A perda da realidade na neurose e na psicose

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Transcrição da apresentação:

A perda da realidade na neurose e na psicose Profa. Carolina Nassau Ribeiro

Neurose e Psicose Neurose: o ego reprime um fragmento o id, em favor da realidade; Psicose: o ego a serviço do id, retira-se de uma parte da realidae; “Isso, porém, não concorda em absoluto com a observação que todos nós podemos fazer, de que toda neurose perturba de algum modo a relação do paciente com a realidade servindo-lhe de um meio de se afastar da realidade, e que, em suas formas graves, significa concretamente uma fuga da vida real.” (FREUD, 1924, p. 229) No começo da neurose , o ego a serviço da realidade, efetua o recalcamento de um impulso pulsional; Freud enfatiza que isto ainda não é neurose. Num segundo momento, a parte danificada do id, reage contra o recalque e ocorre um “fracasso do recalcamento” – doença propriamente dita; “[...] a perda da realidade afeta exatamente aquele fragmento de realidade, cujas exigências resultaram na repressão instintual ocorrida.” (Ibidem);

Neurose e Psicose ‘Cena traumática’ → a pessoa interessada se afasta dessa experiência → amnésia. Caso Elizabeth Von R → a representação insuportável é o desejo pelo cunhado que leva a paciente a ter o pensamento que a causa horror: ‘Agora ele está livre e pode casar comigo.’ A cena é imediatamente esquecida e dá início ao processo de regressão que conduz às dores histéricas “Ela se afastou do valor da mudança que ocorrera na realidade, reprimindo (Verdrängung) a exigência pulsional que havia surgido — isto é, seu amor pelo cunhado. A reação psicótica teria sido uma rejeição (Verleugnung) do fato da morte da irmã.” ( Ibid., p.230 – ver nota de rodapé p.182)

Neurose e Psicose Na psicose, num primeiro momento, o ego é arrastado para longe da realidade e, no segundo estágio, para compensar a perda da realidade (mas não às custas de uma restrição do id), acontece a criação de uma nova realidade; “Tanto a neurose quanto a psicose são, pois, expressão da rebeldia do id contra o mundo externo, de seu desprazer ou[...] de sua incapacidade de adequar-se à necessidade real. A neurose e a psicose diferem uma da outra muito mais em sua primeira reação introdutória do que na tentativa de reparação que a segue.” (Ibid., p. 231); Neurose: um fragmento da realidade é evitado por uma espécie de fuga, Não repudia a realidade, apenas a não quer saber dela; Psicose: a fuga inicial é sucedida por uma fase ativa de remodelamento da realidade. A psicose nega a realidade e tenta substituí-la; Chamamos um comportamento de ‘normal’ ou ‘sadio’ se ele combina certas características de ambas as reações — se repudia a realidade tão pouco quanto uma neurose, mas se depois se esforça, como faz uma psicose, por efetuar uma alteração dessa realidade. Naturalmente, esse comportamento [...] conduz à realidade do trabalho no mundo externo; ele não se detém, como na psicose, em efetuar mudanças internas. (Ibidem)

Psicose Psicose: a remodelação da realidade é executada a partir de sua vivência anterior, dos seus traços de memória, idéias e juízos que foram adquiridos até então; “Assim, a psicose também depara com a tarefa de obter percepções tais que correspondam à nova realidade; o que é feito, de modo mais radical, pela via da alucinação alucinação.” (Ibid., p.232); Delírios e alucinações: geram angústia porque processo de remodelamento da realidade se realiza contra violentas forças opositoras; “Provavelmente na psicose o fragmento de realidade rejeitado constantemente se impõe à mente, tal como o instinto reprimido faz na neurose[...].” (Ibidem) “A elucidação dos diversos mecanismos que, nas psicoses, são projetados para afastar o indivíduo da realidade e para reconstruir essa última, constitui uma tarefa para o estudo psiquiátrico especializado, ainda não empreendida.” (Ibidem);

Neurose e Psicose Tanto na neurose, como na psicose, ocorre um fracasso na tentativa de reparação (segunda etapa); Neurose: a pulsão recalcada não consegue arranjar um substituto integral; Psicose: a realidade não pode ser remodelada de maneira satisfatória; “A ênfase, porém, é diferente nos dois casos. Na psicose, ela incide inteiramente sobre a primeira etapa, que é patológica em si própria e só pode conduzir à enfermidade. Na neurose, por outro lado, ela recai sobre a segunda etapa, sobre o fracasso da repressão, ao passo que a primeira etapa pode alcançar êxito, e realmente o alcança em inúmeros casos, sem transpor os limites da saúde — embora o faça a um certo preço e não sem deixar atrás de si traços do dispêndio psíquico que exigiu.” (Ibid., p.233); Distinção topográfica do conflito patogênico: se o Ego cedeu à sua fidelidade ao mundo real ou à sua dependência do Id;

Neurose Neurose: se contenta em evitar uma porção da realidade e se protege do encontro com ela. Não obstante, produz algo semelhante à psicose, substituindo a realidade indesejada pela mundo das fantasias, muito mais condizente com os seus desejos inconscientes; “Isso é possibilitado pela existência de um mundo de fantasia, de um domínio que ficou separado do mundo externo real na época da introdução do princípio de realidade. Esse domínio, desde então, foi mantido livre [...] das exigências da vida, como uma espécie de ‘reserva’; ele não é inacessível ao ego, mas só frouxamente ligado a ele. É deste mundo de fantasia que a neurose retira o material para suas novas construções de desejo e geralmente encontra esse material pelo caminho da regressão a um passado real satisfatório.” (Ibid., p. 233)

Neurose e Psicose Na psicose, o mundo da fantasia tem o mesmo papel – é delas que se extrai o material para a construção de uma nova realidade; Esse novo mundo “imaginário” tenta-se colocar no lugar da realidade externa; Na neurose, tal como nos jogos infantis, ele apóia-se numa porção da realidade (diferente daquela que foi preciso defender-se); “Dá-lhe uma importância especial e num sentido oculto, que, de maneira nem sempre correta, chamamos de simbólico.” (FREUD, 1924/2011, p.220. Trad. Paulo César de Souza) “Vemos, assim, que tanto na neurose quanto na psicose interessa a questão não apenas relativa a uma perda da realidade, mas também a um substituto para a realidade.” (FREUD, 1924, p. 234)