CASO DO SUDOESTE DO PARANÁ A Dinâmica Migratória do Paraná¹ Henrique Luis Godinho Cassol ¹MONDARDO, M.L. A DINÂMICA MIGRATÓRIA DO PARANÁ: O CASO DA REGIÃO.

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1 CASO DO SUDOESTE DO PARANÁ A Dinâmica Migratória do Paraná¹ Henrique Luis Godinho Cassol ¹MONDARDO, M.L. A DINÂMICA MIGRATÓRIA DO PARANÁ: O CASO DA REGIÃO DO SUDOESTE AO LONGO DO SÉCULO XX. REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS POPULACIONAIS. RIO DE JANEIRO, V. 28, N. 1. P. 103-131. 2011.

2 INTRODUÇÃO Dinâmica de ocupação/migração distinta de outras regiões brasileiras; Grosso modo, identifica-se três períodos de evolução demográfica Paranaense, em especial, o Sudoeste.

3 OBJETIVO Analisar a dinâmica espaço-temporal da migração no Sudoeste do Paraná; A escolha da região deve-se ao processo histórico do forte êxodo rural e às mudanças abruptas na dinâmica populacional ao longo do século XX AtraçãoReordenamentoExpulsão JUSTIFICATIVA

4 MATERIAIS Entrevistas Semiestruturadas 2008 Análise Bibliográfica e Documental Censos Demográficos e Agropecuários

5 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA Área de Estudo: Mesorregião do Sudoeste Paranaense. Abrangência: 37 municípios; Cidade Principal: Francisco Beltrão

6 DINÂMICA MIGRATÓRIA Atração Ocupação Territorial Reordenamento Consolidação Agrícola Expulsão Urbanização Industrialização 1900-1940 Caboclos Peões; Ex-Escravos; Agregados; Fazendeiros Empobrecidos; Atividades: Extração de erva-mate e madeira; Agricultura de subsistência; Pecuária extensiva; Correntes migratórias (questionários): Paraná; Rio Grande do Sul; Santa Catarina;

7 Correntes migratórias (questionários): Paraná >> Peões e Agregados >> Palmas, Guarapuava e Clevelândia Rio Grande do Sul >> Fazendeiros Empobrecidos >> Soledade, Passo Fundo e Palmeira das Missões; Santa Catarina >> Posseiros expulsos da Guerra do Contestado >> Vale do Rio do Peixe; Do PR, SC, RS e ARG (corrientes) >> foragidos. DINÂMICA MIGRATÓRIA Atração Ocupação Territorial 1900-1940 Caboclos Peões; Ex-Escravos; Agregados; Fazendeiros Empobrecidos;

8 Nesta “fronteira em marcha”, o caboclo se fixava em um pedaço de terra como posseiro; Na frente de expansão as relações socioespaciais não são ditadas pelo mercantilismo, mas sim pelo excedente de produto (moeda de troca); As condições de vida são reguladas pelo grau de fartura e não pelo nível de riqueza; DINÂMICA MIGRATÓRIA Atração Ocupação Territorial 1900-1940 Caboclos Peões; Ex-Escravos; Agregados; Fazendeiros Empobrecidos;

9 DINÂMICA MIGRATÓRIA Atração Ocupação Territorial 1900-1940 Caboclos Peões; Ex-Escravos; Agregados; Fazendeiros Empobrecidos;

10 Consolidação Agrícola Reordenamento DINÂMICA MIGRATÓRIA 1940-1970 Agricultores Consolidação Agrícola; Articulação e expansão de núcleos urbanos, vinculados ao campo; Atividade: Produção familiar; Criação de suínos; Lavouras de subsistência e produção de cereais.

11 Consolidação Agrícola Reordenamento DINÂMICA MIGRATÓRIA 1940-1970 Agricultores Correntes migratórias (questionários): Rio Grande do Sul e Santa Catarina >> Agricultores familiares descendentes de imigrantes>> Decorrentes do processo de minifundização proporcionados pela subdivisão das terras por herança familiar e criação de latifúndios com consequente pressão populacional sobre os pequenos proprietários.

12 Consolidação Agrícola Reordenamento DINÂMICA MIGRATÓRIA 1940-1970 Agricultores Marcha para o oeste >> criação da Colônia Agrícola Nacional General Osório (CANGO), em 1943, por Getúlio Vargas, em Pato Branco. Características: “Conquista do corpo geográfico do país”; “Política de colonização marcada pela conquista territorial e integração espacial”; “Quem labora e cultiva a terra, nela deposita a sementeira e alicerça a casa, deve possuí-la como proprietário” (Getúlio Vargas, 1944, p. 117);

13 Consolidação Agrícola Reordenamento DINÂMICA MIGRATÓRIA 1940-1970 Agricultores Nesta esfera, cria-se, com a melhora da infraestrutura: “um novo trabalhador rural, ordeiro, produtivo, voltado para o lucro, distante da sua tradição e do seu passado” (LENHARO, 1986, p.14); Os espaços rurais foram reordenados >> rural >>urbano; Migrantes com capacitação profissional.

14 Consolidação Agrícola Reordenamento DINÂMICA MIGRATÓRIA 1940-1970 Agricultores ² Rubens Martins (1986) Em 1948, dos 4956 hab., 17,8% eram chefes de família e 82,2% seus dependentes. 74,87% não sabiam ler e escrever.

15 Consolidação Agrícola Reordenamento DINÂMICA MIGRATÓRIA 1940-1970 Agricultores A taxa anual de crescimento populacional: No Brasil: 3,12% a.a No Paraná: 7,23% a.a No Sudoeste: 12,4% a.a

16 Consolidação Agrícola Reordenamento DINÂMICA MIGRATÓRIA 1940-1970 Agricultores Esta “frente pioneira” foi mais do que um deslocamento da população para territórios novos. Ela é caracterizada pela “situação espacial e social que convida ou induz à modernização, à formulação de novas concepções de vida, à mudança social.” (MARTINS, 1997, p.153); A terra torna-se mercadoria, o comércio da produção se expande e impulsiona a capitalização dos agricultores.

17 Expulsão Urbanização Industrialização DINÂMICA MIGRATÓRIA 1970 - 2000 Agricultores “Revolução Verde” >> Mecanização Agrícola >> Monocultura >> Êxodo rural (MAGALHÃES, 2003); Mudanças rápidas e intensas movidas por forças econômicas e políticas no campo >> Reflexos na urbanização/industrialização do SO; Década de 1970: “Crise territorial” e fechamento da “fronteira colonial”, “esgotamento de terras”.

18 Expulsão Urbanização Industrialização DINÂMICA MIGRATÓRIA Agricultores A crise territorial resultou na migração rural- urbana e rural-rural dos agricultores da região; Atividades * : Fumo; Milho; Soja; * Francisco Beltrão, em 1980, produzia 17% de todo o feijão preto do Estado (JORNAL DE BELTRÃO, 13/03/1992, p. 7) 1970 - 2000

19 Expulsão Urbanização Industrialização DINÂMICA MIGRATÓRIA Agricultores Revolução verde: Sistema de crédito; Pacote tecnológico; Seletividade de culturas; Emprego de insumos químicos; Formação de duas castas rurais: abastados e pobres; Introdução de novas relações de trabalho, assalariados e desaparecimento do colonato, da parceria e do arrendamento >> migrantes rurais. 1970 - 2000

20 Expulsão Urbanização Industrialização DINÂMICA MIGRATÓRIA Agricultores “O pequeno agricultor não podendo enfrentar os custos do investimento entra no espiral do empobrecimento acelerado sendo “expelido” do processo de produção com a perda da terra pelo endividamento e pelo processo de modernização arrasadora, perversa e seletiva”. (FERES, 1990, p. 523); Em 1978, verifica-se uma queda de 6,5% no número de estabelecimentos rurais (INCRA) 1970 - 2000

21 Expulsão Urbanização Industrialização DINÂMICA MIGRATÓRIA Agricultores O saldo deste processo foi a migração da população rural para as áreas urbanas e para outros estados brasileiros e até outros países (especialmente Paraguai * e Argentina); * Os brasiguaios eram 40 mil, em 1975, e 250 mil no ano de 1982. No lado brasileiro, as novas frentes de colonização foram: Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Amazonas; 1970 - 2000

22 Expulsão Urbanização Industrialização DINÂMICA MIGRATÓRIA Agricultores Com o sistema de crédito rural ocorre uma submissão do campo à cidade. A renda do campo é drenada para cidade e impulsiona a industrialização; A população urbana supera a rural, a partir de 1990, no sudoeste do PR e a partir de 1980, em Francisco Beltrão; 1970 - 2000

23 Expulsão Urbanização Industrialização DINÂMICA MIGRATÓRIA Agricultores Devido a mecanização agrícola, alterou-se a divisão territorial e social do trabalho. Além de diminuir a população do campo, o progresso tecnológico não significou necessariamente uma melhoria nas condições do trabalhador (que fica no campo) (PRADO JUNIOR, 1979, p. 29) A modernização foi um processo seletivo e excludente, uma espécie de “darwinismo social”. 1970 - 2000

24 Expulsão Urbanização Industrialização DINÂMICA MIGRATÓRIA Agricultores 1970 - 2000

25 A propriedade rural foi vista por aqueles que vivem no campo como o lugar da impossibilidade de reprodução de seus filhos e, deste modo, de uma família; Anos 80s foi trágico >> 38200 famílias de agricultores sem terra >> no período de 1983/1985 registrou-se a venda de 6923 propriedades com áreas < 30 ha (FERES, 1990, p.153) Expulsão Urbanização Industrialização DINÂMICA MIGRATÓRIA Agricultores 1970 - 2000

26 Expulsão Urbanização Industrialização DINÂMICA MIGRATÓRIA Agricultores Entre 1960-1980 êxodo rural de 27 mi de pessoas (CAMARANO e ABRAMOVAY, 1999, p. 11); Nos anos 80s, 29% dos migrantes rurais eram sulistas >> Surge o termo genérico de “gaúchos”, os primeiros prejudicados pela modernização agrícola. 1970 - 2000

27 Expulsão Urbanização Industrialização DINÂMICA MIGRATÓRIA Agricultores Nesta corrente, restavam apenas 4 alternativas: i. Vender a terra (valorizada pela escassez) e comprar outra em nova fronteira agrícola, onde pudesse reiniciar as suas atividades; ii. Vender a terra e migrar para as cidades, tornando-se assalariado; iii. Reduzir a pressão demográfica sobre a terra, encorajando seus filhos a migrar para novas fronteiras agrícolas; ou iv. Reduzir a pressão demográfica sobre a terra com a migração dos filhos para as cidades para tornarem-se assalariados. 1970 - 2000

28 Expulsão Urbanização Industrialização DINÂMICA MIGRATÓRIA Agricultores 1970 - 2000 A partir da década de 80 emerge um novo ator, um novo tipo de proprietário rural: Os mediofundiários, absenteístas e financeiramente poderosos, proprietários que residiam na cidade e que absorviam a mão-de-obra expropriada nos moldes de modernas empresas rurais (FERES 1990, p.554). Este processo se deu principalmente nas áreas planas, onde a mecanização foi possível.

29 Mapa 1. Principais fluxos migratórios intermesorregionais rural-urbano do estado do Paraná – 1986/1991. DINÂMICA MIGRATÓRIA

30 Mapa 2. Principais fluxos migratórios intermesorregionais rural-rural do estado do Paraná – 1986/1991. DINÂMICA MIGRATÓRIA

31 CONCLUSÕES 1900-1940 >> Ocupação cabocla, dispersa e rarefeita; 1940-1970 >> Migração gaúcha e catarinense, alargamento da fronteira rural com reordenamento territorial; 1970-2000 >> Emigração da classe de agricultores “menos favorecidos” para novas fronteiras e para áreas urbanas; A dinâmica espaço-temporal do sudoeste foi moldando as estruturas econômicas, políticas e sociais da população residente; As sucessivas transformações nas divisões sociais e territoriais do trabalho agrícola resultaram em distintos processos seletivos de atração, reordenamento e expulsão da população.

32 REFERÊNCIAS FERES, J.B. PROPRIEDADE DA TERRA. OPRESSÃO E MISÉRIA – O MEIO RURAL NA HISTÓRIA SOCIAL DO BRASIL. AMSTERDAM: CEDIA, 1990. IBGE. CENSO AGRÍCOLA DE 1960: PARANÁ E SANTA CATARINA. RIO DE JANEIRO: IBGE, V. 2 – TOMO 12, 1967. _________. CENSO DEMOGRÁFICO 1960, 1970, 1980, 1991, 2000, 2010 – PARANÁ. RIO DE JANEIRO: IBGE. _________. CENSO AGROPECUÁRIO 1970,1975,1980,1995/1996 - PARANÁ. RIO DE JANEIRO: IBGE. JORNAL DE BELTRÃO. FRANCISCO BELTRÃO,13/03/1992. LENHARO, A. COLONIZAÇÃO E TRABALHO NO BRASIL: AMAZÔNIA, NORDESTE E CENTRO-OESTE. 2. ED. CAMPINAS: EDITORA DA UNICAMP, 1986. MAGALHÃES, M. V. O PARANÁ E SUAS REGIÕES NAS DÉCADAS RECENTES: AS MIGRAÇÕES QUE TAMBÉM MIGRAM. TESE (DOUTORADO). BELO HORIZONTE, CEDEPLAR/UFMG, 2003. MARTINS, J. DE S. FRONTEIRA: A DEGRADAÇÃO DO OUTRO NOS CONFINS DO HUMANO. SÃO PAULO: HUCITEC, 1997. MONDARDO, M.L. A DINÂMICA MIGRATÓRIA DO PARANÁ: O CASO DA REGIÃO DO SUDOESTE AO LONGO DO SÉCULO XX. REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS POPULACIONAIS. RIO DE JANEIRO, V. 28, N. 1. P. 103-131. 2011. PRADO JUNIOR, C. A QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL. SÃO PAULO: BRASILIENSE, 1979. MARTINS, R. DA S. ENTRE JAGUNÇOS E POSSEIROS. CURITIBA, 1986. VARGAS, G. A NOVA POLÍTICA DO BRASIL. RIO DE JANEIRO: JOSÉ OLYMPIO, V. 10, 27 DE JANEIRO DE 1944, P. 271.