Ricardo Nitrini Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento do Departamento de Neurologia da FMUSP CEREDIC - Centro de Referência em Distúrbios Cognitivos.

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
Disclosure no financial interest Intrastromal Corneal Ring Segment Implantation for Advanced Keratoconus Paulo Torres, Rita Reis, Isabel Sampaio, Mª Antonia.
Advertisements

Diagnostic Techniques in bloodstream infections: where are we going?
“Pespectiva da Pesquisa Clínica em Pediatria”
Patrocinadopor Novas tecnologias para o diagnóstico e prevenção das infecções em terapia intensiva Alexandre R. Marra Hospital Israelita.
Jorge Atouguia. Ciclo entre mosquitos e aves Hospedeiros acidentais.
SIDA E SARCOMA DE KAPOSI EM CRIANÇAS EM ÀFRICA
English Class Trabalho elaborado por: Laura Barroso nº 26.
Experiências de Indução.
Doenças Pulmonares crônicas
ESTUDO DA OCORRÊNCIA DAS ENCELOPATIAS ESPONGIFORMES TRANSMISSÍVEIS (DOENÇA DE CREUTZFELDT-JAKOB E SUA VARIANTE) NO ESTADO DE SÃO PAULO NA DÉCADA DE 90.
HA DDT DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS Aula proferida por:
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DAS DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS
ESTUDO DA OCORRÊNCIA DAS ENCELOPATIAS ESPONGIFORMES TRANSMISSÍVEIS (DOENÇA DE CREUTZFELDT-JAKOB E SUA VARIANTE) NO ESTADO DE SÃO PAULO NA DÉCADA DE 90.
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DAS DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS
VIGILÂNCIA DA SÍNDROME HEMOLÍTICA URÊMICA
Investigação de Surtos
HA DDT DIVISÃO DE DOENÇAS DE TRANSMISSÃO HÍDRICA E ALIMENTAR
DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS PERFIL EPIDEMIOLÓGICO, CONTROLE E RESULTADOS NO ESTADO DE SÃO PAULO Maria Bernadete de Paula Eduardo Divisão de Doenças.
MONITORIZAÇÃO DE DOENÇAS DIARRÉICAS AGUDAS
BOTULISMO - ESTADO DE SÃO PAULO E BRASIL -
Construção de Indicadores
CÓLERA HA DDT Atualização em
Atualizado em Novembro de 2006
HA DDT DIVISÃO DE DOENÇAS DE TRANSMISSÃO HÍDRICA E ALIMENTAR
Maria Bernadete de Paula Eduardo1
HA MISSÃO E ATIVIDADES DDT
HA DDT DIVISÃO DE DOENÇAS DE TRANSMISSÃO HÍDRICA E ALIMENTAR Atualização em 6/6/2007.
OGMs na Agricultura Mundial e Brasileira
Ministério da Saúde Secretaria de Vigilância em Saúde Vera Lúcia Gattás GT-Doenças Emergentes e Reemergentes CGDT/DEVEP/SVS I.
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DENGUE TRANSMISSÃO DO DENGUE.
PLANO ESTADUAL DE PREVENÇÃO E CONTROLE DAS HEPATITES VIRAIS B E C
6 de novembro de 2006 Vila Mariana, São Paulo, SP.
Doenças Priônicas: medidas sanitárias adotadas pela Anvisa
São Paulo, 21 de novembro de 2005
CAMPANHA HANSENÍASE, TRACOMA E GEO-HELMINTÍASE
VIGILÂNCIA DA DOENÇA DE CREUTZFELDT-JAKOB (DCJ)
CAMPANHAS DE VACINAÇÃO 2005 Avaliação e Discussão DIVISÃO DE IMUNIZAÇÃO/ CVE/ CCD/ SES-SP MAIO/2006 MAIO/2006.
6 de novembro de 2006 Vila Mariana, São Paulo, SP.
Uso de álcool e drogas no ambiente de trabalho
Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento
A informação genética de um organismo e sua funcionalidade
ESTUDO DA SENSIBILIDADE MECÂNICA E AO FRIO EM MODELO DE DOR NEUROPÁTICA INDUZIDA POR CONSTRIÇÃO DO NERVO CIÁTICO: PAPEL DOS RECEPTORES TRPA1 E TRPM8. SCARANTE,
VARIABILIDADE GENÉTICA DO GENE HLA-F EM UMA AMOSTRA DE AFRO-BRASILEIROS DO SUL DO BRASIL Fernanda Alcântara UFPR/TN Prof.ª Dr.ª Valeria Maria Munhoz Sperandio.
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL TERAPÊUTICO DE POLISSACARÍDEOS PARA O TRATAMENTO DE DISTÚRBIOS DA MOTILIDADE GASTROINTESTINAL Tamyres Mingorance Carvalho - Iniciação.
Prof. Dr. Helder Anibal Hermini
Utilidade diagnóstica dos autoanticorpos nas miosites testados para predizer o risco de câncer associado à miosite (CAM)‏
Unidade VIII – Capítulo 3, livro texto Págs.:
Seminário de Treinamento de Presidentes Eleitos NOVAS GERAÇÕES.
MAP. BRAZIL CANADA To all judges and lawyers and other participants at this conference A todos os juizes e advogados e outros participantes nesta conferência.
Sistema Nervoso e Integração Nervosa: Organização em Vertebrados
FLUXOGRAMA SINAN-NET / A.T.
CENTRO UNIVERSITÁRIO DO NORTE CURSO DE FARMÁCIA
Vírus.
A visão da Academia sobre a Política de Saúde Mental Vigente no País Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira – Departamento de Psiquiatria da UNIFESP.
José Eduardo Bevilacqua Divisão de Qualidade das Águas
HLA- Human Leukocyte Antigens
FAMÍLIA ORTOMIXOVÍRUS
PROTEÍNAS.
ENCEFALOPATIAS ESPONGIFORMES TRANSMISSÍVEIS
Tópicos Especiais em Aprendizagem Reinaldo Bianchi Centro Universitário da FEI 2012.
Números de 0 a 1,000,000,000 É uma dúvida de muitos estudantes do nível básico como dizer os números em inglês. Segue abaixo a lista de 0 a 1,000,000,000.
Rodrigo Tabata Jassim Al Thani. When was Tabata born Rodrigo Barbossa Tabata or simply Rodrigo Tabata (born November 19, 1980 in Araçatuba, Brazil), has.
1 1.
A Arte de Beryl Cook Beryl Cook nascida em Inglaterra, no ano de 1926, autodidata por natureza; amante da pintura e do desenho, apaixonada pelo teatro.
Unit 22 Relative Clauses and Pronouns.
Importância da Meditação para Promover Qualidade de Vida
BOVINE SPONGIFORM ENCEPHALO PATHY
Disciplina de Neurologia
GRUPO DE ESTUDOS DE NEURORRADIOLOGIA
Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis (TSE)
Transcrição da apresentação:

Ricardo Nitrini Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento do Departamento de Neurologia da FMUSP CEREDIC - Centro de Referência em Distúrbios Cognitivos do Hospital das Clínicas da FMUSP

Doenças Priônicas transmitidas por alimentos O que já sabemos Como prevenir

Doenças Priônicas: Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis Grupo de doenças caracterizadas por: 1)progressiva vacuolização, morte neuronal associada a hipertrofia e proliferação glial 2) presença nos tecidos (principalmente no sistema nervoso) de um tipo de proteína estruturalmente anormal resistente a proteases denominada prion (pronuncia-se príon)

DOENÇAS PRIÔNICAS Acometem animais e seres humanos Transmissíveis Material transmissor não é inativado por processos que inativam ácidos nucleicos Podem ser hereditárias (e, simultaneamente, transmissíveis)

DOENÇAS PRIÔNICAS HUMANAS Kuru Doença de Creutzfeldt-Jakob Doença de Gerstmann-Sträussler-Scheinker Insônia Fatal Familial

Imunohistoquímica com anticorpos anti-PrP (3F4) Kuru: Imunohistoquímica com anticorpos anti-PrP (3F4)

D. Carleton Gajdusek (1923- ) Prêmio Nobel 1976

DOENÇAS PRIÔNICAS A principal hipótese patogênica baseia-se na transformação de uma proteína normal (PrPC) em uma isoforma estruturalmente anormal (PrPSc), parcialmente resistente a proteases. A PrPSc atua como uma fôrma (template), transformando mais unidades de PrPC em PrPSc, que se acumulam no interior da célula, destruindo-a.

Stanley B. Prusiner (1942- ) Prêmio Nobel 1997

DOENÇAS PRIÔNICAS EM ANIMAIS Scrapie (ovinos) Encefalopatia do mink (Mustela vison) Chronic wasting disease (Cervidae) Encefalopatia espongiforme bovina (BSE) Encefalopatia espongiforme de felinos Encefalopatia espongiforme de ruminantes selvagens em cativeiro

Classificação das Doenças Priônicas Humanas Esporádicas Genéticas Adquiridas

Doenças Priônicas Humanas Esporádicas Doença de Creutzfeldt-Jakob Insônia Fatal - Forma esporádica

Doenças Priônicas Humanas Genéticas D. de Creutzfeldt-Jakob familial Doença de Gerstmann-Sträussler-Scheinker Insônia Fatal Familial Atípicas

Doença de Creutzfeldt-Jakob Genética 10 - 15% casos Autossômica dominante Início mais precoce Duração mais longa

Predominância de homozigose Polimorfismo no codon 129 Pop. Caucasiana: 37% M/M 51% M/V 12% V/V DCJ esporádico DCJ iatrogênico Predominância de homozigose Está relacionado com a variabilidade do quadro clínico, da evolução e dos achados anatomo-patológicos.

Doenças Priônicas Humanas Adquiridas Kuru Doença de Creutzfeldt-Jakob - forma iatrogênica Nova variante da doença de Creutzfeldt-Jakob

Doença de Creutzfeldt-Jakob Iatrogênica Transplante de córnea Hormônio de crescimento de cadáveres Aloenxertos de dura-máter Eletrodos intracorticais

NOVA VARIANTE DA DOENÇA DE CREUTZFELDT - JAKOB

Nova Variante da DCJ 1986 - primeiros casos de Encefalopatia espongiforme bovina (BSE) 1988 - proibido uso de ração com proteína animal; notificação compulsória de BSE

Nova Variante da DCJ 1990 - Centro de controle de unificado para doenças priônicas humanas na GB 1995 - Casos de DCJ atípicos (nvDCJ) 1997 - Demonstrado vínculo nvDCJ-BSE

Will, R. World Congress of Neurology, Sydney, November 2005.

Diferenças entre a DCJ esp. e a nvDCJ ESPORÁDICA NOVA VARIANTE Média de idade de óbito 66 anos 29 anos Mediana da duração 4 meses 13 meses Hipersinal na RM Caudado e putâmen (60%) Tálamo (pulvinar) (90%) 14-3-3 no LCR Mais de 90% 50% Imunohistoquím. (Tonsilas) Negativa Positiva EEG Típico (70%) Típico (0%) Will, R. World Congress of Neurology, 2005

vDCJ na Grã-Bretanha (até outubro de 2008) N=164 1995 3 1996 10 1997 10 1998 18 1999 15 2000 28 2001 20 2002 17 2003 18 2004 9 5 (até 29/09) 5 * 1 *até 6 de outubro de 2008

CUMULATIVE RESIDENCE IN UK > 6 MONTHS DURING PERIOD 1980-1996 VARIANT CREUTZFELDT-JAKOB DISEASE CURRENT DATA (SEPTEMBER 2008) http://www.cjd.ed.ac.uk/vcjdworld.htm COUNTRY TOTAL NUMBER OF PRIMARY CASES  (NUMBER ALIVE) TOTAL NUMBER OF SECONDARY CASES: BLOOD TRANSFUSION  CUMULATIVE RESIDENCE IN UK > 6 MONTHS DURING PERIOD 1980-1996 UK 164 (3) 3 (0) 167 France 23 (0) - 1 Republic of Ireland 4 (0) 2 Italy 1 (0) USA 3† (0) Canada Saudi Arabia 1 (1) Japan 1* (0) Netherlands 2 (0) Portugal 2 (1) Spain † the third US patient with vCJD was born and raised in Saudi Arabia and has lived permanently in the United States since late 2005.  According to the US case-report, the patient was most likely infected as a child when living in Saudi Arabia. *the case from Japan had resided in the UK for 24 days in the period 1980-1996.  

Transmissão da vDCJ Não há evidência de transmissão placentária: 9 casos de parto na vigência de vDCJ. Crianças sem a doença, com idades < 10 anos (Will, 2005) Três casos de vDCJ pós-transfusão

Situação no Brasil Casos de Scrapie: 1985, 2001, 2003, 2004 e 2006 Scrapie sob notificação compulsória desde 1997 http://www.agricultura.gov.br

Encefalopatia espongiforme bovina Nenhum caso no Brasil

Doenças priônicas humanas no Brasil Notificação compulsória desde 2005 Primeiros resultados

www.abneuro.org

www.abneuro.org

TRATAMENTO Não há tratamento recomendado para as doenças priônicas. Para as adquiridas, prevenção é essencial Tem sido proposto o emprego de quinacrina e flupirtina para a DCJ mas os efeitos são muito discretos e/ou duvidosos

TRATAMENTO Maleato de Flupirtine Quinacrina + Clorpromazina na DCJ Analgésico não-opióide Efeito citoprotetor in vitro e in vivo sobre neurônios que foram induzidos à apoptose. Quinacrina + Clorpromazina na DCJ

Conclusões A notificação compulsória e a disseminação de informações sobre as doenças priônicas no Brasil, para o que muito contribuirá o Manual de Vigilância Epidemiológica da DCJ e Outras Doenças Priônicas de Maria Bernadete de Paula Eduardo e cols., ampliará a capacidade de controle e detecção de doenças priônicas no Brasil