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PublicouVítor Ximenes Arruda Alterado mais de 7 anos atrás
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MARTINS PENA E A COMÉDIA DE COSTUMES pré-realismo
PROFª MARCIA MUNHAK SPEGGIORIN
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Jovem de origem humilde, Luís Carlos Martins Pena ( ) viveu pouco e escreveu muito. Apoiado pelo ator João Caetano, produziu 17 comédias em apenas dois anos. Como muitos românticos, morreu vítima de tuberculose. Maior comediógrafo brasileiro do século XIX, imortalizou-se com peças como O juiz de paz na roça (1838), Os dous ou O inglês maquinista (1845), O judas em sábado de aleluia (1844) e O noviço (1845), sua obra mais conhecida.
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Criador da comédia brasileira, Martins Pena também é reconhecido como o primeiro autor teatral a desenvolver temas nacionais naquilo que eles têm de mais específico e autêntico, sempre apresentando observações satíricas sobre algum aspecto da realidade brasileira. De modo geral, suas peças têm estrutura simples, muitas vezes um único ato, e apresentam caracteres e situações que não chegam a ser aprofundados. O resultado obtido era uma encenação leve, que provocava o riso da plateia ao mesmo tempo que apontava aspectos reprováveis em diferentes setores da sociedade brasileira.
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Embora Martins Pena trate de questões religiosas e políticas, discutindo o funcionamento dos três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – destaca-se em sua obra o enfoque sobre as diferenças entre os tipos sertanejos e os metropolitanos, o confonto entre as realidades e os valores da capital e da província. O intuito do autor é ridicularizar, por meio da apresentação caricata, os tipos roceiros e provincianos, que se transformavam em fonte de riso fácil para o público fluminense. Em situações cômicas, Martins Pena criticava os comportamentos censuráveis dessas personagens, como é o caso do juiz venal da peça O juiz de paz na roça.
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FRAGMENTO DE O JUIZ DE PAZ NA ROÇA
Sr. Escrivão, leia outro requerimento. ESCRIVÃO - (lendo) "O baixo-assinado vem dar os parabéns a V.S.a Por ter entrado com saúde no ano financeiro. Eu, Ilmo. Sr. Juiz de paz, sou senhor de um sítio que está na beira do rio, aonde dá muito boas bananas e laranjas e cimo vem de encaixa, peço a V.S.a o favor de aceitar um cestinho das mesmas que eu mandarei hoje à tarde. Mas, como ia dizendo, o dito sítio foi comprado com o dinheiro que minha mulher ganhou nas costuras e outras cousas mais; e, vai senão quando, um meu vizinho, homem de raça de judas, diz que metade do sítio é dele. E então, que lhe parece, Sr. Juiz, não é desaforo? Mas, como ia dizendo, peço a V. S.a. Para vir assistir à marcação do sítio. Manuel André? E.R.M."
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JUIZ - Não posso deferir por estar muito atravancado com um roçado; portanto, requeira ao suplente, que é o meu compadre Pantaleão, MANUEL ANDRÉ - Mas, Sr. Juiz, ele também está ocupado com uma plantação. JUIZ - Você replica? Olhe que p mundo para a cadeia. MANUEL ANDRÉ - Vossa senhoria não pode prender- me à toa; a Constituição não manda; JUIZ - A constituição!... Está bem!... Eu, o Juiz de paz, hei por bem derrogar a Constituição! Sr. Escrivão, tome termo que a Constituição está derrogada, e mande-me prender este homem;
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Recebendo como suborno cachos de banana, cestos de laranja, leitões e cuias de ovos, o juiz de paz representa a imoralidade dos funcionários do sistema judiciário que se favorecem do cargo que ocupam em lugar de aceitar o “agrado”, o juiz não atende à solicitação feita pelo sitiante. E, quando Manuel André protesta, ameaça prendê-lo. A prepotência do juiz não recua ante o argumento de inconstitucionalidade apresentado por Manuel André. Ele simplesmente “ordena” que a Constituição não seja abolida. A cena ilustra o exercício voluntarioso e desmedido do poder.
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Do conjunto das comédias escritas por Martins Pena, emerge a imagem de um país que, já no século XIX, via imperar em algumas instâncias do poder público a safadeza, o mau-caratismo, a prevaricação. Embora melancólico, esse retrato se mostrou verdadeiro para o passado e premonitório para o futuro.
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O FUNDADOR DA COMÉDIA BRASILEIRA
Antes de Martins Pena, o teatro produzido no Brasil voltava-se quase exclusivamente para a encenação de passagens da Bíblia ou o desenvolvimento de pequenos autos religiosos. Embora a função fosse moralizante, a apresentação da mensagem era feita em tom solene. Ao apresentar o contraste entre a província e a corte, opondo tipos rurais e urbanos, Martins Pena se vale de muitas vezes da imagem do sertanejo matuto que, com sua simplicidade ingênua, não só faz rir como expõe os vícios e as impropriedades da sociedade.
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A comédia de costumes ganhou as telas de televisão em programas humorísticos como A praça é nossa, em que o “primo pobre” e o “primo rico” trazem para o terreno das diferenças socioeconômicas o confronto antes protagonizado pelo sertanejo e pelo indivíduo da cidade. No teatro contemporâneo, também identificamos os desdobramentos da comédia de costumes em um gênero que tem sido chamado de “besteirol”. O trabalho de Mauro Rasi, por exemplo, provoca o riso solto das plateias que lotam as salas de espetáculo quando são apresentadas, de modo caricatural, as agruras da vida a dois, em Batalha de arroz num ringue para dois (1982) ou quando são revisitados os tipos provincianos em Pérola (1995).
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