A filosofia política na Idade Moderna

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
Dois modos de ler a Bíblia.
Advertisements

ESTÉTICA 1.
DEMOCRACIA.
Maquiavel e “O Príncipe”
Ética Profissional A ética e a moral.
Identidade dos Indivíduos nas Organizações
FILOSOFIA O que faz um filósofo?
FILOSOFIA.
O I L U M N S Professora: Marta.
O I L U M N S Professora: Marta. O I L U M N S Professora: Marta.
Platão e a Teoria das Idéias
A ÉTICA MODERNA.
Governança corporativa, a ética e a sustentabilidade
O Príncipe Nicolau Maquiavel.
Nicolau Maquiavel e o Nascimento do Realismo Político
FILOSOFIA OLHAR QUE QUESTIONA E REVELA
A análise do capitalismo por Karl Marx
Cícero paulino dos santos costa
A prática da Virtude Professor José Roque Pereira de Melo
O I L U M N S Professor: Odair.
Segundo Émile Durkheim
Profa. MSc. Daniela Ferreira Suarez
O que é? Para que serve? Filosofia Prof. Joaquim Célio de Souza.
Teorias do conhecimento
Em busca de uma compreensão
A Ética na Política.
O PENSAMENTO SOCRÁTICO
SÉCULO XV AO SÉCULO XVIII
Aula 9 Teoria do Conhecimento Profa. MSc. Daniela Ferreira Suarez.
A Filosofia Ocidental na Idade Moderna
O estado moderno Capítulo 17.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Platão e o mundo das Ideias
1ª aula Profª Karina Oliveira Bezerra
aula 1 - Niccolò Machiavelli – uma análise do PRÍNCIPE
22/08/2031 Profª Karina Oliveira Bezerra
Profª. Taís Linassi Ruwer
Maquiavel: notas de aula
Profª. Taís Linassi Ruwer
O Coração de um Líder Curso T iteenchallenge.org iteenchallenge.org T
O Coração de um Líder.
O QUE É FILOSOFIA ?.
Sociologia: uma ciência da sociedade Parte.01
Cap. 6 – Trabalhadores, uni-vos!
O que é a Filosofia ? - Uma resposta inicial
Maquiavel – aula 2 Maquiavel não admite um fundamento anterior e exterior à política (Deus, natureza, razão).Toda cidade está dividida em dois desejos.
Friedrich Hegel Filosofia contemporânea
Professor Ulisses Mauro Lima historiaula.wordpress.com Professor Ulisses Mauro Lima historiaula.wordpress.com Estado Moderno, Cidadania e Direitos Humanos.
FILOSOFIA.
ARISTÓTELES (383 – 322) a.C Metafísica
31/7/20151Profª Suzana.  Movimento artístico e científico que ocorreu na Europa, durante a Idade Moderna, nos séculos XIV e XVI.  Recebeu este nome.
Afinal, o que é política? Definição geral Pode ser pensada como negociação para compatibilizar interesses; Pode estar relacionado com o que diz.
As bases da ciência moderna
CORREÇÃO Dever de Casa - Platão (Respostas no livro, Capítulo V, pag )
#SalveaHumanidade #ProtocoloMundo
Estética: Introdução Conceitual
Thomas Hobbes: o estado de natureza como guerra entre todos
Friedrich Hegel Filosofia contemporânea
CAP 20 – As teorias socialistas e o marxismo
Santo Agostinho d.C.) Crer para compreender.
Professor: Suderlan Tozo Binda
Período sistemático Aristóteles
Nova concepção do homem e do mundo
Ética.
MAX WEBER Ao contrário de Durkheim, Weber não pensa que a ordem social tenha que se opor e se distinguir dos indivíduos como uma realidade exterior a eles,
A FUNDAMENTAÇÃO METAFÍSICA DOS COSTUMES. O Homem deve também acreditar no Homem Boa ideia…! Assim já posso ir de férias.
ARISTÓTELES * Aluno de Platão por 20 anos, interessou-se justamente pelas mudanças que hoje denominamos de processos naturais; * Enquanto Platão era poeta.
O QUE É SER VENDEDOR? Quais as Principais Características de Um Profissional de Vendas? Conforme Eduardo Botelho, Qual é o “Perfil” Ideal de Um Vendedor?
Ética na atividade econômica Avelino Alexandre Rodrigues da Silva.
Transcrição da apresentação:

A filosofia política na Idade Moderna Prof.º Adriano Paiva

Nos últimos séculos da Idade Média (Baixa Idade Média), porém, o humanismo começou a ganhar destaque, evoluindo para um antropocentrismo que substituiu gradativamente o teocentrismo. Em suma, a figura humana passou a reconquistar seu espaço na filosofia, nas artes e nas ciências, assim como na política. Era o advento do Renascimento. Vejamos, então, como o pensamento político ganhou novos contornos e perspectivas quando a Idade Moderna começou.

Nicolau Maquiavel e O príncipe Quando Nicolau Maquiavel (1469-1527) escreveu o livro O príncipe, em 1513, é bem provável que ele não imaginasse as interpretações controvertidas que sua obra iria suscitar. É comum, hoje em dia, associarmos a conduta de uma pessoa ou de um grupo que age sem escrúpulos com a idéia de eles são “maquiavélicos”. Mais ainda: ser “maquiavélico”, neste sentido pejorativo, significa ser “diabólico”, ou seja, agir de forma perversa.

Nicolau Maquiavel e O príncipe É comum atribuirmos a esse pensador a máxima “os fins justificam os meios”. Contudo, ele não a escreveu com todas as letras, mas o que ocorre é que suas idéias nos remetem a fazer tal associação.

Em uma passagem de O Príncipe, Maquiavel afirma: Nos atos de todos os homens, em especial dos príncipes, em que não há tribunal a que recorrer, somente importa o êxito, bom ou mau. Procure, pois, um príncipe vencer e preservar o Estado. Os meios empregados sempre serão considerados honrosos e louvados por todos, porque o vulgo se deixa conduzir por aparências e por aquilo que resulta dos fatos consumados, e o mundo é composto pelo vulgo, e não haverá lugar para a minoria se a maioria não tiver onde se apoiar.

Nicolau Maquiavel e O príncipe Logo de início, podemos afirmar que essas interpretações são equivocadas, pois Maquiavel jamais as propôs. Portanto, Maquiavel, o filósofo, nada tem a ver com o “ser maquiavélico”. Sendo assim, de onde vem essa associação? Na verdade, ela é resultado de interpretações feitas sobre o pensamento de Maquiavel, pensamento este que, para não gerar confusões, chamamos de maquiaveliano (“aquilo que vem de Maquiavel”).

Nicolau Maquiavel e O príncipe O livro O príncipe não deixa de ser um tipo de “manual” que, utilizado de maneira correta, permitiria até mesmo a conquista e unificação da Itália por quem o seguisse. Maquiavel dedicou esse livro ao nobre Lourenço de Médici, acreditando, talvez, que ele pudesse realizar a tarefa de unificar a Itália. Contudo, essa unificação só ocorreu na segunda metade do século XIX, e não é de se estranhar que, quando ela ocorreu, a memória e a obra de Maquiavel foram bastante exaltadas.

O seu pensamento acerca da política superou, sim, a idéia de que o bom governo é apenas aquele que representa a vontade de Deus. Maquiavel voltou-se para a cultura greco-romana a fim de encontrar respostas às suas inquietações. Mas, ao retornar à Antiguidade por meio dos estudos dos grandes pensadores do passado, Maquiavel percebeu que a defesa da política como algo ligado à ética e ao bem comum – a exemplo da “cidade ideal” de Platão, ou do Estado como expressão máxima da felicidade coletiva defendido por Aristóteles, ou ainda o bom governo proposto pelos romanos – não passava de uma idealização da política perfeita, ou seja, dificilmente poderia ser posto em prática.

Recorrendo à história, Maquiavel percebeu que o “Estado ideal” greco-romano, assim como o cristão, não era possível, uma vez que os homens são muito mais movidos por sentimentos negativos do que positivos. Trata-se de uma constatação. E podemos imaginar como essas constatações maquiavelianas devem ter incomodado muitas pessoas e instituições de sua época, especialmente a Igreja Católica.

Maquiavel desvincula a política da religião e da moral (ética), afirmando que o poder político ou o poder do Estado tem razões que justificam seus atos. Ao desenvolver essa idéia, ele emprega os conceitos de fortuna e virtú. O conceito de fortuna, aqui, não deve ser entendido como resultado do acúmulo de riquezas; não se trata disso. Maquiavel usa um conceito filosófico de fortuna que remete à idéia daquilo que não está em nosso poder, ou seja, aquilo que não está ao nosso alcance, pois é exterior a nós, independe da nossa vontade, mas afeta direta ou indiretamente nossas vidas. Por ser algo relacionado com o irracional, muitas vezes nos referimos a essa fortuna como sendo a sorte ou a falta dela. Portanto, a fortuna deve ser entendida como uma coisa inconstante, movida pelo capricho; em suma, não depende da vontade humana. Alguns chamarão isso de destino.

Quanto à virtú, o seu significado maquiaveliano está relacionado com o seu sentido latino, ou seja, viril. A idéia de virilidade está relacionada com a força e a determinação empregadas por uma pessoa que pretende conquistar algo. Sendo assim, a virtú de um príncipe (governante) não está ligada a práticas morais que visam a combater a fortuna, mas sim à capacidade que um príncipe deve ter de se adequar às mais variadas situações provocadas pela fortuna. O príncipe de virtú é aquele que agarra e domina a fortuna, ou seja, aquele que consegue se adequar às circunstâncias, mesmo que, para isso, precise ser volúvel e inconstante; não se trata, portanto, de alguém que se acomode com determinada situação.

Mas por que Maquiavel defende uma virtú separada da ética? Porque, segundo ele, a política deve ser compreendida como um campo separado da moral presente entre os indivíduos. Essa separação visa a dar autonomia ao Estado, que deve estar acima das paixões e dos sentimentos humanos. A autonomia do Estado, no entanto, jamais se tornará realidade se a moral individual for elevada como instrumento de governo, pois, dessa maneira, a política permanecerá como refém da fortuna. E lembre-se: para Maquiavel, “domar” a fortuna significa dar um caráter racional para o Estado.

Perceba que Maquiavel não vira as costas para a ética Perceba que Maquiavel não vira as costas para a ética. Ele reconhece que ela é imprescindível para a vida cotidiana, no trato que as pessoas comuns estabelecem no seu dia-a-dia. Contudo, essa ética não serve para reger a política, cuja lógica é diferente da vida comum. O príncipe de virtú orientará suas ações ora pela crueldade, ora pela misericórdia; em dado momento, ele deverá ser dissimulado, em um outro será sincero. Esse tipo de atitude visa à manutenção do Estado de forma autônoma, cuja finalidade maior, por sua vez, é a manutenção do bom funcionamento da sociedade por ele regida.

Agora, podemos voltar à questão de como o pensamento de Maquiavel foi interpretado por alguns. A Igreja Católica, no contexto da Contra-Reforma, viu a proposta maquiaveliana de um Estado separado da religião como ameaça. Muitas pessoas o criticaram exatamente por não entenderem a separação proposta por ele entre ética e política. Daí é que surgiram expressões pejorativas como “maquiavélico” para designar uma ação negativa. A bem da verdade, até hoje algumas pessoas ainda usam esse adjetivo de forma pejorativa, na maioria das vezes sem conhecer a obra de Maquiavel.