AVALIAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE MICROALGAS NOCIVAS EM CULTIVO DE MOLUSCOS BIVALVES: CONTRIBUIÇÃO PARA VERIFICAÇÃO DO RISCO DE CONTAMINAÇÃO HUMANA. (PUIC), Engenharia Ambiental. Rudá Pereira - PUIC. Elisa Helena Siegel Moecke - orientadora. Curso: Engenharia Ambiental; Grande Florianópolis - Ponte do Imaruim. Introdução A Enseada de Brito (Figura 1) é uma das três mais antigas comunidades formadas por açorianos no litoral catarinense e possui um grande potencial para a produção de ostras e mexilhões. A qualidade destes moluscos é afetada quando há florações de algas nocivas (na Figura 2 é possível observar a microalga Dinophysis acuminata, especifica deste estudo), principalmente na zona costeira onde geralmente são cultivados. Estes microrganismos aquáticos são filtradores e utilizam material particulado em suspensão na água como alimento. Quando espécies de microalgas tóxicas estiverem presentes, as ficotoxinas podem ser acumuladas nos tecidos desses animais e intoxicar seus consumidores, sendo eles os seres humanos ou organismos marinhos. Esse projeto tem expressiva importância socioeconômica e científica. Através dele poderá se estabelecer uma base de dados sobre a ocorrência de microalgas nocivas no ponto de estudo, permitindo inferir o risco a que os cultivos de moluscos estão sujeitos. Além disso, esses dados poderão ser usados para aperfeiçoar planos de amostragem para um futuro monitoramento permanente. Objetivos Objetivo Geral: Avaliar a incidência de microalgas nocivas em áreas de cultivo de ostras e mariscos na região da praia da Enseada de Brito (Palhoça/SC), como subsídio para a avaliação do risco de contaminação humana através do consumo de bivalves contaminados. Objetivos específicos: - Determinar a concentração de células de Phyrrophytas - dinoflagelados potencialmente nocivos em amostras de água coletadas em área de cultivo de ostras e mariscos; - Verificar o padrão de variação sazonal na concentração de dinoflagelados nocivos na área de estudo; - Avaliar uma possível correlação entre a ocorrência de dinoflagelados nocivos e fatores climáticos locais, como temperatura, direção e velocidade do vento, entre outros. Material e Métodos PROCEDIMENTOS DE COLETA: Amostragem: O local monitorado foi realizado quinzenalmente na praia da Enseada de Brito, localizada no município de Palhoça. Método de coleta e análise das amostras: Foi desenvolvida uma planilha, contendo dados de: data, hora, condições do tempo, temperatura da água e do ar, sendo preenchida devidamente em cada coleta. As amostras foram coletadas dentro de uma fazenda marinha, produtora de mariscos, em três pontos distintos, a uma profundidade média de 30 cm, utilizando uma garrafa de coleta tipo Niskin de 5 litros. No Laboratório de Engenharia Ambiental (LEA) da Universidade do Sul de Santa Catarina foram realizadas as devidas análises e contagem das microalgas. PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE: No laboratório as células presentes na água foram concentradas na fração de tamanho de 25 micrômetros (malha). Após a filtragem a malha contendo as microalgas, foi transferida para um frasco contendo 10 mL da amostra filtrada, ao qual foi adicionado 1 mL de solução de Lugol a 10 % (concentração final 1 %). Do frasco com 10 mL transferiu-se 1 mL para a placa Sedgwick. A placa foi mantida na geladeira para ocorrer a sedimentação e desta forma realizar a contagem dos Dinoflagelados ao microscópio. A contagem e a identificação das microalgas foram realizadas usando microscópio com magnificação de 100 a 250 vezes. Nas amostras também foram realizados os ensaios físico-químicos como: pH, alcalinidade, cloretos e turbidez. Os dados climáticos regionais foram obtidos em banco de dados de acesso público (EPAGRI). Resultados Na Tabela 1 estão apresentados os resultados referentes a presença da microalga Dinophysis acuminata durante as análises de setembro de 2008 a julho de E na Tabela 2 são apresentados os valores médios das análises físico-químicas. Observa-se que nas amostras onde foi identificada a microalga Dinophysis acuminata tem-se uma baixa turbidez e grande transparência da água. Na Tabela 3 estão apresentados os dados climáticos. Nas amostras com presença da microalga Dinophysis acuminata observa-se predominantemente a ocorrência de vento norte e nordeste, mar liso e dia nublado. Conclusões Com esse trabalho foi possível verificar a variação da incidência microalgas nocivas Dinophysis acuminata na região da praia da Enseada de Brito, durante o período de um ano. Nos dias em que o mar se apresentava liso, tempo nublado, baixos valores de turbidez e transparência da água foi identificada a incidência da microalga Dinophysis acuminata. A freqüência amostral e a estratégia reativa para a avaliação aqui proposta geraram resultados sobre a dinâmica nas oscilações de microalgas na região, como a freqüência ao longo do ano. O cultivo de moluscos (ostras, mariscos) está sendo cada vez mais incentivado no estado, como uma alternativa de renda para populações costeiras. No entanto, este incentivo à produção e ao consumo do produto não é proporcional aos esforços para a garantia da qualidade do mesmo. Os resultados obtidos neste projeto vêm de encontro a esta necessidade. Bibliografia ANDERSON, D.M. (1997) Turning back the harmful red tide. Nature, pp CARVALHO Pinto-Silva, C.R., Ferreira, J.F., Costa, R.H.R., Belli Filho, P., Creppy E.E., and MATIAS, W.G. (2003) Micronucleus induction in mussels exposed to okadaic acid. Toxicon 41: HALLEGRAEFF, G.M. (2003) Harmful agal blooms: a global overview. In Manual on Harmful Marine Microalgae. Hallegraeff, G.M., Anderson, D.M., and Cembella, A.D. (eds). Paris: UNESCO, p PROENÇA, L.A., Schmitt, F., Costa, T., and Rörig, L.R. Just a diarrhea? Evidence of diarrhetic shellfish poisoning in Santa Catarina, Brazil. Ciência e Cultura – Journal of the Brazilian Association for the Advancement of Science. 50, n.5, p , SMAYDA, T. J. Harmful algal blooms: Their ecophysiology and general relevance to phytoplankton blooms in the sea. Limnology Oceanogra, Apoio Financeiro: Unisul Figura 1 - Vista dos pontos de coleta na praia da Enseada de Brito, Palhoça/SC. Fonte: Autor, Figura 2 - Fotomicrografia da microalga Dinophysis acuminata com aumento de 200x. Fonte: Autor, Tabela 3 - Resultados referentes ao vento, condições do mar, condições do tempo um dia antes (D-1) e no dia da coleta (D), previsão para radiação ultravioleta (IUV) e tábua de marés. Tabela 1 – Média da densidade celular (cel. L-1) de Dinophysis acuminata no período de setembro de 2008 a julho de Fonte: Autor, Tabela 2 – Média dos resultados referentes às análises físico-químicas da água. * Não analisado Fonte: Autor, 2009.