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03. Historicidade da ficção 2: o desenvolvimento da consciência da ficcionalidade do século XVI ao século XVIII.

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1 03. Historicidade da ficção 2: o desenvolvimento da consciência da ficcionalidade do século XVI ao século XVIII

2 Estrutura da aula 1 O final da Antiguidade 2 A Idade Média 3 O Renascimento e o século XVII 4 O século XVIII

3 1 O final da Antiguidade Poética de Aristóteles tem pouca repercussão até o renascimento Os significados de Póiesis e mímesis correspondem aproximadamente ao termo fictio (algo plasmado e personificado) no latim, da mesma raíz: figura As Metamorfoses de Ovídio (43 a.C.-17 d.C.) jogam amplamente com “fingere”, “fictio” e “figura”, começando com a primeira transformação do caos em cosmos por uma instância divina (Stierle, 382) Continua com a criação do homem por Prometeu

4 natus homo est, sive hunc divino semine fecit ille opifex rerum, mundi melioris origo, sive recens tellus seductaque nuper ab alto aethere cognati retinebat semina caeli. quam satus Iapeto, mixtam pluvialibus undis, finxit in effigiem moderantum cuncta deorum, pronaque cum spectent animalia cetera terram, os homini sublime dedit caelumque videre iussit et erectos ad sidera tollere vultus: sic, modo quae fuerat rudis et sine imagine, tellus induit ignotas hominum conversa figuras. Ovídio, Metamorphoses, I,79-88

5 O homem nasceu, seja que aquele mestre o criou do semente divino, o criador da figura melhor do mundo, seja que a terra, a jovem, recentemente separada do céu, guardava a semente. Pois o filho de Jápeto o misturou com a água da chuva, o plasmou a partir da imagem dos deuses. Deixou o homem levantar o olhar para as estrelas. A terra foi transformada do cru e sem forma, agora adornada com as figuras dos homens

6 Ovídio cria o mito de Pigmaleão, artista que, por desprezo pela amoralidade das mulheres cria uma estátua de marfim que é tão bonita e verdadeira que ele se apaixona por ela. Pela graça de Venus, ela começa a viver. (Met. X, 243-297) Outros mitos jogam com a duplicação, a reprodução, a representação de Narcisso (espelho), Alcíone (sonho), Circe (simulácro mágico) Hefaísto (obra de arte) Para Stierle (385), Ovídio se refere, implícitamente, com estes mitos à própria criação do poeta

7 Horácio: “carmina fingo” Virgílio: Ulisses é um “criador de engano” (“fandi fictor”) Luciano de Samósata (120-180), Vera história: Minha história é pura mentira Quintiliano (35-96), Institutio Oratoria: fictio e figura são elementos centrais da retórica; para convencer o juíz é necessário criar narrativas verossímeis É importante que sejam coerentes, não que sejam verdadeiras

8 2 Idade Média O cristianismo condena a poesia pagã como mentirosa e amoral: verdade somente cabe à Bíblia Para Sto. Agostinho (Confessiones), a Eneida é ilusão (poetica illa figmenta) e sedução para a vida carnal fingere é engano, para o ato da criação divina se usa formare Fictio é substituída pela alegoria: a interpretação estabelece a referência à verdade

9 Agostinho sobre a parábola do semeador “Si audis fictum, intelligis significative: fictum est. (...) Nondum autem fictum, sed non mendacium. Quare? Qui significat aliquid, quod fictum est, non te decipit. Quaerit intellegentem, non facit errantem.” (Sermones 89,6) Se você escuta este fingido, você entende que significa e que é fingido. (...) (neste caso) é fingido, mas não é mentira. Por quê? Porque significa algo diferente e não te engana.

10 Cultura latina e cultura vernácula Na tradição oral e pagã das tribos germânicas “repete-se” a situação pré-homérica da Grécia: é considerada “informação” sobre os antepassados A Canção de gesta francesa e a epopeia heróica alemã surgem desta tradição Para Jauss (427), “uma distinção entre verdade poética e histórica é alheia à época” que se manifesta ainda no conjunto de figuras históricas e míticas na Divina Commedia A igreja combate estas tradições e considera as canções heróicas “mentira”

11 O romance cavaleiresco Uma situação nova surge com o séc. XII: o romance de cavalaria (Rei Artur, o Sto. Graal) “Romanz” são inicialmente traduções do latim para a vernácula, incluindo as Historia Regum Brittaniae (Geoffrez de Monmouth, 1136) Os autores incorporam conscientemente elementos do maravilhoso e do sonho e são criticadas pela igreja O poeta Wace comenta ironicamente que ele “olhou a floresta mágica de Broceliande e não encontrou nada milagroso ali” (Jauss 428)

12 Chrétien de Troyes (1140-1190) Seus romances (Erec et Enide, Cligès, Le Chevalier de la Charette, Yvain, Perceval) apresentam uma nova “consciência” de ficcionalidade O autor sabe que a “bele conjointure” (bela junção de episódios) é obra dele Constituirá sua fama: “Des or comancerai l’estoire qui toz jorz mes iert an mimoire tant con durra crestiantez; de ce s’est Crestienz vantez.” Vou começar agora a história que se relembrará para sempre no Cristianismo, disso se orgulha Chrétien.

13 A tese de Jauss foi defendida por Haug (1990) e outros (Glauch): o romance de Chrétien não é uma alegoria, não permite a “tradução” em outro texto Crítica de Gumbrecht (1983) e Heinzle : Artur é considerado figura histórica Müller (2004) considera a dicotomia ‚ficção vs. realidade‘ pouco adequada para a Idade média – constata, sim, uma “exposição da ficcionalidade” nos romances de Artur – O autor da epopeia e do romance procedem de facto da mesma maneira – A apresentação difere: aqui se insiste na tradição, ali se reclama a “amplificatio” da história

14 Hartmann von Aue, descrição do cavalo de Enite : daz doch nie gehein man dehein schoenerz gewan noch solde beschouwen. (...) ouch tuot daz mînem sinne kranc, daz ich den satel nie gesach (...) alsô was sîn geschaft, daz von sîner meisterschaft ein werltwîser man, der aller dinge ahte kan, niht bezzers betrahte, que nenhum homem jamais ganhou um mais belo nem pude ver. Também me é impossível descrever a sela Ela foi feita de tal forma Que um homem experiente Que conhece todas as coisas Não podia ver coisa tão boa

15 Müller: Ficção na Idade média nunca é invenção livre, sempre tem uma ancoragem nas crenças coletivas das pessoas A referência não precisa ser a realidade factual, pode ser o imaginário coletivo: os ideais (do cavaleiro, da dama, do mártir etc.), os desejos A vida real apresenta um elemento de encenação (no serviço amoroso, nas aventuras) que converge com as ficções literárias Ambas podem expor sua ficcionalidade sem deixar de serem levadas a sério.

16 A lírica trovadoresca (Minnesang) e a Paixão fazem parte dessa ficcionalidade limitada: a voz do poema e os atores são percebidos como algo fingido, embora se refiram a elementos considerados reais e são levados a sério como representação verdadeira “Ficcionalidade deve ser graduada (“ist zu skalieren”). O momento do lúdico é decisivo. Um jogo está sendo separado da realidade, mas de grau diferente, e incorpora elementos da realidade de grau diferente. (...) O fato de certos elementos de ficções medievais foram considerados “factualmente verdadeiros” – embora não o sejam no sentido moderno – não impede que que eles tenham sido entendidos explicitamente ou implicitamente como ficcionais num sentido historicamente específico.” (Müller 311)

17 3 O Renascimento e o século XVII Nas versões em prosa do romance de Artur da Idade Média tardia se entrelaçam cada vez mais linhagens de narrativas milagrosas Na Itália, o desdobramento do romance de cavalaria nos poemas de Boiardo e Ariosto: Orlando innamorato (1484) e Orlando furioso (1516) colocam o fingimento na cena: a maga Alcina cria um mundo de aparências e falsidade que ilude os cavaleiros O hipogrifo se converte “em emblema da liberdade e do imprevisível com a qual o narrador se move no meio do imaginário” (Stierle 402) O narrador “assume” a voz de um cantor na feira pública e rompe ironicamente a ilusão da narrativa escrita

18 Romances do século XVI como Orlando furioso e Gargantua produzem mundos tão fantásticos que não se coloca a questão de um engano do leitor e a ilusão da realidade O romance não é tema as reflexões sobre a poesia Os autores renascentistas adotam a poética de Aristóteles com seus gêneros e a (mal entendida) doutrina da imitação da natureza Para Tasso, apoiado em Aristóteles, aqueles que “inventam o falso” nem sequer são poetas

19 Sir Philip Sidney: The Defense of Poetry (1579/95) Cresce um entendimento da especificidade da literatura como fonte de conhecimento “Now for the poet, he nothing affirmeth, and therefore never lieth. For, as I take it, to lie is to affirm that to be true which is false; so as the other artists, and especially the historian, affirming many things, can, in the cloudy knowledge of mankind, hardly escape from many lies. But the poet, as I said before, never affirmeth.”

20 Paralelamente na literatura alemã O gênero da “historia” pretende apresentar verdades Sob este rótulo se publicam relatos de viagens (Hans Staden, 1557) Lendas medievais como Melusine e Magelone Lendas contemporâneas como o “Fausto” (1587) O livro do Fausto contem elementos claramente ficcionais (para nós), mas o autor reclama verdade histórica A recepção imediata reclama “erros” e mentiras no texto A recepção do início do século XVII atribui ao livro um valor simbólico como aos mitos da antiguidade

21 A transição entre o gênero fantástico da idade média e do renascimento e o romance moderno é marcado no inglês com a mudança do termo: “romance” vira “novel” A continuação do modelo antigo no romance “galante” e “heróico” do Barroco: narrativas extensas, orientados por preceitos retóricos, objetivos de entretenimento e pedagogia Em Don Quijote tematiza-se: – o anacrônico do gênero antigo – uma atitude de recepção que não distingue entre realidade e ficção – os efeitos reais da ficção na realidade

22 “Candidatos” a “primeiro romance moderno” Miguel de Cervantes: Don Quijote (1605/1615) Madame de Lafayette: La princesse de Clèves (1678) Daniel Defoe: Robinson Crusoe (1719) Característica: – realismo do mundo inventado – consciência da ficcionalidade do mundo (?) – o mundo inventado oferece um modelo para refletir sobre o mundo real – a coerência interna do mundo inventado

23 Pierre Daniel Huet: Traité de l’origine des Romans (1670, inglês 1715), inicialmente prefácio para romance de Mme de Lafayette, localiza as origens do gênero no romance do helenismo (Heliodoro, Longos) “I call them Fictions, to discriminate them from True Histories; and I add, of Love Adventures, because Love ought to| be the Principal Subject of Romance. It is required to be in Prose by the Humour of the Times. It must be compos'd with Art and Elegance, lest it should appear to be a rude undigested Mass, without Order or Beauty.” [p.3-4]

24 “These Works [histories] are true in the Main, and false in some Parts. Romances, on the contrary, are false in the Gross, and true in some Particulars. [...| ] I mean, that Falsehood is so predominant in Romance, that it may be altogether False in Whole and every Particular.” [p.10] Continua um debate público sobre o perigo moral do consumo de romances Muitos romances ainda do século XVIII são publicados como relatos e o autor se firma como editor (Robinson Crusoe, 1719, Pamela 1740)

25 Richardson: Pamela. 1740 A Narrative which has its Foundation in Truth and Nature; and at the same time that it agreeably entertains, by a Variety of curious and affecting Incidents, is interely divested of all those Images, which, in too many pieces calculated for amusement only, tend to inflame the Minds they should instruct. The Second Edition. To which we prefixed, Extracts from several curious Letters written to the Editor on the subject.

26 O contexto histórico no séc. XVII e XVIII Na filosofia do primeiro iluminismo prepara-se a teoria das probabilidades (Fermat, Pascal) Leibniz (1646-1617) rompe com a ideia de um único mundo e abre o espaço para pensar inúmeros mundos possíveis A filosofia iluminista de Wolff a Kant desenvolve uma epistemologia que distingue as competências cognitivas: percepção, conhecimento difuso e conhecimento distinto A. G. Baumgarten apresenta a primeira teoria independente da estética e um modelo de ficção

27 Alexander G. Baumgarten: Aestetica (1750- 58) “Quae non totidem ideis sensimus, quot denuo cogitamus, quaque tamen sensitive cognoscenda sunt, sunt fingenda. Hinc Fictiones latius dictae perceptiones combinando praescindendoque phantasmata formatae, longe maximam pulcre cogitandorum partem constitunt. Ficta voluptatis causa sint proxima veris [Horácio]” (§ 505) O que não percebemos com tantas ideias com as quais o pensamos novamente, mas o que deve ser reconhecido sensualmente, deve ser fingido. Por isso, as ficções lato sensu, percepções que são formados pela combinação e separação de imaginações, constituem a maior parte daquilo que deve ser pensado de forma bela. O que se inventa por causa do divertimento deve estar próximo da verdade

28 A cognição difusa da estética é inferior a cognição racional, mas tem uma dignidade própria Os exemplos de Baumgarten provêm completamente da literatura clássica Distingue entre ficções históricas (elementos possíveis ) e ficções poéticas (impossíveis): a ira de Juno (poética) e a tempestade (histórica) na Eneida de Virgílio “Utopias” são a esfera de quimeras e outros seres fabulosos A ficção estabelece “o mundo dos poetas”

29 “Uma ficção poética que cria um novo mundo [...] completamente desconhecido [...] deve ter uma destacada probabilidade interna, uma ordem única daquilo que seja ainda mais belamente entrelaçado, uma harmonia da sucessão, uma conveniência que seduz os olhos com muita luz uma unidade ainda mais perceptível e, em geral uma beleza excepcional se ela, apesar de tudo, quer ser mantida e receber consentimento.” § 518

30 Schiller: Über die ästhetische Erziehung des Menschen (1793/95) Na sua reflexão sobre a alienação do ser humano, criada pelo processo da civilização e da separação da natureza, a beleza da arte é considerada a única esfera que permitiria a reintegração harmônica da razão e da sensação O modelo antropológico da arte é visto no jogo: “O homem joga somente quando ele é homem no sentido pleno da palavra e ele é somente plenamente homem quando ele joga.” (15ª carta)

31 Bibliografia B UNIA, R EMIGIUS. Faltungen. Fiktion, Erzählen, Medien. Berlin: Erich Schmidt, 2007. B AUMGARTEN, A LEXANDER G. Ästhetik. Tr. M IRBACH, D AGMAR. Hamburg: Felix Meiner, 2007. E SPOSITO, E LENA. Die Fiktion der wahrscheinlichen Realität. Frankfurt a. M.: Suhrkamp, 2007. F ISCHER, H ANS -E DWIN. "Fiktionalität im 18. Jahrhundert. Zur historischen Transformation eines literaturtheoretischen Konzepts." In Grenzen der Literatur. Zu Begriff und Phänomen des Literarischen, ed. W INKO, S IMONE, F OTIS J ANNIDIS e G ERHARD L AUER, 338- 73. Berlin, New York: De Gruyter, 2009. G ABRIEL, G OTTFRIED. "Fiktion [1997]." In Reallexikon der deutschen Literaturwissenschaft. Neubearbeitung. Band I. A-G, ed. W EIMAR, K LAUS, 594-98. Berlin, New York: de Gruyter, 2007.

32 G LAUCH, S ONIA. "die fabelen sol ich werfen an den wint - Der Status der arthurischen Fiktion im Reflex: Thomas, Gotfrid und Wolfram." Poetica 37 (2005): 29-64. H AFERLAND, H ARALD. "Gibt es einen Erzähler bei Wickram? Zu den Anfängen modernen Fiktionsbewusstseins." In Vergessene Texte - Verstellte Blicke. Neue Perspektiven der Wickram-Forschung, ed. M ÜLLER, M ARINA E. e M ICHAEL M ECKLENBURG, 361-293. Frankfurt a. M.: Peter Lang, 2007 J AUß, H ANS R OBERT. "Zur historischen Genese der Scheidung von Fiktion und Realität." In Funktionen des Fiktiven, ed. I SER, W OLFGANG, 423-31. München: Wilhelm Fink, 1983.

33 S CHILLER, F RIEDRICH. Über die ästhetische Erziehung des Menschen. In einer Reihe von Briefen. Stuttgart: Reclam, 1965. S CHMITT, A RBOGAST. Mímesis em Aristóteles e nos comentários da Poética no Renascimento: da mudança do pensamento sobre a imitação da natureza no começo dos tempos modernos. Ed. C OSTA L IMA, L UIZ, Mímesis e a reflexão contemporânea. Rio de Janeiro: Eduerj, 2010. S TIERLE, K ARLHEINZ. "Fiktion." In Ästhetische Grundbegriffe. Historisches Wörterbuch in sieben Bänden, ed. B ARCK, K ARLHEINZ, 380-428. Stuttgart, Weimar: Metzler, 2001.


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