O PRIMO BASÍLIO EÇA DE QUEIRÓS.

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
O Demônio Familiar José de Alencar. O Demônio Familiar José de Alencar.
Advertisements

Tema: Triângulo amoroso entre amigos
Colégio Elisa Andreoli
Uma visão geral da vida em sociedade
CONCEITOS SÓCIO-ANTROPOLÓGICOS
Quem quer que sejas, onde quer que estejas Diz-me se é este o mundo que desejas
REALISMO.
DOM CASMURRO UM LUGAR PAR RECOMEÇAR.
Dom Casmurro Machado de Assis.
Naturalismo O discurso.
Realismo - Naturalismo
Machado de Assis: o autor
Vestido de Noiva Nelson Rodrigues
FILOSOFIA.
Início do Realismo O Realismo teve seu início na França em 1857, quando Gustave Flaubert publicou sua obra Madame Bovary, em que sua principal personagem.
A cidade e as Serras Eça de Queirós
O Realismo.
Questão Coimbrã Questão Coimbrã foi o primeiro sinal de renovação ideológica do século XIX entre os defensores do statu quo, desatualizados em relação.
Vertentes Realistas.
Introdução a história de um garoto que sofria da corrupção e
SENHORA José de Alencar
índice Pesquisa. História: Literatura infantil História em quadrinhos.
Sociologia
Origem e desenvolvimento da crônica
Eça de Queirós (1845 – 1900).
Certa vez, um homem caminhava pela praia numa noite de lua cheia, a paisagem era linda, deslumbrante, mas ele não conseguia ver nenhuma beleza naquele.
A IMPORTÂNCIA DE SE ESTUDAR HISTÓRIA (apresentação power point)
Segundo Émile Durkheim
ROMANTISMO.
EDER.
A Chave da Felicidade Letícia Thompson.
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
DOM CASMURRO UM LUGAR PAR RECOMEÇAR. O FILME  Título: Um Lugar para Recomeçar  Ano: 2005 (EUA)  Direção: Lasse Hallström  Gênero: Drama.
aula 1 - Niccolò Machiavelli – uma análise do PRÍNCIPE
Machado de Assis e o Realismo
Material de Literatura Prof. HIDER OLIVEIRA
Cinco Minutos.
Profª. Taís Linassi Ruwer
MENSAGEM DE ESPERANÇA Nunca diga que algo é impossível As coisas são, no máximo, improváveis Mas nunca impossíveis.
Desenvolvimento 1. Em que momento marido e mulher começam a conhecer o caráter mutuamente? LA, 105 mutuamente? LA, 105 Ao enfrentar o recém-casado par.
NÓS, OS AGNÓSTICOS LIVRO ALCOÓLICOS ANÔNIMOS - CAPÍTULOS 4.
Sociologia geral Introdução.
Revisão – professora Margarete
As duas fases de Macedo 1ª Fase: “o cronista de costumes” 2ª Fase: “o crítico irônico”
REALISMO.
Eça de queiros.
Quando os parques de diversões apareciam lá pelos cafundós de Minas, era uma alegria para os moradores das pequenas cidades e vilas, que paradas no.
REALISMO PORTUGUÊS Prof. Karen Olivan.
Por: Lucas Jose borba continentino

Memorias de um Sargento de Milícias
REALISMO Revolução Industrial
Provérbios capítulo 22 Bíblia Viva Editora Mundo Cristão.
Proposta de trabalho nº2 Educação Sexual Nas Escolas
Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o início deste milênio.
A natureza do desejo - Osho
LUDWIG FEUERBACH Deus é a essência do homem projetada em um imaginário ser transcendente. Também os predicados de Deus (sabedoria, potência,
O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA
Auto da Barca do Inferno O “Auto da Barca do Inferno” de Gil Vicente é um clássico da literatura que retrata a sociedade portuguesa do século XVI e ao.
Aulas Multimídias – Santa Cecília Prof. André Araújo.
Trabalho Realizado por: -Jonas Costa nº13 -Luís Filipe nº14 Disciplina de Português Professora Cristina Pimentel.
REALISMO E NATURALISMO
O QUE É SER VENDEDOR? Quais as Principais Características de Um Profissional de Vendas? Conforme Eduardo Botelho, Qual é o “Perfil” Ideal de Um Vendedor?
Profª Sandra. O Romantismo é uma escola que surgiu aos poucos, desde fins do século XVIII. Vários autores estavam dispostos a mudar o estilo literário.
Mensagem do Mestre. A Fonte da Compreensão No Novo Testamento a palavra grega para pecado é “antinomia”, que significa não compreender. E, se não compreender.
Prof.:Pecê.  Surgimento:  1844 – Publicação de “A Moreninha”, de Joaquim Manuel de Macedo.  Término:  1881 – Publicação de “Memórias póstumas de Brás.
“Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.” (Gên. 2:24)
Transcrição da apresentação:

O PRIMO BASÍLIO EÇA DE QUEIRÓS

POSICIONAMENTO DO AUTOR REALISMO & NATURALISMO X REALIDADE

Eça de Queirós fez parte de uma geração de jovens intelectuais, centrada em Coimbra, que reagiu contra o atraso do país. Eles criticavam o Romantismo como um sinônimo desse atraso. E com seus Realismo e Naturalismo pretendiam incorporar à Literatura os métodos científicos próprios das ciências naturais.

O autor disseca as deformações da sociedade lusitana (em O Primo Basílio) e explica sua fonte de pesquisa e inspiração neste trecho de uma carta enviada a Teófilo Braga:

Carta a Teófilo Braga “... mas eu não ataco a família (instituição) – ataco a família lisboeta, - a família lisboeta produto do namoro, reunião desagradável de egoísmos que se contradizem, e mais tarde ou mais cedo centro de bambochata (pequeno quadro de costumes pitorescos)...

Carta a Teófilo Braga ... No Primo Basílio que apresenta, sobretudo, um pequeno quadro doméstico, extremamente familiar a quem conhece bem a burguesia de Lisboa; - a senhora sentimental, mal-educada, nem espiritual (porque cristianismo já o não tem; sanção moral da justiça, não sabe o que isso é), arrasada de romance, lírica, sobreexcitada no temperamento pela ociosidade e pelo...

Carta a Teófilo Braga ... mesmo fim do casamento peninsular que é ordinariamente a luxúria, nervosa pela falta de exercício e disciplina moral, etc., etc., - enfim a burguesinha da Baixa (Lisboa); por outro lado o amante – um maroto, sem paixão nem a justificação da sua tirania, que o que pretende é a vaidadezinha de uma aventura, e o amor grátis; do outro lado a criada, ...

Carta a Teófilo Braga ... em revolta secreta contra a sua condição, ávida de desforra; por outro lado a sociedade que cerca estes personagens – o formalismo oficial (Acácio), a beatice parva de temperamento irritado (D. Felicidade), a literaturinha acéfala (Ernestinho), o descontentamento azedo, e o tédio de profissão (Julião) e às vezes...

Carta a Teófilo Braga ... Quando calha, um pobre bom rapaz (Sebastião). Um grupo social, em Lisboa, compõe-se, com pequenas modificações, destes elementos dominantes (...) Uma sociedade sobre estas bases, não está na verdade: atacá-las é um dever.”

REALISMO & CRÍTICA SOCIAL O PRIMO BASÍLIO REALISMO & CRÍTICA SOCIAL

O Primo Basílio apresentava-se como uma lente de aumento sobre a intimidade das famílias "de bem" de Lisboa da metade do século XIX. Representa um dos primeiros momentos de reflexão sobre o atraso da sociedade portuguesa em um mundo profundamente transformado pela Revolução Industrial e pelo desenvolvimento tecnológico.

O PRIMO BASÍLIO PERSONAGENS

 LUÍSA = Na descrição que o próprio Eça de Queiroz faz na carta a Teófilo Braga, Luísa é "a burguezinha da Baixa" (Lisboa, Cidade Baixa): uma senhora sentimental, sem valores espirituais ou senso de justiça. É lírica e romântica, “ociosa e nervosa pela falta de exercício e disciplina moral". Luísa é esposa de Jorge, engenheiro de minas que ela conheceu após o abandono e rompimento (por carta) do noivado com o primo Basílio...

... Sua vida tranqüila de leitora de folhetins é alterada pela viagem do marido e o retorno do primo a Portugal.O motivo que a leva a se entregar a Basílio, de acordo com as reflexões de Eça, nem ela sabia. Uma mescla da falta do que fazer com a "curiosidade mórbida em ter um amante, mil vaidadezinhas inflamadas, um certo desejo físico..."

BASÍLIO = O primo e ex-noivo que retorna a Portugal, na ausência do marido de Luísa, é, para Eça de Queirós, "um maroto, sem paixão nem a justificação de sua tirania, que o que pretende é a vaidadezinha de uma aventura e o amor grátis"...

... Malicioso e cheio de truques para atrair a amante, explorando a sua vaidade fútil, Basílio compara a fidelidade conjugal a uma demonstração de atraso das mulheres de Lisboa frente aos hábitos supostamente liberais e modernos das senhoras de Paris - todas com seus amantes, conforme assegurava o primo...

... Em momentos de maior dramaticidade (morte de Luísa), quando começam a enfrentar as conseqüências do adultério, o cinismo de Basílio fica mais evidente: ele pensa apenas que teria sido mais vantajoso trazer consigo uma amante de Paris.

   JULIANA = A criada Juliana faz desmoronar o mundo de Luísa ao chantageá-la com cartas roubadas. É a figura que aparece com alguma intensidade interior, destoando um pouco das razões fúteis que movimentam os demais personagens...

...Ela se conduz pela revolta (não suporta sua condição de serviçal), pela frustração (fracassou na tentativa de mudar de vida), pelo ódio rancoroso contra a patroa (ódio, na verdade, contra todas as patroas que a escravizaram por 20 anos)...

... Assim como Basílio, Juliana tentará tirar proveito circunstâncias, reunindo provas do adultério para fazer chantagem. Mas ela pretende mais do que dinheiro - que exige sem sucesso de Luísa; ela quer a desforra. E os recursos que utiliza levarão o definhamento físico e emocional da patroa, até o desfecho da história.

JORGE = Com aparições, no romance, sua presença se faz sentir pelo papel social que representa: é o marido. E a forma como poderá reagir à infidelidade, é especulada pelo narrador através, de outro personagem, Ernestinho Ledesma, autor medíocre que prepara uma peça teatral sobre um caso de adultério, pede a Jorge uma opinião sobre o final de sua obra. Um marido deve matar a mulher adúltera? (Sua posição é ambígua).

PERSONAGENS SECUNDÁRIOS O PRIMO BASÍLIO PERSONAGENS SECUNDÁRIOS

Os personagens secundários completam o quadro social lisboeta Os personagens secundários completam o quadro social lisboeta. O Conselheiro Acácio, freqüentador do círculo próximo de Luísa, um dos mais citado e conhecidos personagens de Eça, é o intelectual vazio. Sua habilidade em dizer o óbvio com empáfia deu origem à expressão "verdades acacianas". Joana é a cozinheira que enfrenta Juliana por dedicação à Patroa; Dona Felicidade é a "beatice parva de temperamento irritado". E também há, Sebastião (o bom rapaz), que se propõe a recuperar as cartas tomadas pela criada.

A polêmica crítica de Machado de Assis AO PRIMO BASÍLIO DE EÇA DE QUEIRÓS

Crítica de Machado de Assis Em 16 de abril de 1878, em texto publicado no semanal O Cruzeiro, Machado de Assis tece sua crítica sobre os aspectos realistas de O Primo Basílio, de Eça de Queirós (publicado igualmente em 1878). Machado questiona o ar de cliché da obra porque, segundo ele, o realismo da patologia sem terapêutica, de influência...

Crítica de Machado de Assis ... francesa, ainda que carregado nas tintas, enfastia e assusta.(...) Machado discordava do realismo de Eça, que visava a um fim moral, corrigindo e ensinando, através da crítica dos temperamentos e dos costumes, tornando-se um instrumento auxiliar da ciência e da consciência.

Crítica de Machado de Assis No seu processo de negação de O Primo Basílio, Machado intriga-se com a personagem Luísa, considerando-a um mero “títere”, um caráter negativo, sem possibilidades de paixões e remorsos, sem capacidade de consciência, o que esvaziava por si só as propostas naturalistas de Eça e muito mais os seus desejos realistas.

Crítica de Machado de Assis Para Machado, Eça substituiu “o principal pelo acessório” por ter transplantado “a ação dos caracteres e dos sentimentos para o incidente, para o fortuito”. E, maldosamente (no bom sentido), põe-se a imaginar o que teria acontecido se as cartas que Luísa escreveu a Basílio não tivessem sido descobertas por Juliana: “estava acabado o romance, porque o primo...

Crítica de Machado de Assis ... enfastiado seguiria para a França, e Jorge regressaria do Alentejo; os dois esposos voltam à vida exterior”.Ou seja, em suas próprias palavras: “a realidade é boa, o realismo é que não presta para nada”. E não presta porque, ao substituir o acessório, está a substituir a responsabilidade moral pelo acidente circunstancial.

Crítica de Machado de Assis Negando a força do enredo proposto por Eça, para Machado, que acreditava ser o estilo mais importante do que a trama, a sucessão de tantos insucessos seria a irrefutável fragilidade do livro. O que ele desejava eram resultados: uma outra linguagem pra descrever a situação ou, quem sabe, uma Luísa rebelde ou...

Crítica de Machado de Assis ... arrependida, que permitisse aos leitores a sua condenação ou o inevitável perdão, mas que não tivesse apenas piedade de uma mulher com medo. Reconhece na criada, e não em Luísa e Basílio, “o caráter mais completo e verdadeiro do livro”. Mas não percebe a sutileza de Eça nesta armação: o lado realista da dissimulação de Juliana e a sua capacidade de inverter os papéis e subverter as relações do romance.

Crítica de Machado de Assis Voltando a personagem Luísa, para Machado ela é um títere, um personagem destituído de qualquer estofo moral, que para decidir se deve ver o amante após uma briga recorre ao artifício de jogar moedas ao ar, deixando seu destino à mercê do acaso de um jogo de “cara e coroa”.

Crítica de Machado de Assis Preconceito ou visão aguda?