Afinal a democracia não é o melhor sistema político?

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
A Nova Ordem Mundial.
Advertisements

PRESIDENCIALISMO E PARLAMENTARISMO
A GEOGRAFIA DO PODER.
1914 – 1918.
25 de Abril de 1974.
Sistemas Eleitorais Comparados
Abismo fiscal nos EUA e os Riscos para 2013
Mianmar ou Birmânia (Fant.30set2007.
A descolonização da África
A gestão por confiança surge como decorrência de uma complexidade e incerteza crescentes. Globalização - Não se trata de competir em nível local e nacional,
Por uma outra globalização!
Socialismo.
As questões ambientais
Políticas Públicas.
União Europeia.
União europeia SÓNIA VICENTE.
Tratado de Lisboa Uma apresentação
A NOVA ORDEM MUNDIAL E A GLOBALIZAÇÃO
UNIÃO EUROPÉIA A BANDEIRA AZUL, SALPICADA DE ESTRELAS DOURADAS, JÁ PODE SER VISTA JUNTO ÀS BANDEIRAS NACIONAIS DE ALGUNS PAÍSES EUROPEUS. É A BANDEIRA.
Salvar a democracia The Economist, lida por Ângela Santos Março de 2014.
Repressão e violência na Síria
OUTROS BLOCOS ECONÔMICOS
TENDÊNCIAS Consultoria Integrada
NOVA ORDEM INTERNACIONAL Colégio Militar de Belo Horizonte História -
SEBRAE – ANEFAC - EPN Economia Brasileira: Desafios.
Economia Brasileira: Desafios
PROFESSOR LEONAM JUNIOR CAPÍTULO 3 - GLOBALIZAÇÃO E BLOCOS ECONÔMICOS
Centro de Direitos Humanos
Conferência de Joanesburgo
IMAGENS DO TIBETE. IMAGENS DO TIBETE REVOLUÇÃO DA CORÉIA.
O Fenômeno da Globalização e as Identidades Regionais
Introdução à Microeconomia
IMPERIALISMO Professor Ricardo Professor Ricardo.
As Políticas do Banco Mundial e as Reformas Educacionais
Curdos.
José Alves de Freitas Neto Célio Ricardo Tasinafo GERAL E DO BRASIL 2.ª edição 2.ª edição.
PERSPECTIVAS DA ECONOMIA BRASILEIRA
Igualdade para todos! Plano Marshall.
Universidade do Vale do Itajaí Curso de Geografia
Como funciona? Quem decide?
Situação Económica Mundial Abel M. Mateus Instituto Superior Naval, Março 2003.
A CRISE NA UCRÂNIA A onda de manifestações na Ucrânia teve início depois que o governo do presidente Viktor Yanukovich desistiu de assinar, em 21 de.
Empreendedorismo.
Educação Cooperativista
Sociologia – Ens. Médio Prof.º Renan
Situação Económica Mundial Abel M. Mateus Instituto Superior Naval, Março 2002.
ECONOMIA PÓS - GUERRA 1ª Guerra Mundial: Houve um crescimento na indústria de aço e motores de combustão interna, eletricidade e petróleo. 1929: Queda.
Democracia e Relações Internacionais Prof. Fabiano.
EPN – ESCOLA PAULISTA DE NEGÓCIOS CENÁRIO ECONÔMICO – O MOMENTO DA ECONOMIA MUNDIAL E SEUS REFLEXOS NO BRASIL.
DESCOLONIZAÇÃO DA ÁFRICA E DA ÁSIA E REVOLUÇÃO CHINESA
CRISE NA UCRÂNIA Prof. GROTH.
Desafios da União Europeia na Atualidade
BRICS.
G-20.
Como funciona a União Europeia
UNIÃO EUROPÉIA.
Origens e bases do mundo global.
Porque a esquerda apóia incondicionalmente os árabes-palestinos em sua guerra contra Israel? Baseado no texto de: Salomon S. Mizrahi Produzido Por: NetJudaica.Com.Br.
Uma pesquisa realizada por meio da parceria entre Duke University, Fundação Getúlio Vargas e CFO magazine 1 Perspectivas de Negócios na América Latina.
Estabilidade e instabilidade num mundo unipolar
G - 2.
A EUROPA DOS 28. HISTÓRICO 1948: BENELUX, primeiro bloco econômico do mundo (pós 2ª Guerra Mundial). Integrantes: Bélgica, Holanda e Luxemburgo.
UNIÃO EUROPEIA BLOCOS ECONÔMICOS – diferentes níveis de integração
Da queda da monarquia à formação da URSS.
A EUROPA DOS 27.
Crise Europeia Causas da crise: -Impacto da crise de Salvar bancos e empresas com dinheiro público -Dívidas públicas dos países europeus – gastos.
GEOPOLÍTICA PROFESSOR JHONNY. Primavera Árabe  Onda de protestos, revoltas e revoluções populares contra governos do mundo árabe que eclodiu em 2011.
Revoluções Inglesas Séc. XVII E a Crise do Antigo Regime. Capítulo 18. P
Capítulo 4- Desenvolvimento e Subdesenvolvimento
O O caminho para a União Europeia. Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) França Alemanha Itália Holanda Bélgica Luxemburgo1951 Assinatura do Tratado.
Transcrição da apresentação:

Afinal a democracia não é o melhor sistema político? The Economist lida por Ângela Santos Março de 2014

Acreditámos que a democracia seria o melhor sistema político e que acabaria por alastrar pelo mundo. Em média, as democracias são mais ricas, é menos provável que entrem em guerra, são mais eficazes no combate à corrupção. Além de deixarem as pessoas dizerem o que pensam, e decidirem o futuro. No ano de 2000, havia 120 nações democráticas (Freedom House). 63% do mundo vivia em democracia.

Na 2.ª metade do séc. XX, as democracias instalaram-se em contexto de grandes dificuldades ou conquistas: 1. na Alemanha traumatizada pelo nazismo 2. na Índia com a população de pobres maior do mundo 3. na África do Sul desfigurada pelo apartheid 4. na África e na Ásia, na sequência de descolonizações 5. na Grécia (1974), Espanha (1975), Argentina (1983), Brasil (1985) e Chile (1989), após a queda de regimes autocráticos 6. na Europa Central, após o colapso da união soviética Em 2000, a americana Freedom House dizia que havia 120 nações democráticas; 63% do mundo vivia em democracia

Velhas dúvidas sobre a democracia regressam agora, cada vez mais respeitadas. O insucesso democrático ganhou visibilidade a partir do ano 2000. Três grandes razões: o sucesso do novo modelo da China, o rumo das democracias emergentes, o funcionamento das velhas democracias. Embora 40 % da população mundial (mais do que nunca) viva em países onde há eleições livres e justas, o avanço da democracia parou ou começou mesmo a recuar.

O novo modelo da China O Partido Comunista Chinês conseguiu mais progresso económico do que o mundo democrático: a América, no máximo do crescimento, conseguiu duplicar o nível de vida a cada 30 anos; a China, nos últimos 30 anos, duplicou o nível de vida a cada 10 anos. Larry Summers, Universidade de Harvard A China tem conseguido resolver rapidamente questões públicas, que as democracias ocidentais podem levar décadas a resolver. Por exemplo: 85% dos chineses declara-se muito satisfeito com o rumo do seu país 31% dos Americanos também… Pew Survey of Global Attitudes, 2013 em dois anos, a China alargou o sistema de pensões a 240 M de cidadãos rurais (muito mais do que o total de pessoas cobertas pelo sistema público de pensões americano).

O novo modelo da China controlo apertado pelo Partido Comunista, esforço constante para recrutar talentos para o Partido, mudança de liderança política a cada 10 anos, promoção dos quadros políticos com base na capacidade para atingir objetivos, maior atenção à opinião pública promovida paradoxalmente pela obsessão de a controlar (prisão de dissidentes e censura de discussões na Internet).

O novo modelo da China A elite intelectual chinesa defende que o sistema chinês é mais eficiente do que a democracia, e menos propício a impasses. “A democracia está a destruir o Ocidente, especialmente a América, porque institucionaliza o impasse, trivializa as tomadas de decisão e produz presidentes de segunda categoria, como o George Bush Júnior.” Zhang Weiwei, Universidade de Fundun “Muitos países em vias de desenvolvimento introduziram os valores e o sistema político ocidentais para agora estarem a viver na desordem e no caos. A China oferece um modelo alternativo.” Wang Jisi, Universidade de Pequim “A democracia complica coisas simples e deixa que os políticos de falinhas mansas enganem as pessoas.” Yu Keping, Universidade de Pequim Alguns países em África (Ruanda), no Médio Oriente (Dubai) e no sudeste da Ásia (Vietnam) mostram-se tentados pela alternativa chinesa.

As democracias emergentes No Egito, Hosni Mubarak é deposto, em 2011, mas Morsi, da Irmandade Muçulmana, depois de eleito, usa o sistema democrático para assumir poderes quase ilimitados, invadir o estado de Irmãos e garantir uma maioria islâmica permanente; em 2013, o exército destitui o primeiro presidente democraticamente eleito do Egito. Tentativas mal-sucedidas Na Síria, a guerra instalou-se. Na Líbia, o caos.

As democracias emergentes Simulacros O simulacro é pior do que o abandono porque desacredita mais o sistema. Na Rússia, Boris Yeltsin começou o caminho para a democracia, mas o sucessor Putin destruiu a substância da democracia (dominando a imprensa e prendendo os oponentes), embora preservando as aparências: todos podem votar, desde que ganhe Putin. Na Venezuela, Ucrânia, Argentina etc. seguiram-se outros simulacros.

As democracias emergentes Os retrocessos Na África do Sul, o mesmo partido mantém-se no poder, desde 1994. Na Turquia, a corrupção e autocracia parecem substituir a anterior combinação de prosperidade, islamismo moderado e democracia. Na Tailândia, Bangladesh e Camboja, os partidos da oposição boicotaram eleições recentes ou recusaram-se a aceitar os resultados.

Jovens democracias Velhos erros As jovens democracias repetem os mesmos erros das velhas democracias: gastos excessivos com medidas agradáveis de curto prazo, e défice de investimento a longo prazo; No Brasil, os funcionários públicos reformam-se aos 53 anos, mas pouco se fez para modernizar a rede de aeroportos. Na Índia, as clientelas são bem pagas, mas investe-se pouco em infraestruturas. sistemas políticos tomados por grupos de interesses e minados por hábitos antidemocráticos.

Lições por aprender A democracia não floresce espontaneamente quando plantada. A democracia é uma prática com raízes culturais. A democracia precisa de se apoiar em instituições que são de construção lenta. Em quase todos os países ocidentais, o direito ao voto veio muito depois de sistemas políticos sofisticados, serviços cívicos poderosos, direitos constitucionais, sociedades que valorizavam os direitos individuais e a independência dos sistemas judiciais.

Velhas democracias As falhas do sistema são cada vez mais visíveis e a desilusão com os políticos é cada vez maior.

Velhas democracias A confiança minada A crise financeira de 2007-8 revelou fraquezas nos sistemas políticos ocidentais, como a dívida e o resgate sucessivo de banqueiros com o dinheiro dos contribuintes. A justificação para a guerra do Iraque, quando não se encontraram armas, passou a ser a defesa da democracia (George Bush Jr.), o que foi visto como uma desculpa para o imperialismo americano.

Velhas democracias Os modelos As democracias da Europa e dos EUA passaram a identificar-se com dívida e disfunção. Nos Estados Unidos, a democracia associa-se a impasse (nem um orçamento conseguem aprovar, quanto mais planear o futuro…); manipulação das formas de contar votos; influência dos lobbies na política, ou seja, democracia à venda e ricos com mais poder do que pobres.

Velhas democracias Os modelos As democracias de Europa e dos EUA passaram a identificar-se com dívida e disfunção. Na UE, a democracia pode suspender-se temporariamente: a decisão de introduzir o Euro foi tomada por tecnocratas (só a Dinamarca e a Suécia referendaram, e disseram “não”); a tentativa de obter adesão popular ao tratado de Lisboa parou quando as votações foram no sentido oposto; durante a crise do Euro, a Grécia e a Itália foram forçadas a substituir líderes democraticamente eleitos por tecnocratas; o parlamento europeu, criado para sanar o défice democrático da Europa, é ignorado e desprezado.

Pressão por cima: a globalização No mundo ocidental, a democracia é pressionada por cima, por baixo e por dentro. Pressão por cima: a globalização A política nacional depende cada vez mais de mercados globais e organizações internacionais, logo, o cumprimento de promessas não está totalmente nas mãos dos políticos nacionais. Há problemas supranacionais que não se conseguem resolver a nível nacional, como as alterações climáticas e a evasão fiscal. Para responder à globalização, os políticos entregaram parte do seu poder a tecnocratas não eleitos (ex.: bancos centrais independentes).

Pressão por baixo: os infrapoderes As exigências de poder por regiões que tendem para a independência (Catalunha e Escócia), por estados indianos e câmaras americanas. A imposição de organizações como as ONG e os lobbies. A Internet que facilita a agitação e faz parecer anacrónica a votação política.

Pressão por dentro: tendências O hábito de contrair dívidas para dar aos eleitores o que querem, a curto prazo, e de negligenciar os investimentos de longo prazo. Pressão por dentro: tendências A participação decrescente: menos filiados nos partidos (20 % em 1950 no RU; 1 % agora) abstenção crescente (em 49 democracias, aumentou 10 % entre 1980-84 e 2007-13) mais de metade dos eleitores não têm confiança no governo (segundo inquérito em sete países europeus, 2012) 62 % opinam que os políticos mentem constantemente (YouGov, 2012). A crescente provocação de protesto dos eleitores: o candidato que chegou ao poder prometendo ser abertamente corrupto (Islândia); o comediante que reuniu um quarto dos votos (Itália).

Com o avanço da China e os problemas nas democracias ocidentais, a Améria e a Europa perderam o papel de modelo para o resto do mundo As euro-elites saqueiam os líderes eleitos que se oponham à ortodoxia fiscal

A elite capitalista indiana queixa-se de que O modelo chinês torna-se tentador. As democracias dos EUA e da Europa deixaram de ser um modelo para o resto do mundo. A elite capitalista indiana queixa-se de que a democracia caótica da Índia produz péssimas infraestruturas, mas o sistema autoritário da China produz auto-estradas, aeroportos resplandecentes e comboios de alta-velocidade.

Embora a elite governante chinesa acumule cada vez mais riqueza, e tenda a perpetuar-se; embora o crescimento na China tenha abrandado (de 10 % para menos de 8 %) e tenda a abrandar mais ainda, a China continua a representar uma ameaça credível à ideia de que a democracia é um sistema superior e à ideia de que acabará por prevalecer.