Maria Beatriz Galli Ana Paula de Andrade Lima Viana Fazendo Gênero 2010 O impacto da ilegalidade do aborto na saúde das mulheres e nos serviços de saúde.

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Transcrição da apresentação:

Maria Beatriz Galli Ana Paula de Andrade Lima Viana Fazendo Gênero 2010 O impacto da ilegalidade do aborto na saúde das mulheres e nos serviços de saúde em cinco estados brasileiros: subsídios para o debate político

Objetivos Levantar dados e informações sobre a realidade e a magnitude do abortamento inseguro e o impacto da ilegalidade do abortamento na qualidade da assistência, na saúde das mulheres e no sistema de saúde, nos estados de Pernambuco, Bahia, Paraíba, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul.

Objetivos O trabalho visa subsidiar e aprofundar o debate político e midiático sobre uma eventual proposta legislativa de revisão da atual legislação penal sobre o aborto no Brasil. (parágrafo 106 K da Plataforma de Ação de Beijing, de 1995, dispõe que “os governos devem considerar revisarem as leis que contém medidas punitivas contra mulheres que realizaram abortos ilegais”).

Objetivos especificos Articular com movimentos de mulheres e parlamentares aliados para participação no projeto, encaminhamento e divulgação dos resultados na Câmara Federal, Assembléia Legislativa e Câmara de Vereadores; Apontar recomendações para subsidiar a ação de parlamentares e de gestores e profissionais de saúde; Divulgar amplamente os resultados na mídia.

Contexto Político A condição de clandestinidade do aborto no Brasil dificulta a definição de sua real dimensão e da complexidade de aspectos que envolvem questões legais, econômicas, sociais e psicológicas, impactando diretamente na vida e na autonomia das mulheres.

Contexto Político O espaço legislativo mostra-se atualmente como uma arena de constante tensão e ameaças aos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. O tema do aborto esteve em debate na Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) da Câmara dos Deputados, através do Projeto de Lei (PL) No de 1991, que descriminaliza o aborto. Polarização no debate entre dois sujeitos políticos: movimentos de mulheres/feministas e grupos conservadores, majoritariamente ligados as igrejas.

Elementos de contexto As assimetrias de gênero, de raça, de condição sócia econômica como parte da realidade em um contexto de estigma e discriminação associado a ilegalidade e criminalização do aborto. Relação direta entre a restrição legal em relação ao aborto, o alto número de mortes maternas e as seqüelas em decorrência desse aborto. (Comissão Parlamentar de Inquérito, 2001) Marco normativo: Normas Técnicas do Ministério da Saúde, 2005; documento internacionais de direitos humanos relacionados a saúde sexual e reprodutiva e tratados internacionais de direitos humanos.

Dados sobre o aborto no Brasil Estima-se que ocorram anualmente no Brasil entre 729 mil e 1,25 milhão de abortamentos inseguros, de acordo com os resultados da pesquisa Abortamento, um grave problema de saúde pública e de justiça social, (MONTEIRO, 2008).

Pesquisa nacional (ANIS, MS, UnB, UERJ)recente sobre o aborto realizada em todos os Estados com mulheres, de 18 a 39 anos, revelou o perfil da mulher que interrompe a gravidez: casada, tem filhos, religião e pertence a todas classes sociais. Das mulheres entrevistadas, 15% declararam que já fizeram pelo menos um aborto. Projetado sobre a população feminina do País nessa faixa etária, que é de 35,6 milhões, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse número representaria 5,3 milhões de mulheres.

Metodologia Levantamento de dados no SUS, em bancos de dados locais, relatórios dos comitês de mortalidade materna, publicações e sites; as visitas realizadas aos serviços de saúde nos municípios e as entrevistas informais roteirizadas com profissionais e usuárias. Articulação com movimentos de mulheres e parlamentares aliados para participação no projeto, encaminhamento e divulgação dos resultados na Câmara Federal, Assembleias Legislativas e Câmara de Vereadores; Formulação de recomendações para subsidiar a ação de parlamentares, gestores e profissionais de saúde; Divulgação ampla dos resultados na mídia.

RESULTADOS E ANÁLISES O impacto da ilegalidade atinge as mulheres de forma desigual: há regiões no país em que as taxas de mortalidade materna são mais altas, como no Norte, no Nordeste e no Centro-Oeste.

RESULTADOS A curetagem pós aborto é o segundo procedimento mais frequente na rede SUS Mapa 1: Estimativa das taxas anuais de aborto induzido por 1000 mulheres de 15 a 49 anos

Adesse & Monteiro 2007

Resultados A ilegalidade do aborto leva a uma subnotificação e subregistro das informações relacionadas ao abortamento no SUS. A sub-informação nos registros da evolução da internação acarreta erros no desenho do perfil epidemiológico da mortalidade materna por abortamento, mascara a realidade dos serviços e a qualidade da atenção recebida pelas mulheres.(GALLI, B., MONTEIRO, M., VIANA, P. & MELO, N., 2008).

Resultados Ainda segundo Mario Monteiro, entre as complicações de aborto, o choque é o mais grave, e representa cerca de 2/3 das internações por complicações de aborto na região Nordeste, enquanto na região Sul é de apenas 1%, demonstrando que o choque pode ser evitado e a sua participação nas complicações do aborto deveria ser reduzida.

Resultados Constatou-se, ainda, que há deficiência de leitos obstétricos e precariedade da estrutura física das unidades, falta de equipamentos e profissionais qualificados. Nas unidades visitadas constatou-se que não há serviço de planejamento reprodutivo pós-aborto ou quando existe é deficiente para dar conta da demanda existente por informação e métodos contraceptivos, facilitando a recorrência de gravidezes indesejadas.

Análise dos resultados A ilegalidade tem impacto no acesso, na falta de privacidade, e interfere na qualidade da assistência às mulheres em situação de abortamento: retardo do atendimento, jejum prolongado, sensação de isolamento, falta de comunicação sobre o que estaria se passando, falta de interesse das equipes em escutar e orientar as mulheres ou mesmo na discriminação explícita com palavras e atitudes condenatórias e preconceituosas, na maioria dos relatos das mulheres entrevistadas.

Análise dos resultados A ilegalidade do aborto contribui para a dificuldade de se estabelecer uma relação de confiança entre a paciente e o profissional de saúde, que trabalha sem segurança quanto ao diagnóstico e ao tratamento adequado.

Análise dos resultados Existe desconhecimento por parte dos profissionais da saúde sobre o marco legal, sobre o tipo de conduta ético- profissional para os casos de aborto, na maior parte dos profissionais entrevistados. A situação é de constante conflito íntimo para o profissional de saúde, agravada pelo fato de que o abortamento é parte significativa da demanda das mulheres nos serviços, realidade para a qual não se sentem preparados para lidar.

Análise dos resultados Há tratamento diferenciado entre as mulheres em processo de abortamento e as parturientes, com evidente desvalorização e marginalização das mulheres que chegam abortando. As falas das mulheres revelam a violação de privacidade no atendimento, quando assistidas, e a violação de sua autonomia em relação à decisão em interromper a gravidez.

O estigma que carrega a questão do aborto faz com que a mulher enfrente uma seqüência de discriminação e violação de direitos, podendo ser colocada em risco de morte materna dentro do próprio SUS. Mortalidade Materna – Salvador e Petrolina (PE) 1a. Causa Maior causa entre mulheres de cor preta – 05 estados

ASPIRAÇÃO MANUAL INTRA UTERINA - AMIU CURETAGEM PÓS ABORTO - CPA Menor tempo de internação (média 06:00horas)Maior tempo de internação (média 36:00hs) Procedimento simples Procedimento de média complexidade, exige anestesia Menor risco de infecçãoMaior risco de infecção Não exige ocupação e leito obstétricoContribui para ocupação de leitos Menor custo para o SUS/valor médio de internação para AMIU de R$ 143,00 Maior custo para o SUS/valor médio de internação para CPA de R$ 468,00 O pouco uso de tecnologia que possibilitaria uma melhoria na atenção revela falta de acesso das mulheres ao procedimento mais seguro e adequado para sua saúde apontando para violação ao direito humano ao progresso científico.

Conclusão A legislação restritiva que criminaliza a prática do abortamento é a principal barreira para a redução da morbi- mortalidade materna por esta causa e para a melhoria da assistência ao abortamento e pós-abortamento no Brasil.