O USO DA ASSOCIAÇÃO SEMÂNTICA COMO FERRAMENTA DE ANÁLISE DO TEXTO LITERÁRIO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID Fernando Laerty Ferreira da SILVA Orientadoras: Profª. Dra. Alessandra Castilho Ferreira da Costa (UFRN/PPgEL) Profª. Drª. Erica Reviglio Iliovitz (UFRN) 1. INTRODUÇÃO Este trabalho tem por objetivo identificar e analisar elementos coesivos na escrita literária, a exemplo do poema “O Corvo”, de Edgar Allan Poe. A análise concentra-se na expressão da relação de associação na versão do poema citado traduzida por Fernando Pessoa (1983). Nosso estudo baseia-se no modelo de análise proposto por Antunes (2005), que define coesão como o encadeamento linguístico-semântico dos textos. Essa continuidade é instaurada no texto a partir das relações textuais de reiteração, de conexão e de associação. Entendida como a ligação de sentido entre as palavras de um mesmo campo semântico, a associação é o recurso de coesão mais presente em todo gênero de texto (cf. Antunes 2005, p. 125). Com base nos instrumentos teórico-metodológicos dessa abordagem, o estudo identifica os campos semânticos que constituem os núcleos temáticos do texto em análise. A metodologia proposta pela autora pode trazer resultados positivos no ensino de leitura e produção de textos literários na escola, dado que o reconhecimento do núcleo semântico a que todas as partes do texto estão ligadas permite criar seu sentido. 2. MATERIAL DE ANÁLISE O Corvo de Edgar Allan Poe “Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça, Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais. Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento, Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais, Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais, Foi, pousou, e nada mais E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura Com o solene decoro de seus ares rituais. "Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado, Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais! Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais." Disse o corvo, "Nunca mais". Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro, Inda que pouco sentido tivessem palavras tais. Mas deve ser concedido que ninguém terá havido Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais, Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais, Com o nome "Nunca mais“. Trechos extraído de “O Corvo”, de Edgar Alan Poe 3.2 Identificação de subtópico secundário Figura 2: Núcleo Temático 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS No texto analisado, pudemos identificar, primeiramente, um núcleo temático, formado pelas palavras “grave”, “nobre”, “corvo”, “ave estranha”, “escura”, “tosquiado”, “ousado”, etc., ligadas ao campo semântico CORVO, tema central do texto. Além da identificação do núcleo temático, pudemos identificar um tópico secundário MUNDO ESPIRITUAL. A identificação do núcleo temático e do tópico secundário possibilita ao leitor a construção de sentidos metafóricos, próprios da linguagem literária. Desse modo, a relação de associação contribui para a construção da tessitura do texto, isto é, do encadeamento semântico desse poema, promovendo a continuidade do sentido. A análise da coesão por associação semântica no texto permite ao leitor perceber que a criação do sentido depende de seu próprio conhecimento de mundo, de sorte que o sentido do texto vai muito além de sua materialidade linguística. No dicionário, o lexema “corvo” é definido como “ave corvídea preta”. No texto analisado, a expressão adquire um significado sobrenatural, bem exemplificado no trecho: “Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais”. Portanto, o reconhecimento da ligação por associação facilita a interpretação dos textos literários. corvo Bicho PássaroPena Tosquiado Ave escura NobreAve Preta Mundo Espiritual Hostes Celestiais Trevas Infernais AgoureiraDemônioProfetaDiabo Tempos Ancestrais 3. ANÁLISE E DISCUSSÃO 3.1 Identificação do núcleo temático Figura 1: núcleo temático REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ANTUNES, Irandé: Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo: Parábola, COSTA VAL, Maria da Graça. “Texto, textualidade e textualização”. In: FERRARO, M. L. et al.Experiência e prática de redação. Florianópolis: Editora da UFSC, 2008, KOCH, IngedoreGrunfeld Villaça. A coesão textual. São Paulo: Contexto, PESSOA, Fernando. Poemas Dramáticos, Poemas Ingleses, Poemas Franceses, Poemas Traduzidos. São Paulo: Nova Fronteira, POE, Edgar Allan. A Filosofia da Composição. Tradução de Léa Viveiros de Castro. Rio deJaneiro: 7 Letras, p.