ENGENHARIA BIOQUÍMICA: UMA APLICAÇÃO SUI GENERIS DA ENGENHARIA QUÍMICA.

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Transcrição da apresentação:

ENGENHARIA BIOQUÍMICA: UMA APLICAÇÃO SUI GENERIS DA ENGENHARIA QUÍMICA Walter Borzani Durante a Segunda Grande Guerra (1939-1945), os então “Aliados” concentraram esforços consideráveis na consecução de um objetivo muito específico: transferir para escala industrial o processo de laboratório, então conhecido, de produção de penicilina por fermentação. Ao lado de profissionais já de longa data envolvidos no estudo de atividades microbianas, passaram então a atuar engenheiros químicos, com vistas à solução de questões bastante complexas inerentes à desejada ampliação de escala. Foi nesse período que nasceu o ramo da Engenharia Química que, mais tarde, por suas peculiaridades, receberia o nome de Engenharia Bioquímica.

Neste praticamente meio século de existência, esse novo ramo da Engenharia Química progrediu rapidamente, conduzindo a muito resultados de indiscutível importância prática. O objetivo da Engenharia Bioquímica é a aplicação dos conhecimentos da Engenharia Química na solução de problemas que se apresentam na implantação de processos biotecnológicos em larga escala, e em sua otimização. Segundo AIBA, HUMPHREY e MILLIS: “Biochemical engineering is concerned with conducting biological processes on na industrial scale, providing the links between biology and chemical engineering. The authors believe, moreover, that the heart of biochemical engineering lies in the scale-up and management of cellular processes”. BAILEY e OLLIS, por sua vez, dizem: “Processing of biological materials and processing using biological agents

such as cells, enzymes or antibodies are the central domain of biochemical engineering. Sucess in biochemical engineering requires integrated knowledge of governing biological properties and principles and of chemical engineering methodology and strategy. (...) Reaching this objective clearly requires years of careful study and practice”. Convém citar que o primeiro livro dedicado à Engenharia Bioquímica foi publicado em 1958, por STEEL. Os problemas que se apresentam no âmbito da Engenharia Bioquímica são, com alguma freqüência, de difícil solução, dadas as peculiaridades e a complexidade dos sistemas em que se desenvolvem os processos biotecnológicos. O estudo de vários desses problemas constitui o principal objetivo deste volume, mas parece-nos aconselhável, neste primeiro capítulo, comentar alguns deles, com a única finalidade de dar, aos alunos, uma idéia das questões que serão examinadas.

Comecemos tecendo alguns comentários a respeito dos balanços materiais em processos fermentativos. A célula microbiana responsável pela transformação que nos interessa em um dado processo realiza, além dessa transformação, um grande número de outras reações com o objetivo, para ela absolutamente primordial, de manter-se viva e multiplicar-se. Isso pode dificultar o estabelecimento de balanços materiais, além de afetar o rendimento do processo considerado. O conhecimento das prováveis vias metabólicas que se desenvolvem nas células é neste particular, de grande auxílio, fornecendo muitas vezes informações que indicam a maneira mais adequada de conduzir o processo que nos interessa. O fato inevitável, apontando há pouco, de a célula ter a única “preocupação” de manter-se viva e multiplicar-se, também pode acarretar sérios problemas no estudo da cinética da transformação que se tem em vista, uma vez que a velocidade de formação do produto que nos interessa pode ser

profundamente afetada pelas velocidades de outras reações integrantes do metabolismo do microrganismo. Isso pode dificultar o estabelecimento de modelos matemáticos, cuja importância na otimização e no controle de processos já foi constatada muitas vezes. A manutenção de um razoável grau de “homogeneidade” no reator, para que todos os agentes da transformação se encontrem, pelo menos aproximadamente, nas mesmas condições (tempera-tura, pH, concentrações de substâncias do meio), é outro problema a ser considerado, principalmente em reatores industriais. Consideremos, agora, a operação de esterilização de grandes volumes de meio, operação esta muito freqüente em indústrias de fermentação. Como proceder: eliminar os microrganismos por filtração do meio ou destruí-los por aquecimento? Se a esterilização por aquecimento tiver sido escolhida, que processo será utilizado: o descontínuo ou o contínuo? Que temperatura de esterilização será adotada e qual o correspondente tempo do tratamento térmico?

O meio, uma vez esterilizado, será encaminhado ao fermentador onde será transformado pela ação de células microbianas. Aqui nos depararemos com muitas alternativas. Serão utilizados microrganismos em suspensão no meio ou células imobilizadas em suportes inertes? Que processo de fermentação será utilizado: o descontínuo, o semicontínuo ou o contínuo? Com ou se, recirculação do microrganismo? Se for escolhido o processo descontínuo, será o descontínuo simples ou descontínuo alimentado? Se o processo adotado for o semicontínuo, que fração de meio fermentado será periodicamente retirada do reator e substituída por igual volume de meio novo? No caso de se ter optado pelo processo contínuo, adotar-se-á um único reator de mistura, vários reatores de mistura ligados em série, ou um reator pistonado? Quais serão as dimensões e o formato do reator? Como controlar as condições de fermentação? Como adicionar alguns nutrientes: todos de uma só vez no preparo do meio, ou de maneira programada durante o andamento do processo?

No caso de se tratar de um processo enzimático contínuo com enzimas imobilizadas, lançar-se-á mão de um reator de leito fixo, ou de leito fluidizado? Outro tópico a ser lembrado é o da ampliação da escala de trabalho(“scale up”): se bons resultados foram obtidos, em certas condições, em um reator de pequena capacidade, como operar um reator industrial para que os mesmos resultados sejam alcançados? Finalmente, para não alongarmos demasiadamente estes comentários, nunca será demais ressaltar a importância de que se reveste a escolha dos processos que serão utilizados, tanto na separação dos produtos e subprodutos,como no tratamento, ou no aproveitamento dos resíduos. A solução adequada de muitas das questões com que se defronta a Engenharia Bioquímica passa, necessariamente, pelo estabelecimento de modelos matemáticos, como se constatará ao longo deste Volume.

Parece-nos oportuno, por esse motivo, ressaltar a utilidade desses modelos, valendo-nos de um artigo publicado por FREDRICKSON e colaboradores em 1970: “1. Models serve to correlate data and so provide a concise way of thinking about a system or process. 2. Models allow one – within limits – to precict quantitatively the performance of a system or process. Thus, they cam reduce the amount of experimental labor necessary to design and/or optimize a process. 3. Models help to sharpen thinking about a system or process and can be used to guide one’s reasoning in the design of experiments, to isolate important parameters and elucidate the nature of the system or process. That is to say, the combinations of mathematical modelling and experimental research often suggests new experiments that need to be done.”

Literatura recomendada (1) AIBA, S., HUMPHREY, A. E. & MILLIS, N. F. Biochemical Engineering. University of Tokyo Press, Tóquio, 1973. (2) BAILEY, J. E. & OLLIS, D.F. Biochemical Engineering Fundamentals. McGraw-Hill Book Company, Nova York, 1986. (3) SIMON, P. & MEUNIER, R. Microbiologie Industrielle et Génie Biochimique. Masson et Cie., Éditeurs, Paris, 1970.

Engenharia Bioquímica e Indústria de Fermentação Operações Unitárias  Processo fermentativo aeróbio qualquer Sistema Multicomponente (meio, microrganismo e ar) Mistura Transf. de massa Transf. de calor

Processos Unitários Reduções Hidrólises Oxidações simples e complexas Polimerizações Conversão de substrato Biossínteses Formação de células

Desenvolvimento de Processo Fermentativo - Enzimático Descontínuo Semicontínuo Descontínuo alimentado (e variações) Contínuo (e variações) Aerado - Não aerado Crescimento em superfície - Submerso Meio líquido - Meio sólido Cél./Enz. livres – Cél./Enz. Imobilizadas Microrg. – cél. animais – cél. vegetais   Seja um Processo

O objetivo é ter esse processo funcionando e produzindo e, para isso: É necessário conhecimento de estequiometria e cinética de reações É necessário um controle eficiente (grande importância da modelagem matemática e da computação) Deve-se buscar o aumento de produtividade e redução de custos Deve-se buscar equipamentos com versatilidade e eficiência

Características e aplicações dos microrganismos em bioprocessos Sob o ponto de vista microbiológico (morfologia, nutrição, reprodução) C, N, macro e micronutrientes Fatores de cresc., água e oxigênio Condições de crescimento (pH, temp., atividade de água, aeração) crescimento visando perpetuar a espécie algumas condições têm que ser mantidas

B. Características desejadas sob o ponto de vista industrial - apresentar elevada eficiência na conversão de substrato em produto; (custo) - permitir o acúmulo de produtos no meio, de forma a se ter elevada concentração de produto no caldo fermentado; (técnico e custo de separação) - não produzir substâncias incompatíveis com o produto de interesse; (perda ou prejuízo p/ o processo) - apresentar constância quanto ao comportamento fisiológico; (manutenção de condições.; diminuição da conversão)

- não ser patogênico; (segurança) - não exigir condições de processo muito complexas; (técnica e custo) - não exigir meios de cultura dispendiosos; (custo) - permitir a rápida liberação do produto para o meio (produtividade.; custo)

Características desejáveis dos meios - custo mais baixo possível (importância destacada, desde que atenda às necessidades dos m.o.) - atender às necessidades nutricionais dos microrganismos - auxiliar no controle do processo (evitar variação de pH e formação de espuma, p.e.) - não provocar problemas de na recuperação do produto de interesse - ter componentes estáveis - ter composição razoavelmente fixa - não causar dificuldade no tratamento final do efluente.

Em muitos casos, as características dos m. o Em muitos casos, as características dos m.o. estão associadas às dos meios.