Bases Epistemológicas da Ciência Moderna Profa. Dra. Luciana Zaterka

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1-De acordo com Descartes:
Bases Epistemológicas da Ciência Moderna Profa. Dra. Luciana Zaterka
Transcrição da apresentação:

Bases Epistemológicas da Ciência Moderna Profa. Dra. Luciana Zaterka luciana.zaterka@ufabc.edu.br

A cosmologia aristotélica

Primeiro motor imóvel (Deus). Aristóteles (I) O mundo sublunar; O mundo celeste; Primeiro motor imóvel (Deus).

Éter – elemento incorruptível – Mundo Supralunar Mundo Sublunar Éter – elemento incorruptível – Mundo Supralunar

Todo ser, diz Aristóteles, move-se ou muda porque aspira ou deseja a imobilidade, isto é, não ter que mudar. Todo ser aspira à perfeição da forma pura que não muda nunca. Todo ser aspira à identidade total consigo mesmo. Todo ser aspira ou deseja a perfeição de sua essência que é sua forma. Assim, a primeira precondição para que a causa eficiente atue é a causa final, ou seja, é porque a finalidade dos seres é parar de mudar que eles mudam. É porque os seres tendem à imutabilidade como a um fim, que precisam mudar. De mudança em mudança, cada ser se aproxima indefinidamente de sua finalidade ou de sua forma perfeita. A matéria mutável é uma imperfeição, um inacabamento que busca a perfeição.

Formas ou Graus de Conhecimento Sensação Percepção Imaginação Memória; Raciocínio; Intuição O Ser enquanto Ser

Origens da ciência moderna – revolução científica do século XVII

“Pode-se dizer que essa revolução científica e filosófica – é de fato impossível separar o aspecto filosófico do puramente científico desse processo, pois um e outro se mostram interdependentes e estreitamente unidos - causou a destruição do Cosmos, ou seja, o desaparecimento dos conceitos válidos, filosófica e cientificamente, da concepção do mundo como um todo finito, fechado e hierarquicamente (um todo no qual a hierarquia de valor determinava a hierarquia e a estrutura do ser, erguendo-se da terra escura, pesada e imperfeita para a perfeição cada vez mais exaltada das estrelas e das esferas celestes), e a sua substituição por um universo indefinido e até mesmo infinito que é mantido coeso pela identidade de seus componentes e leis fundamentais, e no qual todos esses componentes são colocados no mesmo nível de ser. Isto, por seu turno, implica o abandono, pelo pensamento científico, de todas as considerações baseadas em conceitos de valor, como perfeição, harmonia, significado e objetivo, e, finalmente, a completa desvalorização do ser, o divórcio do mundo do valor e do mundo dos fatos”.

Revolução científica do século XVII: destruição do Cosmos e a infinitização do universo.

O que dirá Koyré? Que a ciência moderna irá exatamente destruir essa visão de cosmos hierarquizado e fechado dos antigos. Citando Nicolau de Cusa, Copérnico, Kepler, Galileu entre tantos outros, Koyré mostra como se deu essa passagem. Sabemos, por exemplo, que a revolução astronômica copernicana remove a Terra do centro do mundo e a coloca entre os demais planetas, destruindo assim os próprios alicerces da ordem cósmica tradicional, ou seja, temos aqui, por um lado, a destruição de uma estrutura absolutamente hierárquica e, de outro, uma destruição da oposição qualitativa entre o domínio do celeste e do ser imutável e a região terrestre ou sublunar da mudança e corrupção.

Galileu Galilei: “(...) qualquer pessoa pode dar-se conta, com a certeza dos sentidos, de que a Lua é dotada de uma superfície não lisa e polida, mas feita de asperezas e rugosidade, que, tanto como a face da própria Terra, é por toda parte cheia de enormes ondulações, abismos profundos e sinuosidades (Sidereus Nuntius)”. O que temos anunciado aqui é gigantesco: montanhas na Lua, novos “planetas” no céu, novas estrelas fixas em grande número, coisas que nenhum olho humano havia jamais visto e que nenhuma mente humana havia concebido anteriormente.

“E não só isto: além desses fatos novos, estarrecedores e inteiramente inesperados e imprevistos, havia ainda a descrição de uma invenção assombrosa, a do perspicillum, um instrumento que havia tornado todas essas descobertas possíveis e possibilitando a Galileu transcender a limitação imposta pela natureza – ou por Deus – aos sentidos e ao conhecimento humanos.

Ponto fixo e seguro: a subjetividade

Sabemos que o mundo de Descartes é um mundo matemático rigidamente uniforme, um mundo de geometria, de que nossas idéias nos dão um conhecimento evidente e certo. Não há nada neste mundo, para o autor do Discurso do Método, além de matéria e movimento; ou, sendo a matéria idêntica a espaço ou extensão, não há nada senão extensão e movimento. Com estes pressupostos em mão, diz Koyré, podemos concluir duas coisas importantes: em primeiro lugar, a terra e os céus são feitos de uma mesma matéria, e não pode haver pluralidade de mundos.

A infinitude do mundo: “É fácil deduzir que a matéria do céu não é diferente daquela da Terra; e que de maneira geral, mesmo que haja uma infinidade de mundos, é impossível que não sejam construídos de uma mesma matéria; e, portanto, que não podem ser muitos, mas somente um, pois entendemos claramente que esta matéria de que se compõem toda a natureza, sendo esta uma substância extensa, já deve ocupar completamente todos os espaços imaginários em que deveriam estar esses outros mundos; e não encontramos em nós a idéia de nenhuma outra matéria”. Assim, o caminho estava aberto, ou seja, o universo infinito da nova cosmologia, infinito em duração tanto quanto extensão, no qual a matéria eterna, de acordo com leis eternas e necessárias, move-se sem fim e sem desígnio no espaço eterno. Enfim, o mundo agora possui todos os atributos ontológicos da Divindade.

“Nenhum império, nenhuma escola filosófica, nenhuma estrela tiveram sobre a história humana um efeito maior do que tiveram aquelas invenções. São elas que tornam as filosofias dos antigos não mais utilizáveis. Após ter navegado pelo mundo material e descoberto novas terras, os homens não podem continuar confiando o seu destino a cinco ou seis cérebros e renunciar à exploração do mundo intelectual”.

Esperança – futuro: “As maravilhosas lentes, em uso há bem pouco tempo, já nos revelaram novos astros no céu e novos objetos sobre a terra... levando nosso vista muito mais longe do que costumava chegar a imaginação de nossos pais: elas parecem ter-nos aberto o caminho para chegar a um conhecimento da natureza muito mais vasto e perfeito do que o atingido por eles”.

O limite do saber antigo Venda suas terras, suas casa, seu guarda-roupa – escreve um pensador da época, queime seus livros. Compre um robusto par de sapatos e caminhe por vales, montanhas, desertos, orlas do mar. Anote com cuidado as diferenças entre os animais, as distinções entre as plantas, as várias espécies de minerais, as propriedades e o modo de origem de tudo o que existe. Não tenha vergonha de estudar com diligência a astronomia e a filosofia terrestre dos camponeses. Enfim, compre carvão, construa fornalhas, lide sem descanso com o fogo. Por este, e não por outro caminho, poderá chegar ao conhecimento das coisas”.

Princípios Gerais - as fontes e as formas do conhecimento: sensação, percepção, imaginação, - memória, linguage m, raciocínio e intuição intelectual; - a distinção entre o conhecimento sensível e o conhecimento intelectual; - o papel da linguagem no conhecimento; - a diferença entre opinião e saber; - a diferença entre aparência e essência; - a definição dos princípios do pensamento verdadeiro (identidade, não contradição, terceiro excluído, causalidade), da forma do conhecimento verdadeiro (idéias, conceitos e juízos) e dos procedimentos para alcançar o conhecimento verdadeiro (indução, dedução, intuição);

a distinção dos campos do conhecimento verdadeiro: Teorético Prático Técnico (Independe da nossa ação) (Ética e Política) (Fabricação humana)

Goethe: Se os olhos não fossem solares Jamais o Sol nós veríamos; Se em nós não estivesse a própria força divina, Como o divino sentiríamos? O intelecto humano conhece a inteligibilidade do mundo, alcança a racionalidade do real e pode pensar a realidade porque nós e ela somos feitos da mesma maneira, com os mesmos elementos e com a mesma inteligência.