O problema da subjetividade no idealismo alemão

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Transcrição da apresentação:

O problema da subjetividade no idealismo alemão Idealismo: conceito utilizado por Leibniz para referir-se a Platão e outros filósofos para os quais a realidade é a forma (idéias) Aspectos filosóficos: gnosiológico e metafísico Aspectos éticos e políticos: ideais que norteiam as ações Principais representantes: Kant - Crítica da Razão Pura (1781) Schelling - Idéias para um filosofia da natureza (1797) Fichte - Doutrina da Ciência (1804) Hegel - Fenomenologia do Espírito (1807) Traço fundamental: a identidade do Eu

A primazia de Kant no cenário filosófico contemporâneo data de 1850. O movimento de retorno ao filósofo alemão é realizado por Hermann Cohen, da Escola de Marbourgo, com a publicação da obra A Teoria Kantiana da Experiência (1871). A noção de criticismo kantiano é derivada desse movimento. Paul Natorp é outro neokantiano de significativa importância. Seu livro, A Doutrina das Idéias de Platão, de 1903, segue o movimento de leituras de Kant.

Em novembro de 1924, Georges Politzer, publicou três resenhas inseridas na revista Philosophies: “L. Brunschvicg: a idéia crítica e o sistema kantiano”; “J. Nabert: a experiência interna em Kant”; “L. Robinson: contribuições à história da evolução filosófica de Kant”. Esses textos, posteriormente reunidos com o título “Um passo em direção à verdadeira figura de Kant”, foram veiculados no número especial da Revue de Metaphysique et de Morale, por ocasião do segundo centenário do nascimento de Kant. A genealogia de tais resenhas provém do movimento neokantiano da década de 1920 e é uma excelente estratégia para o autor marcar sua entrada na cena parisiense: “na França, durante cinqüenta anos, Kant foi refutado e incompreendido; há já cinqüenta anos que ele passou a ser admirado, mas nem por isso, a ser um pouco compreendido”

Na primeira resenha, “L. Brunschvicg: a idéia crítica e o sistema kantiano”; Politzer considerou os trabalhos de Brunschvicg como a mais bela tentativa de síntese e de crítica integrais que a interpretação de Kant veio a conhecer. O kantismo surgiu como o evangelho da consciência moderna, como expressão da chegada do reino da civilização verdadeiramente moderna, como a afirmação da autonomia, da soberania teórica e prática da consciência, única fonte de normas, como a primeira expressão consciente e enérgica desse fato essencialmente moderno: a repartição dos valores da lei e dos valores da fé.

Na segunda resenha, “J. Nabert: a experiência interna em Kant”, Politzer considerou tratar-se do estudo “mais penetrante que até o momento já se escreveu sobre a experiência interna em Kant”. Esse texto reporta-se aos três pontos essenciais da teoria kantiana: a categoria do eu penso, a auto-afeição e a solidariedade da experiência interna e da experiência externa. Para Politzer, Nabert soube também demonstrar o que há de vivo e atual na teoria kantiana, sobretudo no que diz respeito ao terceiro ponto: a teoria kantiana é apresentada como antítese irredutível contra toda concepção teórica que queira atingir o dado psicológico, isolando a consciência da intrusão do espaço. Em Kant, a experiência interna e externa são solidárias não apenas de fato, mas também de direito. Isso implica admitir o Eu como consciência pura e como consciência empírica: o Eu penso envolve um Eu sou.

Na terceira resenha, “L. Robinson: contribuições à história da evolução filosófica de Kant”, Politzer procurou destacar as molas propulsoras da evolução do pensamento de Kant, ressaltando que os estudos de Robinson tinham como propósito resolver certos impasses da influência de Hume sobre Kant e a descoberta da idealidade do espaço e do tempo.

Após ter analisado a filosofia contemporânea girando na órbita da Crítica da Razão Pura de Kant, Politzer apresentou sua descoberta inaugural: o homem concreto. A descoberta do ‘Eu’ [je] teórico, cujo ato é o pensamento, subverte a noção de gênero ‘homem’. A idéia idealista destrói os gêneros aristotélicos, os gêneros impessoais e justapostos; ela destrói essa noção do pensamento impessoal e sem sujeito (entendido como ‘Eu’), que seria um pensamento que é terceira pessoa. A idéia idealista é a descoberta do ‘Eu’. O pensamento é primeira pessoa, os gêneros não são mais justapostos, eles têm uma direção centrífuga; eles irradiam do ‘Eu’. E essa ainda é apenas uma determinação imprecisa, pois que eles são precisamente os atos desse ‘Eu’. E, dessa forma, o gênero ‘homem’ desaparecerá também. Deverá ter o mesmo destino o ‘gênero pensamento’: tornar-se-á sujeito, do qual é ilegítimo sair, ele se transformará no ‘Eu’ cujo ato é a Vida. Mas não se trata da vida lógica, nem psicológica, e menos ainda biológica, trata-se da vida humana, na medida em que precisamente ela é humana, e não objeto de ciência, seja qual for o ponto de vista, mas sim um ato, isto é, primeira pessoa. O ‘gênero homem’ tornar-se-á, portanto, um universal concreto, o ‘Eu’ da vida do homem

No verão de 1927, Martin Heidegger, ministrou um curso na Universidade de Marburgo (Alemanha) apresentando a característica da filosofia kantiana, que certamente pode ser rastreada desde Descartes: a identidade do Eu Heidegger distinguiu três aspectos da noção de Eu em Kant: la personalitas transcendentalis (sujeito); a personalitas psychologica (objeto de apreensão); la personalitas moralis (ente ativo, agente).

A noção de Eu em Kant adquiriu a função de síntese das representações, estatuto de todas as representações que se realizam por associações empíricas: contigüidade, simultaneidade e identidade. Se o Eu adquiriu o estatuto de sujeito, o seu oposto é a natureza.

Em que consiste a estrutura mais geral do Eu Em que consiste a estrutura mais geral do Eu? O que constitui a egoidade? Resposta: a consciência-de-si. Todo pensar é um Eu-penso. O Ego não é somente um ponto isolado, mas o Eu-penso”. Para Heidegger, Kant interpretou o Eu como uma unidade originalmente sintética da percepção. A determinação apriorística do ser está constituída nessa unidade originariamente sintética da percepção.

O Ego não é uma representação, não é um objeto representado, um ser no sentido do objectum, mas o fundamento da possibilidade de tudo representar, de tudo perceber, quer dizer, de toda perceptividade [perceptité] do ser, em outras palavras, o fundamento de todo ser. O Ego como unidade originariamente sintética da apercepção é a condição ontológica fundamental de todo ser. As determinações fundamentais do ser são as categorias. O Ego não é uma das categorias do ser entre outras, mas a condição de possibilidade das categorias em geral. (Heidegger)

A analítica transcendental de Kant pressupõe a noção de Eu como síntese de todas as representações. A experiência interna (subjetividade) é determinada pela autonomia da consciência como substrato do ser (dimensão psicológica) e do agir (dimensão moral). A consciência-de-si é que constitui o Eu em sua substancialidade, uma vez que a estrutura da personalidade transcendental é formal.

em 1938, Lacan adota a distinção entre je, sujeito do desejo, e moi, produto de identificações imaginárias. Tal distinção é resultante de um trabalho em comum entre Lacan e Kojéve. Para Kojéve a distinção servia como ferramenta de leitura da Fenomenologia do Espírito de Hegel, publicada em 1807, permitindo apontar a passagem do eu penso, em Descartes, para o eu desejo, no pensador alemão.

Para Lacan, confrontar Freud e Hegel possibilitou a elaboração dos textos primordiais que fizeram emergir a tópica do imaginário. Das quinze páginas escritas em conjunto por Kojéve e Lacan, intitulada “Gênese da consciência de si”, Lacan retirou os três conceitos que serviram como ferramenta para seus escritos do período que antecederam o Seminário 2- (o eu na teoria de Freud e na pratica da psicanálise, 1954/1955): o eu (je) como sujeito do desejo, o desejo como revelação da verdade do ser, o eu (moi) fonte de erro”.

O inconsciente escapa totalmente a este circulo de incertezas no qual o homem se reconhece como um eu (moi). É fora desse campo que existe algo que tem todos os direitos de se expressar por eu (je)...tudo se organiza, cada vez mais, numa dialética em que o eu (je) é distinto do eu (moi)...com Freud faz irrupção uma nova perspectiva que revoluciona o estudo da subjetividade e que mostra justamente que o sujeito (je)não se confunde com o indivíduo (moi) (Jacques Lacan)

O sujeito tem uma gênese, o sujeito não é originário O sujeito tem uma gênese, o sujeito não é originário. Ora, quem disse isso? Freud, certamente, mais foi preciso que Lacan o mostrasse claramente. Daí a importância de Lacan Michel Foucault

No espelho não é eu, sou mim EU e MIM (Rita Lee / Roberto de Carvalho - In: CD “Balacobaco”) No espelho não é eu, sou mim Não conheço mim, mas sei quem é eu, sei sim Eu é cara-metade, mim sou inteira Quando mim nasceu, eu chorou, chorou Eu e mim se dividem numa só certeza Alguém dentro de mim é mais eu do que eu mesma. Eu amo mim Mim ama eu