JOSÉ SARAMAGO. 1. AÇÃO «Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento em Mafra. Era uma vez a gente que construiu esse convento. Era uma.

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Transcrição da apresentação:

JOSÉ SARAMAGO

1. AÇÃO «Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento em Mafra. Era uma vez a gente que construiu esse convento. Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes. Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido. Era uma vez.» In Memorial do Convento Estrutura da obra – acção - A obra está dividida em 25 capítulos, apesar de estes não estarem numerados ou titulados O resumo da obra, que aparece na contracapa do livro e que pertence ao autor, atualiza um conjunto de fios narrativos que vão sendo, ao longo da obra, desenvolvidos e entrelaçados pelo narrador. Assim, a intriga de Memorial do Convento, como o título indica, gira à volta da construção do Convento de Mafra e das personagens referenciais e/ou ficcionais ligadas a essa construção. A história começa por volta de 1711, sensivelmente três anos após o casamento do rei D. João V com D. Maria Ana Josefa de Áustria, e termina vinte e oito anos depois, em 1739, aquando da realização do auto-de-fé em que morreram António José da Silva e também Baltasar Mateus.

2. NARRADOR PARTICIPAÇÃO Geralmente, é HETERODIEGÉTICO (surge na terceira pessoa e não participa na acção); PORÉM, por vezes, assume o ponto de vista de algumas personagens (assumindo a primeira pessoa do singular e até do plural) HOMODIEGÉTICO, quando assume o pensamento de algumas personagens ou se identifica com elas. pág. 30pág. 30 FOCALIZAÇÃO Geralmente, o narrador assume uma focalização OMNISCIENTE. Tem uma perspectiva transcendente em relação às personagens e move-se à vontade no tempo, saltando facilmente entre passado, presente e futuro. pág. 55 pág. 55 Mas também não faltam lazeres, por isso, quando a comichão aperta, Baltasar pousa a cabeça no regaço de Blimunda e ela cata-lhe os bichos, que não é de espantar terem-nos os apaixonados e os construtores de aeronaves, se tal palavra já se diz nestas épocas, como se vai dizendo armistício em vez de pazes. N.B. As páginas referidas dizem respeito à edição em PDFedição em PDF

FOCALIZAÇÃO INTERNA Outras vezes, o narrador assume momentaneamente a perspectiva das personagens que vivem a acção, conferindo mais vivacidade e verosimilhança à narrativa. “…. e esta sou eu, Sebastiana Maria de Jesus, um quarto de cristã-nova, que tenho visões e revelações, mas disseram-me no tribunal que era fingimento, que ouço vozes do céu, mas explicaram- me que era efeito demoníaco, que sei que posso ser santa como os santos o são, ou ainda melhor, pois não alcanço diferença entre mim e eles,” pág. 30.pág NARRADOR

3. ESPAÇO ESPAÇO FÍSICO São dois os espaços físicos nos quais se desenrola a acção: Lisboa e Mafra. Lisboa, enquanto macroespaço (p 22), integra outros espaços, a saber: Terreiro do Paço : local onde Baltasar trabalha num açougue, após a sua chegada a Lisboa (p. 24). Rossio : local onde decorre o auto-de-fé (p. 28). S. Sebastião da Pedreira : espaço relacionado com a passarola do padre Bartolomeu de Gusmão e ligado, assim, ao carácter mítico da máquina voadora (p. 38). Na época, era um espaço rural, onde existiam várias quintas que integravam palacetes. Mafra é o segundo macroespaço. Até à construção do convento, a vida de Mafra decorria na vila velha e no antigo castelo, próximo da igreja de Sto. André. A Vela foi o local escolhido para a construção do convento (p. 53), que deu lugar à vila nova, à volta do edifício. Nas imediações da obra, surge a “Ilha da Madeira”, onde começaram por se alojar dez mil trabalhadores, ascendendo, mais tarde, a quarenta mil. Além de Mafra, são ainda referidos espaços como Pêro Pinheiro, a serra do Barregudo, Monte Junto e Torres Vedras. As menções ao Alentejo evidenciam um espaço povoado de mendigos salteadores. Este espaço é percorrido por Baltasar quando regressa da guerra de Sucessão e, mais tarde, pelo cortejo real, através do olhar de João Elvas, aquando do casamento de D. José e de D. Maria Bárbara com os príncipes espanhóis, realçando-se a miséria e a penúria dos que aí vivem (p. 19; p. 204).

ESPAÇO SOCIAL O espaço social é construído, na obra, através do relato de determinados episódios e do percurso de personagens que tipificam um determinado grupo social, caracterizando-o. Procissão da Quaresma (p 14) Caracterização da cidade de Lisboa; Excessos praticados durante o Entrudo (satisfação dos prazeres carnais) e brincadeiras carnavalescas (p. 14); Penitência física e mortificação das almas após os desregramentos durante o Entrudo (p. 14); Descrição da procissão (p. 15); Manifestações e de fé que raiavam a histeria (autoflagelação); Autos-de-fé (Rossio) (p 28) A população em festa acorre em massa aos autos-de-fé; O narrador critica a ignorância de um povo que revela um gosto sanguinário e procura emoções fortes para preencher o vazio da sua existência; A assistência feminina aproveita a ocasião para se entregar a jogos de sedução; A morte constitui motivo para ambiente de festa; Execução das sentenças pelo Santo Ofício. Tourada (Terreiro do Paço) (p 60) Tratamento cruel dos animais; O povo exaltado liberta-se de inibições; A ironia do narrador traduz-se pela constatação de que, em Lisboa, as pessoas não estranham o cheiro a carne queimada e que a morte dos judeus é positiva, pois os seus bens revertem para a Coroa. Procissão do Corpo de Deus (pp ) Preparação da procissão: Descrição dos preparos da festa pelo narrador que assume o olhar do povo; Histeria coletiva – autoflagelação.

Em síntese Apesar da tentativa de purificação através do incenso, Lisboa permanecia uma cidade suja, caótica e as suas gentes eram dominadas pela hipocrisia de uma alma que, ironicamente, define como perfumada As procissões e os autos-de-fé caracterizam Lisboa como um espaço caótico, dominado por rituais religiosos cujo efeito exorcizante esconjura um mal momentâneo que motiva a exaltação absurda dos habitantes. A desmistificação dos dogmas e a crítica do narrador ao clero subjazem ao ideal marxista que condena a religião enquanto “ópio do povo”, isto é, condena-se a visão redutora do mundo apresentada pela igreja, que condiciona os comportamentos, manipula os sentimentos e conduz os fiéis a atitudes estereotipadas. A violência destes espectáculos apraz ao povo que, absurdo e ignorante, se diverte com as imagens de morte, esquecendo a miséria em que vive. A capital simboliza, assim, o espaço infecto, alimentado pelo ódio aos judeus e aos cristãos-novos, pela corrupção eclesiástica, pelo poder repressivo e hipócrita do Santo Ofício e pelo poder autocrático do rei.

TRABALHO NO CONVENTO Mafra simboliza o espaço da servidão desumana a que D. João V sujeitou os seus súbditos para alimentar a sua vaidade. Vivendo em condições deploráveis, os milhares de trabalhadores foram obrigados, à força de armas, a abandonar as suas casas e a erigir o convento para cumprir a promessa do seu rei e aumentar a sua glória (pp. 140).

ESPAÇO PSICOLÓGICO O espaço psicológico é constituído pelo conjunto de elementos que traduz a interioridade das personagens. Nesta obra, o espaço psicológico é constituído fundamentalmente através de dois processos : os sonhos das personagens, que funcionam como forma de caracterização das mesmas ou que, num processo que lhes confere densidade humana, traduzem relações com as suas vivências; e os seus pensamentos

4. TEMPO Tempo histórico Diz respeito à época em que se passa a ação. Logo no início do romance, podemos inferir que a ação começa no ano de 1711 (p. 9) Referências cronológicas: bênção da primeira pedra casamento de D. José com Mariana Vitória e de Maria Bárbara com D. Fernando (VI de Espanha) de Outubro, quadragésimo primeiro aniversário do rei e sagração do convento de Mafra

TEMPO DIEGÉTICO (da história) Trata-se do tempo em que decorre a ação e é constituído por algumas datas fundamentais. A ação começa por volta de 1711, altura em que D. João V ainda não fizera 22 anos e D. Maria Ana Josefa chegara havia mais de dois anos da Áustria e termina vinte e oito anos depois, em 1739, aquando da realização do auto-de-fé em que morreram António José da Silva e também Baltasar Mateus. O fluir do tempo, mais do que através da recorrência a marcos cronológicos específicos, é sugerido pelas transformações sofridas pelas personagens (p. 328) e por alguns espaços e objectos ao longo da obra (p. 143): 1717: Baltasar e Blimunda regressam a Lisboa para trabalhar na passarola com Bartolomeu. 1739: Blimunda vê Baltasar a ser queimado em Lisboa. Muitas vezes, a passagem do tempo é anunciada por situações precisas ou por referências temporais: tendo partido daqui há vinte e dois meses (pp. 72); meses inteiros se passaram desde então, o ano é já outro (p. 77); entretanto, nasceu o infante D. Pedro (p. 88); três anos inteiros haviam passado desde que partira (p. 117); há seis anos que vivem como marido e mulher (p. 130); seis anos de casos acontecidos (p. 134); e já vão onze anos passados (p. 162); passaram catorze anos (p. 214); já lá vão oito anos, foi lançada a primeira pedra (p. 231)

Tempo do discurso (tempo diegético, organizado pelo narrador) O tempo do discurso é revelado através da forma como o narrador relata os acontecimentos. Pode apresentá-los de forma linear, ou optar por retroceder no tempo ou antecipar situações em relação ao momento da narrativa. Analepses As analepses explicam acontecimentos anteriores, contribuindo para a coesão da narrativa. Assinale-se, anteriormente ao ano de início da acção (1711) a analepse que explica, em parte, a construção do convento como consequência do desejo expresso pelos franciscanos, em 1624, de construírem um convento em Mafra. Prolepses As prolepses antecipam os acontecimentos e servem os seguintes objectivos: A crítica social: é o caso das prolepses que dão a conhecer as mortes do sobrinho de Baltasar e do infante D. Pedro, de forma a revelar o contraste entre os dois funerais, ou a morte de Álvaro Diogo que viria a cair de uma janela, durante a construção do convento, ou ainda a informação sobre os bastardos que o rei iria gerar, filhos das freiras que seduzia. A visão globalizante de tempos distintos por parte do narrador (tempo da história e tempo da escrita): referências aos cravos, outrora na ponta das varas dos capelães, mais tarde símbolo da revolução de Abril; voos da passarola e ida do homem à lua; alusão às diversões do século XVII e às do século XX.

5. PERSONAGENS As personagens da obra dividem-se em referenciais e ficcionais. As referenciais são aquelas que pertenceram efetivamente à Hist ó ria. Representantes da classe dominante e do alto clero, são, no entanto, objeto da s á tira do autor. As ficcionais são aquelas criadas pelo autor e que, no caso presente, têm relevo superior.

5. PERSONAGENS

6.LINGUAGEM E ESTILO

7. CLASSIFICAÇÃO DO ROMANCE Existem aproxima ç ões ao romance hist ó rico, fundamentalmente na reconstitui ç ão de ambientes e de factos respeitantes à Hist ó ria, muito embora esta seja recriada pelo olhar cr í tico de Saramago que at é lhe d á outros her ó is, frequentemente aqueles que a verdade hist ó rica esqueceu, colocando-os num plano ficcional. A preocupa ç ão com a realidade social, evidenciada na obra, vai dar, tamb é m, ao romance um cariz social, fazendo-se crónica dos costumes da época, destacando-se a gente humilde e oprimida, afirmando-se, deste modo, como romance de interven ç ão, ao remeter para uma é poca repressiva, mas ainda experimentada no s é culo XX. Atrav é s do passado presentificado, o romance adquire intemporalidade, vis í vel na repressão, nos desejos e comportamentos das personagens, os quais não se alteraram no momento da escrita. Mas se uma é poca da Hist ó ria é evidenciada, os quadros que a reconstituem também caracterizam o ambiente histórico e, neste sentido, a designa ç ão de romance de espaço tamb é m se enquadra na obra. A reconstitui ç ão de cen á rios que retratam Lisboa e outras localidades permite observar as preocupa ç ões com os factos hist ó ricos e com o modo de vida dos humildes, por parte de Saramago. Pelo exposto, ressalta a perplexidade na classifica ç ão tipol ó gica do romance saramaguiano. Contudo, parece ser poss í vel estabelecer uma maior aproxima ç ão ao romance hist ó rico. Com efeito, « memorial » remete para algo respeitante à mem ó ria, para um escrito que relata factos memor á veis, neste caso relacionados com a constru ç ão do convento de Mafra. Os eventos narrados ligam-se à verdade hist ó rica dessa constru ç ão, mas este romance apresenta-se como bastante peculiar. É que à reconstru ç ão da Hist ó ria aliam-se outros aspectos que culminam numa reescrita da Hist ó ria, onde personagens normalmente por ela esquecidas vão ganhar relevo. Realmente, parece ser poss í vel afirmar que Memorial do Convento se aproxima do romance histórico, mas um pouco adulterado, uma vez que Hist ó ria funciona como pretexto para tratar temas e situações conducentes a valores intemporais. Jlserafim 2016