Curso de Justiça de Michael Sandel

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Transcrição da apresentação:

Curso de Justiça de Michael Sandel Capítulo 2. O princípio da máxima felicidade. O utilitarismo.

Verão de 1884. Quatro marinheiros. Navio Mignonette: naufrágio.

Richard Parker: taifeiro. Thomas Dudley: capitão. Edwin Stephens: primeiro-oficial. Edmund Brooks: marinheiro. Richard Parker: taifeiro.

Três primeiros dias: comeram pequenas porções de nabo. Quarto dia: pegaram uma tartaruga. Depois: ficaram sem alimentação por 8 dias.

19º dia: taifeiro fica doente por tomar água do mar. Dudley sugere sorteio. Brooks: contra. Outro dia: Stephen apunha-la um canivete na jugular de Parker.

No 24º dia, durante o café da manhã, são resgatados. Quando retornam à Inglaterra são presos e levados a julgamento. Dudley e Stephens são condenados. Foram réus confessos.

A pergunta mais difícil de responder não é se você fosse o juiz como julgaria, mas sim, se matar o taifeiro naquela ocasião seria moralmente justificável.

Resposta da defesa: diante das circunstâncias extremas, era melhor que um morresse para salvar três. Objeções: enfraquecimento da regra contra assassinato e se matar alguém indefeso é errado.

Mas a primeira opção, salvar três para matar um, tem a ver com o princípio do utilitarismo. Pesar custos e benefícios para tomar certa atitude em determinada situação.

Já a segunda objeção tem a ver com a rejeição de simplesmente medir as conseqüências (custos e benefícios) de um ato.

Esses dois entendimentos sobre o caso do bote salva-vidas ilustram duas abordagens opostas da justiça: - moral depende das conseqüências que ela acarreta, ou seja, a coisa certa a fazer é a que trará melhores resultados; - a segunda nos fala que as conseqüências não são tudo com o que devemos nos preocupar.

Para solucionar o caso do bote salva-vidas, bem como outros dilemas menos extremos com os quais normalmente nos deparamos, precisamos explorar algumas grandes questões da moral e da filosofia política e tentar responder algumas questões: - A moral é uma questão de avaliar vidas quantitativamente e pesar custos e benefícios?

- Ou certos deveres morais e direitos humanos são tão fundamentais que estão acima de cálculo dessa natureza? - Se certos direitos são assim fundamentais – sejam eles naturais, sagrados, inalienáveis ou categóricos -, como podemos identificá-los? - E o que os torna fundamentais?

O Utilitarismo de Jeremy Bentham. 1748-1832.

Desrespeito as ideias do direito natural. Considerava um absurdo total.

Seus pressupostos filosóficos exercem até hoje uma poderosa influência sobre o pensamento de legisladores, economistas, executivos e cidadãos comuns.

O mais elevado objetivo da moral é maximizar a felicidade, assegurando a hegemonia do prazer sobre a dor. Maximizar a utilidade.

O que é utilidade para Bentham? Tudo aquilo que produza prazer ou felicidade e que evite a dor ou sofrimento.

Como Bentham chega a este raciocínio? Todos somos governados pelos sentimentos de dor e prazer. Prazer e dor nos governam em tudo o que fazemos e determinam o que devemos fazer.

Todos gostamos do prazer e não gostamos da dor. A filosofia utilitarista reconhece este fato e faz dele a base da vida moral e política.

As leis para Bentham devem: fazer o possível para maximizar a felicidade da comunidade em geral.

Qual a grande pergunta que os legisladores e os cidadãos devem se fazer: Se somarmos todos os benefícios dessa diretriz e subtrairmos todos os custos, ela produzirá mais felicidade do que uma decisão alternativa?

Todo argumento moral, diz ele, deve implicitamente inspirar-se na ideia de maximizar a felicidade.

Bentham achava que seu princípio da utilidade era uma ciência da moral que poderia servir como base para a reforma política. Ele propôs uma série de projetos com vistas a tornar a lei penal mais eficiente e humana.

Panapticon.

Panapticon: presídio com uma torre central de inspeção que permitisse ao supervisor observar os detentos sem que eles o vissem. Gerenciamento por empresário onde se remuneraria com o lucro dos trabalhos dos presos. Terceirização do sistema penitenciário?

Arrebanhando mendigos. Melhorar o tratamento dado aos pobres construindo um reformatório autofinanciável para abrigá-los. Reduzir a presença de mendigos nas ruas. Clássica visão utilitarista.

Bentham percebe que mendigos nas ruas reduz a felicidade aos transeuntes. Quer pela visão que traz um sentimento de dor para os mais sensíveis e de repugnância, para os mais insensíveis. De uma forma ou outra, mendigos trazem infelicidade.

Mas não seria injusto para os mendigos? Não interessa, a soma do sentimento de felicidade em geral será maior que o da infelicidade.

E os custos dos abrigos? Não seria um gasto que relativizaria o utilitarismo?

Bentham propôs que qualquer cidadão que visse um mendigo pudesse apreendê-lo e levá-lo para o abrigo mais próximo. Uma vez lá, o mendigo deveria trabalhar para pagar sua estadia. Cada cidadão ganharia 20 xelins por captura

Prisões-oficina. Lógica utilitarista nas prisões-oficina. Minimizar o desconforto.

Identificação dos presos nas celas ao lado.

Para cada grupo, no qual todo comportamento inconveniente deve ser identificado, coloque-se um grupo não suscetível àquele comportamento inconveniente.

Perto de loucos delirantes ou pessoas com linguajar libertino? Coloca-se os surdos ou idiotas.

Perto de prostitutas e jovens desregradas? Coloca-se mulheres idosas.

Aqueles que apresentam deformações chocantes? Coloca-se os cegos.

Por mais cruel que sua proposta possa parecer, o objetivo de Bentham não era punir os mendigos. Ele apenas queria promover o bem-estar geral resolvendo um problema que afeta a felicidade social.

Existem objeções às teorias de Bentham?

Objeção 1: direitos individuais. A vulnerabilidade mais flagrante do utilitarismo, muitos argumentas, é que ele não consegue respeitar os direitos individuais. Ao considerar apenas a soma das satisfações, pode ser muito cruel com o indivíduo isolado.

Exemplos:

Na Roma antiga, cristãos eram jogados aos leões no Coliseu para a diversão da multidão. Imaginemos como seria o cálculo utilitarista: Sim, de fato o cristão sofre dores excruciantes quando o leão o ataca e o devora, mas pensemos no êxtase do coletivo dos expectadores que lotam o Coliseu. Se a quantidade de romanos que se deleitam com o espetáculo for muito maior do que a de cristãos, que argumentos teria um utilitarista para condenar tal prática?

A tortura é justificável em alguma circunstância?

Tortura cruel: assistir a batalha dos aflitos.

Justificativa da tortura em interrogatória de suspeitos de terrorismo.

Prisão de suspeito de colocar bomba no centro de Porto Alegre. Você tem todos os indícios para saber que o suspeito é quem colocou a bomba. O tempo vai passando e ele se recusa a cooperar. Seria certo torturá-lo para que diga em que lugar está a bomba?

Cálculo utilitarista. É moralmente justificável infligir dor intensa a uma pessoa se isso evitar a morte e sofrimento em grande escala. Segundo o ex-vice-presidente Richard Cheney s técnicas de interrogatório contra membros da Al-Qaeda impedu outro ataque terrorista.

O que fazer quando a vida de milhares estão em jogo? O utilitarista argumentaria que, até certo ponto, mesmo o mais ardente defensor dos direitos humanos encontraria dificuldade para justificar que é moralmente preferível deixar um grande número de inocentes morrer a torturas um único terrorista suspeito que pode saber onde a bomba está escondida.

Pergunta: Se um grande número de pessoas estiver em risco, devemos abandonar nossos escrúpulos sobre dignidade e direitos humanos?

E se tirarmos a culpa do suspeito? Suponhamos que a única forma de induzir o suspeito de terrorismo a falar seja a tortura de sua jovem filha (que não tem noção das atividades nefastas do pai). Seria moralmente justificável fazer isso? Talvez o mais convicto utilitarista vacilasse ao pensar nessa possibilidade.

A cidade da felicidade. Conto de Ursula K. Le Guin. “The Ones Who Walked Away from Omelas”.

O conto fala de uma cidade chamada Omelas – uma cidade de felicidade e celebração cívica, um lugar sem reis ou escravos, sem propaganda ou bolsa de valores, sem bomba atômica . Claro que é um lugar surreal, mas a autora conta mais sobre ele: “Em um porão sob um dos belos prédios públicos de Omelas, ou talvez na adega de uma de suas espaçosas residências particulares, existe um quarto com uma criança trancada e sem janelas”. A criança é oligofrênica, está malnutrida e abandonada.

Todos sabem que ela está lá, todas as pessoas de Omelas ( Todos sabem que ela está lá, todas as pessoas de Omelas (...) Sabem que ela tem que estar lá (...) Todos acreditam que a própria felicidade, a beleza da cidade, a ternura de suas amizades, a saúde de seus filhos (...) até mesmo a abundância de suas colheitas e o clima agradável de seus céus dependem inteiramente do sofrimento abominável da criança (...) Se ela for retirada daquele local horrível e lavada para a luz do dia, se for limpa, alimentada e confortada, toda a prosperidade, a beleza e o encanto de Omelas definharão e serão destruídos. São essas as condições.

Objeção 2: valores como moeda comum. O utilitarismo procura mostrar-se como uma ciência de moralidade baseada na quantificação, na agregação e no cômputo geral da felicidade. Ele pesa as preferências sem julgar. As preferências de todos têm o mesmo peso.

Será possível traduzir todos os bens morais em uma única moeda corrente sem perder algo na tradução?

Os benefícios do câncer do pulmão.

Philip Morris, o que é?

Atuação da Philip Morris.

Governo preocupado com os altos custos médicos causados pelo consumo de cigarro resolveu:

Philip Morris encomenda uma análise custo-benefício dos efeitos do tabagismo para o orçamento do país. Qual resultado da pesquisa?

Governo lucra mais do que perde com o consumo do tabaco. Os fumantes morrem mais cedo e poupam ao governo pensões e abrigos para idosos.

Somando o que o Governo gasta em saúde com os fumantes e diminuindo o que ele lucra com a morte mais cedo das pessoas, há uma receita líquida aos cofres públicos de 147 milhões de dólares por ano.

Pode-se colocar preço na vida humana? Explodindo tanques de combustível.

Década de 70 – Ford Pinto. Tanque poderia explodir se outro carro colidisse contra sua traseira. Mais de 500 pessoas morreram quando seus automóveis pegaram fogo. Muitas outras sequeladas.

Ford Pinto?

Num dos processos foi descoberto que a Ford Motor Company sabia do erro de projeto. O conserto do por carro ficaria em 11 dólares. O que fez a Ford: um cálculo.

180 mortes por ano e 180 pessoas com queimaduras. 180 mortes: +- 200.000 dólares. 180 queimaduras: +- 67.000 dólares. Valor: U$$ 49.500.000,00.

Do outro lado: 11 dólares X 12,5 milhões de unidades. U$$ 125.000.000,00.

O custo de pagar o conserto era muito maior do que enfrentar processos judiciais.

O que fez Bentham para dar credibilidade a sua tese.