CARLOS CHAGAS E O PRÊMIO NOBEL

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Transcrição da apresentação:

CARLOS CHAGAS E O PRÊMIO NOBEL UMA POLÊMICA QUE AGITA O MEIO CIENTÍFICO BRASILEIRO

Doença de Chagas - 100 anos NOTA: O texto abaixo foi copiado dos “DESTAQUES” no “site” do Instituto Oswaldo Cruz, referente às comemorações do centenário da descoberta da tripanossomíase americana em 2009.  Em abril de 1909, Carlos Chagas (1878-1934), pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), comunicou ao mundo científico a descoberta de uma nova doença humana. No ano anterior, Chagas já havia sido capaz de identificar seu agente causal - o protozoário que denominou de Trypanosoma cruzi, em homenagem a Oswaldo Cruz - e o inseto transmissor, conhecido como barbeiro. A “tripla descoberta” de Chagas, considerada única na história da medicina, constitui um marco na história da ciência e da saúde brasileiras (grifo meu). As atividades previstas para o ano de centenário de descoberta da Doença de Chagas, além de celebrarem um momento marcante da história da ciência,  têm como objetivos contribuir para o conhecimento da doença e suas formas de prevenção.

CARLOS CHAGAS E O PRÊMIO NOBEL A LITERATURA INFORMA QUE CARLOS CHAGAS TEVE INDICAÇÕES PARA O PRÊMIO NOBEL DE FISIOLOGIA E MEDICINA. O “JORNAL DA CIÊNCIA”, ÓRGÃO DA SBPC REFERE DUAS INDICAÇÕES (1913 E 1921). MARÍLIA COUTINHO (1999) REFERE QUATRO INDICAÇÕES, QUE FORAM CONFIRMADAS POR NILS RINGERTZ, SECRETÁRIO DA COMISSÃO NOBEL PARA FISIOLOGIA E MEDICINA (INSTITUTO KAROLINSKA – ESTOCOLMO, SUÉCIA), SEGUNDO O QUAL DUAS DELAS NÃO FORAM OFICIAIS. AS DUAS OFICIAIS SÃO: UMA EM 1913, FEITA POR PIRAJÁ DA SILVA; OUTRA EM 1921 FEITA POR HILÁRIO SOARES DE GOUVÊA. NA PRIMEIRA FOI PREMIADO CHARLES RICHET E NA SEGUNDA NÃO HOUVE LAUREADO.

CARLOS CHAGAS E O PRÊMIO NOBEL TODAVIA, CARLOS CHAGAS NUNCA FOI AGRACIADO COM ESSA LÁUREA. A PARTIR DO FIM DOS ANOS NOVENTA, MARÍLIA COUTINHO E J.C. PINTO DIAS PUBLICAM ARTIGOS NOS QUAIS QUESTIONAM SE A NÃO PREMIAÇÃO TEVE A INTERFERÊNCIA DE MÉDICOS CONTEMPORÂNEOS DE CHAGAS, EM ESPECIAL DA ACADEMIA NACIONAL DE MEDICINA. DIAS JCP. (1999). CARLOS CHAGAS: PRÊMIO NOBEL EM 1921. IN CARLOS CHAGAS: COLETÂNEA DE TEXTOS PUBLICADOS SOBRE SUA VIDA E OBRA. ACADEMIA MINEIRA DE MEDICINA (ORG.), P. 212-214, GRÁFICA REAL LTDA., BELO HORIZONTE, MG. DIAS JCP, COURA JR. & COUTINHO M 2009. CARLOS CHAGAS E A INDICAÇÃO AO PRÊMIO NOBEL, WWW.FIOCRUZ.BR/CHAGAS. COUTINHO M 1999. O NOBEL PERDIDO. FOLHA DE SÃO PAULO, 7 DE FEVEREIRO, CADERNO 5, P.11. COUTINHO M, FREIRE JR. O & DIAS, JCP. 1999. THE NOBLE ENIGMA: CHAGAS NOMINATIONS FOR THE NOBEL PRIZE. MEM. INST. OSWALDO CRUZ, 94 (SUPPL. 1): 123-129.

Carlos Chagas: Prêmio Nobel em 1921 1999 - por João Carlos Pinto Dias. Pesquisador Titular da FIOCRUZ (C.Pesquisas René Rachou, de Belo Horizonte). Fonte: www.datasus.gov.br http://www.submarino.net/cchagas/artigos/art3.htm RELATA BREVEMENTE A BIOGRAFIA DE CARLOS CHAGAS (1878-1934). DESCREVE AS LINHAS GERAIS DA DESCOBERTA DA DOENÇA. CHAMA A ATENÇÃO PARA AS DISPUTAS CIENTÍFICAS EM QUE ELE SE VIU ENVOLVIDO. DESTACA A DURA CONTESTAÇÃO DE AFRÂNIO PEIXOTO E OUTROS NA ACADEMIA NACIONAL DE MEDICINA, QUE DUROU DE 1920 A 1922. EM SEGUIDA TRANSCREVE O TEXTO DO HISTORIADOR ARGENTINO SIERRA-IGLESIAS (Sierra-Iglesias J.P., 1990. Salvador Mazza - su vida y su obra - redescubridor de la enfermedad de Chagas. San Salvador de Jujuy, Universidad Nacional de Jujuy, 527 p): “En 1921 era propuesto para el Premio Nobel de Medicina, y cuando todo presumía que le sería otorgado, inconfesables influencias se interpusieron. El Instituto sueco se había dirigido a organismos científicos del Brasil recabando datos sobre su personalidad, sobre su obra, pero algunos sus propios compatriotas (increíblemente, entre ellos algunos no médicos, por lo tanto primariamente inhabilitados para juzgar el descubrimiento de la tripanosomiasis), lo desaconsejaron, siendo este año declarado desierto este codiciado lauro mundial".

Carlos Chagas: Prêmio Nobel em 1921 1999 - por João Carlos Pinto Dias. Pesquisador Titular da FIOCRUZ (C.Pesquisas René Rachou, de Belo Horizonte). Fonte: www.datasus.gov.br http://www.submarino.net/cchagas/artigos/art3.htm CONTINUA: “O arrazoado brasileiro que apresenta Chagas à Academia Sueca, se encontra na FIOCRUZ e contempla os méritos e a genialidade de Chagas, a par da enorme transcendência de sua descoberta para a humanidade, em especial para os povos latino-americanos. (Anônimo, 1920). O andamento do processo e as razões para a não contemplação de Carlos Chagas constituem um mistério, não havendo outros registros em Manguinhos e junto à família de Carlos Chagas. Não obstante, é muito coerente a informação de Sierra Iglesias com a proposta/indicação de Chagas, sendo muito provável que esteja correta a informação argentina. É bastante possível, sem dúvida, que ao pedido sueco, autoridades brasileiras tenham desaconselhado o laureamento, na época, diretamente por ação dos detratores ou, por insegurança diante da pendência em curso.”

Carlos Chagas: Prêmio Nobel em 1921 1999 - por João Carlos Pinto Dias. Pesquisador Titular da FIOCRUZ (C.Pesquisas René Rachou, de Belo Horizonte). Fonte: www.datasus.gov.br http://www.submarino.net/cchagas/artigos/art3.htm SEGUE: Em sendo verdadeiro, este episódio apresenta a maior importância no cenário da ciência mundial e latino-americana. A ser verdade o episódio, é definitivamente lamentável o ocorrido, que privou o Brasil de seu primeiro Prêmio Nobel (até hoje teria sido o único) e a Chagas de mais um merecido galardão. Seria possível uma reconsideração, uma outorga a posteriori ? Em 1999 se comemora, através da Fundação Oswaldo Cruz e em parceria com a OMS e inúmeras entidades nacionais e internacionais de Ciência, o noventenário da imortal descoberta. Expedientes estão em curso para verificar a realidade dos fatos que permeiam este não recebimento do Prêmio Nobel por Carlos Chagas, especialmente junto à Academia e às Autoridades de Estocolmo. Na presente nota, além desta primeira informação, se solicita - a todos aqueles que possam colaborar - suas idéias, empenho e eventuais ações que permitam elucidar os fatos e contribuir para que se faça justiça ao grande brasileiro .

Justice where justice is due: A posthumous Nobel Prize to Carlos Chagas (1879–1934), the discoverer of American Trypanosomiasis (Chagas' disease) International Journal of Cardiology, Volume 134, Issue 1, 1 May 2009, Pages 9-16  Reinaldo B. Bestetti, Cláudia A. Martins, Augusto Cardinalli-Neto Abstract Working in the Brazilian backland, Chagas described a new disease. He discovered the etiologic agent, the vector, the reservoir, the acute stage, the several clinical aspects of the chronic stage (particularly the heart disease), role of autoimmunity in its pathogenesis, and anticipated the social impact of the disease. Chagas was nominated to Nobel Prize twice: in 1913, and in 1921. In 1913, Richet won the prize because his work on anaphylaxis. In 1921, no one received the Nobel Prize. It is believed that detraction of Chagas' work at the National Academy of Medicine, made by jealousy, mediocrity, and political rivalries can be maculated the image of the scientist. Furthermore, misperception of Chagas' work may also have led the Nobel Committee not to award him. One-hundred years after the discovery, we can appreciate the greatness of the discovery of Carlos Chagas, never seem in the realm of biological research. Time to make justice, therefore, has finally come.

JORNAL DA CIÊNCIA – ÓRGÃO DA SBPC – 20/O4/09 http://www Chagas teve duas indicações ao Nobel, mas não levou nenhuma. Por quê? Há quem acredite que sua candidatura foi comprometida por outros médicos brasileiros que questionavam publicamente suas descobertas Herton Escobar escreve para “O Estado de São Paulo”: Um mistério assombra a memória de Carlos Chagas: Por que ele não recebeu o prêmio Nobel? Suas descobertas sobre a doença que ganhou seu nome eram certamente dignas da maior honraria científica. Até hoje, Chagas é apontado como o candidato mais forte que o Brasil já teve ao Nobel. Ele foi oficialmente indicado ao prêmio de Medicina duas vezes – em 1913 e 1921 –, mas nunca foi laureado. Há quem acredite que sua candidatura foi comprometida por outros médicos brasileiros que questionavam publicamente suas descobertas e que poderiam ter influenciado negativamente a decisão da academia sueca de conceder-lhe o prêmio. Uma versão da história que ganhou visibilidade nos últimos anos é a de que Chagas foi o escolhido pelo Instituto Karolinska para receber o Nobel em 1921, mas, por algum motivo, não o recebeu – por isso, o prêmio não foi concedido a ninguém naquele ano. (grifo meu)

JORNAL DA CIÊNCIA – ÓRGÃO DA SBPC – 20/O4/09 http://www Teriam os inimigos científicos e políticos de Carlos Chagas no Brasil, motivados pela inveja de seu sucesso, sabotado sua candidatura ao prêmio máximo da ciência mundial? “Os motivos pelos quais o prêmio foi negado quando as indicações foram feitas permanecem um mistério”, escrevem os pesquisadores João Carlos Pinto Dias, José Rodrigues Coura e Marília Coutinho em um texto publicado no portal online sobre Chagas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Um artigo do médico José Eymard Homem Pittella, publicado no início deste ano na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, porém, parece afastar os fantasmas de uma teoria conspiratória. Na verdade, Carlos Chagas não foi o único candidato ao Nobel em 1921. Não foi nem mesmo um dos finalistas recomendados pelo comitê de seleção para a Assembleia Nobel. Segundo Pittella, que pesquisou os arquivos do prêmio, 42 cientistas foram indicados ao Nobel de Fisiologia ou Medicina naquele ano. Os três mais “votados” tiveram 11, 9 e 7 indicações cada. Carlos Chagas teve apenas uma, submetida pelo médico brasileiro Hilário Soares de Gouvêa.

PROCESSO DE INDICAÇÃO AO PRÊMIO NOBEL DE FISIOLOGIA OU MEDICINA José Eymard Homem Pittella O processo da premiação inicia com a indicação de candidatos ao prêmio por pessoas qualificadas para tal. Os indicados por essas pessoas são selecionados preliminarmente pelo Comitê Nobel (constituído de cinco membros e o secretário da Assembléia Nobel). Esses candidatos selecionados preliminarmente são avaliados por membros da Assembléia Nobel e revisores externos indicados pelo Comitê Nobel. Com base nessa avaliação o Comitê Nobel elabora um relatório recomendando uma lista de candidatos para a avaliação final pela Assembléia Nobel no Instituto Karolinska, sede da Faculdade de Medicina. A Assembléia possui 50 membros e a escolha do premiado é feita por votação majoritária. A decisão é final e sem apelação. As informações sobre quem são os indicadores e indicados permanecem secretas durante 50 anos. O prêmio será concedido às pessoas responsáveis pela descoberta, invenção ou aperfeiçoamento que seja de benefício para a humanidade. Somente podem ser indicados ao Nobel os nomes que forem indicados por pessoas devidamente qualificadas. O Comitê Nobel recebe muitas indicações feitas por pessoas não qualificadas para tal, e essas indicações não são incluídas entre os documentos examinados pelo Comitê Nobel. Não pode haver auto-indicação e nem de pessoas já falecidas.

PROCESSO DE INDICAÇÃO AO PRÊMIO NOBEL DE FISIOLOGIA OU MEDICINA José Eymard Homem Pittella A grande maioria vem dos Estados Unidos e países da Europa Ocidental, havendo certa relação entre número de indicadores, de indicados e de premiados do mesmo país (as exceções são a Itália, Polônia e Japão). Frederick G. Banting (1841-1941) e John J. R. Macleod (1876-1935) receberam o prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1923 pela descoberta da insulina tendo recebido apenas três indicações naquele mesmo ano. Robert Koch (1843-1910) recebeu o prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1905 por sua descoberta do bacilo causador da tuberculose, somente após ter sido indicado 55 vezes durante quatro anos consecutivos. Alguns cientistas foram campeões de indicações, sem jamais terem recebido a premiação, como p. ex.: os físicos Arnold Sommerfeld (indicado 74 vezes), Vilhelm Bjerknes (54 vezes) e Friedrich Paschen (45 vezes), o químico Gilbert Newton Lewis (42 vezes) e os médicos Ferdinand Sauerbruch (54 vezes) e Sigmund Freud (32 vezes). Quatro cientistas brasileiros foram indicados ao Nobel de Fisiologia ou Medicina no período 1901-1951: Carlos Chagas (em 1913 e 1921); Antônio Cardoso Fontes (1879-1943), em 1934, por seu trabalho sobre o bacilo da tuberculose; Adolfo Lutz (1855-1940), em 1938, por seu estudo sobre algumas doenças tropicais; Manoel de Abreu (1894-1962), em 1946, pela introdução da abreugrafia.

CARLOS CHAGAS NÃO RECEBEU O PRÊMIO NOBEL Naftale Katz Academia Mineira de Medicina; Instituto Mineiro de História da Medicina; Centro de Pesquisas René Rachou/FIOCRUZ, Belo Horizonte/MG, Brasil http://www.fiocruz.br/chagas/media/CARLOS%20CHAGAS%20NAO%20RECEBEU%20O%20PREMIO%20NOBEL.pdf O trabalho discute e traz contribuições a um problema específico cuja discussão iniciou-se no Brasil no fim dos anos 1990, a respeito das razões pelas quais Carlos Chagas não foi agraciado com o prêmio Nobel de 1921. Tudo começa com uma citação no livro de Sierra Iglesias (1990) sobre a vida e obra do pesquisador argentino Salvador Mazza, que muito contribuiu para o reconhecimento da importância da doença de Chagas na Argentina (CITAÇÃO DESTACADA ANTES). Posteriormente, fica-se sabendo que a informação contida neste parágrafo fundador foi transmitida pelo Prof. Rodolf Talice, pesquisador uruguaio, a Sierra Iglesias, o qual relatou este fato a João Carlos Pinto Dias e a José Rodrigues Coura. Como Talice havia falecido há alguns meses não foi possível ampliar esta informação (Dias et al, 2009).

CARLOS CHAGAS NÃO RECEBEU O PRÊMIO NOBEL Naftale Katz Academia Mineira de Medicina; Instituto Mineiro de História da Medicina; Centro de Pesquisas René Rachou/FIOCRUZ, Belo Horizonte/MG, Brasil http://www.fiocruz.br/chagas/media/CARLOS%20CHAGAS%20NAO%20RECEBEU%20O%20PREMIO%20NOBEL.pdf Deve-se inicialmente salientar que houve uma intensa polêmica na Academia Nacional de Medicina iniciada em novembro de 1922 indo até o ano seguinte, quando o relatório final apresentado na reunião extraordinária de 06/12/1923 foi favorável a Carlos Chagas. Se a Fundação Nobel (ou Instituto Karolinska, responsável pela indicação dos membros que julgam o prêmio, escolhido pelo próprio Nobel para esta finalidade) tivesse enviado pedido de esclarecimento, este deveria ter sido encaminhado em 1921. Consultadas as atas da ANM daquele ano nada se encontra referente a isto. Por outro lado, a consulta à Academia, se feita, deveria ter sido encaminhada ao presidente da mesma, que na ocasião era Miguel Couto, grande admirador de Carlos Chagas (O QUAL DEU À TRIPANOSSOMÍASE O NOME DE DOENÇA DE CHAGAS). É verdade, que especialmente três membros da ANM, Afrânio Peixoto, Figueiredo de Vasconcellos e Parreiras Horta, estavam em forte disputa com Chagas, seja negando a importância da doença ou mesmo a autoria única da descoberta. Contudo, a Academia reconheceu que Chagas estava certo e que era o único descobridor da tripanosomíase americana. Assim não há nem na ANM, nem na minuciosa descrição de Carlos Chagas Filho sobre a vida de seu pai, nenhuma menção a esta consulta do instituto sueco (Chagas Filho, 1993).

CARLOS CHAGAS NÃO RECEBEU O PRÊMIO NOBEL Naftale Katz Academia Mineira de Medicina; Instituto Mineiro de História da Medicina; Centro de Pesquisas René Rachou/FIOCRUZ, Belo Horizonte/MG, Brasil http://www.fiocruz.br/chagas/media/CARLOS%20CHAGAS%20NAO%20RECEBEU%20O%20PREMIO%20NOBEL.pdf Recentemente, a Fundação Nobel publicou em seu site informações sobre os prêmios Nobel concebidos de 1901 a 1951. Destaque-se que por 50 anos todas as informações a respeito da escolha dos candidatos ao prêmio, nomeadores e nomeados eram mantidos em sigilo. Agora, com os dados tornados públicos, é possível aventar hipóteses diferentes para tentar entender porque Carlos Chagas não recebeu o prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 1921.

CARLOS CHAGAS NÃO RECEBEU O PRÊMIO NOBEL Naftale Katz Academia Mineira de Medicina; Instituto Mineiro de História da Medicina; Centro de Pesquisas René Rachou/FIOCRUZ, Belo Horizonte/MG, Brasil http://www.fiocruz.br/chagas/media/CARLOS%20CHAGAS%20NAO%20RECEBEU%20O%20PREMIO%20NOBEL.pdf Consultando as informações contidas no site da Fundação Nobel, referentes ao ano de 1921, pode ser visto que foram 82 os que indicaram (nominator) e 42 os indicados (nominee). Carlos Chagas é o 46º nesta lista, tendo sido indicado apenas uma vez, por Hilário de Gouvêa um oftalmologista mineiro, exercendo sua profissão no Rio de Janeiro. Na ficha da Fundação Nobel consta como otorrinolaringologista, pois na época as duas especialidades eram colocadas juntas na Sociedade de Otorrinolaringologia. Hilário de Gouvêa foi convidado pela Fundação Nobel para indicação de candidato. Neste mesmo ano, o cirurgião brasileiro C. S. de Magalhães, também nomeador oficial, indicou Patrick Manson para receber o prêmio. Dos 42 indicados havia nomes expressivos como Gley (11 indicações), Roux (10 vezes), Sherrington (7 vezes), Duret (7 vezes) e mais 24 nomeados com 1 única, como Chagas. Todavia, a comissão do Prêmio Nobel de Medicina resolveu não conceder o prêmio naquele ano. Deve-se adicionar que não foi apenas em 1921 que o prêmio não foi concedido na categoria Medicina, este fato se repetiu em 1915, 1916, 1917, 1918, 1925, 1940, 1941 e 1942 por razões desconhecidas.

CONCLUSÃO DE N. KATZ De fato, a não concessão do prêmio Nobel a Carlos Chagas, um dos nossos maiores cientistas de todos os tempos, é muito mais pela não indicação de seu nome pelas dezenas dos nomeadores em todo o mundo do que por culpa dos médicos brasileiros que questionaram a sua descoberta. Aliás, a falta de reconhecimento das contribuições científicas importantes feitas por brasileiros pelos colegas de outras nacionalidades, especialmente pelos países ditos do primeiro mundo, é um fato a ser discutido. Tal aconteceu por exemplo com Pirajá da Silva o descobridor da esquistossomose no Brasil (Katz, 2008). As relações de credibilidade e respeito entre os pesquisadores dos países centrais e os dos periféricos, merecem ser mais bem estudadas. Talvez aí residam explicações esclarecedoras.