Historiografia: a busca da biografia nacional

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Transcrição da apresentação:

Historiografia: a busca da biografia nacional História do Brasil Independente I Marcos Napolitano

Institutos Históricos Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838) Inspirado no Institut Historique francês,fundado em 1834, nos moldes de uma academia de ciências (“academias ilustradas”) do século XVIII, do qual faziam parte brasileiros como Gonçalves de Magalhães, Francisco Salles Torres Homem e Manuel Araujo de Porto Alegre (Editores da Revista Niterói). Entre 1834-1850 cerca de 46 brasileiros participaram do instituto parisiense e, destes, 26 faziam parte do IHGB. Insititut Historique: história e estudo da história como “promoção do progresso civilizatório”.

IHGB – Diretrizes e organização Coleta e publicação de documentos relevantes para a História do Brasil. O Rio de Janeiro (Corte) e sede do Instituto deveria processar as informações vindas das províncias. 27 fundadores: magistrados, militares, burocratas, alguns nascidos em Portugal e vindos para o Brasil após as Guerras Napoleônicas e fiéis à casa de Bragança (neste sentido, explica-se o perfil anti-revolucionário dos intelectuais ). 50 membros ordinários (25 em história e 25 em geografia) e número ilimitado de sócios correspondentes, sob proteção do Imperador (75% do orçamento vinha do Estado Imperial) Recrutamento: relações sociais e pessoais (em 1851 a reforma estatutária pede que o candidato tenha produção na área específica de atuação do IHGB) Relação entre Estado e Instituto - reforçada a partir de 1849-50 - estabilização do poder monárquico centralista - nova sede no Paço da Cidade. Novo estatuto - 1851 - profissionalização / abertura para estudos arqueológicos, etnográficos, linguísticos / reiteração do Imperador como protetor do Instituto

IHGB Tenta responder a um processo de consolidação do Estado Nacional de forma sistematizada, num momento em que a unidade está ameaçada (revoltas provinciais – “regresso”) Objetivo: garantir o perfil de uma nação brasileira, diante do quadro geral das nações ocidentais independentes. Particularidades do Brasil como “obstáculos para a civilização”: heterogeneidade racial, social e política: negros escravos, população indígena considerável. O IHGB produzirá uma "homogeneização da visão de Brasil no interior das elites brasileiras" (Manual Guimarães, Estudos Históricos, CPDIC/FGV, 1988/1, p.6)

IHGB O "outro" da nação: índios e negros. História como “continuidade”: tentativa de integração do velho (Colônia) com o novo (Império), consolidando uma identidade "física" (geografia) e "espirirual/cultural" (história) da Nação. Contraponto: "Ordem" no Brasil X "caos" nas repúblicas latino-americanas. Discurso do primeiro presidente do Instituto José Feliciano Fernandes Pinheiro: "tudo enfim pressagia que o Brasil é destinado a ser , não acidentalmente, mas de necessidade, um centro de luzes e de civilização, e o árbitro da política do Novo Mundo" (geopolítica conservadora).

RIHGB A Revista do IHGB (conforme Guimaraes, 1988), cerca de 73% do volume é ocupado por três temas: problemática indígena; viagens e explorações científicas; debate sobre história regional Sobre os indígenas - "Melhor maneira de colonizar os índios" (FONTE - Januário da Cunha Barbosa, visc. São Leopoldo) - criar necessidades "civilizadas", educação das crianças e miscigenação para "branqueamento". Escravidão Negra - impedimento à civilização (artigo de Januário da Cunha Barbosa , Revista, 1) - os índios deveriam ser a futura "classe trabalhadora" livre. FONTES - artigos de João da Silva Machado, barão de Antonina, sobre formas de colonização e exploração de terras virgens, a partir de sua experiência no Paraná. (Revista IHGB, 10/6, abr.jun1848 FONTE - artigo de Rodrigo de Souza e Silva Pontes, sobre como coletar fontes para a história do Brasil (Revista IHGB, 3/10, 149-57, 1841) FONTE - Domingos José Gonçalves de Magalhães - trabalho sobre a Balaiada FONTE - carta geográfica do Império - Conrado Jacob Niemeyer ARQUIVO VIRTUAL: http://www.ihgb.org.br/rihgb.php?s=p

FRANCISCO ADOLFO VARNHAGEN -visc. Porto Seguro (1816-1878) Primeiro historiador brasileiro (antes dele trabalhos de Pero Gândavo-História da Província de Santa Cruz-1576; frei Vicente do Salvador-História do Brasil-1627; Sebastião da Rocha Pita-História da América Portuguesa-1730; Robert Southey-História do Brasil -1810). Southey - "quadro sombrio" do Brasil: crise moral, degeneração dos costumes, da religião e da moral, falta de agricultura, causa-escravidão e herança da colonização Portuguesa. Filho de oficial alemão - engenheiro metalúrgico "Conhece-se pouco da formação intelectual"(?) - militar, matemático, alguma formação em paleografia e diplomática. Preocupação com a exegese documental. Perfil político - fidelidade à família real portuguesa, defendeu inclusive D.Pedro IV (I) contra o irmão D.Miguel; 1853 - História Geral do Brasil (5 volumes ) - produto da institucionalização da reflexão e da pesquisa históricas no IHGB, publicados entre 1854 e 1857.

Francisco Adolfo Varnhagen – premissas historiográficas História do Brasil como um ramo da história portuguesa, até que se firmasse a vocação própria da civilização brasileira; História que não "falasse de tensões, separações, contradições, exclusões, conflitos, rebeliões, insatisfações, pois uma história assim levaria o Brasil à guerra civil e à fragmentação" (REIS, p.28) Sujeitos das história do Brasil - homem branco e Estado imperial , únicos entes a civilizar um país sem população (livre). Vocação histórica do Brasil - continuar a história dos portugueses na colônia. Ruptura política mas não em termos de civilização ; para Varnhagen, o Brasil não queria ser negro, indígena, latino-americano; republicano; não-católico ( REIS, p.32) Idéia de Providência - força que atua na manutenção da vocação histórica (centralista, anti-republicana, católica)

HISTÓRIA GERAL DO BRASIL – 1854-57 (Varnhagen) Indígenas: visão crítica e negativa Descoberta do Brasil - comércio com Oriente e espírito evangelizador - importância de Vasco da Gama, passou as informações para Cabral; "feliz acaso"; expedição de 1501 foi mal-recebida pelos índios; D.Nuno Manoel - batizador da costa brasileira; Martim Afonso e Capitanias (1532); colonizadores eram bondosos com os índios , violência só usada contra os "ferozes"; Vitória portuguesa contra Franceses e Holandeses -importância do Governo-Geral (1546) - Tomé de Souza; Duarte da Costa; Mem-de-Sá – Na luta contra os Holandeses a unidade brasileira se consolidará > índios (Felipe Camarão), negros (Henrique Dias) e brancos (Vidal Negreiros); vitória do catolicismo contra protestantes e judeus (1624-1654) - após esta luta o Brasil se torna definitivamente português, com o "consentimento da população nativa”.

História Geral do Brasil Escravidão negra > “erro histórico”, pois o índio é que deveria ser usado para o trabalho; projeto de branqueamento e erradicação de qualquer lembrança da escravidão a longo prazo; apesar disso, o escravo no Brasil era mais bem tratado que em outras colônias; escravidão trouxe abusos e crueldades, além de lassidão moral ; Independência : não foi uma guerra; “Providência” quis que as aventuras de libertação precoce fossem reprimidas e derrotadas; “Inconfidência” > Tiradentes, foi o único rebelde: "uma figura antipática; feia e espantada,ambiciosa, que se tinha dado mal no exército e na mineração e só era hábil dentista. Era pobre, sem respeito e louco. "o patíbulo deu-lhe a glória que jamais teria tido vivo". “Conjuração baiana”: um “arremedo do horror da revolução francesa”. Menos nobre e patriótica que a Inconfidência mineira. Revolução Pernambucana de 1817: Aventura liberal e republicana – “infame!”

História Geral do Brasil Vinda da Família Real inicia um processo de independência “pacífico e ordeiro” O ideal era que o Brasil fosse unido à Portugal, como defendia D. João VI, sendo a sede do Império. Mas as elites portuguesas não entenderam esta vocação histórica e elas sim, causaram a independência, ao querer que o Brasil voltasse a ser colônia. O Estado imperial deveria ser o "imã" da nação gigantesca e heterogênea.

Críticos de Varnhagen Capistrano de Abreu – “Necrológio” de Varnhagen (1878) - críticas (estilo mais próximo à crônica, falta de intuição, falta de síntese e busca de leis gerais); desconsiderou movimentos populares; uniformizou a história do Brasil , não percebendo os ritmos de cada época e nem pensando as grandes periodizações explicativas – ver “Capítulos de História Colonial” ou “O Descobrimento do Brasil” (1883), como exemplo de outro olhar historiográfico. José Honório Rodrigues - Historiador fundamental, mesmo sendo conservador - abrangência e ineditismo Nilo Odália (introd. “Grandes cientistas...”, Ed. Ática) - não considera importante ler Varnhagen, a título de formação do historiador moderno. História ultrapassada , monótona, "botânico descrevendo flora".