ASPECTOS HISTÓRICOS, POLÍTICOS E IDEOLÓGICOS DA LEITURA

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
A REPRESENTAÇÃO E A QUESTÃO DO ESTILO
Advertisements

Dois modos de ler a Bíblia.
Letramento: um tema em três gêneros
NOME,MARCA,IDENTIDADE E IMAGEM
Bíblia e (é!) comunicação
IV CONGRESSO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
A Linguagem da Pintura.
HISTÓRIA DA PALAVRA ESCRITA
Linguagem na Contemporaniedade:as várias maneiras de se comunicar
COLÉGIO MILITAR DE FORTALEZA 1º ANO DO ENSINO MÉDIO
COLÉGIO MILITAR DE FORTALEZA 1º ANO DO ENSINO MÉDIO
COLÉGIO MILITAR DE FORTALEZA 1º ANO DO ENSINO MÉDIO
Interpretação “Não há sentido sem interpretação. Ela é sempre passível de equívoco. Os sentidos não se fecham, não são evidentes, embora pareçam ser.
INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
LETRAMENTO Hoje já não é mais suficiente para responder adequadamente às demandas contemporâneas. É preciso ir além da simples aquisição do código lingüístico,
Leitura O que é leitura? O que é texto? O que é leitor?
A presença da origem hominídea no
O código no qual se estrutura determinada linguagem, ou seja, a sua forma, está ligada a certos traços da matéria de expressão.
Arte e representação.
Renascimento : “o rei queria se imortalizar, a nobreza queria sua casa mais bonita e a burguesia , status.” Renascimento Idade Média.
Linguagem, alfabetização e letramento
ESTÉTICA Arte e realidade
Profª. Ermelinda Nóbrega de Magalhães Melo
O I L U M N S Professor: Odair.
Como ler uma imagem Análise da Imagem.
Eras Culturais – por Lucia Santaella
Em busca de uma compreensão
Abordagens Pedagógicas Libertária e Libertadora
História do Design Gráfico introdução. Design Gráfico e Comunicação Visual; origem / finalidade / conseqüências; Design Gráfico é a atividade que envolve.
É u m e l e m e n t o f u n d a m e n t a l
Comunicação & Expressão Professora Louise Lage Módulo 3
TEMA: O TRABALHO NA SOCIEDADE CAPITALISTA
Carta aos Gálatas Seminário CF\2014 Bacabal,MA 25 a 27 de outubro de 2013 Martha Bispo.
PERCURSO UNIVERSITÁRIO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL
História da comunicação.
Charges É um estilo de ilustração que tem por finalidade satirizar, por meio de uma caricatura, algum acontecimento atual com uma ou mais personagens envolvidas;
COMUNICAÇÃO VISUAL Origem e conceito de comunicação, o processo de comunicação visual. O Indício, o Ícone, Sinal e Símbolo como signos adotados na comunicação.
BRASIL ALFABETIZADO RN Alfabetizado
Introdução a Questão Social
Os conceitos de alfabetização
Teoria sociointeracionista de Vygotsky
EDUCAÇÃO FÍSICA E MODERNIDADE
Relatório de Proposta de Projeto
O conceito não se define
Profª. Taís Linassi Ruwer
OFICINA DE ARTES VISUAIS
Sistemas Microprocessados e Microcontrolados
De Ezequiel Theodoro da Silva
ADELAIDE REZENDE DE SOUZA
Era digital e mudanças sociais
PROPOSIÇÕES CURRICULARES DA PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE
O belo e a questão do gosto Arte e Técnica A função social da arte
Professora Selma Ap. Cesarin 2011
ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO
O aparecimento da escrita e seus possíveis suportes e formatos
Leitura O que é leitura? O que é texto? O que é leitor? Qual o papel do bibliotecário na formação do leitor?
Processos de produção textual Profª Margarete Apª Nath Braga.
O cinema na vida de cada um
A PRÉ-HISTÓRIA DA LINGUAGEM ESCRITA
Estética.
A Linguagem E seus termos.
Redação e Literatura Prof. Dani Resumo, Resenha e Sinopse.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias - Arte
W. Barnett Pearce Profª Daniella Messa.  Como nos comunicamos uns com os outros?  De acordo com o texto, o filósofo Mark Johnson expõe que nos compreendemos.
O belo e a questão do gosto Arte e Técnica A função social da arte
A aprendizagem da escrita - abordagem histórico-cultural 1. Pressupostos histórico-culturais Atividade mediada Método instrumental 2. Etapas: Rabiscos.
Introdução à semiótica / semiologia Prof. Marcel Matias.
História da arte: breves considerações
Curso: Sociologia do Trabalho Prof. Dr. José dos Reis Santos Filho Aula 03 A distinção entre Labor e Trabalho em H. Arendt.
ALFABETIZAÇÃO.
Transcrição da apresentação:

ASPECTOS HISTÓRICOS, POLÍTICOS E IDEOLÓGICOS DA LEITURA Edimar Sartoro E-mail: edimarsartoro@gmail.com

Objetivo: refletir sobre alguns aspectos da história da leitura e, à luz da atual valorização das práticas de leitura e do desenfreado consumo material e intelectual, discutir que lugar o leitor e a leitora ocupam nesse universo.

Premissas para o surgimento a linguagem escrita: A história da escrita revela-se como produto da prática social dos homens, mediados pela linguagem; Premissas para o surgimento a linguagem escrita: Sociabilidade; Linguagem; Trabalho.

Pré-história da linguagem escrita Inicialmente, para se comunicar, os grupos sociais serviam-se de diversos meios de expressão tais como gestos de mão, ruídos de tambores, sinais de fumaça etc; Essa forma comunicação era imediata e não pretendia, ainda, representar a linguagem verbal.

Conforme Manguel (1997), a história da Escrita começa com placas pictográficas de argila, na Síria, datando de 40 séculos antes de Cristo.

Seus inventores perceberam que havia nessa tecnologia inúmeros benefícios: Em primeiro lugar, a quantidade de informações armazenável nas peças de argila era infinita; Em segundo, o/a leitor/a para recuperar o conteúdo das tabuletas não necessitava da presença física de quem havia produzido a escrita.

Motivos da escrita A escrita provavelmente foi criada por motivos comerciais: “Um sinal escrito servia de dispositivo mnemônico: a figura de um boi significava um boi, para lembrar ao leitor que a transação era em bois, quantos bois estavam em jogo e, talvez, os nomes do comprador e do vendedor” (Manguel, p. 206).

De acordo com Tezzari (2005), a escrita como representação gráfica da linguagem passou por inúmeros estágios: A escrita pictográfica ou pictórica representou o estágio mais elementar. Nessa forma de expressão figuras e desenhos eram utilizados para representar o meio em que viviam.

3.300 aC.

Evolução da escrita Escrita cuneiforme; Sinais em forma de cunha que representavam sons, não objetos; foi desenvolvida pelos sumérios. Por meio desta forma de expressão era possível apreender pela materialidade da escrita; não só representações de objetos, mas pensamentos, sonhos, experiências etc.

2.100 a.C

1.200 anos entre uma forma e outra de escrita

Logogrifo: sistema de escrita que representa uma palavra na forma de desenhos e/ou símbolos; Símbolos que representam um som – isso marcou o início da escrita silábica; Os sinais sozinhos não tem significados, mas juntos forma uma palavra.

Os pictogramas expressava o pensamento concreto; Já a escrita cuneiforme e os logogrifos manifestam uma evolução do pensamento, o pensamento abstrato. Essa forma de escrita abstrata podia representar não apenas os objetivo retratados, mas também idéias associadas a eles (MANGUEL, p. 210); Dessa invenção, fez nascer o livro, a escola e os códigos de leis;

Revoluções na história da leitura Conforme Chartier (1999), os historiadores da cultura escrita designaram diversas revoluções nesse campo, algumas têm a ver com a técnica de reprodução dos textos, outras com a forma do próprio livro, o suporte em suas estruturas fundamentais.

1º revolução A primeira revolução ocorreu na Idade Média e esteve vinculada à passagem da prática oral de leitura, à prática silenciosa; “Embora ambos os estilos de leitura tivessem coexistido na antiguidade grega e romana, foi durante a Idade Média que a habilidade de ler em silêncio foi conquistada pelos leitores ocidentais” (CHARTIER, p. 23); Permitiu ao leitor/a um contato mais íntimo com a escrita.

2º revolução A segunda revolução ocorreu durante a era da imprensa: a sucessão da leitura intensiva para extensiva é o marco principal dessa revolução; O leitor intensivo interagia com um número pequeno de livros que eram lidos, relidos e transmitidos de geração a geração; Já, o leitor extensivo tinha obsessão por ler. “Eles liam rapidamente e avidamente, submetendo o que tinham lido a um julgamento crítico imediato” (CHARTIER, p. 25).

3º Revolução Texto eletrônico: a transmissão eletrônica dos textos e as maneiras de ler que se originam dessa modalidade de suporte apontam, atualmente, para uma terceira revolução. A imaterialidade das obras, nesse contexto, altera a relação física que existia entre objeto impresso e o leitor. Nas palavras de Chartier: “A passagem dos textos do livro impresso para a tela do computador é uma mudança tão grande quanto a passagem do rolo para o códex durante os primeiros anos da era cristã” (p. 28).

Conceito de leitura O que é leitura? Para Fachinetto e Ramos (2010, p. 2): “O ato de ler constrói-se a partir da relação que o homem estabelece com textos em seus diferentes suportes”. Ler é sempre uma construção: A leitura não está determinada diretamente pelos signos, nem por seu suporte. Lemos a partir de nossa história de vida, das experiências, dos conhecimentos que possuímos etc.

[…] na origem do vocábulo, encontram-se três significados: Paulino (2001), discute o conceito de leitura a partir da etimologia da palavra ler que vem do latim legere: […] na origem do vocábulo, encontram-se três significados: 1) ler significa soletrar, agrupar as letras em sílabas; 2) ler está relacionado ao ato de colher, a leitura passa a ser a busca de sentidos no interior do texto, nessa concepção os sentidos vivem no texto, basta que eles sejam retirados, colhidos como uvas no vinhedo; 3) ler vinculado ao ato de roubar. Isto é, o leitor tem a possibilidade de tirar do texto sentidos que estavam ocultos, o leitor cria até significados que, em princípio, não tinha autorização para construir. Manguel (2007): “Toda a escrita depende da generosidade do leitor.”

Interdições à leitura Muitos autores tiveram seus livros proibidos ou queimados por governos totalitários: Hitler, por considerar certas leituras perigosas, mandou queimar, em maio de 1933, 20 mil livros; Pinochet em 1981, baniu o livro Dom Quixote, porque achava que ele, continha forte apelo a liberdade individual e ataque à autoridade constituída (MANGUEL, 1997). Tezzari (2005), afirma que nessa história, as mulheres foram as que mais sofreram interdições: A mulher japonesa, na época de Heian, estava proibida de ler o que se considerava literatura ‘séria’; Em Roma dizia-se: “é melhor que uma mulher ‘não compreenda muito do que lê nos livros’, pois nada é mais insuportável do que uma mulher instruída” (CAVALHO apud TEZZARI, 2005, p. 21).

Que força contém o livro para abalar as estruturas de poder? Por que a leitura, em todos os tempos e lugares causou apreensão, suspeita e medo? “A leitura não é prática neutra. Ela é campo de disputa, é espaço de poder” (ABREU, 1999, p. 15):

Os discursos ideológicos sobre a leitura Atualmente há grande valorização da leitura, na sociedade capitalista ela assume papel “redentor”; Abreu (1999), questionado essa mistificação, afirma que a leitura é considerada como: [...] fator determinante para o sucesso (individual) das pessoas, sendo capaz de minimizar os efeitos da pobreza, da cor, do gênero. [...] é capaz de proporcionar os mais variados benefícios: tornar os sujeitos mais cultos e, por consequência, mais críticos, mais cidadãos, mais verdadeiros” (ABREU, 1999, p. 10). A leitura não tem um fim em si mesma - ela é um instrumento a serviço da humanização.

Contradições Matos (2006), afirma, porém, que vivemos em uma sociedade cheia de imagens e ruídos que nos impedem de “imaginar e pensar”. Da universidade ao parlamento, da imprensa às organizações políticas, a leitura deixou de ser referência, pois não pode circunscrever-se na contração do tempo do mercado, do consumo e das tecnologias (2006, p. 10).

Produção de “semileitores”: A lógica utilitarista e pragmática da sociedade capitalista tem influenciado diretamente a maneira de ler , afirma Matos; Produção de “semileitores”: Por conseguinte conclui a autora: “Semileitores, somos também pseudoformados no pensamento e na vida” (MATOS, p. 9). Ver documentário: A história da palavra: o nascimento da escrita. (27min)

Bibliografia BREU, Márcia (org.). Leitura, história e história da leitura. Campinas/ SP: Mercado de Letras: Associação de Leitura do Brasil; São Paulo: Fapesp, 1999. DARNTON, Robert. História da leitura. In: BURKE, Peter (Org.) A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo. UNESP, 1992. FACHINETTO, Eliane Arbusti; RAMOS, Flávia, Brocchetto. Reflexões Sobre a Leitura: Estudo de caso. Disponível em: <http://www.pucrs.br/edipucrs/online/vsemanaletras/Artigos%20e%20Notas_PDF/Eliane%20Arbusti%20Fachinetto%20e%20Fl%E1via%20Broccheto%20Ramos.pdf >. Acessado em: 28/05/2010. MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. MATOS, Olgária. Discretas esperanças: reflexões filosóficas sobre o mundo contemporâneo. São Paulo: Editora Nova Alexandria, 2006.