.1. Primeira etapa (final do século XVIII): a teologia pastoral como pragmática 1215 já havia um magister dedicado à educação do clero para o trabalho pastoral e para a prática da confissão; Parece que a denominação “Teologia Prática” se deve a Pedro Canísio (1521-1597); Em seguida ao Concílio de Trento (1545-1563) surgem os manuais de teologia casuística.

J. Malarus, Compêndio de teologia prática, (1585); P. Binsfeld, manual de teologia pastoral, (1591); L. Engel, manual dos párocos (1661 -15 edições) - fundamentados no Direito Canônico e contribuíram para a reforma do clero orientando-o na cura das almas e na administração dos sacramentos.

Como disciplina teológica, propriamente dita, a teologia pastoral tem sua gênese na Áustria, graças à contribuição do canonista beneditino Sthephan Rautenstrauch (1734-1785), entre os anos 1774-1777; Neste período havia oposição dos bispos à essas escolas de teologia que visavam uma formação presbiteral numa perspectiva do funcionário espiritual do Estado;

2.2. Segunda etapa (início do século XIX): a teologia pastoral como soteriologia Esta nova etapa se dá a partir da Faculdade de Teologia de Tibinga (Alemanha), Johann Michael Sailer (1751-1822), com sua obra Preleções sobre a Teologia Pastoral, publicada em 1788.

A preocupação e temática da teologia pastoral passa do aspecto pedagógico e desenvolve-se com um conteúdo querigmático, apoiado nas Escrituras; A Pastoral, aqui, é entendida como um serviço de medição do ato salvífico de Jesus Cristo e não um mero serviço ao Estado; É o início da passagem da sacramentalização para a pregação da Palavra

Na etapa anterior a teologia pastoral era compreendida como mediação da propagação da fé, dando maior importância à liturgia, a pregação e ao ensino religioso, já nesta segunda etapa a teologia pastoral passa a ser o estudo da continuação da obra redentora de Cristo na história, através da ação da Igreja; Ela deixa de ser apêndice e passa a situar-se no interior da teologia dogmática.

2.3. Terceira etapa (meados do século XIX): a teologia pastoral como autoconsciência da Igreja em continuidade aos teólogos da Escola de Tubinga, A. Graf desloca a teologia pastoral da teologia dogmática geral, vinculando-a ao próprio ser da Igreja, concebendo revelação e tradição como duas realidades vivas, permanentes e dinâmicas na história.

J.A. Mohler, diz que do mesmo modo que o humano e o divino conformam uma unidade em Cristo, assim também a Igreja é divina e humana, tem um lado visível e outro invisível, sem que se possa separá-los; há uma unidade entre a ação pastoral (lado visível) com o mistério do ser da Igreja (lado invisível);

Nesta perspectiva o objeto da teologia pastoral é o futuro, sua autocompreensão contínua, não questões práticas da Igreja, mas a objetividade de seu próprio ser. Assim, a teologia pastoral cria o seu aspecto científico e o sujeito da ação passa a ser toda a Igreja.

2.4.Quarta etapa (meados do século XX): TEOLOGIA PASTORAL COMO TEORIA DA PRÁXIS DA IGREJA É a renovação teológica contemporânea, com base antropológica. Com a ajuda da Ação Católica Especializada e com três teólogos que se destacaram: - F. X. Arnold, ele explica a natureza da teologia pastoral a partir de uma teologia bíblica, uma teologia da história, e uma teologia sistemática. Para ele a teologia pastoral ter a ver com revelação, tradição, as verdades da fé e sua vivência. A teologia pastoral é uma disciplina que teologiza as práticas eclesiais;

P. A. Liégé define a teologia pastoral como ciência teológica da ação eclesial, como reflexão sistemática sobre as diversas medições da graça ou “teoria da práxis da Igreja”; K. Rahner, no contexto do Vat II, com alguns pastoralistas dão novo impulso à teologia pastoral elaborando a obra “manual de teologia pastoral”, essa obra confirma os avanços anteriores da teologia pastoral e define a teologia pastoral como ciência da auto-realização da Igreja (objeto material), à luz de uma reflexão teológica sobre a situação atual da Igreja e do mundo (objeto formal).

Na América Latina o Concílio Vaticano II foi mais um ponto de partida; 2.5. Quinta etapa (final do século XX): a teologia pastoral como reflexão da práxis libertadora dos cristãos e das pessoas em geral Na Europa o Concílio Vaticano II foi mais um ponto de chegada do que de partida; Na América Latina o Concílio Vaticano II foi mais um ponto de partida; A Teologia Pastoral na América Latina foi compreendida como auto-realização do Reino de Deus;

com dimensões pneumatológicas; aberta aos homens de boa vontade; na ótica dos pobres; em nível popular; com engajamento pessoal; crítica.