Aula 3 – Sócrates e a virada na filosofia

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Transcrição da apresentação:

Aula 3 – Sócrates e a virada na filosofia

Introdução Quem foi Sócrates e por que ele é tão importante a ponto de existir o nome “pré- socráticos” pra quem veio antes dele? O sujeito do slide anterior pode ajudar. Um barbado contestador, que não buscava apenas levar seu ofício ao máximo, mas também a auxiliar os outros a ter voz e vez em meio aos poderosos de seu tempo. Este Sócrates Brasileiro tem muito a ver com o grego!

Sócrates nasceu em Atenas aproximadamente em 469/470a Sócrates nasceu em Atenas aproximadamente em 469/470a.C e viria a morrer lá mesmo em 399 a.C. Viveu, portanto, o século V a.C, período de ouro da democracia ateniense. Com ele o exercício da filosofia deixaria de ser apenas algo como uma “ciência” da natureza tal como iniciado pelos pensadores da escola de Mileto. As preocupações daqueles que pretendam usar a razão como ferramenta de compreensão do mundo ganham com Sócrates uma nova dimensão. Não só a natureza, suas formas de funcionamento, o princípio que forma seus seres passam a ser de interesse da filosofia; o homem, seu comportamento, suas ações também passam a ser tomados como objetos de discussão. Perguntas como o que á coragem, o bem, a retórica, o amor e a verdade começam a ser debatidas. Será possível dizer o que estas coisas são?

Quem falou sobre Sócrates? Algo curioso sobre este filósofo é que não chegou até nós nada que ele mesmo tenha escrito. Tudo o que sabemos sobre este homem e seu pensamento deriva de outros autores que sobre ele falaram. Alguns dos mais notáveis são os seguintes: Xenofonte: Admirador de Sócrates, escreveu Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates Aristófanes: dramaturgo escritor de comédias, foi também crítico de Sócrates. Sua peça As Nuvens contribuiu para a imagem de maluco que os filósofos viriam a carregar.

Quem falou sobre Sócrates? Mas é Platão, o maior dos discípulos de Sócrates, aquele que registra de modo mais exaustivo e completo as ideias de seu mestre. Sócrates é o personagem principal de boa parte dos diálogos de Platão. Nos diálogos de juventude de Platão, Sócrates é normalmente aquele que conduz a conversa e guia seu interlocutor a um novo entendimento sobre o tema em discussão.

Irritante como uma pulga. Sócrates era famoso por ser um adversário duro e persistente nas disputas argumentativas em que entrava. Não é incomum ver nos textos de Platão como os interlocutores se irritam com as perguntas insistentes do filósofo. Os adversários mais célebres de Sócrates foram os sofistas, professores (bem pagos) de retórica, a arte de falar bem – já para os gregos saber falar bem em público era um conhecimento de grande valor social. A diferença básica entre os filósofos e os sofistas é que enquanto os primeiros se ocupam em encontrar a verdade sobre o que se discute, os sofistas querem ganhar a discussão com o argumento mais convincente (o que não quer dizer que estejam preocupados com a verdade).

Vejamos o que define o “ser filósofo” em Sócrates. O que é ser filósofo? Vejamos o que define o “ser filósofo” em Sócrates. As palavras do Oráculo de Delfos indicam que Sócrates é o mais sábio dos homens. Mas o que isto quer dizer? Sócrates é o único capaz de reconhecer sua própria ignorância; é o único capaz de dizer “só sei que nada sei”. Ao dialogar, Sócrates diversas vezes coloca-se na conversa como ingênuo, como alguém que é um ignorante sobre o assunto. Esta ironia socrática atrai o adversário, que julga dominar o assunto em discussão. O exercício da filosofia é uma atividade voltada para o conhecimento da verdade através da razão. Tal interesse conduz os indivíduos a se afastarem do mero prazer físico e material em prol do cultivo da alma através do conhecimento. Em outros termos, ser filósofo é um caminho para conhecer a si mesmo. (Daqui vem o lema “conhece-te a ti mesmo”). Sócrates considera uma missão divina passar esta postura adiante.

O que é ser filósofo? Vejamos nas palavras de Sócrates (tal como Platão as registrou) quando visa explicar a seus concidadãos o que é ser filósofo: Atenienses, eu vos sou reconhecido e vos quero bem, mas obedecerei antes ao deus que a vós; enquanto tiver alento e puder fazê-lo, jamais deixarei de filosofar, de vos dirigir exortações, de ministrar ensinamentos em toda ocasião àquele de vós que eu deparar dizendo-lhe o que costumo: ‘meu caro, tu, um ateniense, da cidade mais importante e mais reputada por sua cultura e poderio, não te pejas de cuidares de adquirir o máximo de riqueza, fama e honrarias e, e de não te importares nem cogitares da razão, da verdade e de melhorar quanto mais a tua alma?’ (...) outra coisa não faço senão andar por aí persuadindo-vos, moços e velhos, a não cuidar tão aferradamente do corpo e das riquezas como de melhorar o mais possível a alma. PLATÃO. Defesa de Sócrates. São Paulo: Abril Cultural, 1972, p. 21.

O método dialético. Este exercício da filosofia, contudo, não se dava numa mera conversa fiada. Sócrates vale-se de um método de argumentação para buscar o melhor entendimento sobre algo. Entenderemos isto como a dialética socrática. Este método consiste em conduzir um diálogo através do embate entre posições no sentido de se encontrar a verdade sobre o assunto em discussão. Um dos interlocutores apresenta uma posição sobre o assunto que será analisada no diálogo através de uma série de perguntas feitas pelo outro interlocutor, que testarão a veracidade desta posição. Este segundo interlocutor tentará então refutar o primeiro, mostrando que a tese inicial é inválida e apresentando novas teses sobre o assunto em discussão. Sócrates pretende com isso também auxiliar aquele com quem conversa a se livrar de noções falsas ou erradas que tenha sobre o assunto em discussão. Como Sócrates leva através de perguntas o outro a concordar com ele, o filósofo mostra que cada um capaz de dar à luz ideias novas, diferentes daquelas erradas com as quais começou a conversa. Este processo de auxiliar o interlocutor a conceber novas ideias a partir do que achava que sabia chama-se maiêutica. É assim que Sócrates busca auxiliar as pessoas ao auto-exame da alma.

O método dialético. Situação Filosófica Veja a seguinte anedota: Situação Filosófica Em uma manhã ensolarada da antiga Atenas, a população desenvolvia tranquilamente seus afazeres. De repente, um homem cruza a praça correndo e logo se ouvem gritos desesperados: - Pega ladrão! Pega Ladrão! Um soldado imediatamente se lança em disparada atrás do sujeito. Sócrates, por sua vez, pergunta: - O que é um ladrão? COTRIM, Gilberto. Fundamentos de Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2010. P. 33.

O método dialético. Neste caso, alguém que viesse conversar com Sócrates talvez começasse a conversa assim: FULANO: Um ladrão é que faz algo injusto. SÓCRATES: Então se há ações injustas deve haver ações justas, que são ignoradas pelo ladrão. FUL: Exato. SÓC: E o que define uma ação justa não seria a justiça? FUL: Isso mesmo. SÓC: Então, antes de mais nada temos que nos entender sobre o que a justiça é. Pode ser, contudo, que o diálogo não chegue a qualquer conclusão, mas apenas afaste uma concepção falsa sobre o assunto discutido. Neste caso temos uma aporia, ou seja, um caso em que não é possível uma conclusão diante das possibilidades encontradas.

O método dialético. Acompanhe Sócrates num breve trecho de seu julgamento onde ele refuta as acusações que Meleto lhe faz: — E, agora, diz-me, por Zeus, Meleto: o que é melhor: viver entre virtuosos cidadãos ou entre malvados? Responde, meu caro, não te pergunto uma coisa difícil. Não fazem os malvados alguma maldade aos que são seus vizinhos, e alguns benefícios os bons? — Certamente. — E haverá quem prefira receber malefícios a ser auxiliado por aqueles que estão com ele? Responde, porque também a lei manda responder. Há os que gostam de ser prejudicados? — Não, por certo. — Vamos, pois, tu me acusas como pessoa que corrompe os jovens e os torna piores, voluntariamente, ou involuntariamente? — Para mim, voluntariamente. — Como, Meleto? Tu, na tua idade, és mais sábio do que eu, tão velho, sabendo que os maus fazem sempre mal aos mais próximos e que os bons fazem bem: eu, pois, cheguei a tal grau de ignorância que não sei nem isso, que se tornasse maus alguns daqueles que estavam comigo, correria o risco de receber dano, se é que faço um tão grande mal, como dizes. Não creio em ti, Meleto, quanto a isso, e ninguém tampouco acredita, penso eu. Mas, ou não os corrompo, ou, se os corrompo, é involuntariamente, e em ambos os casos mentiste. E, se os corrompo involuntariamente, não há leis que mandem trazer aqui alguém, por tais fatos involuntários, mas há as que mandam conduzi-lo em particular, instruindo-o, advertindo-o; é claro que se me convencer, cessarei de fazer o que estava fazendo sem querer. Tu, ao contrário, evitaste encontrar- me e instruir-me, não o quiseste; e me conduzes aqui, onde a lei ordena citar aqueles que tem necessidade de pena e não de instrução. PLATÃO. Defesa de Sócrates. São Paulo: Abril Cultural, 1972

O julgamento de Sócrates. Jaques-Louis David, A morte de Sócrates, 1787.

O julgamento de Sócrates. Sócrates pagou caro pela vida que resolveu levar. No diálogo Defesa de Sócrates Platão conta a história do julgamento de Sócrates. Sócrates sofre três acusações básicas: não acreditar nos deuses da cidade, corromper os jovens e introduzir novos deuses. Embora defenda-se de todas as acusações por conta própria, isto não é suficiente para o tribunal absolvê-lo. Sócrates só tem uma opção: deixar o exercício da filosofia de lado se quiser continuar a viver em Atenas. Diante desta opção Sócrates não hesita: prefere a prisão a abandonar sua profissão de vida. Na prisão, seus discípulos conseguem encontrar uma forma de seu mestre fugir, mas Sócrates rejeita esta opção. O filósofo é obrigado a tomar um calice de cicuta que o leva a morrer, a lição última para seus discípulos, que serão os responsáveis por levar adiante seus ensinamentos.