“Generosamente associada à obra do seu Filho, a um título absolutamente único” Maria dada por Mãe à Igreja, “traz à obra do Salvador uma cooperação absolutamente impar” (LG 61). É esta cooperação que a palavra “medianeira”, aplicada à Virgem Maria, pretende recordar.
Recebendo as nossas preces, a fim de as transmitir a Jesus, e modelando-nos para acolhermos a Sua graça, Maria constitui um laço permanente entre Cristo e o fiel. Mas o adjetivo em questão não parece bem escolhido, porque não se concilia com a linguagem do Novo Testamento, que reserva para Jesus o título e a função de “mediador entre Deus e os homens”:
Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os Homens: Jesus Cristo Homem” (1 Tm 2,5). Com efeito, só o Verbo encarnado é verdadeiramente mediador, em virtude da encarnação: “Na qualidade de homem”, como diz São Tomás(S.Th.III,q.26,art.2), representa junto do Pai a humanidade, resgatada pelo seu sangue, unida a Ele, “primogênito de uma multidão de irmãos”Rm 8, 29).
Jesus quer exercer esta mediação única e incomunicável suscitando e recebendo a cooperação ativa das criaturas resgatadas. Na perspectiva da interação que, no interior do Corpo de Cristo, exercem os membros entre si, -coisa que a “comunhão dos santos” evoca-a, a mediação de Cristo, fonte única da graça, inclui a participação dos crentes e, a título singular, a participação d’Aquela que, unida a seu Filho ao pé da Cruz, foi dada por Mãe à Sua Igreja.
“Esta mediação única do Redentor não exclui, antes suscita nas criaturas cooperações diversas, que participam desta única fonte. A igreja não hesita em proclamar esta função subordinada de Maria” (LG.62).
Mas o vocábulo medianeiro, suscetível de equívocos e de embaraço ecumênico, será próprio para designar o papel de Maria na obra redentora? O Concílio, consciente da sua imprecisão, coloca-o entre “os diversos títulos” que não interdiz à devoção dos fiéis.
Com reserva que “nenhuma revogação, nenhuma adição daí resulte à dignidade e à eficácia do único Mediador”(LG.62). subordinada a Jesus, Maria exerce a sua “mediação” na comunhão dos santos, a primeira das “mediações”que estruturam o Corpo Místico.
22/01/2011