Interpretações sobre a Revolução Mexicana

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Transcrição da apresentação:

Interpretações sobre a Revolução Mexicana

Motivos do interesse por ser a primeira grande revolução social do nosso século (anterior inclusive à revolução bolchevista de 1917); por apresentar um regime político dos mais estáveis na história da turbulenta América Latina.

Marcos Até metade do século XX o discurso hegemônico sobre a Revolução dizia “la revolución continua”. Prestava-se a usos políticos Propagada pelo governo mexicano como forma de legitimar o poder político do Partido Revolucionário Nacional (PRN/PRI)

Anos 30-40: primeiras teses marxistas Tese da revolução pequeno-burguesa: EX: Rafael Ramos Pedrueza, o primeiro marxista influente ( La lucha de clases atraves de la historia de México,  (1934-1941)). Sugeriu que os líderes pequeno burgueses como Álvaro Obregón e Plutarco Elías Calles ganharam o poder "ao derrotar o feudalismo e o imperialismo, dois elementos da Porfiriana ditadura. " O triunfo da pequena burguesia inflamou a transição no México do feudalismo para o capitalismo; Os trabalhadores e camponeses não conseguiram realizar uma revolução proletária unificada porque faltava uma consciência de classe avançada.  O Plano de Ayala ilustra a desconexão entre os rebeldes camponeses de Morelos e os trabalhadores industriais das cidades

Conclusão: visão etapista A Revolução Mexicana representou um movimento em direção a uma nova etapa da luta de classes, porque a pequena burguesia assumiu o controle dos meios de produção a partir da derrota da elite Porfiriana.  A aplicação posterior do capitalismo burguês, de acordo com a teleologia marxista, acabaria por levar ao surgimento de uma verdadeira revolução proletária e socialista.  Se tal revolução ocorreu no México, Ramos Pedrueza acreditava que seria parte de um movimento global.  "A revolução que está ocorrendo no México está ligada inexoravelmente com o futuro do mundo. Não pode ser isolada do concerto internacional. “ Acreditava que Lázaro Cárdenas, com a reforma agrária e programas educacionais, pode levar o México em direção ao próximo estágio do socialismo.

Revisionismos historiográficos Anos 60: O interesse pelo estudo da Revolução Mexicana se deu principalmente pela eclosão da Revolução Cubana as partir de 1959. Cuba  novo viés  socialista Na década de 1960 e 1970, o marxismo desempenhou um papel em vários movimentos sócio-políticos e culturais que surgiram, não só em México, mas toda a América Latina.

Anos 1970: primeiro revisionismo”  o argentino Adolfo Gilly; o mexicano Arnaldo Córdova;  e o mexicano-americano Ramón Eduardo Ruiz (versão marxista): definiram o Porfiriato como a consolidação do capitalismo burguês, e não como um período de semi-feudal (como sugerido anteriormente pela geração 1930).  visão pessimista tanto da Revolução como do Estado pós-revolucionário Viram a presidência de Cárdenas como pouco mais do que parte de um esforço contínuo da elite para exercer o controle hegemônico sobre a sociedade.  Desenvolveram argumentos mais complexos e detalhados.

Ramón Eduardo Ruiz e Tiago Cockcroft: a “não-revolução” Alegam que a Revolução Mexicana não conseguiu produzir qualquer significativa mudança revolucionária.  Eles discordaram da noção de que a Revolução causou uma transição do feudalismo para o capitalismo, pois, no México havia capitalismo desenvolvido bem antes da Revolução, já durante o século XIX, incluindo os anos do Porfiriato: a agricultura tornou-se uma empresa "capitalista, como a terra foi comprada e vendida em um aberto mercado de terras e camponeses foram posteriormente incorporados ao trabalho assalariado”.   uma revolução econômica não tomou lugar, porque um setor da burguesia simplesmente substituiu outro setor da burguesia como donos dos meios de produção.

Conclusão: "grande rebelião” Descrevem esta combinação de eventos não como uma revolução, mas como uma "grande rebelião”; Os líderes da rebelião, Madero, Villa, Zapata, Obregón e Carranza, acabaram por lutar uns contra os outros, porque eles não tinham um plano unificado; A Constituição de 1917 desempenhou um papel importante na não-revolução, porque salientou a continuidade sobre a reforma radical: Era apenas uma afirmação ou a continuação da 1857: uma constituição liberal. "A legislação manteve os princípios da propriedade privada, da livre concorrência, e os direitos sagrados do indivíduo”.  Constituição continuou a apoiar os valores e ideias burgueses.

Arnaldo Córdova: “México Arnaldo Córdova: “México. Revolução burguesa e política de massas”- Bonapartismo Córdova concorda que houve continuidades mais do que mudanças revolucionárias entre o Porfiriato e a Revolução Mexicana: o contínuo desenvolvimento do capitalismo foi o principal elemento de continuidade; Não foi anti-imperialista: capitalistas estrangeiros continuaram a investir na economia do México, durante e depois da Revolução. Caráter peculiar do Estado mexicano do século XX: estabilidade, em boa parte graças à sua capacidade de absorver o impacto produzido, em todo o continente, pelo ingresso das massas na política, e para converter a política de massas num instrumento de fortalecimento de sua própria estrutura.

Revolução política: bonapartismo Uma revolução política decisiva ocorreu entre 1910 e 1940. A revolução política consistiu na ascensão de um Estado bonapartista forte que substituiu a ditadura porfiriana.  Em Terminologia marxista, o bonapartismo se refere à Revolução de 1848 na França, quando Luís Bonaparte pôs fim ao conflito entre os trabalhadores, banqueiros burgueses e latifundiários do Antigo Regime.  A Revolução Mexicana criou uma situação similar: Partidários burgueses Madero, os trabalhadores do exército de Villa e camponeses de Zapata todos se rebelaram contra a ditadura porfiriana, mas nenhum deles tinha a capacidade de manter o poder político.  O México, portanto, precisava de um Estado Bonapartista forte para alcançar a consolidação política. Os sucessivos regimes de Álvaro Obregón, Plutarco Elías Calles, e Lázaro Cárdenas consolidaram a posição de poder do Estado (acima do proletariado e da burguesia)

Papel do campesinato Córdova sugeriu que os camponeses e as massas em geral, eram apenas "recursos humanos" na luta armada porque eles foram incapazes de "dar a ordem do dia, a ideologia, ou a direção política de qualquer revolução”, tal é seu caráter localista e regionalista de seus interesses como grupo social. Este localismo não impede que participem da luta política ou militar em grande escala, mas os incapacita para lutar por si mesmos, formularem um programa próprio pelo poder político nacional. Por isso os camponeses acabam sendo sempre força política a serviço de outros grupos sociais.

Reforma ou revolução? Uma revolução social inicia-se com a tomada do poder político e produz a abolição do sistema de propriedade (problema do modelo de revolução) O que se assistiu no México foi antes reformismo, ainda que reformismo social: o qual se diferencia do reformismo liberal (1857), que falava sempre em nome de entidades abstratas como “a nação”, os “cidadãos”, o ‘povo”. A maior conquista foi do Estado, com capacidade de instaurar uma imagem de grande poder, através de políticas populistas e possibilidade de desenvolver o capitalismo mexicano.

Enrique Semo: Historia mexicana: economía y lucha de clases - 3ª. ONDA De acordo com seu modelo, a Revolução Mexicana representou uma terceira onda no ciclo das revoluções burguesas que começaram em 1810.  A Revolução, transformou a marca do Porfiriato de capitalismo de monopólios financiados por investidores estrangeiros em um independente, aberto e dinâmico sistema capitalista.  Por volta de 1940, a burguesia não tinha mais nada a reformar:  "A burguesia representou um força transformadora na história de nosso país, mas a partir desse momento ela tornou-se reacionária. “ No modelo de Semo, o proletariado tornou-se um fator real só após o capitalismo se estabelecer. Antes da Revolução mexicana, as massas serviam como um facilitador para a burguesia, porque "inclinaram o pêndulo da história o suficiente para que os objetivos da burguesia pode ser consolidada.

Adolfo Gilly: A revolução interrompida (La guerra de clases en la revolución mexicana) Combina vários elementos de outros modelos marxistas: concordou com Córdova, que o estado de Obregón era bonapartista, reforçou o seu poder político por "aplacar todas as classes, agindo no interesse de uma: a burguesia nacional “. No modelo de Gilly, no entanto, controle hegemônico do Estado era estritamente temporário. Ao contrário do Modelo bonapartista, a teoria de Gilly sugeriu que as massas eventualmente, e necessariamente, se libertarão porque a revolução ainda não tinha sido concluída.

Idéia de Revolução: Influência trotskista: “A história das revoluções é, acima de tudo, a história da irrupção das massas no governo de seus próprios destinos”. Deste ponto de vista, esta fora a essência da Revolução mexicana. Enquadramento da Revolução: irrupção camponesa + conjuntura internacional combinadas numa crise de transição no Estado Burguês (da burguesia proprietária de terras para a industrial, que tinha como um de seus protótipos Madero). Logo: revolução detonada por uma crise inter-burguesa (maderismo x porfiriato) Motor da Revolução: a guerra camponesa pela terra, que transforma e mina de baixo o poder e a estrutura de um Estado, expressão da hegemonia dos proprietários de terra. (oligarquias).

Interrompina mas não acabada O Estado oportunista Obregón impôs a sua vontade em uma sociedade fragmentada, mas acreditava que a revolução "foi interrompida ... mas não derrotada!”.  Os camponeses foram incapaz de seguir em frente, mas suas forças não foram quebradas ou dispersas, e suas causas essenciais não foram perdidas ou abandonadas. " Como Ramos Pedrueza, Gilly acreditava que a Revolução Mexicana promoveu as condições necessárias para uma revolução socialista. Ele discordou, no entanto, que a fonte da revolução estivesse no futuro.  Enquanto Ramos Pedrueza apontou para os professores e intelectuais socialistas que poderiam se utilizar do programa educacional de Cárdenas para doutrinar o proletariado, Gilly referiu-se ao Exército camponês Zapatista como a vanguarda do socialismo. 

Anos 80-90 Uma série de ensaios historiográficos na década de 1980 e 1990 descrevem os pontos de vista marxistas como inadequados ou, em alguns casos, negligencia suas colaborações. Ex: Alan Knight (The Revolução Mexicana (1986)), que aponta: a “Estadolatria” de Córdova, argumenta que teleologias devem ser rejeitadas, porque a Revolução não colocou o país em um curso fixo e imutável.

Balanço de Héctor Aguilar : revolução como caminho de implantação do capitalismo mexicano” fruto de uma revolução traída. “A Revolução mexicana tem sido sobretudo um poderoso instrumento ideológico de dominação, um fetiche aglutinador de significados e adaptações retóricas, um fantasma continuamente catalogado e continuamente inexato”.