Patrice Schuch (NACI/UFRGS)

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Transcrição da apresentação:

Patrice Schuch (NACI/UFRGS) Família no Plural: Considerações Antropológicas sobre Família e Parentesco (À Luz de seus Confrontos de Significados num Órgão da Justiça Juvenil) Patrice Schuch (NACI/UFRGS)                    

É uma instituição central da vida moderna Família: É uma instituição central da vida moderna A Família está em tudo e em todo o lugar A “Grande” Família (importância): causa e solução de praticamente todos nossos problemas

Debate: - O que é “família”? - Existe família no “singular”?                    

OBJETIVO: - Assinalar: pluralidade da família como formação social; - Problematizar: qual a noção de família está implicitamente informando nossas ações em relação às pessoas com quem interagimos? Essa noção tem sentido para todas as pessoas? - Argumentar: não desejo um “relativismo radical”, mas uma maior atenção às práticas e não ao “ideal”.

Família e Parentesco: a Visão da Antropologia - Atenção à prática; - Estudo das interações sociais concretas; - Não parte da experiência ocidental como centro e norma, mas busca entender cada contexto específico.

Família: - É um produto social; não é dado natural ou universal = há pluralidade de modos de família; - É uma categoria social = articula-se na interseção entre saber e poder; QUESTÕES: Como as noções de família são construídas na prática? Quais são as suas conseqüências e significados em contextos específicos?

Alguns “Modelos” de Família/Brasil 1 Alguns “Modelos” de Família/Brasil 1. Família Patriarcal de Gilberto Freyre (1930): * Miscigenação corrige a distância entre a “casa grande” e a “senzala”, democratizando o país; * Centralidade da família patriarcal na constituição do Brasil: “Sobre ela (a família), o rei de Portugal quase reina sem governar” (Freyre, 1978:19).

                   Críticas à Freyre: - “Fábula das Três Raças” (DaMatta, 1984) = unificação das diferenças sociais e raciais e diminuição do peso de cada categoria na estrutura de poder; - Perigo da extrapolação da família patriarcal como imagem dominante no país (Corrêa, 1982) = desconsideração das demais formas de família. Ex: família paulista (Samara, 1983).

2. Modelos Contemporâneos: Grupos Populares X Camadas Médias - Grupos Populares: prática de circulação de crianças - Quando as “funções familiares” são “estendidas” e compartilhadas entre diversas unidades: parir, educar, sustentar, garantir uma identidade social, patrocinar, oferecer um espaço de sociabilidad. Família é, além de afeto, esforço, investimento -- o resultado de quem trabalha, come, dorme, e brinca junto... (Fonseca, 1995 e Duarte, 1995); Camadas Médias: ênfase na família conjugal centrada na unidade domestica, composta apenas de pai, mãe e filhos (biológicos). Noção de escolha livre e amor gratuito. Igualdade entre membros. Este modelo se impôs na ideologia ocidental como algo surgido diretamente da natureza, fonte de toda a cultura e civilização (Duarte, 1995).

Críticas ao Modelo Nuclear Hegemônico - Produção discursiva de família no singular, referindo-se ao modelo das camadas médias. Outros formatos familiares são, muitas vezes, elevados à condição de espaços privilegiados da intervenção de poderes e saberes; Pesquisas antropológicas e históricas dos últimos 40 anos demonstram que não existe “família natural”. Antropólogos: em geral, preferem falar de “parentesco” como um tipo de “fazer” que se define como um conjunto de práticas de relacionamentos de vários tipos, os quais negociam a reprodução da vida (Schneider, 1992; Butler, 2002); “Parentesco”: nascimento, criação, laços de dependência, geracionais, etc. Atualmente: legitimação de “novos tipos de família e parentesco”: uniões homossexuais, adoções e famílias recompostas. O “ideal” da família moderna conjugal não dá conta das práticas familiares e de parentesco contemporâneas.

Assim… - “Ideal” da família conjugal moderna ocidental não dá conta das práticas de parentesco contemporâneas. - Mas: será que esse “ideal” ainda informa nossas práticas, a avaliação e execução de programas de atendimento? - “Que descoberta podemos esperar dessa procura sistemática do mesmo”? (Perrôt,apud Corrêa, 1999)                    

A Análise da Prática: Valores de Família e suas Negociações num Órgão de Justiça (Schuch, 2005) - Paradoxos envolvidos na prática da intervenção social: hegemonia do modelo nuclear X diversidade de práticas de família; - Não negar importância da família, mas assinalar que, enquanto valor moral, tem acrescida sua importância em paralelo com a difusão das normativas de “direitos” e recuo na intervenção estatal; Hoje: forma de governo que elege a família como causa e solução de quase tudo; - Mudança de foco: da fragilidade da família para a fragilidade das políticas que colocam a família como central, em detrimento de ações governamentais. )                    

Vera e um Programa de Educação Familiar Programa de Educação de Pais: Exemplo 1: da folha de papel amassada: Que marcas vocês estão deixando para seus filhos? Exemplo 2: inteligência emocional Vera: Proteção ao filho na cadeia: Se alguém tem que dar, esse alguém será eu; Então: Como são confrontados valores nem sempre semelhantes? Quais são os valores implicitamente privilegiados na formulação das políticas?                    

Considerações Finais - Perigo de se trabalhar com o “ideal”, com pouca representatividade nas práticas “reais”; - Mais do que legitimar qualquer forma de família – relativismo radical -, interessa discutir a prática; - É a análise da prática (e não a fixação em um “ideal”), que conduz à expansão de alternativas de transformação com incidência real e pertinente para a vida das pessoas.