CSO 089 – Sociologia das Artes Aula 11 – 17/09/2012 auladesociologia.wordpress.com

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Transcrição da apresentação:

CSO 089 – Sociologia das Artes Aula 11 – 17/09/2012 auladesociologia.wordpress.com

A Produção da Crença II Françoise Dorin e o exemplo da peça de teatro de bulevar (Le Tournant, 1973) que permite observar a oposição estruturante do espaço da produção cultural como um todo: a que se dá entre intelectuais (alto capital cultural) e burgueses (alto capital econômico). Bourdieu procura demonstrar como tal oposição está encravada tanto em forma de sistemas classificatórios e categorias mentais (subjetivos) quanto em mecanismos objetivos, como autores e teatros, críticos e jornais.

La vie en noir X La vie en rose Estética burguesa imputa ao teatro intelectual (ou seja, não-comercial, experimental, de vanguarda) a pretensão, a seriedade, a ausência de humor, o miserabilismo, a falsa gravidade, a lentidão, a afetação, a profundidade, a tristeza dos discursos, a pobreza dos cenários. Estética burguesa vê como qualidades teatrais positivas, por outro lado, a clareza, a leveza, a alegria, a habilidade técnica, a desenvoltura, a naturalidade, em suma, “a confiança de uma arte confiante de seus meios e fins”. P. 43.

Oposição canônica Bourdieu toma diversos textos de críticos teatrais posicionados em jornais específicos para demonstrar o modo pelo qual existe uma estruturação que perpassa todas as glosas. Há, portanto, “uma estrutura que se encontra na origem do objeto classificado e do sistema de classificação que eles [os críticos] aplicam, (…) espaço no qual eles próprios são classificados”. P. 43. A forma e o conteúdo das críticas variarão de acordo com a distância que o órgão de imprensa que as abriga detenha com respeito ao público intelectual e ao público burguês.

Jornais, classes e frações de classe “Não se compra um jornal, mas um princípio gerador de tomadas de posição definido por uma certa posição distintiva em um campo de princípios geradores institucionalizados de tomadas de posição: e pode-se afirmar que um leitor irá sentir-se tanto mais completa e adequadamente identificado quanto mais perfeita for a homologia entre a posição de seu jornal no campo dos órgãos de imprensa e a posição que ele próprio ocupa no campo das classes (ou das frações de classe), fundamento do princípio gerador de suas opiniões”. P. 102.

Da direita para a esquerda Efeitos retóricos, como o de fazer falar o adversário em antífrase irônica, a eufemização que exclui julgamentos abertamente políticos, o silêncio desdenhoso, certa ambigüidade analítica ponteada pela pretensão da neutralidade, atenuações universitárias, denúncias abertas, ridicularizações várias e outros recursos mais, como a paródia, expressam a harmonia existente entre as opiniões dos críticos e seu público.

Fundamentos da Conivência O que faz, no entanto, que as opiniões dos dois pólos se orquestrem e estruturem? Há uma dupla homologia (estrutural e funcional) entre a posição do produtor no campo específico e a posição de seu público no campo das classes ou das frações de classe. Isto quer dizer que sempre uma eufemização dos interesses no campo se opera: por mais específicos que eles pareçam ser (internos), há de se lembrar que se trata de lutas relativas ao campo do poder (externas), transfiguradas em uma linguagem interna.

A Homologia “O serviço prestado pelos críticos a seu público é tanto mais precioso na medida em que a homologia entre sua posição no campo intelectual e a posição de seu público no campo da classe dominante é o fundamento de uma conivência objetiva que faz com que eles nunca defendam tão sinceramente os interesses ideológicos de sua clientela, quanto ao defenderem seus próprios interesses de intelectuais contra seus adversários específicos, ou seja, os ocupantes de posições opostas no campo de produção”. P. 54.

A Retaguarda Burguesa Retaguarda, ou seja, crítica burguesa, deve operar uma difícil reversão: a de demonstrar que o conformismo está com a vanguarda, e que a audácia está na coragem de desafiá-la. Intelectual de direita, portanto, deve reconhecer valores intelectuais em seu combate contra os próprios valores intelectuais, sob pena de se negar enquanto intelectual. Crítica burguesa deve tranquilizar seu público. Além de despertar imagem estereotipada do intelectual, cabem denúncia do gosto pelo escândalo, do ressentimento do fracassado, da inversão do incompetente e o apreço aos signos não reconhecidos pelos intelectuais.

Ajustamento Perfeito “Não podemos compreender o ajustamento das disposições às posições (que serve de fundamento, por exemplo, ao ajustamento do jornalista ao jornal e, ao mesmo tempo, ao público desse jornal, ou ao ajustamento dos leitores ao jornal e, ao mesmo tempo, ao jornalista) se ignorarmos o fato de que as estruturas objetivas do campo de produção estão na origem das categorias de percepção e apreciação que estruturam a percepção e apreciação de seus produtos”. P. 56.

Espaço dos Possíveis Instituições, jornais, pessoas, teatros, galerias, editoras, revistas etc. só funcionam como sistemas classificatórios por existirem e serem significativos em suas relações mútuas. Há ensejo de precisão da situação de cada um no campo, além do mais, por meio desses marcadores. Espaço hierarquizado carrega consigo sempre a ameaça da desclassificação (pornografia ou erotismo, raridade ou vulgaridade), o que demanda saber incorporado e capacidade de direcionamento de todos os envolvidos.

Adequação Tácita Há, portanto, uma adequação tácita de todos os pretendentes a desenvolver qualquer obra no campo. Caso o investimento seja deslocado, não se contará com críticos benevolentes, público ajustado etc. “Pelo fato de que o domínio prático das leis do campo orienta as escolhas pelas quais não só os indivíduos se agregam a grupos, mas também os grupos cooptam indivíduos, é que se realiza com tanta frequência o acordo miraculoso entre as estruturas objetivas e as estruturas incorporadas (…)”. P. 58.

Eficácia Simbólica Possibilidade de realização exitosa do discurso ideológico (símbolo eufemizado e duplicado) depende do ajuste entre os interesses específicos associados a certa posição no campo especializado e da relação de homologia que se estabelece nos demais campos, todos partilhando da distribuição desigual de suas espécies referidas de capital. Todos os discursos eufemizados, altamente “purificados”, assim, cumprem sempre funções externas, estas ignoradas – daí sua eficácia.

Tempo longo e tempo curto Campo se hierarquiza, novamente, entre os pólos comercial e cultural. Neste sentido em específico, tal embate toma as formas dos produtos que atendem às demandas preexistentes (comerciais), e as demandas que necessitam da criação futura de um público (culturais). Ciclo curto de produção X ciclo longo de produção.

Ciclo curto: minimização de riscos, circuitos de comercialização, ajuste antecipado a certo público (pesquisa de mercado), procedimentos de valorização do produto (publicidade), aposta em nomes conhecidos, lucro rápido e decrescente no tempo, desrespeito ao tempo da conversão do capital econômico em simbólico, grandes empresas racionalizadas, independe em partes dos convertidos do sistema de ensino, busca pelo sucesso mundano. Ciclo longo: aceitação dos riscos inerentes às mercadorias culturais, submissão às leis específicas do comércio da arte, estoques de produtos cuja realização é incerta, garimpagem por meio de pares engajados na cena cultural, construção de catálogo com rentabilidade futura e crescente, respeito ao tempo da conversão do capital econômico em simbólico, pequenas empresas artesanais, depende dos convertidos oriundos do sistema de ensino, ascese.