Deus inefável, cujas vias são a misericórdia e a verdade, cuja a vontade é onipotente, e cuja a sabedoria se estende com poder de uma à outra extremidade (da terra) e a tudo governa com bondade, tendo previsto desde toda eternidade a funesta ruína de todo gênero humano que seria derivada do pecado de Adão, decretou, com designo secularmente escondido, cumprir a obra-prima de sua bondade com mistério ainda mais profundo, mediante a encarnação do verbo.

Porque o homem impelido ao pecado – contra o propósito da divina misericórdia – pela astúcia e malícia do demônio, não mais deveria perecer na culpa, e o que havia de cair no primeiro Adão no segundo fosse reerguido mais felizmente.

Por isso a plenificou, mais do que todos anjos e santos, da abundância de todos dons celestes, provenientes de seu tesouro de sua bondade. Assim ela livre de qualquer mancha do pecado, toda bela e perfeita, possui tal plenitude de inocência e de santidade, que, depois de Deus, não é possível pensar maior, e de quem, excetuando Deus, nenhuma mente consegue compreender a profundidade.

É, pois, costume da Igreja, seja nos ofícios eclesiásticos, seja na santa Liturgia, usar e aplicar à origem da Virgem as mesmas expressões com as quais as Escrituras falam da sabedoria incriada e representam suas eternas origens; tendo Deus pré- estabelecido com um único e mesmo decreto a origem da Maria e a encarnação da divina Sabedoria.

Deus, portanto, desde o principio dos séculos, escolheu e pré- ordenou para o seu filho uma Mãe na qual se teria encarnado e da qual, depois, na feliz plenitude dos tempos, teria nascido; e, preferindo-a a qualquer outra criatura,dedicou-lhe tão grande amor que se agradou somente nela com uma singularíssima benevolência.

Os Padres, para descrever esse maravilhoso complexo de dons divinos e a inocência original da Virgem, Mãe de Jesus, recorreram também aos escritos dos profetas.

E celebraram a augusta Virgem como Jerusalém santa, trono augusto de Deus, arca santificada, casa que a eterna sabedoria edificou para si, e como aquela rainha que, plenificada de delícias e apoiada no seu dileto, saiu da boca do Altíssimo absolutamente perfeita, bela, caríssima de Deus, e jamais contaminada por mancha de culpa.

02/09/