Lilia Blima Schraiber Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Departamento de Medicina Preventiva. 2006 8o. Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva.

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Transcrição da apresentação:

Lilia Blima Schraiber Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Departamento de Medicina Preventiva o. Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva E 11o. Congresso Mundial de Saúde Pública Painel Violência contra a mulher e Saúde: a Invisibilidade como questão para a pesquisa e os serviços de saúde Grupo interdisciplinar de pesquisa e intervenção Violência e Gênero nas práticas de saúde

1 322 mulheres ( anos) Rede pública MSP Questionário e Leitura Prontuários perguntas abertas e fechadas mulheres ZMP 1172 mulheres MSP (15 -49anos) Questionário domiciliar(4299) 16 Grupos focais homens; mulheres Entrevistas mulheres (12); Profissionais (39) 3193 mulheres ( anos) Rede pública GSP Questionário e Leitura Prontuários 11Grupos focais – mulheres Entrevistas profissionais (51) Prevalências e percepções de violência contra a mulher Estudos articulados: com mulheres, com homens, em serviço e populacional homens ( anos) Rede pública MSP Questionário e Leitura Prontuários 06 Grupos focais - homens 01 serviço serviços WHO VAW serviços

Perguntas sobre Violência comparáveis: Psicológica (VP) a) Insultou-a ; b) depreciou ou humilhou-a c) Fez com que se sentisse mal Física (VF) a) deu um tapa ou jogou algo que poderia machucá-la? b) Empurrou-a ou deu-lhe um tranco/chacoalhão? c) Machucou-a com um soco ou com algum objeto? d) Deu-lhe um chute, arrastou ou surrou? e) estrangulou-a ou queimou-a de propósito? f) ameaçou usar ou realmente usou arma de fogo, faca ou outro tipo de arma contra você? Sexual (VS) a) forçou-a fisicamente a manter relações sexuais quando você não queria? b) forçou-a a uma prática sexual que não gostasse (degradante ou humilhante)? Percepção: Considera que sofreu violência [ foi violento] na vida?

Referências teórico-conceituais e práticas Violência como violação de Direitos da perspectiva ética e legal [esfera pública] VCM como questão de gênero Por Parceiro Íntimo e Doméstica [esfera privada] Na saúde: Objeto médico-social Interdisciplinaridade na pesquisa Intersetorialidade e Trabalho em equipe na assistência

Tema complexo Romper com determinismos e simplificações explicativas Incorporar incertezas, contradição, pluralidade Reconhecer a insuficiência das disciplinas isoladas Tema sensível Da ordem do possível mais do que do previsível A singularidade da experiência na compreensão e na revelação Experiência humana de fortes emoções: a dor que não tem nome Desafios : Especificidades do tema violência Especial dinâmica entre o visível e o invisível

INVISIBILIDADE da Violência Por ter sentidos diferentes em diferentes culturas Por ter sentidos diferentes para homens e mulheres Por não ter sentido tecnológico na saúde Silêncios e Recusas de natureza social, de gênero e de medicalização da saúde pesquisa e na assistência em saúde

Invisibilidade em diferentes culturas Naturalização e banalização parecem ser representações comuns entre as diversas culturas Ocorrem e se expressam de formas diferentes nas diferentes culturas Adquirem significados e sentidos particulares Valorização; Revelação; Forma de lidar

Prevalência da VPI em 15 regiões de 10 países

WHO VAW Study – VPI A mulher é vista como transgressora de uma ordem, transgressora a ser controlada VCM se estabelece como conflito interpessoal: do desacordo verbal à agressão física/ abuso sexual, em situações de conflitos sobre dinheiro, relacionamentos afetivos (ciúmes e sentimento de posse do Outro) a mulher se encontra com baixo poder de agir/atuar a violência seja uma norma sócio-cultural Todos os fatores associados requerem um contexto em que Pobreza (quando não extrema), baixa escolaridade, abuso de álcool, experiência de violência na infância parecem ser fatores mais permanentes É permanentea associação entre prevalência e a mulher achar natural ou justificada Há um leque de prevalências; há variação de fatores associados e as associações nem sempre se mantém pelos países Há sempre altas taxas: maiores nas regiões rurais e menores nas grandes cidades; mantêm-se o parceiro como principal agressor [Garcia Moreno et al, 2005; Jewkes, 2002]

Invisibilidades para homens e mulheres: a naturalização Estudo com população de baixa renda por grupos focais Em abstrato: Mulheres – Injustificável Homens – Tolerável, pode ocorrer (conflitos graves) Necessária, como disciplina ou controle Concretamente, no dia-a-dia: Natural para Homens: Instintiva ou por Impulso ela me faz perder a cabeça Natural para as Mulheres: Fatalidade ou Destino quando ele bebe, perde a cabeça Não há sobre o que falar; não há porque falar Não há questão

VF/S QQ 41%; 40,6% PI 28,9%; 36.9% WHO VAW n = 1172 (940) SP; 1473 (1095) PE Projeto II Usuárias 19 Serviços n =3193 (3088) Projeto III VF/S QQ 54,8% PI 45,4% Invisibilidades para homens e mulheres: a banalização Alta prevalência no cotidiano doméstico: evento trivial Parceiro, principal agressor evento íntimo e pessoal Não se fala sobre a vida doméstica ou sobre o corriqueiro; revela-se apenas o fato fora do comum Há questão, mas não é importante, não é violência Agressores VPI 57%; 73%

VCM segundo homens e mulheres usuários de um serviço de saúde Projetos III e IV VCM por ParceiroRelato de violência sofrida por mulheres n= 282 Relato de violência praticada por homens n= 387 Violência Psicológica 52,5%42,4% Violência Física38,3%33,9% Violência Sexual19,3%4,7% P< 0,05

Freqüência dos episódios de agressões físicas e Percepção de violência Para as Mulheres: 34,3% poucas vezes 35,2% uma única vez 30,5% muitas vezes 28,4% consideraram ter sofrido violência Para os Homens: 76,3% poucas vezes 15,3% uma única vez 8,4% muitas vezes 28,6% consideraram ter praticado violência

Invisibilidades: Polissemia do termo violência 44,4% relataram agressões físicas; 76,9% por parceiro ou familiar 11,5% relataram relações sexuais forçadas; 62,2% por parceiro ou familiar 322 mulheres foram entrevistadas em Centro de Saúde Projetos I 46,9% consideraram sofrer violência na vida 70,3% consideraram sofrer violência na vida Perguntadas : O que é Violência A resposta: abuso ou agressão sexual por estranhos

Invisibilidades: os profissionais e a medicalização Os profissionais como Homens e Mulheres sob a medicalização Projeto II e III Porque o pessoal de saúde não pergunta? è A violência é um problema da polícia ou do judiciário, não da saúde èNão saberiam o que fazer e por isto tem medo de perguntar èNão devem se intrometer e não sabem como perguntar èA pressão para atender muitas pessoas por turno não lhes permite mencionar a violência que chama novas e desconhecidas ações èTêm medo do agressor e/ou de represálias èOs próprios profissionais sofrem /sofreram, testemunharam ou cometem violência; esta proximidade dificulta a ação

INTERVENÇÃO TÉCNICA APROPRIADA: o fazer diverso da terapêutica biomédica ORGANIZAÇÃO GLOBAL DO SERVIÇO que inclua a violência como questão Invisibilidades: as práticas em saúde e a medicalização VER E FAZER-VER: da assistência a casos eventuais por motivação pessoal do profissional à organização global do serviço para dar visibilidade CAPACIDADE COMUNICATIVA: valorizar relatos que não são a linguagem da doença ou seus riscos, dando crédito e escuta às narrativas