Daniel Trabulo, Cristina Teixeira, Claudio Martins, Suzane Ribeiro,

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Transcrição da apresentação:

Daniel Trabulo, Cristina Teixeira, Claudio Martins, Suzane Ribeiro, Eficácia da terapêutica com ferro nos doentes com anemia e doença inflamatória intestinal Daniel Trabulo, Cristina Teixeira, Claudio Martins, Suzane Ribeiro, João Mangualde, Ana L. Alves, Fátima Augusto, Isabelle Cremers, Ana P. Oliveira Serviço de Gastrenterologia Hospital de São Bernardo Centro Hospitalar de Setúbal. EPE

Introdução A anemia constitui uma das complicações mais comuns da DII: - classicamente considerada um processo inerente à própria doença - incompletamente avaliada. Nos últimos anos: Papel relevante Entidade bem definida e com características próprias. Tratamento insuficiente: - agravamento da qualidade de vida - aumento da morbilidade, nº de transfusões ou necessidade de internamento. 1Gasche C, Systematic review: managing anaemia in Crohn's disease, Aliment Pharmacol Ther, 2006

Introdução A sua prevalência é variável (6,2-73,7%)1 Em Portugal, existem poucos estudos que traduzam a nossa realidade e que avaliem a eficácia da terapêutica com ferro. O melhor conhecimento da sua prevalência, seus mecanismos fisiopatológicos e resposta à terapêutica pode permitir melhorar a sua abordagem. 1 Gasche C, Systematic review: managing anaemia in Crohn's disease, Aliment Pharmacol Ther, 2006

Objectivos Estudar a prevalência, características clínicas e analíticas da anemia em doentes com DII, em ambulatório Estudar a sua correlação com os tipos de DII e com variáveis clínicas e analíticas Avaliar a eficácia dos vários tipos de suplementação com ferro no seu tratamento.

Doentes e Métodos Estudo retrospectivo dos processos clínicos dos doentes com DII que recorreram à consulta da nossa instituição entre Janeiro-Maio 2013. Recolha de dados registados nas consultas entre 2010 e 2013: clínicos (sexo, idade, nº de anos da doença, nº anos até ao diagnóstico de anemia, necessidade de corticóides, necessidade de internamento hospitalar, necessidade de transfusões) analíticos (hemograma, VS, PCR, Vitamina B12, ácido fólico, ferro, ferritina, CTFF, saturação de transferrina).

Doentes e Métodos Diagnóstico de DC e CU com base em critérios clínicos, radiológicos, endoscópicos e histológicos1 Definição da localização e extensão da doença de acordo com a Classificação de Montreal2 Selecção dos doentes com anemia, definida como: Hb < 13 g/dl - homens Hb < 12 g/dl - mulheres em alguma das determinações analíticas realizadas durante o seguimento 1 Lennard-Jones JE. Classification of inflammatory bowel disease. Scand J Gastroenterol Suppl. 1989 2 Silverberg M et al  Toward an integrated clinical, molecular and serological classification of inflammatory bowel disease: Report of a Working Party of the 2005 Montreal World Congress of Gastroenterology. Can J Gastroenterol 2005. 

Doentes e Métodos Considerou-se anemia ferropénica: Ferro sérrico ↓ (< 65 mg/dl) Ferritina ↓ ( < 30 mg/l) Saturação de transferrina ↓ (<20%) Capacidade total de fixação do ferro  (> 250 ug/dL) Actividade da doença baseada em: Índice de TrueLove &Witts modificado (CU) e Harvey-Bradshaw (DC) Valores laboratoriais (VS, PCR) Nº de ciclos de corticóides Necessidade de internamento

Doentes e Métodos Análise da resposta à terapêutica com diferentes formulações de ferro (oral e EV) com base na variação da Hb Tratamento com ferro: Oral (dose e nº meses sob tratamento) Complexo hidróxido férrico-polimaltose 100 mg Fe3+ (Maltofer®, Ferrum Haussmann®) Sulfato ferroso 105 mg Fe2+ (Ferro gradumet®) EV (nº de infusões) Óxido férrico sacarosado 200 mg (Venofer®) Carboximaltose férrica 500 mg (Ferinject®)

Doentes e Métodos Resposta à terapêutica com ferro: Tratamento estatístico com recurso a SPSS v. 21 Comparação de variáveis categóricas: teste Comparação de variáveis contínuas: teste T Student Nível significância p= 0,05 Resposta à terapêutica com ferro: Completa: variação Hb > 2 g/dL Parcial: variação Hb entre 1-1,9 g/dL Ausência de resposta: variação Hb < 1g/dL

Resultados Características da população em estudo N 149 Idade (anos) 48,5 Homens (%) 53 Mulheres (%) 47 Doença de Crohn (%) 40 Colite Ulcerosa (%) 60 Doença activa (%) Necessidade de Internamento (%) 26 Necessidade de corticóides (%) 46 Nº anos de diagnóstico da DII 10,4 Anemia (%) 30,9 Doentes com anemia Média Val. Ref. Anemia ferropénica (%) 96 - Nº anos até diagn. anemia 5,6 Hb (g/dL) 9,95 >12-17 VS (mm/h) 38,3 <15 PCR (mg/dL) 3,3 <0,5 Vitamina B12 (pg/mL) 488,5 >250 Ácido Fólico (ng/mL) 5,2 3,1-17,5 Ferro (ug/mL) 19,2 65-175 Ferritina (ng/mL) 60,3 30-300 CTFF (ug/dL) 262 250-400 Saturação de transferrina (%) 2,9 20-40

Resultados Caracterização dos doentes com e sem anemia Com anemia p-value N 103 46 Idade 48,5 48,3 0,886 Mulheres (%) 39 65 0,005 Necessidade de internamento (%) 16 48 Necessidade de corticóides (%) 38 63 Doença activa (%) 85 VS (mm/h) 23,9 48,7 0,001 PCR (mg/dL) 1,9 4,3 0,06 Vitamina B12 (pg/mL) 488,3 478,6 0,997 Ácido fólico (ng/mL) 5,7 4 0,148 Anos de diagnóstico da DII 10,8 9,7 0,517 Doença de Crohn (%) 35 52 0,07 Colite Ulcerosa (%)

Resultados Características comparativas entre os doentes com DC e CU Variáveis Colite Ulcerosa Doença de Crohn p-value N 89 60 Idade 50,9 44,9 0,025 Mulheres (%) 51 42 0,318 Necessidade de internamentos (%) 21 32 0,182 Necessidade de corticóides (%) 46 45 1,000 Actividade da doença 57 0,506 VS (mm/h) 36,5 40,4 0,598 PCR (mg/dL) 2,8 3,9 0,374 Vitamina B12 (pg/mL) 573,9 399,3 0,023 Ácido Fólico 4,9 5,4 0,693 Ferro (ug/dL) 18,2 32,6 0,053 Ferritina (ng/mL) 43,4 94,8 0,166 Nº anos de diagnóstico de DII 10,2 10,9 0,669 Nº anos até diagnóstico de anemia 2,3 8,6 0,013 Anemia presente (%) 25 40 0,07 Tratamento com ferro oral (%) 50 43 0,78 Tratamento com ferro ev (%) 63 55

Resultados Variação da Hb, Fe e Ferritina antes e após o tratamento Ferro oral Óxido férrico sacarosado Carboximaltose férrica

Resultados Variação da Hb com as várias formulações de ferro Ferro oral óxido férrico sacarosado carboximaltose férrica Ferro oral vs OFS (p=0,045) Ferro oral vs CMF (p=0,045) OFS vs CMF (p=0,662) Ferro oral Óxido férrico sacarosado Carboximaltose férrica N 24 20 17 Média da ∆ Hb 0,7 2,34 2,70 Intervalo Confiança [0,01; 1,39] [1,99; 2,69] [2,14; 3,26] Desvio Padrão 1,64 0,74 1,09

Óxido Férrico Sacarosado Carboximaltose Férrica Resultados Tipos de resposta ao tratamento com várias formulações de ferro Tipo de Resposta Ferro oral Óxido Férrico Sacarosado Carboximaltose Férrica N % Ausência (∆Hb < 1g/dL) 15 63 2 12 Parcial (∆Hb = 1–1,9 g/dL) 5 21 6 30 Completa (∆Hb > 2g/dL) 4 17 14 70 13 76 Total 24 100 20

Resultados Tempo médio de tratamento e dose média administrada Tipo de ferro Tempo médio até resposta terapêutica completa Dose média Ferro oral 12 semanas 100 mg Óxido Férrico Sacarosado 4 semanas 2x200 mg Carboximaltose Férrica 2 semanas 1000 mg

Conclusões Complicação prevalente e associada à actividade da DII Múltiplas causas – anemia ferropénica, anemia doença crónica Mais frequente na DC (40%) que na CU (25%) Prevalência (30,9%) superior à descrita num estudo português multicêntrico de 20131 Resposta ao tratamento com ferro oral pouco eficaz - preferível a forma ev2 1Portela F. Anemia na DII em Portugal. Resultados prelmiinares de um estudo transversal (estudo CAPOR). 2013 2 Gasche C. Guidelines on the diagnosis and management of iron deficiency and anemia in inflammatory bowel diseases, Inflamm Bowel Dis. 2007

Conclusões Taxa de resposta completa à terapêutica com ferro ev (variação da Hb) foi superior no grupo da carboximaltose férrica relativamente ao óxido férrico sacarosado (diferença estatisticamente não significativa)3 A desvalorização desta complicação implica um atraso na administração de uma terapêutica eficaz com consequente diminuição da qualidade de vida dos doentes. São necessários mais estudos nacionais que permitam seleccionar qual a opção de tratamento mais adequada em função das características individuais de cada doente. 3 Evstatiev R. FERGIcor, a randomized controlled trial on ferric carboxymaltose for iron deficiency anemia in inflammatory bowel disease, Gastroenterology 2011

Algoritmo tratamento Reinisch W, Staun M, Bhandari S, Muñoz M, State of the iron: how to  diagnose and efficiently treat iron deficiency anemia in inflammatory bowel disease. J Crohns Colitis. 2013 Jul;7(6):429-40