Patologia Cirúrgica do Abdome I Obstruções Intestinais

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
DOENÇA DE HIRSCHSPRÜNG EM CRIANÇA DE 9 ANOS: RELATO DE CASO
Advertisements

Leite humano versos fórmula após reparo da gastrosquise:
Doenças do sistema digestivo.
Punção Abdominal.
DOENÇA INTESTINAL INFLAMATÓRIA
XXIII CONGRESSO MÉDICO DA PARAÍBA
Obstrução Intestinal no Neonato e no Lactente
Abdome Agudo Obstrutivo na Infância
Nome: Cristiane Ap. Vidal Gerson Antunes Harnery Kelly Ana Ferreira
Enema Opaco Alunos: Andre Luiz Ceccon Andre Luiz Duarte Gonçalves
Primeiros Socorros Camila Sarti
MEGACÓLON.
MEGAESÔFAGO.
Maira Cardoso Lopes Webimagem
Caso Clínico - Cloaca A. O. B., 4 anos, branca, natural de RJ, nascida de parto cesáreo, a termo. HDA: Sialorréia, impossibilidade de progressão de SOG.
ATRESIA DO ESÔFAGO Hospital Universitário Pedro Ernesto.
Diverticulite Aguda.
ENFERMAGEM MÉDICA Enf. Kamila Dalfior B4.
COLOSTOMIAS IGOR DOS SANTOS HOLTZ.
ALARA Reunião Científica II
Faculdade Santa Marcelina
Assistência de Enfermagem à Cirurgias Gastrintestinais
Obstrução Intestinal Serviço de Cirurgia Geral
Prof. Juliano V. Dande SISTEMA DIGESTÓRIO Prof. Juliano V. Dande
FÍSTULA AORTO-ENTÉRICA F. Ávila, Costa Santos V., Pereira J.R., Rego A.C., Nunes N., Paz N., Duarte M.A. Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada,
SISTEMA GASTRINTESTINAL INFERIOR
Radiologia Abdominal Obstrução Intestinal
Emergências cirúrgicas no RN
Terapia Nutricional Enteral
Trauma Abdominal O Comitê de Trauma Apresenta © ACS Title slide
Universidade Presbiteriana Mackenzie Desenvolvimento Humano Evolução de 58 fetos com meningomielocele e o potencial de reparo intra-uterino Turma:
Tipos de Terapia Nutricional e suas indicações
Sistema disgestório Guilherme Luis.
PATOLOGIAS CIRÚRGICAS EM NEONATOLOGIA
Apresentação: Nayara Cristina Pereira
Defeitos de Fechamento da Parede Abdominal
Avaliação Pré-tratamento
Atresia intestinal jejunoileal
C O L O N E R E T O A N A T O M I A 1 - DIMENSÕES, LIMITES, DIVISÃO, FIXAÇÃO 2 - ROTAÇÃO EMBRIOLÓGICA, importância 3 - A VÁLVULA ILEO CECAL O CECO.
A Fototerapia é um fator de risco para Íleo em neonatos de alto risco? Is phototherapy a risk factor for ileus in high-risk neonates? The Journal of Maternal-Fetal.
XV Jornada Científica dos Médicos Residentes do HRAS/HMIB
Atelectasia Derrame pleural Área focal com aumento de densidade
CASO CLÍNICO: PATOLOGIAS CIRÚRGICAS NO PERÍODO NEONATAL
REFLUXO GASTROESOFÁGICO
CATETER VASCULAR, SONDAS E OSTOMIAS
Constipação intestinal crônica na criança
ABDOME AGUDO NA INFÂNCIA
Profa. Adriana Sanchez Ciarlo
Megaesôfago.
Enterocolite Necrosante
Ana Luiza Telles Leal 24/05/2010
Discussão de caso clínico: Intussuscepção
Sistema Digestório ASSER Profa Ms. Camila.
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM CIRURGIAS UROLÓGICAS E GENITURINÁRIAS
DEPARTAMENTO DE ANATOMIA
Gastroenterologia Clínica
Labirintopatias: Tratamento cirúrgico
Profª Adriana Sanchez Ciarlo
Patologia das Vias Biliares
GASTROSTOMIA.
DIARRÉIA E CONSTIPAÇÃO INTESTINAL
EMBRIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTORIO
Fisiologia da fibrose cística
FACULDADE DOM PEDRO II BACHARELADO EM ENFERMAGEM
Transcrição da apresentação:

Patologia Cirúrgica do Abdome I Obstruções Intestinais Hospital Materno Infantil de Brasília- HMIB Orientadora: Dra. Evely Mirela Santos França Apresentadora: Aline D. de Castro Cardoso - R3 Neonatologia/HMIB Brasília, 02 de dezembro de 2014 www.paulomargotto.com.br

Principais tipos de obstrução intestinal no período neonatal Atresias digestivas : 80% Esôfago: 30% Ano-retal: 30% Delgado: 20% Duodeno: 50% Ileal: 35% Jejunal: 15% Megacólon congênito:10% Má rotação intestinal: 6% Íleo meconial: 2% Outras: 2%

Obstrução Duodenal Diagnóstico Pré-Natal: Polidrâmnio; Dupla bolha (estômago e duodeno); Anomalias cromossômicas (25% Trissomia do 21); Cardiopatia (malformação que pode estar associada).

Obstrução Duodenal Diagnóstico Pós-Natal: Diagnóstico Radiológico: Aspiração de grande volume de secreção biliosa do estômago após o nascimento; Vômitos biliosos precoces; Distensão apenas do andar superior do abdome. Diagnóstico Radiológico: Injetar 20 a 40ml de ar pela SOG e fechar antes da radiografia; Imagem de dupla bolha (estômago e duodeno dilatados)

Obstrução Duodenal Etiologia Obstrução Extrínseca: Má rotação; Brida de Ladd; Compressão; Duplicação duodenal; Veia porta pré-duodenal. Obstrução Intrínseca: Pâncreas anular; Membrana duodenal

Obstrução Duodenal Anomalias associadas: Síndrome de Down (25-40%); Anomalias esqueléticas (36%); (Anomalias das costelas e vértebras, agenesia sacral) Malformações gastrointestinais (26%); (Atresia de esôfago, má rotação intestinal, anomalia ano-retal) Cardiopatias (20%); Malformações genito-urinárias (18%)

Obstrução Duodenal Conduta no pré-operatório: Passar SOG e repor débitos; Compensar desequilíbrio hidroeletrolítico e ácido-básico; Antibiótico profilático. Tratamento Cirúrgico: Sempre que possível – anastomose duodeno-duodenal (“diamond shaped”); Sonda transanastomótica (possibilita a alimentação precoce). Conduta no pós- operatório: Dieta zero por 7 a 10 dias; Em caso de sonda enteral transanastomótica ter sido deixada, a dieta pode ser feita assim que houver bom peristaltismo; Uso de pró-cinéticos pode ajudar; Manter cabeceira elevada.    

Obstruções de jejuno e íleo Diagnóstico pré-natal: Alças intestinais dilatadas (múltiplas bolhas); Polidrâmnio.

Obstruções de jejuno e íleo Anomalias associadas: Pouca incidência de malformações associadas (< 10% dos casos).   Diagnóstico pós-natal: Vômitos biliosos ou fecalóides; Distensão abdominal tanto maior quanto mais baixa for a obstrução; Ausência de gás no reto; Retardo ou não eliminação de mecônio.

Obstruções de jejuno e íleo Diagnóstico radiológico: Alças intestinais dilatadas, ausência de gás no reto; Quanto mais distal for a obstrução maior a distensão das alças intestinais.

Obstruções de jejuno e íleo Classificação das atresias de jejuno e íleo: Tipo I - diafragma (membrana intra-luminar); Tipo II - cordão fibroso (atresia intestinal com porções distal e proximal ligadas por um cordão); Tipo III a - defeito no meso (atresia intestinal com as duas porções separadas); Tipo III b - “Apple piel (casca de maçã) ou Christmas Tree (pinheiro de natal)”: é o tipo de atresia intestinal mais grave, atresia proximal com restante do intestino com rotação em torno da mesentérica; Tipo IV - atresias intestinais múltiplas.

Obstruções de jejuno e íleo Tratamento cirúrgico: Antibióticoprofilaxia; Sempre que possível - anastomose primária término terminal (com ou sem remodelagem da alça proximal dilatada); Quando não é possível fazer a anastomose – jejunostomia ou ileostomia. Conduta pós-operatório: Retardo no esvaziamento gástrico é esperado, principalmente nos casos em que existe a dilatação do estômago e duodeno, considerar também a desproporção entre as alças anastomosadas; Dieta zero por 5 a 10 dias; Cabeceira elevada; Pró-cinéticos; Estímulo retal (quando necessário).

Má rotações intestinais Manifestação clínica: Sintomas de obstrução intestinal que podem ser precoces ou tardios, 50% dos pacientes apresentam sintomas no período neonatal. No caso de Volvo os sintomas aparecem subitamente e com rápida deterioração do quadro clínico. O diagnóstico de volvo deve sempre ser aventado e o paciente rapidamente compensado e submetido ao tratamento cirúrgico.

Má rotações intestinais Diagnóstico radiológico: Solicitar trânsito intestinal e/ou clister opaco; Pode ser observado mal posicionamento do duodeno, do colon ou imagem de espiral no caso dos volvos.

Má rotações intestinais Tratamento cirúrgico: A cirurgia depende do tipo de malrotação e do aspecto das alças intestinais; No caso da brida de Ladd ( formada entre o ceco e a parede abdominal lateral direita e comprime a 2ª porção duodenal), apenas a secção da brida é necessária; Outros casos podem requerer anastomoses ou confecção de ostomias. 

Íleo Meconial Etiologia: Manifestação clínica: A quase totalidade dos pacientes com íleo meconial apresenta fibrose cística. No entanto, apenas 15% dos pacientes com mucoviscidose apresentam íleo meconial.  Manifestação clínica: Distensão abdominal; Vômitos biliosos; Ausência ou retardo na evacuação; Abdome tenso e eritema indicam presença de complicações.

Íleo Meconial Diagnóstico radiológico: Distensão de alças intestinais; Nível líquido apenas no estômago; Imagem de mecônio misturado com ar, simulando “vidro moído” – sinal de Neuhauser; Clister opaco – revela um microcolon.  

Íleo Meconial Tratamento: Diagnóstico diferencial: Nos casos não complicados o tratamento pode ser feito apenas com a irrigação do colon com contraste hidrossolúvel (índice de sucesso de 16 a 50% dos casos); Nos casos complicados pode ser necessário cirurgia com irrigação, ressecção, anastomoses ou derivações.  Diagnóstico diferencial: Quando se fala em peritonite meconial costuma-se fazer confusão entre três formas de apresentação:  Íleo meconial - está sempre associado à mucoviscidose.

Íleo Meconial B) Peritonite meconial - significa que houve uma perfuração intestinal na fase intra-uterina, espontânea ou secundária a uma atresia. A peritonite meconial deve ser pensada em todo RN que nasce com obstrução intestinal e nas primeiras 6 ou 12 horas apresenta uma grande distensão. Pode acontecer da perfuração intra-útero não ser totalmente bloqueada, então, após o nascimento, com a deglutição de ar, levar a um pneumoperitôneo localizado. Cirurgia: dificultada por grande quantidade de aderências e calcificações que ocorreram no período neonatal devido ao extravasamento do mecônio na cavidade peritonial.

Íleo Meconial C) Rolha meconial - existe um retardo na eliminação do mecônio. Após estímulo retal a criança elimina mecônio espessado “rolha meconial”. Deve-se descartar Doença de Hirschsprung e hipotireoidismo.

Megacólon congênito ( Doença de Hirschsprung) Etiologia: crianças portadoras de aganglionose apresentam defeito na inervação entérica distal, caracterizada pela ausência de células ganglionares nas camadas submucosa e muscular e aumento das fibras neurais colinérgicas; O retossigmóide é frequentemente envolvido.

Megacólon congênito ( Doença de Hirschsprung) Diagnóstico clínico: A apresentação clínica mais comum é o retardo de eliminação de mecônio por mais de 48 horas após o nascimento, com neonato evoluindo com quadro clínico de obstrução intestinal distal; O toque retal, feito com a introdução de uma sonda número 10 ou 12, revela saída explosiva de gases e fezes.

Megacólon congênito ( Doença de Hirschsprung) Diagnóstico radiológico: A radiografia simples de abdome evidencia distensão de alças com ausência de ar nos segmentos distais, na maioria dos casos; O enema baritado, obrigatoriamente realizado sem preparo de colo, e com as radiografias tardias de 24, 48, 72 e até 96 horas, revela imagem de “cone de transição”, geralmente ao nível do retossigmóide. Separa o segmento espástico de intestino agangliônico da zona dilatada a montante.

Megacólon congênito ( Doença de Hirschsprung) Nos casos em que o estudo radiológico não for conclusivo, devem-se utilizar outros meios diagnósticos: Manometria anorretal : mede alterações na pressão do canal anal durante e após a distensão retal. Quando as células ganglionares estão presentes, a distensão retal com balão inibe o esfíncter anal interno, resultando em queda da pressão anal, reflexo reto-esfincteriano. O reflexo está ausente nos pacientes com doença de Hirschsprung; entretanto este meio diagnóstico não é de fácil realização ou interpretação no período neonatal;

Megacólon congênito ( Doença de Hirschsprung) Na dúvida diagnóstica, deve-se confirmar com biópsia retal de sucção ou com a biópsia clássica, retirando-se uma fita muscular. A biópsia mostrará ausência de células ganglionares, com a coloração de hematoxilina-eosina, e a pesquisa da atividade de acetilcolinesterase resultará positiva, devido a aumento das fibras neurais dentro da muscularis mucosae e lâmina própria.

Megacólon congênito ( Doença de Hirschsprung) Tratamento cirúrgico: A cirurgia, para remoção do segmento intestinal agangliônico, é necessária; Na maioria dos neonatos, realiza-se colostomia no segmento normal para descompressão, seguida da cirurgia definitiva em três a nove meses. Tem sido realizado abaixamento do colon via endoanal como procedimento primário no período neonatal.

Anomalia anorretal Definição: Paciente com abertura anal localizada fora do complexo esfincteriano ou aqueles que não tem abertura anal no períneo. Classificação: A) Anomalia anorretal no sexo feminino A anomalia mais comum é a fístula vestibular, seguida pela fístula perineal. A terceira e mais complexa é a cloaca que é uma malformação na qual o reto, a vagina e o trato urinário unem-se e terminam num único canal comum.  

Anomalia anorretal B) Anomalia anorretal no sexo masculino: O defeito mais comum é a fístula reto-uretral seguida pela fístula reto perineal. As fístulas retovesicais representam apenas 10% das anomalias. O ânus imperfurado sem fístula representa apenas 5% em ambos os sexos é mais freqüente em crianças portadoras de síndrome de Down.

Anomalia anorretal Diagnóstico clínico: O diagnóstico é facilmente realizado pelo exame físico adequado – ectoscopia; Fístulas perineais podem ser muito pequenas e a visualização da saída de mecônio só deve ser esperada após 24 horas de vida; Deve-se procurar a presença de malformação em alça de balde que também sinaliza uma anomalia anorretal baixa; Ao nascimento, em meninos, colocar um algodão sobre o pênis para verificar se há fístula do reto com o sistema urinário.

Anomalia anorretal Diagnóstico radiológico: Após 24 horas, solicitar Rx de abdome (decúbito ventral com raios horizontais) para tentar verificar a altura do coto retal. Solicitar ainda Rx de coluna lombossacra ( as anomalias vertebrais correm muitas vezes em anomalias altas).

Anomalia anorretal Malformações associadas: As malformações urogenitais estão presentes em 20 a 54% dos casos e devem sempre ser investigadas; Outras malformações estão associadas em 25 a 54% dos casos e devem ser sempre investigadas: Anomalias do esqueleto (sacro) - 6-27%; Anomalias urogenitais - 20-54%; Anomalias cardiovasculares - 7-20%; Atresia de esôfago - 10%; Outras anomalias gastrintestinais - 15%; Miscelânea - 18%  

Anomalia anorretal Tratamento cirúrgico: Quando o paciente tem fístula perineal ou fístula vestibular o tratamento é feito em tempo único (anorretoplastia sagital posterior em um só tempo “mini-Peña” ou “cut-back”); Nos demais casos é realizada primeiramente uma colostomia em “dupla boca” – após nascimento; Depois de 3 a 6 meses passam por cirurgia e é realizada a anorretoplastia sagital posterior – Operação de Pena; Após 3 a 6 meses é feito o fechamento da colostomia.

Anomalia anorretal Prognóstico: Depende do tipo de anomalia. Quanto mais alta for a anomalia anorretal maior a chance de incontinência. As anomalias baixas têm maior chance de constipação; Cerca de 37,5% ficam totalmente continentes e até 25% dos pacientes apresentarão incontinência total.

Referência Obstruções intestinais Autor(es): Jaisa Maria Magalhães de Moura        Capítulo do Livro Assistência ao Recém-Nascido de Risco, ESCS, Brasília, 3ª Edição, 2013,pg.560-563