Tem gente de todos os jeitos nesse mundo, uns são alegres e outros tristes, inteligentes ou limitados, honestos ou desonestos, bonitos, feios e por ai vai, mas João Sabino Mendes era uma mescla de quase tudo isso, porque era feio, mentiroso, arrogante, desonesto e tantas coisas aprontou, que ganhou o apelido de Piruá, porque piruá é o milho de pipoca que não arrebenta de tão ruim que é.

Piruá nasceu igual a todos, chorou, foi amamentado e cresceu em uma boa familia, onde seus irmãos viviam em harmonia, mas a paz desapareceu de lá, quando Piruá atingiu os oito anos de idade e ai começaram os problemas, porque da escola freqüentada por ele chegavam reclamações diárias, porque ele agredia os colegas, puchava os cabelos das meninas e roubava tudo que podia.

No segundo ano escolar Piruá foi expulso e como só existiam duas escolas na minúscula cidade de Santos Anjos, ele parou de estudar ao ser recusado pela ultima que restava, se para ele foi bom, para sua família foi um desastre, porque livre o dia todo, a situação se tornou caótica, porque as reclamações que eram só da escola, se generalizaram, porque a cidade inteira passou a reclamar de Piruá.

Enquanto foi menino, Piruá quebrou vidraças dos vizinhos, entrou escondido nos quintais para roubar frutas, batia nas outras crianças e sua família tentava, mas não conseguia conter seus desatinos e diziam: ele vai se acomodar quando acabar de crescer, mas quando ele se tornou um rapaz, o que já era ruim conseguiu ficar pior, porque ele passou a criar problemas maiores.

Piruá era feio por dentro e por fora e aos dezoito anos foi preso por roubar um cavalo de raça manga larga de um fazendeiro da região e não parou mais, entrava e saia da cadeia o tempo todo, porque seu pai pagava os prejuízos e os reembolsados retiravam as queixas e assim foi por um bom tempo, mas o pior ainda estava por vir e quando aconteceu, não foi possível contornar com dinheiro.

Seu Julio Lourenço era o farmaceutico do lugar e sua filha Lídia era uma mocinha de quinze anos, muito bonita e bem educada e por isso muito apreciada na cidade, mas uma tarde ela saiu para ir a casa de uma amiga e desapareceu, foi um desespero em toda a comunidade e durante dois dias toda a população procurou pela mocinha, que foi encontrada morta em uma mata fechada.

A policia da capital foi chamada e começou a investigar o terrível crime e como a comunidade desconfiava de Piruá, os policiais resolveram dar uma busca na residência da família dele e encontraram uma faca e algumas roupas com vestígios de sangue escondidas em seu quarto; Piruá foi preso e interrogado com dureza, confessou o terrível crime, mas dessa vez seu pai não conseguiu resolver.

O povo não se conformou com o acontecido e tentou invadir a cadeia para linchá-lo, mas foram contidos pela policia e Piruá foi transferido para um presídio distante de Santos Anjos, para aguardar o julgamento; a comunidade se acalmou e parecia tudo normal e no dia do julgamento ele voltou escoltado para a cidade, na porta do Fórum as pessoas eram revistadas pela policia.

Seu Julio, o pai da infeliz Lídia também foi revistado e se assentou na primeira fila de cadeiras,mas assim que o julgamento começou, ele se levantou e rapidamente se aproximou de Piruá, enterrando a agulha de uma seringa em seu pescoço; os policiais correram para socorrer o preso, mas em segundos ele caiu morto no chão e durante a confusão que se seguiu, a tal seringa desapareceu para sempre.

Sem provas visíveis, um médico atestou que Piruá tinha sofrido um infarto fulminante, que foi a causa da morte e a cidade respirou aliviada por se livrar daquele incomodo personagem e trataram de encerrar o assunto; a família do falecido não se convenceu, mas achou melhor ficar em silencio e no final ninguém chorou por ele e a cidade voltou a ter paz e normalidade.

CRÉDITOS TEXTO DE VÓ FIA FORMATAÇÃO DE VÓ FIA MÚSICA-LES FEUILLES MORTTES NEPOMUCENO MINAS GERAIS BRASIL

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