AULA 01 HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA. AULA 01 HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA.

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Transcrição da apresentação:

AULA 01 HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA

INTRODUÇÃO O conhecimento filosófico surgiu aos poucos, em substituição aos mitos e às crenças religiosas, na tentativa de conhecer e compreender o mundo e os seres que nele habitam.

A formação do pensamento filosófico se deu na passagem do mito (mýthos) para a razão (lógos). Os deuses têm sua importância relativizada pela razão a partir dos elementos existentes na natureza estudados pelos pré-socráticos.

Os pré-socráticos foram os filósofos de um primeiro período do pensamento grego, o qual denomina-se de naturalista, visto que esses filósofos tinham como objetivo descobrir a substância única, a causa, o princípio do mundo natural.

Sabe-se que o início da filosofia deu-se no momento em que o homem passou a buscar explicações de forma racional para os fenômenos da natureza, e não mais na mitologia.

Os filósofos pré-socráticos tiveram seu interesse filosófico voltado para a natureza (phýsis), assim sendo, os primeiros filósofos eram investigadores da natureza, ou phýsicos.

A filosofia, ao nascer, teve definida a sua busca: uma explicação racional sobre a origem e ordem do mundo, o kósmos (cosmos). Por tal motivo os primórdios da filosofia grega são considerados de caráter cosmológico.

Os primeiros filósofos se ocuparam principalmente de indagações a respeito do mundo ao seu redor, que também envolviam a percepção do lugar do homem nele.

Essa busca trouxe à luz uma divergência entre a ciência e o senso comum.

Conforme Reale (1993): Pode-se dizer que, para o homem homérico e para o homem grego filho da tradição homérica, tudo é divino, no sentido de que tudo o que acontece é obra dos deuses.

Todos os fenômenos naturais são promovidos por numes: os trovões e os raios são lançados por Zeus do alto do Olimpo, as ondas do mar são levantadas pelo tridente de Posseidon, o sol é carregado pelo áureo carro de Apolo, e assim por diante.

Até então, o homem tinha como herança cultural a crença de que tudo – desde as quatro estações até a morte - era relacionado a um deus ou um mito.

Surge então uma nova mentalidade, que passa a substituir as antigas construções mitológicas pela forma intelectual, expressa por meio de especulação livre sobre a natureza do mundo e as finalidades da vida.

CONCEITO E OBJETIVO DA FILOSOFIA ANTIGA

Segundo a tradição, o criador do termo “filo-sofia” foi Pitágoras, o que, embora não sendo historicamente seguro, é verossímil.

O termo certamente foi cunhado por um espírito religioso, que pressupunha só ser possível aos deuses uma sofia (“sabedoria”), ou seja, uma posse certa e total do verdadeiro, uma contínua aproximação ao verdadeiro

um amor ao saber nunca saciado totalmente, de onde, justamente, o nome “filo-sofia”, ou seja, amor pela sabedoria. Mas, substancialmente, o que entendiam os gregos por essa amada e buscada “sabedoria”?

Desde o seu nascimento, a filosofia apresentou de modo bem claro três conotações, respectivamente relativas a 1) o seu conteúdo, 2) o seu método e 3) o seu objetivo.

No que se refere ao conteúdo, a filosofia pretende explicar a totalidade das coisas, ou seja, toda a realidade, sem exclusão de partes ou momentos dela.

No que se refere ao método, a filosofia visa ser “explicação puramente racional daquela totalidade” que tem por objeto. O que vale em filosofia é o argumento da razão, a motivação lógica, o logos.

Por último, o objetivo ou fim da filosofia está no puro desejo de conhecer e contemplar a verdade.

Com efeito, é evidente que, ao se contemplar o todo, mudam necessariamente todas as perspectivas usuais, muda a visão do significado da vida do homem e se impõe uma nova hierarquia de valores.

A FILOSOFIA COMO NECESSIDADE PRIMÁRIA DO ESPÍRITO HUMANO

Alguém perguntará: mas por que o homem sentiu a necessidade de filosofar? Os antigos respondiam que tal necessidade está estruturalmente radicada na própria natureza do homem.

Os homens começaram a filosofar, tanto agora como nas origens, por causa da admiração: no princípio, eles ficavam maravilhados diante das dificuldades mais simples;

Assim, a raiz da filosofia é precisamente esse “maravilhar-se, em seguida, progredindo pouco a pouco, chegaram a se colocar problemas sempre maiores. Assim, a raiz da filosofia é precisamente esse “maravilhar-se,

surgido no homem que se defronta com o Todo ( a totalidade), perguntando-se qual a sua origem e o seu fundamento, bem como o lugar que ele próprio ocupa nesse universo

por que existe o ser e não o nada? Por que existe tudo isso? De onde surgiu? Qual a sua razão de ser? Esses são problemas que equivalem ao seguinte: por que existe o ser e não o nada?

OS PROBLEMAS FUNDAMENTAIS DA FILOSOFIA ANTIGA

Inicialmente, a totalidade do real era vista como physis (natureza) e como cosmos. Assim o problema filosófico por excelência era a questão cosmológica.

Os primeiros filósofos, chamados precisamente de “físicos”, “naturalistas” ou “cosmólogos”, propunham-se os seguintes problemas:

como surgiu o cosmos. Quais são as fases e os momentos de sua geração como surgiu o cosmos? Quais são as fases e os momentos de sua geração? Quais são as forças originárias que agem no processo?

Com os sofistas, porém, o quadro mudou Com os sofistas, porém, o quadro mudou. A problemática do cosmos entrou em crise e a atenção passou a se concentrar no homem e em suas virtudes específicas. Nascia assim a problemática moral.

Com as grandes construções sistemáticas do século IV a. C Com as grandes construções sistemáticas do século IV a.C., a temática filosófica iria se enriquecer ainda mais, distinguindo alguns âmbitos de problemas (relacionados com a problemática do todo)

que ao longo de toda a história da filosofia, iriam permanecer como pontos de referência paradigmáticos.

Os primeiros Jônicos e a questão do “princípio” de todas as coisas.

TALES DE MILETO O pensador ao qual a tradição atribui o começo da filosofia grega é Tales, que viveu em Mileto, na Jônia, provavelmente nas últimas décadas do século VII e na primeira metade do século VI a.C.

Tales foi o iniciador da filosofa da physis, pois foi o primeiro a afirmar a existência de um princípio originário único, causa de todas as coisas que existem, sustentando que esse princípio é a água.

Essa proposta é importantíssima, como veremos logo, podendo com boa dose de razão ser qualificada como “a primeira proposta filosófica daquilo que se costuma chamar ‘civilização ocidental”.

A compreensão exata dessa proposta pode nos fazer entender a grande revolução operada por Tales, que levaria à criação da filosofia.

“Princípio” (arché) não é um termo de Tales (talvez tenha sido introduzido por seu discípulo Anaximandro, mas alguns pensam numa origem mais tardia), mas é certamente

o termo que indica melhor do que qualquer outro o conceito daquele quid do qual derivam todas as coisas.

Como nota Aristóteles em sua exposição sobre o pensamento de Tales e dos primeiros físicos, o “princípio” é “aquilo do qual derivam originariamente e no qual se ultimam todos os seres”, é “uma realidade que permanece

idêntica ao transmutar-se de suas alterações”, ou seja, uma realidade “que continua a existir imutada, mesmo através do processo gerador de todas as coisas”.

Assim, o “princípio “ é: a) a fonte e origem de todas as coisas; b) a foz ou termo último de todas as coisas; c) o sustentáculo permanente que mantém todas as coisas ( a “substância”).

Em suma, o “princípio” pode ser definido como aquilo do qual provêm, aquilo no qual se concluem e aquilo pelo qual existem e subsistem todas as coisas.

Os primeiros filósofos denominaram esse princípio com o termo physis, que indica natureza, não no sentido moderno do termo, mas no sentido original de realidade primeira e fundamental,

ou seja, aquilo que é fundamental e persistente, em oposição àquilo que é secundário, derivado e transitório.

Assim, os filósofos que, a partir de Tales até o fim do século V a. C Assim, os filósofos que, a partir de Tales até o fim do século V a.C., indagaram em torno da physis foram denominados “físicos” ou “naturalistas”.

Portanto, somente recuperando a acepção arcaica do termo e captando adequadamente as peculiaridades que a diferenciam da concepção moderna é que será possível entender o horizonte espiritual desses primeiros filósofos.

PRIMEIROS FILÓSOFOS

Mas ainda fica por esclarecer o sentido da identificação do “princípio” com a “água” e as suas implicações. A tradição indireta diz que Tales deduziu essa sua convicção “da constatação de que a nutrição de todas as coisas é úmida”,

de que as sementes e os germes de todas as coisas “têm natureza úmida” e de que, portanto, a secagem total significa a morte. Assim como a vida está ligada à umidade e esta pressupões a água,

então a água é a fonte última da vida e de todas as coisas então a água é a fonte última da vida e de todas as coisas. Tudo vem da água, tudo sustenta sua vida com água e tudo acaba em água.

Mas não se deve acreditar que a água de Tales seja o elemento físico-químico que bebemos. A água de Tales deve ser pensada em termos totalizantes, ou seja,

como a physis líquida originária da qual tudo deriva e da qual a água que bebemos é apenas uma manifestação.

ANAXIMANDRO DE MILETO Provável discípulo de Tales, Anaximandro nasceu por volta de fins do século VII a.C. e morreu no início da segunda metade do século VI.

Elaborou um tratado Sobre a natureza, do qual nos chegou um fragmento Elaborou um tratado Sobre a natureza, do qual nos chegou um fragmento. Trata-se do primeiro tratado filosófico do Ocidente e do primeiro escrito grego em prosa.

A nova forma de composição literária tornava-se necessária pelo fato de que o logos devia estar livre do vínculo da métrica e do verso para corresponder plenamente às suas próprias instâncias.

Anaximandro foi ainda mais ativo do que Tales na vida política: com efeito, se tem conhecimento de que chegou até a “comandar a colônia que migrou de Mileto para a Apolônia”.

Com Anaximandro, a problemática do princípio se aprofundou: ele sustenta que a água já é algo derivado e que, ao contrário,

o “princípio” (arché) é o infinito, ou seja, uma natureza (physis) infinita e indefinida da qual derivam todas as coisas.

O termo usado por Anaximandro é a-peiron, que significa aquilo que é privado de limites, tanto externos (ou seja, aquilo que é infinito espacialmente e, portanto, quantitativamente)

como internos (ou seja, aquilo que é qualitativamente indeterminado) como internos (ou seja, aquilo que é qualitativamente indeterminado). É precisamente por ser quantitativa e qualitativamente ilimitado é que o princípio-apeiron pode dar origem a todas as coisas, delimitando-se de vários modos.

Esse princípio abarca e circunda, governa e sustenta tudo, justamente porque, como delimitação e determinação dele, todas as coisas dele se geram, nele consistindo e sendo.

Esse infinito “parece com o divino, pois é imortal e indestrutível” Esse infinito “parece com o divino, pois é imortal e indestrutível”. Anaximandro não só atribui aos seu princípio as prerrogativas que Homero e a tradição antiga atribuíam aos deuses, ou seja, a imortalidade

e o poder de governar e sustentar tudo, mas vai ainda além, precisando que a imortalidade do princípio deve ser tal a ponto de não apenas não admitir um fim, mas tampouco um início.

Os deuses antigos não morriam, mas nasciam Os deuses antigos não morriam, mas nasciam. Já o divino de Anaximandro, da mesma forma como não morre, também não nasce.

Desse modo, como já se acenou a propósito de Tales, de um só golpe é derrubada a base sobre a qual se erguiam as teogonias,

ou seja, as genealogias dos deuses como entendidas no sentido que as queria a mitologia tradicional dos gregos.

Esses primeiros filósofos pré-socráticos são “naturalistas” no sentido de que não vêem o divino (princípio) como algo diferente do mundo, mas como a essência do mundo.

Em Anaximandro, portanto, Deus torna-se o princípio, ao passo que os deuses tornam-se os mundos, os universos que, como veremos, são numerosos – os quais, porém, nascem e perecem ciclicamente.