Conto "Sempre é uma companhia" Manuel da Fonseca

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Transcrição da apresentação:

Conto "Sempre é uma companhia" Manuel da Fonseca

Linguagem, estilo e estrutura: Metas Solidão e convivialidade.
 Caracterização das personagens. Relação entre elas. Caracterização do espaço: físico, psicológico e sociopolítico. Importância das peripécias inicial e final. Linguagem, estilo e estrutura: O conto: unidade de ação; brevidade narrativa; concentração 
de tempo e espaço; número limitado de personagens; 
 A estrutura da obra; 
 Discurso direto e indireto; 
 Recursos expressivos.

1º momento –Solidão Personagens: Relação entre Batola e a mulher: Vida monótona e triste dos habitantes de Alcaria. Durante o dia, os homens trabalham e à noite dirigem-se para suas casas e dormem. Batola passa o dia sentado à espera de atender os poucos fregueses que se deslocam à sua venda. Personagens: Batola Mulher do Batola Rata, amigo de Batola Relação entre Batola e a mulher:  Relacionamento conflituoso: ela é ativa e dominadora quando tem de tomar decisões, já ele ostenta uma postura passiva, porém, quando está ébrio, é violento. Batola sente-se inferiorizado em relação à mulher, já que é ela quem gere a casa e o negócio, o que lhe provoca uma revolta interior (por esse motivo é que já a agrediu).

Relação entre o comerciante e a mulher de Batola: Relação entre Batola e o comerciante: O vendedor fala com Batola de forma descontraída, estabelece uma aproximação com ele, de modo a garantir a venda da telefonia. O recurso ao discurso direto: - dá destaque à personagem – vendedor; - o tempo da narração é equivalente ao tempo da ação = eficácia do discurso e modo como determina a decisão de Batola; imprime vivacidade  e verosimilhança ao texto narrativo. Relação entre o comerciante e a mulher de Batola: Ao perceber a reação negativa da mulher de Batola, o vendedor dirige-se a ela de modo mais formal, pois percebe que ela é quem decide. Relação entre Batola e mulher: Alteração no relacionamento do casal – Batola decide tomar uma decisão contrária à da mulher, desafiando-a. Esta situação coloca em causa a autoridade dela.

Espaço psicológico: Tempo psicológico: A solidão de Alcaria faz com que o tempo passe devagar. Espaço psicológico: A recordação que Batola faz do seu amigo Rata concretiza uma marca de espaço psicológico. O mendigo recordado por Batola era aquele que, por sair da aldeia, lhe trazia novidades, trazendo alguma alegria ao protagonista, o que comprova o seu apreço pela liberdade e mundo exterior. Esta aldeia faz com que Batola se sinta solitário, isolado de tudo, já que não estabelece convivência com os outros habitantes da aldeia. 1.º Momento • A negatividade do espaço estende-se ao retrato das personagens. • O espaço físico surge, assim, em uníssono com o espaço psicológico dos protagonistas. • O espaço é opressivo e castrador.

2.º Momento • Com a chegada da telefonia, tudo e todos se tornam mais próximos, revitalizando o espaço psicológico de todos. • A comunicação entre as pessoas leva a uma mudança de perspetiva sobre o espaço. • O espaço que aprisionava torna-se libertador.

Espaço sociopolítico– Espaço físico – Macroespaço: Baixo Alentejo. Microespaço: aldeia de Alcaria; venda do Batola.  Caracterização Planície alentejana − campos solitários. • Alcaria − pequena aldeia perdida no Alentejo, com «quinze casinhas desgarradas e nuas». • A venda do Batola – espaço de desleixo, de decrepitude e de sujidade. Espaço sociopolítico– Espaço socialmente e economicamente deprimido. Os homens trabalham na agricultura (trabalho árduo) e a venda de Batola não é muito frequentada. Situação de miséria, vida precária que oprime os pequenos camponeses.  • Alentejo rural dos anos 40. • II Guerra Mundial. • Estado Novo – ditadura militar em Portugal.

Narrador- Narrador que conhece o futuro (focalização omnisciente)

2º momento – Convivialidade Após a chegada da telefonia, todos os habitantes dirigem-se, ao fim de um dia de trabalho, à venda de Batola, onde convivem e ouvem notícias e canções. Sentimentos despertados pela telefonia junto dos habitantes da aldeia: O convívio entre os habitantes de Alcaria renasceu, motivo pelo qual o sentimento de isolamento se dissipou. A alegria voltou à aldeia e com ela a noção de passagem do tempo também se alterou – “os dias passam agora rápidos”; Repetição da preposição “até” reforça os acontecimentos pouco expectáveis fomentados pela presença da telefonia – as mulheres saem à noite para estarem na venda a conviver, as velhas dançam e o Batola tem vontade de trabalhar.

Após um mês de experiência: Metáforas – fim do mundo; negrume ; rebanho salientam a constatação de que os habitantes voltariam a sentir o isolamento e a solidão que lhes eram característicos antes da chegada da telefonia. Mais uma vez, iriam sentir que estavam “muito longe”, no “fim do mundo” e que só lhes restava “o abandono e a solidão”. Atitude da mulher do Batola: - com humildade, faz um pedido ao marido, mostrando estar em sintonia com ele, já que assume a importância da telefonia na vida deles e da aldeia

Funções da peripécia inicial:  Desencadear a ação (elemento que conduz à sucessão de peripécias que culminarão na peripécia final); Contribuir para a representação do espaço sociopolítico: a abordagem do vendedor evidencia o confronto de interesses e de posições sociais (entre os que têm e os que não têm) e realça o estatuto das classes populares (em que se inclui Batola) como vítimas da violência social.

Funções da peripécia final: Acontecimento imprevisível que altera o rumo dos acontecimentos (decisão de manter a telefonia, pois é uma “companhia” num espaço de solidão no microcosmos da aldeia). A decisão de manter a telefonia sugere a necessidade de convivialidade, de contacto com o exterior (contrariando o isolamento e a solidão anteriormente vividas), e de conhecimento da realidade sociopolítica; Em última análise, sugere a pulsão libertadora e a possibilidade de emancipação face à opressão vivida (trata-se do germe de uma transformação).

Sequências Sequência descritiva Segmento textual “Muito alta, grave, um rosto ossudo e um sossego de maneiras que se vê logo que é ela quem ali põe e dispõe.” Fases/etapas Apresentação da entidade a descrever (mulher de Batola), identificação e descrição das partes que constituem o todo (“Muito alta, grave”, “um sossego de maneiras”). Marcas linguísticas nos exemplos dados Nomes, adjetivos; recursos expressivos (metáfora).

Sequências Sequência dialogal Segmento textual “– Tem cerveja? [...] – Aqui é Londres, hem! – grita o homem. – O senhor sabe ler? Então leia aqui!” Fases/etapas Sequência de abertura (“– Tem cerveja?”), núcleo da interação (restantes falas). Marcas linguísticas nos exemplos dado Fórmula de abertura (“– Tem cerveja?”), formas de primeira e terceira pessoa (“Dou-lhe” – nota: tratamento pela terceira pessoa).

Sequências Sequência narrativa Segmento textual “Por  fim, mudou-se de posto para ouvir as notícias do mundo. Todos se quedaram, atentos.” Fases/etapas Avanço na ação, relato de uma sucessão de evento. Marcas linguísticas nos exemplos dados Pretérito Perfeito do Indicativo

Ideias-chave Retrato económico e sociocultural do Alentejo na primeira metade do século XX; O título do conto anuncia um novo meio de comunicação que vai mudar a vida de uma população deprimida, no contexto da II Guerra Mundial; A intriga é simples e é contada de forma linear; O espaço exterior representa os sentimentos negativos do protagonista; O refúgio em comportamentos antissociais e a desistência da vida perpassam ao longo do conto, assim como as relações afetivas conturbadas; O conto permite uma reflexão sobre a condição humana, que excede os limites temporais da ação.

Síntese A intriga  Peripécia banal: um engano de percurso leva um vendedor a Alcaria. Isolamento geográfico da aldeia e ausência de comunicação: abandono, solidão e desumanização da população. Chegada do novo aparelho: a radiotelefonia. Ligação ao mundo: música e notícias. Alteração de comportamentos: devolução da humanidade. O espaço Aldeia de Alcaria: “quinze casinhas desgarradas e nuas”. Estabelecimento do casal Barrasquinho: “a venda” é um local onde reina o desleixo.  “Fundos da casa”: espaço de habitação sombrio separado da venda. Locais “longínquos” por onde viajava Rata: Ourique, Castro Marim, Beja.

Síntese O tempo Tempo histórico: anos 40 do século XX (referência à eletricidade e à telefonia). Passagem do tempo condensada: “há trinta anos para cá”, “todas as manhãzinhas”. Tempo sintetizado: da chegada do vendedor à partida do vendedor e prazo de entrega do aparelho – um mês. As personagens - António Barrasquinho, o Batola: preguiçoso, improdutivo, sonolento, bêbado, bate na mulher. Tem nome e alcunha (típico no Alentejo). Usa uma indumentária própria do homem alentejano. A morte de Rata agudiza a sua solidão. - A mulher do Batola: expedita, dominadora e trabalhadora. Não tem nome. - Rata: companheiro de Batola, mendigo e viajante, é o mensageiro do exterior. Suicidou- se quando deixou de poder viajar. - Caixeiro-viajante: vendedor de aparelhos radiofónicos, comerciante e amigo de vender. - Homens de Alcaria: “figurinhas” metaforicamente aparentadas com gado.

Síntese O narrador A atualidade O narrador de terceira pessoa narra os acontecimentos, comenta, conhece o passado e o mundo interior das personagens (presença: não participante; ponto de vista: subjetivo; focalização: omnisciente) O narrador centra a atenção do leitor no abandono e solidão sentidos pelos protagonista. O narrador conhece os pensamentos de Batola e desvenda como se vão formando: o desgosto leva-o a fechar-se num mundo de evocações. A atualidade  - Isolamento e falta de convivialidade. - Relações entre homem e mulher. - Vícios sociais: o alcoolismo, a violência doméstica. - As inovações tecnológicas e alterações de hábitos sociais.

Linguagem e estilo