Jean-Jacques Rousseau O filósofo da liberdade como valor supremo Márcio Ferrari Revista Nova Escola  Sociologia Prof. Vidal.

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
JEAN-JACQUES ROUSSEAU
Advertisements

Jean-Jacques Rousseau
O ILUMINISMO ( ESCLARECIMENTO )
Resumo dos Pensadores CORRENTE DO PENSAMENTO ROUSSEAU: Contratualista precursor do Romantismo Montesquieu Tripartição de poderes mornarquista JOHN LOOCK.
Nome: Priscila Schuster Colling Professor: Dejalma Cremonese
E SCOLA ESTADUAL DR. M ARTINHO MARQUES Trabalho de filosofia Professor: Eudi Bachiega Alunos: Beatriz e Rita.
QUEM CONTESTOU O ANTIGO REGIME NO SÉCULO XVIII?
Prof. Fernando Berardo Toscano
GRANDES MESTRES DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
ILUMINISMO.
LUZ DA RAZÃO CONTRA AS TREVAS DA IGNORÂNCIA
UM BREVE RESUMO DO SEMESTRE: SOCIOLOGIA Caro(a) aluno(a), o presente resumo permite ter uma visão panorâmica dos tópicos mais importantes ministrados,
EXÉRCITO BRASILEIRO DECEx – DEPA – CMF DISCIPLINA: HISTÓRIA 2º ANO DO ENSINO MÉDIO ASSUNTO: O ILUMINISMO OBJETIVOS RECONHECER.
TEMA 2: A SOCIOLOGIA E SUAS BASES FUNDACIONAIS
Pré – condições para o “Século das Luzes” (séc. XVIII)
Alguns teóricos e seus conceitos.
O I L U M N S Professora: Marta.
O ILUMINISMO.
O I L U M N S Professora: Marta. O I L U M N S Professora: Marta.
BEM-VINDO À DISCIPLINA
Concepção Construtivista *Mitos e verdades
Faculdade Dom Bosco SOBRE A NATUREZA E ESPECIFICIDADE DA EDUCAÇÃO
Cursinho Popular Paulo Freire
ILUMINISMO As luzes da razão.
Ciência Política e Teoria do Estado Professor Dejalma Cremonese
Educar.
Profª. Ermelinda Nóbrega de Magalhães Melo
O I L U M N S Professor: Odair.
Jean-Jacques Rousseau (Genebra, 1712 — 1778) foi um filósofo, escritor, teórico político e um compositor musical autodidata. Uma das figuras marcantes.
Iluminismo O século das Luzes.
O Estado necessita da Educação, e a Educação do Estado.
ERASMO E A EDUCAÇÃO.
PESTALOZZI ( ) Muitas influências de Rousseau e da revolução francesa
JEAN JACQUES ROUSSEAU (1712 – 1778)
A filosofia está na história e tem uma história!
Profa. MSc. Daniela Ferreira Suarez
Filosofia Professor Breno Cunha
O Iluminismo.
Prof. Everton da Silva Correa
EDUCAÇÃO SENSUALISTA 10 E 11 de abril de 2013.
Nossa Senhora Rainha dos Corações.
A formação integral do cristão
Absolutismo Prof. Lucas Villar.
A sociologia de Max Weber
O ILUMINISMO Professor Jarlison Augusto
aula 1 - Niccolò Machiavelli – uma análise do PRÍNCIPE
AULA 8 – Uma nova visão: o Contratualismo de John Locke como argumento à favor da liberdade (Cap 24, pág 304 a 307)
Profª. Taís Linassi Ruwer
Prof. Mauro Leão BEM-VINDO À DISCIPLINA
Pensadores.
ILUMINISMO Anti-dogmático. Valorização da razão.
Iluminismo Prof. Vanessa Martins.
Revisão para a prova – 7º ano Grupo 9 – Filosofia e História Grupo 10 – O século das luzes Grupo 11 - Iluminismo ATENÇÃO: Essa revisão não é suficiente.
MUDANÇAS RESULTANTES DA INDUSTRIALIZAÇÃO
Os anos das grandes oportunidades
A pedagogia nos séculos XVIII e XIX
CAESP – Filosofia – 2A e B – 06/05/2015 ROUSSEAU..
Filósofos iluministas
A base dos Ideais Liberais/Democráticos
Karl Marx e F. Engels Marx ( ) Engels ( )
Friedrich Hegel Filosofia contemporânea
ÉTICA, POLÍTICA E SOCIEDADE Unidade I Formação da moral ocidental Tema 3 A moral no pensamento moderno.
A Crise do Positivismo Suderlan Tozo Binda. O POSITIVISMO Iniciemos com uma citação de Marcuse: – “ Desde a primeira vez em que foi usado, provavelmente.
Jean Jacques Rousseau.
Prof. Dr. Robson Santos de Oliveira. Jan Amos Komenský Nasceu em 28 de março de 1592 e morreu em 15 de Novembro de 1670 (78 anos). Foi um bispo protestante.
O ILUMINISMO Cap. 27 – Aulas “Só haverá liberdade quando o último rei for enforcado com as tripas do último padre”. Voltaire.
Educação e sociedade em Rousseau
JEAN JACQUES ROUSSEAU O FILÓSOFO DA LIBERDADE COMO VALOR SUPREMO
Transcrição da apresentação:

Jean-Jacques Rousseau O filósofo da liberdade como valor supremo Márcio Ferrari Revista Nova Escola  Sociologia Prof. Vidal

Na história das idéias, o nome do suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) se liga inevitavelmente à Revolução Francesa. Dos três lemas dos revolucionários — liberdade, igualdade e fraternidade —, apenas o último não foi objeto de exame profundo na obra do filósofo, e os mais apaixonados líderes da revolta contra o regime monárquico francês, como Robespierre, o admiravam com devoção. O princípio fundamental de toda a obra de Rousseau, pelo qual ela é definida até os dias atuais, é que o homem é bom por natureza, mas está submetido à influência corruptora da sociedade. Um dos sintomas das falhas da civilização em atingir o bem comum, segundo o pensador, é a desigualdade, que pode ser de dois tipos: a que se deve às características individuais de cada ser humano e aquela causada por circunstâncias sociais. Entre essas causa, Rousseau inclui desde o surgimento do ciúme nas relações amorosas até a institucionalização da propriedade privada como pilar do funcionamento econômico.

O primeiro tipo de desigualdade, para o filósofo, é natural; o segundo deve ser combatido. A desigualdade nociva teria suprimido gradativamente a liberdade dos indivíduos e em seu lugar restaram artifícios como o culto das aparências e as regras de polidez.

Ao renunciar à liberdade, o homem, nas palavras de Rousseau, abre mão da própria qualidade que o define como humano. Ele não está apenas impedido de agir, mas privado do instrumento essencial para a realização do espírito. Para recobrar a liberdade perdida nos descaminhos tomados pela sociedade, o filósofo preconiza um mergulho interior por parte do indivíduo rumo ao autoconhecimento. Mas isso não se dá por meio da razão, e sim da emoção, e traduz-se numa entrega sensorial à natureza.

Bom selvagem Até aqui o pensamento de Rousseau pode ser tomado como uma doutrina individualista ou uma denúncia da falência da civilização, mas não é bem isso. O mito criado pelo filósofo em torno da figura do bom selvagem — o ser humano em seu estado natural, não contaminado por constrangimentos sociais — deve ser entendido como uma idealização teórica. Além disso, a obra de Rousseau não pretende negar os ganhos da civilização, mas sugerir caminhos para reconduzir a espécie humana à felicidade.

Não basta a via individual Não basta a via individual. Como a vida em sociedade é inevitável, a melhor maneira de garantir o máximo possível de liberdade para cada um é a democracia, concebida como um regime em que todos se submetem à lei, porque ela foi elaborada de acordo com a vontade geral. Não foi por acaso que Rousseau escolheu publicar simultaneamente, em 1762, suas duas obras principais, Do Contrato Social — em que expõe sua concepção de ordem política — e Emílio — minucioso tratado sobre educação, no qual prescreve o passo-a-passo da formação de um jovem fictício, do nascimento aos 25 anos. "O objetivo de Rousseau é tanto formar o homem como o cidadão", diz Maria Constança Peres Pissarra, professora de filosofia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. "A dimensão política é crucial em seus princípios de educação."

Não há escola em Emílio, mas a descrição, em forma vaga de romance, dos primeiros anos de vida de um personagem fictício, filho de um homem rico, entregue a um preceptor para que obtenha uma educação ideal. O jovem Emílio é educado no convívio com a natureza, resguardado ao máximo das coerções sociais. O objetivo de Rousseau, revolucionário para seu tempo, é não só planejar uma educação com vistas à formação futura, na idade adulta, mas também com a intenção de propiciar felicidade à criança enquanto ela ainda é criança.

Dependência das coisas Rousseau via o jovem como um ser integral, e não uma pessoa incompleta, e intuiu na infância várias fases de desenvolvimento, sobretudo cognitivo. Foi, portanto, um precursor da pedagogia de Maria Montessori (1870-1952) e John Dewey (1859-1952). "Rousseau sistematizou toda uma nova concepção de educação, depois chamada de 'escola nova' e que reúne vários pedagogos dos séculos 19 e 20", diz Maria Constança.

Para Rousseau, a criança devia ser educada sobretudo em liberdade e viver cada fase da infância na plenitude de seus sentidos — mesmo porque, segundo seu entendimento, até os 12 anos, o ser humano é praticamente só sentidos, emoções e corpo físico, enquanto a razão ainda se forma. Liberdade não significa a realização de seus impulsos e desejos, mas uma dependência das coisas (em oposição à dependência da vontade dos adultos). "Vosso filho nada deve obter porque pede, mas porque precisa, nem fazer nada por obediência, mas por necessidade", escreveu o filósofo em Emílio.

Um dos objetivos do livro era criticar a educação elitista de seu tempo, que tinha nos padres jesuítas os expoentes. Rousseau condenava em bloco os métodos de ensino utilizados até ali, por se escorarem basicamente na repetição e memorização de conteúdos, e pregava sua substituição pela experiência direta por parte dos alunos, a quem caberia conduzir pelo próprio interesse o aprendizado. Mais do que instruir, no entanto, a educação deveria, para Rousseau, se preocupar com a formação moral e política.

Um pensamento rebelde na era da razão Já adulto, Emílio, o personagem de Rousseau, ouve preleção sobre a natureza: religião naturalHavia mais desacordo do que harmonia entre Rousseau e os outros pensadores iluministas que inspiraram os ideais da Revolução Francesa (1789). Voltaire (1694-1778), Denis Diderot (1713-1784) e seus pares exaltavam a razão e a cultura acumulada ao longo da história da humanidade, mas Rousseau defendia a primazia da emoção e afirmava que a civilização havia afastado o ser humano da felicidade. Enquanto Diderot organizava a Enciclopédia, que pretendia sistematizar todo o saber do mundo de uma perspectiva iluminista, Rousseau pregava a experiência direta, a simplicidade e a intuição em lugar da erudição — embora, mesmo assim, tenha se encarregado do verbete sobre música na obra conjunta dos filósofos das luzes. Também o misticismo os opunha: Rousseau rejeitava o racionalismo ateu e recomendava a religião natural, pela qual cada um deve buscar Deus em si mesmo e na natureza. Com o tempo, as relações entre Rousseau e seus contemporâneos chegou ao conflito aberto. Voltaire fez campanha pública contra ele, divulgando o fato de ter entregue os filhos a adoção. Os seguidores mais fiéis de Rousseau seriam os artistas filiados ao Romantismo. Por meio deles, suas idéias influenciaram profundamente o espírito da época. No Brasil, por exemplo, José de Alencar escorou seus romances indigenistas no mito rousseauniano do bom selvagem.

Biografia Jean-Jacques Rousseau nasceu em Genebra, Suíça, em 1712. Sua mãe morreu no parto. Viveu primeiro com o pai, depois com parentes da mãe e aos 16 anos partiu para uma vida de aventureiro. Foi acolhido por uma baronesa benfeitora na província francesa de Savoy, de quem se tornou amante. Converteu-se à religião dela, o catolicismo (era calvinista). Até os 30 anos, alternou atividades que foram de pequenos furtos à tutoria de crianças ricas. Ao chegar a Paris, ficou amigo dos filósofos iluministas e iniciou uma breve mas bem-sucedida carreira de compositor. Em 1745 conheceu a lavadeira Thérèse Levasseur, com quem teria cinco filhos, todos entregues a adoção — os remorsos decorrentes marcariam grande parte de sua obra. Em 1756, já famoso por seus ensaios, Rousseau recolheu-se ao campo, até 1762. Foram os anos em que produziu as obras mais célebres (Do Contrato Social, Emílio e o romance A Nova Heloísa), que despertaram a ira de monarquistas e religiosos. Viveu, a partir daí, fugindo de perseguições até que, nos últimos anos de vida, recobrou a paz. Morreu em 1778 no interior da França. Durante a Revolução Francesa, 11 anos depois, foi homenageado com o translado de seus ossos para o Panteão de Paris.

"A instrução das crianças é um ofício em que é necessário saber perder tempo, a fim de ganhá-lo" Método natural e educação negativa Rousseau dividiu a vida do jovem — e seu livro Emílio — em cinco fases: lactância (de 0 a 2 anos), infância (de 2 a 12), adolescência (de 12 a 15), mocidade (de 15 a 20) e início da idade adulta (de 20 a 25). Para a pedagogia, interessam particularmente os três primeiros períodos, para os quais Rousseau desenvolve sua idéia de educação como um processo subordinado à vida, isto é, à evolução natural do discípulo, e por isso chamado de método natural. O objetivo do mestre é interferir o menos possível no desenvolvimento próprio do jovem, em especial até os 12 anos, quando, segundo Rousseau, ele ainda não pode contar com a razão. O filósofo chamou o procedimento de educação negativa, que consiste, em suas palavras, não em ensinar a virtude ou a verdade, mas em preservar o coração do vício e o espírito do erro. Desse modo, quando adulto, o ex-aluno saberá se defender sozinho de tais perigos.

"Que a criança corra, se divirta, caia cem vezes por dia, tanto melhor, aprenderá mais cedo a se levantar" Para pensar Por incrível que pareça, Rousseau, ao criar o mito do bom selvagem, acabou dando argumentos para negar a importância ou o valor da educação. Afinal, a educação é antes de tudo ação intencional para moldar o homem de acordo com um ideal ou um modelo que a sociedade, ou um segmento dela, valoriza. A educação aceita a natureza, mas não a toma como suficiente e boa em princípio. Se tomasse, não seria necessária... Se você comparar, por exemplo, as idéias de Rousseau e as de Émile Durkheim (1858-1917), verá que, nesse sentido, eles estão em extremos opostos. Para o sociólogo francês, tema da seção Grandes Pensadores da edição 166 de ESCOLA, a função da educação era introduzir a criança na sociedade. Quer saber mais?

De Emílio a Emilia, Marisa del Cioppo Elias, 208 págs. , Ed De Emílio a Emilia, Marisa del Cioppo Elias, 208 págs., Ed. Scipione, tel. (11) 3277-1788, 29,90 reais Emílio ou Da Educação, Jean-Jacques Rousseau, 684 págs., Ed. Martins Fontes, tel. (11) 239-3677, 58,50 reais Rousseau — A Educação na Infância, 176 págs., Ana Beatriz Cerisara, Ed. Scipione, tel. (11) 3277-1788, 28,90 reais Rousseau — A Política como Exercício Pedagógico, Maria Constança Peres Pissarra, 128 págs., Ed. Moderna, tel. 0800-172002, 20,50 reais