Espiritualidade a Partir de Si Mesmo Grün, Anselm. Espiritualidade a partir de si mesmo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004 Síntese e Criação – Ir. M. Crisóstoma Stoffel (Cris), CSC
Existem duas correntes na história da espiritualidade, entre outras. Espiritualidade a partir do alto Espiritualidade a partir de baixo
A ESPIRITUALIDADE DE BAIXO Significa que: Deus não nos fala unicamente através da Bíblia; Através da Igreja; Mas também, através do nosso corpo, De nossos sonhos; De nossas feridas; De nossas supostas frustrações.
“Se queres chegar ao conhecimento de Deus, trata antes conhecer-te a ti mesmo”, diz Evágrio Pôntico O subir até Deus passa pelo descer até a própria realidade e pelo chegar às profundezas do inconsciente.
ESPIRITUALIDADE DE BAIXO Não vê o caminho para Deus como uma estrada de mão única que nos leva sempre em frente, em direção a Deus.
Pelo contrário, o caminho para Deus passa por erros, Por fracassos, Pela decepção consigo mesmo.
O que nos abre para Deus não é, em primeiro lugar, a nossa virtude, Mas, sim, as nossas fraquezas, Nossa incapacidade, Ou mesmo o nosso pecado.
Não se trata: De ouvir a voz de Deus naquilo que pensamos e sentimos, nas nossas paixões e enfermidades, e de assim descobrir a imagem que Deus fez de nós. Ou de subir a Deus descendo à nossa realidade.
Mas trata-se de que, ao chegarmos ao fim de nossas possibilidades, estejamos abertos a uma relação pessoal com Deus.
Os monges dizem que: A verdadeira oração surge do mais profundo de nossa miséria e não das nossas virtudes.
A Espiritualidade de baixo ocupa-se com a questão: De saber o que devemos fazer quando tudo dá errado, Como devemos conviver com os cacos e fragmentos de nossa vida, E como daí podemos construir algo de novo.
A espiritualidade de baixo é o caminho da humildade. Ela é a atitude básica de uma religiosidade autêntica.
Humildade – palavra latina = humilitas e está relacionada com humus, com terra. A humildade é o reconciliar-nos com nossa condição terrena, Com o peso que nos puxa para baixo, Com o mundo dos nossos instintos, Com o nosso lado sombrio.
HUMILDADE É a coragem de aceitar a verdade sobre si mesmo. Ela designa nossa relação com Deus. É uma virtude religiosa. Em todas as religiões, a humildade é o critério para uma religiosidade autêntica. Ela é o lugar onde nós podemos ir ao encontro do Deus verdadeiro.
Só no mais profundo de nós, é que a verdadeira oração pode se fazer ouvir.
DA ESPIRITUALIDADE DE BAIXO DOIS PÓLOS DA ESPIRITUALIDADE DE BAIXO 1. O caminho para nosso verdadeiro eu e para Deus pelo descer à nossa realidade, 2. Pela experiência da impotência e do fracasso, como lugar da verdadeira oração e como oportunidade de chegarmos a uma nova relação pessoal com Deus.
A ESPIRITUALIDADE DE BAIXO não só descreve os passos terapêuticos que o ser humano precisa dar para chegar ao seu verdadeiro eu, mas também é o caminho religioso que, através da experiência do fracasso, leva à oração, ao “clamor do profundo” e a uma relação profunda com Deus.
A partir de si mesmo, De sua realidade como corpo e alma, A partir dos sentimentos, Das fraquezas e dos sofrimentos de todo dia, a pessoa toma consciência das muitas pedras no caminho que leva a Deus.
ESPIRITUALIDADE DE CIMA Começa pelos ideais que nós nos impomos. Pelas metas a serem alcançadas através da ascese e da oração.
Esses ideais são obtidos: Do estudo da Sagrada Escritura, Da doutrina moral da Igreja, Da idéia que o ser humano faz de si mesmo.
A pergunta básica desta espiritualidade de cima é: Como deve ser o cristão? Que atitudes deve ele assimilar?
A espiritualidade de cima nasce: Do anseio do ser humano em tornar-se sempre melhor, Por subir sempre mais alto, Por chegar cada vez mais perto de Deus.
Na espiritualidade de cima podemos correr o risco de ficarmos interiormente divididos. Quem se identifica com seus ideais, frequentemente reprime a própria realidade, se ela não estiver em harmonia com estes ideais.
Jesus não construiu nenhuma escada de perfeição pela qual nós pudéssemos subir degrau por degrau para no fim chegarmos à posse de Deus.
Jesus mostrou um caminho que leva às profundezas da humildade… Temos que escolher na encruzilhada o caminho que iremos seguir para chegarmos a Deus. O caminho de cima ou o caminho de baixo?
Se quisermos seguir o caminho da humildade, necessitamos abraçá-lo com sinceridade, E não podemos ter medo de descer até o mais profundo de nossa miséria (Lafrance, 1983).
A Bíblia nos apresenta como exemplos de fé homens e mulheres imperfeitos, que carregam sua culpa e clamam das profundezas a Deus (Abraão, Davi, Pedro, Paulo).
NA PREGAÇÃO E NA VIDA DE JESUS Encontramos sempre uma espiritualidade a partir de baixo. Ele volta-se conscientemente para os publicanos e pecadores, pois observa que eles estão abertos ao amor do Pai.
Há várias parábolas neste sentido: O joio e o trigo, O rico avarento e o pobre Lázaro, Os convidados do banquete, O fariseu e o publicano. Este confessa seus pecados, sabe que é impossível reparar as injustiças que cometeu, bate contritamente no peito, pede a Deus piedade e é justificado.
Para os monges: O caminho para Deus passa pelo encontro com a própria realidade. Para encontrar-se com Deus é preciso encontrar-se primeiro consigo mesmo, Habituar-se às suas paixões E descer ao fundo da sua realidade = do seu poço.
Ao longo da história: homens e mulheres experimentaram a limitação e o fracasso de suas aspirações de infinito, mas sempre de novo se levantaram de suas próprias cinzas e retomaram o impulso para uma vida melhor, para um mundo mais justo onde seja possível a verdadeira liberdade para todos.
Estas pessoas viveram a espiritualidade a partir de baixo com seus caminhos errados e desvios enganosos.
Não são as virtudes que abrem o acesso a Deus, Mas a fraqueza humana e até mesmo o pecado.
A espiritualidade a partir de baixo quer ensinar como encontrar a Deus tendo consciência de nossa limitação e aceitando com humildade a si mesmo.