Simões Lopes Neto (1865 – 1916).

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
«…O Verbo era a luz verdadeira, que, vindo ao mundo,
Advertisements

MODO DE VIDA? JEITO DE PENSAR? SENTIR-SE PARTE DE UMA ORGANIZAÇÃO?
SERGIO BUARQUE DE HOLANDA
Sobre a Lógica da Ética Espírita
Dois modos de ler a Bíblia.
DEMOCRACIA.
LEITURA “Todos lemos a nós e ao mundo à nossa volta para vislumbrar o que somos e onde estamos. Lemos para compreender. Não podemos deixar de ler. Ler,
CONTO Professora: Josiane.
Realismo - Naturalismo
Vestido de Noiva Nelson Rodrigues
Romantismo - Prosa Romance urbano ou de costumes – retrato da vida a corte. Preservam as características estruturais dos folhetins estrangeiros, Os autores,
Profa. Dra. Maria Helena Baena de Moraes Lopes
Memórias de um Sargento de Milícias
Literatura Informativa
GÊNEROS LITERÁRIOS: Conjuntos de elementos semânticos, estilísticos e formais utilizados pelos autores em suas obras, para caracteriza-las de acordo com.
Lógica de Programação.
Prof. Everton da Silva Correa
Sociologia
IMIGRAÇÃO PARA O BRASIL NO SÉCULO XIX
O romance e o folhetim Prosa no Romantismo.
METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTÍFICO
Ciclo II A e B Lei de justiça Amor e caridade
Filosofia Professor Breno Cunha
AS VANGUARDAS EUROPEIAS
A prática da Virtude Professor José Roque Pereira de Melo
CONCEITO ANTROPOLOGICO DE CULTURA
Professora: Aíla Rodrigues
TEXTOS NARRATIVOS Hoje, vamos falar um pouco sobre narrativa, um dos gêneros textuais que, normalmente, são estudados no Ensino Fundamental 1 e 2, mas.
O TEMA O tema “O Rio Grande do Sul no imaginário social”, é definido pela busca da compreensão e organização do ser humano, de maneira que cada indivíduo.
O Espaço Geográfico, a Paisagem, o Lugar, o Território e a Região.
Como se FORMA e se MANTÉM um IMPÉRIO?
L E N D A. AS LENDAS NARRAM ACONTECIMENTOS QUE SE PASSARAM EM TEMPO REMOTO E EM ESPAÇO MARCADO PELA NATUREZA. NELAS, FATOS REAIS E HISTÓRICAS SE MISTURAM.
Capítulo 1 – Geografia: Introdução e conceitos
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
GÊNEROS LITERÁRIOS.
DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO DENOTAÇÃO – Atribui às palavras significados claros, objetivos, que evocam um único sentido, aceito pelas pessoas como algo convencional.
Machado de Assis e o Realismo
FICÇÃO CONTEMPORÂNEA Guimarães Rosa & Clarice Lispector
OS GÊNEROS LITERÁRIOS A tradição fixou uma classificação básica em três gêneros, que englobam inúmeras categorias menores comumente chamadas subgêneros:
Interpretação Consecutiva
Literatura Guimarães Rosa O mágico das palavras
Cap. 6 – Trabalhadores, uni-vos!
ROMANTISMO Profª: Indianara..
Memorias de um Sargento de Milícias
O TROVADORISMO MARCO INICIAL: A RIBEIRINHA, 1189/1198 Autor: Paio Soares de Taveirós Gênero: Cantigas (poesia) e novelas de cavalaria.
Filosofia da Arte.
Branca de Neve: versões e visões de uma história
A mensagem Fundamental do Livro do Génesis
Literatura Brasileira
SÉCULO XIX NA EUROPA : AS INOVAÇÕES NA ARTE
Martins Pena.
Murilo Lopes Gagliardo 4 º ano n°25
As fases de Ericson relativas a etapa adulta
BIBLIOTECA INSTRUMENTO DE APOIO AO LETRAMENTO Autora: Gisley Nunes Barbosa Feliciano Sérgio PREFEITURA MUNICIPAL DE IPATINGA CENFOP – Centro de Formação.
Como redigir um bom texto?
ESTRUTURA NARRATIVA DO DOCUMENTÁRIO
Vidas Secas.
DIMENSÕES FUNDAMENTAIS DO SER HUMANO
Estruturas epistêmicas e práticas discursivas
História da Filosofia Contemporânea - II "Aula introdutória" Observações: Sentido e Significado Princípio de verificação Princípio de uso.
DO SABER ÉTICO À ÉTICA VAZ, Henrique C. de Lima. Escritos de filosofia IV: introdução à ética filosófica 1. São Paulo: Loyola, p
 A arte barroca originou-se na Itália (Século XVII) mas não tardou a irradiar-se por outros países da Europa e a chegar também ao continente americano,
Dualismo Ilustração do dualismo de René Descartes: as sensações são transmitidas pelos órgãos dos sentidos à glândula pineal, no cérebro cerveau, e epois.
“O comissionamento de Moisés” Lição de Abril de 2015.
Teófilo Leite Beviláqua
Profª Sandra. O Romantismo é uma escola que surgiu aos poucos, desde fins do século XVIII. Vários autores estavam dispostos a mudar o estilo literário.
O Pensamento Positivista – Augusto Comte
Informações sobre A hora da estrela (1977), de Clarice Lispector Prof. Marcel Matias.
LITERATURA BRASILEIRA - LEITURAS UPF CONTOS GAUCHESCOS (SIMÕES LOPES NETO) TEMÍSTOCLES ZAMPROGNA PASSO FUNDO, MARÇO DE 2012.
Transcrição da apresentação:

Simões Lopes Neto (1865 – 1916)

João Simões Lopes Neto João Simões Lopes Neto é o verdadeiro consolidador de uma corrente da ficção brasileira que fixa as diferentes zonas rurais do país. Essa corrente, iniciada durante o Romantismo, recebeu o nome de regionalismo.

Simões Lopes Neto OBRAS: “Cancioneiro guasca (1910); “Contos gauchescos” (1912); “Lendas do Sul” (1913); “Casos do Romualdo (1952, edição póstuma).

Simões Lopes Neto A pequena produção literária de Simões Lopes Neto rompeu com a visão exótica da vida rural, apresentada pelo Romantismo, e revelou uma dimensão revolucionária, em função de vários fatores:

A dimensão revolucionária Registro predominantemente realista do universo gauchesco. Utilização artística da linguagem própria da campanha sul-rio-grandense. Sentido universal dos contos.

O universo gauchesco O escritor pelotense captou um mundo que se esboroava: Decadência de Pelotas como núcleo econômico sul-rio-grandense = as charqueadas. Causas: Abolição = queda rápida do consumo de charque. Conseqüências = as concepções aristocráticas da elite pastoril transformaram-se em nostalgia do passado.

O universo gauchesco Todos os relatos de Simões Lopes Neto transcorrem no passado, abrangendo um período histórico que se inicia depois da Independência e alcança o início do século XIX.

O universo gauchesco Vários momentos significativos da formação do Rio Grande do Sul são evocados como pano de fundo de seus contos: a Revolução Farroupilha, as Guerras Platinas, a Guerra do Paraguai, etc.(há um silêncio constrangido sobre a terrível e fratricida Guerra Civil de 1893, ainda muito próxima do escritor).

O universo gauchesco Atenção = Contudo = os contos de Simões não são históricos, pois o interesse do ficcionista é muito mais a tragédia humana do que a pintura detalhada de um período.

O universo gauchesco Simões Lopes Neto possuía um amplo domínio da matéria-prima de suas histórias. Era, portanto, um conhecimento do mundo gauchesco que se originava de duas fontes básicas: a da cultura letrada e a de sua própria observação pessoal.

O universo gauchesco Sua complexa percepção da realidade social e humana da campanha sulina resulta também do conhecimento direto da vida de peões, vaqueanos, estancieiros, etc.

A visão sobre o gaúcho Inovações técnicas de Simões Lopes Neto: Ceder a voz narrativa de sua principal obra – Contos gauchescos – a um velho vaqueano, Blau Nunes.

A visão sobre o gaúcho O narrador Blau Nunes = Depois de ser apresentado pelo escritor, Blau põe-se a relatar as 19 histórias (somadas a um conjunto de adágios (sentença moral; ditado): Artigos de fé do gaúcho) que integram os Contos gauchescos.

O narrador Blau Nunes Narra histórias que ele viveu diretamente, apenas presenciou ou simplesmente ouviu e agora recupera, para recontá-las a seu interlocutor. Registre-se, porém, que, mais do que evocações líricas do passado e da terra, essas lembranças do vaqueano são uma tentativa de explicação do homem do pampa.

A visão de Blau Nunes A visão de Blau Nunes em relação ao gaúcho é ambígua. Por um lado, celebra-lhe as virtudes: a hombridade, a bravura, a honestidade, etc.(Ex. conto = Trezentas onças).

A visão de Blau Nunes Por outro lado, Blau é essencialmente um gaudério, um homem que tem de seu apenas o cavalo e as habilidades campeiras e guerreiras. Alguém que pertence ao núcleo dos “de baixo” e que olha para os “de cima” com certa desconfiança. Mais de uma vez, ele expressa nostalgia de uma época em que a hierarquia social não fora ainda totalmente estabelecida. (Ex. conto = Correr eguada)

A visão sobre o gaúcho Flávio Loureiro Chaves observa que Blau Nunes aparentemente subscreve todos os princípios heróicos e machistas do gaúcho, mas, no transcurso de suas histórias, acaba por contestá-los.

A visão sobre o gaúcho De fato, nos contos em que a violência impera, minuciosamente descrita, e o sangue jorra aos borbotões, o narrador demonstra um visível desconforto. Esse mal-estar é acompanhado, por vezes, de um sentimento de culpa moral. Isso contradiz a lógica guerreira e sanguinária de uma civilização forjada na conquista épica do território, na defesa das fronteiras e nas lutas fratricidas.

Linguagem regional e expressão artística Para não utilizar a norma urbana culta, que soaria falsa e artificial, e para não utilizar somente o linguajar do peão, que romperia a convenção literária e se isolaria na condição de folclore, Simões Lopes Neto fez largo uso do léxico (vocabulário) e eventualmente da sintaxe (construção gramatical) próprios da linguagem da campanha, mas submetendo-os à morfologia (estrutura) da referida norma urbana culta.

Linguagem regional e expressão artística Conclusão = Simões Lopes Neto pôde manter a cor local sem romper com a tradição literária brasileira.

Linguagem regional e expressão artística A fala de Blau Nunes é saborosa, sugestiva, em função de inúmeras e criativas metáforas, e dá a impressão de total naturalidade.

Linguagem regional e expressão artística A fala de Blau Nunes: Espanholismos = despacito + entrevero... Arcaísmos = escuitar + peor ... Corruptelas (erro; engano) = vancê + desgoto... Vários termos típicos = china + bagual + chiru + entropigaitado (bêbado)

Sentido universal dos contos Simões Lopes Neto atinge, em inúmeros relatos de Contos gauchescos e pelo menos em A salamanca do Jarau, de Lendas do Sul, uma grandeza literária ímpar. Contribuem para isso, além do uso criativo da fala meridional, dois fatores essenciais: o domínio da técnica do conto; a revelação do drama humano que permeia a vida rural da província.

A técnica do conto O modelo de conto empregado por Simões Lopes Neto provém de Guy de Maupassant, então o escritor (contista) mais lido no mundo. E o chamado conto tradicional: curto, nervoso, centrado em uma única ação, conduzindo o leitor à surpresa de um desfecho inesperado e freqüentemente trágico. A trama é, na verdade, uma preparação para o clímax final.

O drama humano Os principais relatos do autor pelotense são aqueles que Augusto Meyer arrolou sob a denominação de contos de sangue e paixão. Todos documentam os costumes e as singularidades da região pastoril e apresentam personagens inseridos na “vida bárbara dos gaúchos”.

O drama humano Contudo, há neles um tão intenso turbilhão de sentimentos elementares que o homem histórica e geograficamente determinado cede lugar ao homem universal, com sua cegueira e seus desatinos. O homem universal = a natureza humana em sua essência mais profunda e independente das circunstâncias históricas.