Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético – NIPE

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Transcrição da apresentação:

Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético – NIPE Diminuição da capacidade de regularização dos reservatórios das usinas hidrelétricas no sistema elétrico nacional – o que fazer Sergio Valdir Bajay Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético – NIPE Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, SP

VOLUME ÚTIL Uma usina hidrelétrica (UHE) VOLUME MORTO reservatório barragem afluência NA MÁX VOLUME ÚTIL NA MIN VOLUME MORTO Hb Queda bruta Qtu reservatório CANAL DE FUGA Vazão turbinada

P = k. Hl. Q Uma UHE de baixa ou média queda Q EVAPORAÇÃO VERTIMENTO AFLUÊNCIA GERADOR P = k. Hl. Q N.A.min CASA DE FORÇA RESERVATÓRIO Hb Q CANAL DE FUGA CONDUTO FORÇADO DEFLUÊNCIA TURBINA TUBO DE SUCÇÃO Uma UHE de baixa ou média queda Hb = cota de montante - cota de jusante Hl = Hb – perdas hidráulicas na adução

UHEs e seus reservatórios - Algumas definições Todas UHEs têm reservatórios, pelo menos com o chamado “volume morto” As UHEs cujos reservatórios só possuem volume morto são chamadas “a fio d’água”. Nestes reservatórios, as vazões defluentes são iguais às vazões afluentes menos as perdas d’água por evaporação e infiltração Usinas que possuem um “volume útil” podem regularizar as vazões afluentes em ciclos diários, semanais, sazonais, ou plurianuais Esta capacidade de regularização pode ser usada só para aumentar a “energia firme”, ou “energia garantida” de um parque gerador de energia elétrica, ou ela também pode ser empregada para produzir benefícios em outros usos da água, como o suprimento de água para cidades, irrigação, controle de cheias, navegação fluvial, recreação, etc. (reservatórios de uso múltiplo)

Por que praticamente só usinas hidrelétricas a fio d’água foram construidas nas duas última décadas Como boa parte dos impactos ambientais e sociais associados à construção de usinas hidrelétricas são proporcionais à area alagada pelo reservatório e como tem havido forte oposição, dentro do País e também por parte de ONGs estrangeiras, á construção de tais usinas, os técnicos e dirigentes das grandes empresas estatais geradoras do setor elétrico brasileiro criaram uma verdadeira cultura de só construirem usinas hidrelétricas a fio d’água, esperando, com isso, facilitar a viabilização de tais obras A maior parte do potencial hidrelétrico remanescente no Brasil se localiza na região amazônica, cuja topografia não é, em geral, favorável à construção de grandes reservatórios de regularização plurianual. Isto tem sido apresentado como a principal justificativa para a manutenção desta cultura ao longo dos anos. Naquela região, no entanto, há sítios favoráveis para a construção de reservatórios de regularização (Altamira no rio Xingú, Chacorão no rio Tapajós, Guajará Mirim no rio Madeira, etc.), além de sítios favoráveis em outras regiões do País

Não se tem construido mais UHEs com reservatório de regularização Problema Não se tem construido mais UHEs com reservatório de regularização Redução na capacidade de regularização do Sistema Interligado Nacional (SIN) Queda na eficiência no uso dos recursos hídricos Despacho frequente de UTEs com elevados custos operacionais Aumento nas emissões de GEEs Elevação no custo de geração

A questão do uso múltiplo da água dos reservatórios de UHEs no Brasil Ações pontuais tem sido adotadas e sem articulação com os setores econômicos que farão uso dos serviços Apesar desta falta de articulação, existem casos de sucesso UHEs implantadas no rio São Francisco elevaram a área irrigada em 320.000 hectares no “polígono das secas” A UHE Furnas proporcionou a realização de diversos projetos nas áreas de esportes aquáticos, turismo e lazer, trazendo benefícios para a economia local, relativamente pouco desenvolvida. São 34 municípios ribeirinhos beneficiados A eclusa agregada à UHE Barra Bonita, além de ser uma atração turística regional, assumiu um importante valor econômico por viabilizar a hidrovia Tietê-Paraná

Quais são os principais fatores que passarão a delimitar as alternativas para expansão do sistema elétrico brasileiro? Resistências de caráter sócio-ambiental à construção de novas usinas hidrelétricas de médio e grande porte Disponibilidade e preço do gás natural Evolução da produção de álcool e açúcar no País (cogeração com bagaço da cana) Redução dos custos das tecnologias que permitem a geração de energia elétrica a partir do carvão mineral com baixo impacto ambiental Sucesso no desenvolvimento da terceira e quarta gerações de usinas nucleares Maior aproveitamento, para geração de energia elétrica, de resíduos urbanos, industriais, agrícolas e florestais Redução dos custos unitários de geração de diversas formas de geração distribuída

Complementação térmica com usinas de baixo custo operacional e/ou a construção de usinas hidrelétrica com reservatórios de regularização No Brasil existem casos de complementação entre modos de geração empregando fontes renováveis de energia: geração hidrelétrica e cogeração com bagaço de cana-de-açúcar na região Sudeste, e geração hidrelátrica e geração eólica na região Nordeste No entanto, para “firmar” boa parte da energia produzida por novas usinas hidrelétricas “a fio de água”, como as que estão sendo construídas, é necessária a complementação com usinas termelétricas consumindo combustíveis fósseis, biomassa ou resíduos, ou, ainda, usinas nucleares, todos operando na base da curva de carga do SIN Outras formas de geração a partir de fontes intermitentes, como a energia eólica e a energia solar, também requerem este tipo de “complementação térmica”, ou, então, a construção de usinas hidrelétricas com reservatórios de regularização

Alguns desafios pendentes no planejamento energético brasileiro Apesar do progresso dos últimos anos, o planejamento energético no Brasil ainda possui diversas limitações Inúmeros agentes do setor elétrico brasileiro têm reclamado que as simulações efetuadas pela EPE com o modelo Newave não tem representado todas as restrições operacionais definidas pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) e simuladas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) na elaboração do seu plano de operação de longo prazo; i.e., não há a necessária coordenação entre os planejamentos da operação e da expansão do sistema interligado nacional O procedimento utilizado pela EPE para calcular o índice de custo-benefício empregado para classificar os projetos candidatos durante os leilões de “energia nova”simula a operação de todo o sistema interligado só durante os primeiros anos de operação das usinas candidatas e emprega diferentes bases de dados de entrada para cada um dos principais parâmetros envolvidos no cálculo do índice de custo-benefício

Alguns desafios pendentes no planejamento energético brasileiro Resulta deste procedimento um viés que favorece usinas termelétricas flexíveis, que “supostamente” irão operar, por exemplo, só 10 - 20% do tempo, em detrimento de usinas que precisam, por razões técnico-econômicas, operar com fatores de capacidade mais elevados, como as usinas nucleares e as usinas que consomem carvão nacional e precisam cumprir cláusulas tipo “take or pay” em seus contratos de suprimento de carvão Este viés é um problema, na medida em que todos os tipos de usinas termelétricas serão despachados com mais freqüência no futuro, devido às parcelas decrescentes de capacidade de geração hidrelétrica e, sobretudo, de capacidade de armazenamento de água nos reservatórios destas usinas Leilões específicos para usinas que irão operar na base da curva de carga do SIN, com baixos custos operacionais, terão que ser introduzidos na atual sistemática de leilões de “energia nova”

Novas usinas hidrelétricas com reservatórios de regularização A construção de novas usinas hidrelétricas, com ou sem reservatórios de regularização, vis-à-vis as alternativas disponíveis, que devem contemplar usinas termelétricas de baixo custo operacional atendendo a base da curva de carga, precisa ser amplamente discutida e avaliada pela sociedade brasileira A regulamentação das condições para a construção de usinas hidrelétricas, com ou sem reservatórios de regularização, em terras indígenas precisa ser urgentemente estabelecida pelo Congresso Nacional Os sítios tecnicamente mais favoráveis para a construção de grandes reservatórios de regularização plurianual já foram utilizados, ou então, não mais são viáveis do ponto de vista econômico e/ou ambiental. Ainda há, no entanto, sítios favoráveis para a construção sobretudo de reservatórios de regularização sazonal, mesmo na Amazônia A construção de novos reservatórios de regularização sazonal, ou plurianual, deve privilegiar empreendimentos de uso múltiplo da água no contexto de projetos de desenvolvimento regional, onde os benefícios locais facilmente podem suplantar os impactos sociais e ambientais negativos destas obras

Obrigado pela atenção bajay@fem.unicamp.br