Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Estratégias para geração, adaptação e transferência de tecnologia para o desenvolvimento sustentável da agricultura familiar Marcelo Nascimento de Oliveira José Humberto Valadares Xavier José Luiz Fernandes Zoby

Agricultura Familiar Há limitada apropriação por parte dos agricultores familiares das tecnologias geradas pelas instituições de pesquisa. Extensão Produtor Pesquisa Difusão da tecnologia Adoção da tecnologia Geração de tecnologia

Enfoque de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) Experimentação em escala real e em estreita colaboração com os agricultores dos melhoramentos técnicos, econômicos e sociais dos sistemas de produção e das modalidades de exploração do meio (JOUVE e MERCOIRET, 1992). Projeto Silvânia: Uso do enfoque de P&D para promover o desenvolvimento da pequena agricultura na região Silvânia-GO

Metodologia: Análise e diagnóstico Experimentação de inovações Extensão e transferência Enfoque de P&D Diagnóstico rápido e dialogado Recursos naturais Sistemas de produção Organização social Restituição Planejamento participativo Ação Rede de Fazendas de Referência Apoio à organização dos produtores Avaliação dialogada

Diagnóstico inicial Sistemas de produção: milho, arroz e leite (venda de mão-de-obra). Diferentes tipos. Relação com o mercado: individual. Produto: leite. Organização social: comunidades (geográfica). Acesso a políticas públicas

Rede de fazendas de referência (RFR): Objetivos: Conhecer as práticas utilizadas pelos agricultores nos diferentes sistemas de produção. Conhecer os problemas que dificultam a produção. Testar, junto com os produtores, tecnologias que permitam contornar os problemas e melhorar os resultados dos sistemas de produção. Acompanhar e avaliar a evolução dos sistemas de produção. Retroalimentar a pesquisa.

RFR: acompanhamento baseado nas práticas: Estrutura da fazenda: terras, equipamentos, benfeitorias, tamanho da família, rebanho. Vendas e despesas. Informações sobre os cultivos: preparo de solo, adubação, plantio, capinas, colheita. Manejo do rebanho: alimentação, vacinas, medicamentos. Uso da mão-de-obra. Informações sobre as chuvas.

RFR: Raciocínio técnico X socioeconômico Figura: Produção de leite diária, número de vacas em produção e média por vaca e por dia em uma fazenda de referência do município de Silvânia-GO, no ano agrícola 1992/1993. Figura: Gastos para produção de leite em uma fazenda de referência do município de Silvânia-GO, no ano agrícola 1992/1993.

RFR: problemas identificados e tecnologias propostas Agricultura Pouca utilização de práticas conservacionistas. Preparo de solo tardio (grade). Baixa qualidade do plantio (densidade, sementes). Adubação abaixo das necessidades dos cultivos. Realização do controle de invasoras após o período crítico. Pecuária Deficiência de alimentação, sobretudo, na época seca. Baixo nível de mineralização do rebanho. Elevada mortalidade de bezerros. Agricultura Variedades de milho, arroz, mandioca. Manejo da fertilidade (calagem, adubação, adubação verde). Produção de arroz em tabuleiros. Produção de alimento para o gado: cana, milho para silagem, soja. Pecuária Germoplasma forrageiro. Suplementação do rebanho na seca: cana + uréia, silagem, concentrado. Pastejo rotativo. Bancos de proteína.

Tabela: Fases do processo ocorrido em Silvânia. Fatos marcantes 1986 a 1989 Projeto voltado à questão tecnológica Validação de tecnologias na rede de fazendas de referência (RFR). Trabalhos com comunidades tradicionais na esfera tecnológica. Constação: Embora a RFR permitisse uma boa compreensão da realidade, somente a melhoria dos sistemas de produção de forma isolada não era capaz de resolver os reais problemas enfrentados pela maioria dos agricultores. 1990 a 1994 Projeto agrega a noção de fortalecimento da organização dos agricultores como elemento de apoio ao desenvolvimento Fortalecimento do processo associativo no município. 1990: 03 associações  1992: 14 associações (Central de Associações). Acesso ao Fundo Constitucional do Centro-Oeste. Estruturação produtiva (leite). Montagem de um corpo técnico na Central de Associações. Realização de compras coletivas pela Central de Associações. 1995 a 1998 Projeto voltado ao desenvolvimento local com base na agricultura familiar Planejamento municipal (estruturação do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável - CMDRS). Políticas públicas locais: estradas, educação, … Realização das primeiras vendas coletivas. Novos dispositivos coletivos: grupos de maracujá e frango caipira. Encerramento do Projeto Silvânia. 1998… Consolidação do protagonismo das organizações dos agricultores Fundação de uma cooperativa (COOPERSIL) e maior relação com o mercado. CMDRS aumenta de importância. Acesso ao PRONAF infra-estrutura. Instalação da fábrica municipal de ração.

Resultados de pesquisa Definição de um “modelo” de tipificação. Criação de um dispositivo de P&D fundamentado nos tipos de sistemas de produção e numa rede de fazendas de referência. Caracterização funcional dos sistemas de produção. Validação técnica, econômica e social das tecnologias e registro da evolução dos sistemas de produção. Adaptação do planejamento estratégico participativo (PEP) para apoiar as organizações de agricultores familiares.

 Adoção de tecnologias. Resultados no meio rural Fortalecimento do associativismo: trinta associações e uma Central de Associações. Acesso ao crédito: matrizes leiteiras, calcário e equipamentos (comissão de compra). Melhoria na expressão de demandas em termos de infra-estrutura e educação. Estruturação de compras coletivas de adubos, sementes, farelo de soja e mistura mineral:  Adoção de tecnologias.

Quantidade comprada (saco 50 kg) Preço por saco de 50 kg (R$) Tabela: Resultados das compras coletivas de farelo de soja efetuadas pela Central de Associações de Silvânia-GO no ano de 1998. Meses Quantidade comprada (saco 50 kg) Preço por saco de 50 kg (R$) Compra coletiva Mercado Jan 19,85 Fev 19,70 Mar 17,08 Abr 17,00 Mai 2040 9,53 11,05 Jun 700 9,70 13,43 Jul 2120 10,50 Ago 10,52 12,93 Set 799 13,68 Out 1093 10,65 16,68 Nov 13,83 Dez 13,32 Total 7452 Fonte: Central de Associações de Pequenos Produtores Rurais do Município de Silvânia-GO.

Sistemas forrageiros Anos 1993 1994 1995 25 (100 %) 17 (100 %) Tabela: Evolução dos diferentes sistemas forrageiros encontrados nas fazendas de referência em Silvânia-GO (1993/1995). Sistemas forrageiros Anos 1993 1994 1995 1) Pastagem durante todo o ano. 16 (64,0 %) 9 (36,0 %) 2 (11,8 %) 2) Fornecimento de cana e capineira durante dois a 4 meses na seca para as vacas paridas (10 a 15 kg/cabeça/dia). 3 (12,0 %) 8 (32,0 %) 5 (29,4 %) 3) Fornecimento de cana e capineira durante 4 a 6 meses na seca para as vacas paridas (20 a 30 kg/cabeça/dia), aliado ao fornecimento de concentrado. 4 (16 ,0 %) 5 (20,0 %) 4) Fornecimento de silagem durante a época seca para as vacas paridas, aliado à utilização de concentrado. 2 (8,0 %) 3 (17,6 %) 5) Fornecimento de silagem e concentrado para as vacas paridas durante o ano todo e utilização de volumoso para o gado solteiro na seca. 0 (0,0 %) Total 25 (100 %) 17 (100 %) Fonte: Figuié, 2001.

Resultados Criação de uma comissão do leite em 1997 para negociação com os laticínios:  15% do frete pago pelo laticínio;  Melhor preço da região acrescido de R$ 0,01;  15% de acréscimo na cota do leite;  1% sobre o valor comercializado para a Central. Formação de um corpo técnico. Criação da Cooperativa dos Produtores de Silvânia e cooperativa de crédito. Leite, maracujá, frango caipira, produtos orgânicos.

5) Considerações finais Articulação entre inovações técnicas e sociais. O processo tecnológico teve como base as demandas identificadas e a utilização de referências locais. O desenvolvimento da agricultura familiar é também um processo de capacitação (tecnologia, gestão, políticas públicas). É necessária uma forte mudança na postura dos atores envolvidos. Um dos resultados mais importantes do Projeto Silvânia foi ter deflagrado o processo de conscientização coletiva da necessidade dos produtores buscarem soluções para os seus problemas, trazendo para si a responsabilidade dessa busca.