MMetafísica e mitologia

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
DE PLATÃO A ARISTÓTELES
Advertisements

Dois modos de ler a Bíblia.
Filosofia O amor ao saber Prof. Alan Carlos Ghedini
Grupo:4 Xenófanes de Cólofon
A Concepção Objetiva da Arte
Filosofia moderna Kant (Idealismo)
Georg Wilhelm Friedrich Hegel
FILOSOFIA.
Filosofia A história do pensamento filosófico pretende atingir pelos menos três níveis além do simples “o que” disseram os filósofos ( doxográfico ), buscando.
ESADE – Graduação em Direito 2011/II
Platão e a Teoria das Idéias
Conhecimento Verdade e validade Tipos de conhecimento
Filosofia Prof. Everton da Silva Correa.
“a alma grega não envelhece”
FILOSOFIA 10ºANO Módulo inicial I – Iniciação à actividade filosófica
Divisões da Filosofia.
Filosofia.
Fenomenologia Edmund Husserl ( ).
ARTE & MITOLOGIA/7.
O Poder da Ilusão Darryl Anka.
A Origem da Filosofia A palavra filosofia é Grega: deriva de Philo = amizade, amor fraterno, respeito; e Sophia = sabedoria, Sophos = sábio. Significa,
Aristóteles e o mundo sensível
O que é? Para que serve? Filosofia Prof. Joaquim Célio de Souza.
Teorias do conhecimento
Aula 9 Teoria do Conhecimento Profa. MSc. Daniela Ferreira Suarez.
FILOSOFIA & SOCIOLOGIA
HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA I.
Aula 2: Pré-socráticos – o início do pensar filosófico.
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Platão e o mundo das Ideias
O Desejo.
1ª aula Profª Karina Oliveira Bezerra
22/08/2031 Profª Karina Oliveira Bezerra
As possibilidades e os limites da razão
Vivendo cristo hoje A vida cristã e as transformações sociais
O QUE É FILOSOFIA ?.
FILOSOFIA 3ª SÉRIE E.M. IDEALISMO ALEMÃO.
Trabalho do Grupo 4 Xenófanes de Cólofon. Xenófanes de Cólofon (cerca de 570 a.C a.C.) filósofo grego que nasceu em Cólofon, na Jonia. Acredita.
A Fenomenologia de Husserl e a Crítica ao Conhecimento Positivista:
Curso de Geografia Epistemologia – conceitos gerais
FILOSOFIA.
O QUE É FILOSOFIA? A FILOSOFIA É UM MOVIMENTO DE PENSAMENTO LÓGICO RACIONAL SURGIDO NA GRÉCIA NOS SÉCULOS VII E VI a.C, QUE TINHA COMO OBJETIVO EXPLICAR.
Introdução filosófica ao judeu-cristianismo Delmar Cardoso
O PENSAMENTO MODERNO: RACIONALISMO X EMPIRISMO
CIÊNCIA E CIENTIFICIDADE
Kant O que posso saber? (teoria do conhecimento)
Bolsistas: Daniela, Bárbara, Deivison, Fernando, Raphaela e Gilberto 2015.
Professor: Suderlan Tozo Binda
O Neopositivismo e o Círculo de Viena
FILOSOFIA.
Ética contemporânea (Séculos XIX e XX)  A reflexão ética cotemporânea se desdobrou numa série de concepções distintas acerca da moral e a sua fundamentação;
Surgimento do pensamento filosófico
FILOSOFIA AULA 1 Do Mito à Filosofia
LUDWIG FEUERBACH Deus é a essência do homem projetada em um imaginário ser transcendente. Também os predicados de Deus (sabedoria, potência,
Prof. Suderlan Tozo Binda
Ética contemporânea (Séculos XIX e XX)
Questões Questões para a compreensão do texto “O IDEALISMO ÉTICO: FICHTE”
ARISTÓTELES * Aluno de Platão por 20 anos, interessou-se justamente pelas mudanças que hoje denominamos de processos naturais; * Enquanto Platão era poeta.
O que é filosofia?.
A PESSOA: As ideias sobre os valores e sua hierarquia permitem: Refinadas análises críticas do subjetivismo ético no mundo moderno Delineamento agudo da.
A METAFISICA OCIDENTAL COMO ESQUECIMENTO DO SER E A LINGUAGEM DA POESIA COMO LINGUAGEM DO SER Heidegger.
Filosofia Moderna.
Período Cosmológico ou Período Naturalista
Professora luciana miranda
Profª Luciana Miranda A tradição hegeliana.
O N E O P O S I T I V I S M O Objetivos
Capítulo 4 – Filosofar é conhecer
O PENSAMENTO MODERNO: RACIONALISMO X EMPIRISMO O FUNDAMENTO DA FILOSOFIA CARTESIANA – René Descartes, o pai da Filosofia Moderna Direito 5º Ano Professor:
Kant e a Filosofia Crítica
Aristóteles de Estagira
Transcrição da apresentação:

MMetafísica e mitologia      1. A metafísica e a consciência “ontónoma” (≠ autónoma; do grego: to on: “o Ser”) 2 .     O fracasso da autonomia perante o dado absoluto 3 3.     Orfeu, a consciência de si e o pecado original

Metafísica: O projecto do pensar o mundo como mundo. 1. Parménides: to eon 2. Heraclito: logos 3. Platão: anhypotheton = henologia (do grego: to hen = o uno)

Consciência ontónoma: “A mesma coisa é pensar e é por isso que há pensamento. Pois sem o Ser, em que o pensar está expresso, não encontrarás o pensar.” (Parménides, fr. 8, 34-36)

A consciência de si própria: Platão: “ciência da ciência” (epistêmê epistêmês) (Charmides) Aristóteles: “pensamento do pensamento” (noêseôs noêsis) (Metafísica) Neoplatonismo: “auto-consciência como consciência ontónoma” (ousiôdês noêsis)

Consciência autónoma: Epistemologia como prima philosophia (Descartes) Filosofia da subjectividade → idealismo absoluto: “A substância (o Ser) como sujeito” (Hegel, Prefácio à Fenomenologia do espírito) A subjectividade absoluta: “Círculo de círculos” (Hegel, Ciência da lógica)

Totalidade: “O todo é unidade” (hen to pan)

“Não é o ofício de poeta narrar o que aconteceu; é, sim, o de representar o que poderia acontecer [hoia an genoito], quer dizer: o que é possível segundo a verosimilhança e a necessidade. [...] Por isso a poesia é algo de mais filosófico e mais sério do que a história.” (Aristóteles, Poética, 1451a36ff.)

Hans Blumenberg (1920-1996): 1. "Wirklichkeitsbegriff und Wirkungspotential des Mythos" ("Conceito da realidade e eficácia do mito", 1971) 2. "Arbeit am Mythos" ("Trabalho no mito", 1979) → Mitologia: eterno retorno do mesmo como estrutura do culto. A consciência de si é um círculo mitológico. Nunca houve a passagem do mito ao logos. A metafísica ainda trabalha no mito.

Xenófanes de Colofone (Séc VI a.C.) Crítica da mitologia: “Homero e Hesíodo atribuíram aos deuses tudo quanto entre os homens é vergonhoso e censurável, roubos, adultérios e mentiras recíprocas.” (fr. 11)          “Mas os mortais imaginam que os deuses foram gerados e que têm vestuário, fala e corpos iguais aos seus.” (fr. 14)    

“Mas se os bois e os cavalos ou os leões tivessem mãos ou fossem capazes de, com elas, desenhar e produzir obras, como os homens, os cavalos desenhariam as formas dos deuses semelhantes à dos cavalos, e os bois à dos bois, e fariam os seus corpos tal como cada um deles o tem.” (fr. 15)  

22. A invenção do deus filosófico: -         “Um só deus [heis theos], o maior entre os deuses e os homens, em nada semelhante aos mortais, quer no corpo quer no pensamento [noêma].” (fr. 23) -         “Todo ele vê, todo ele pensa [noei] e todo ele ouve.” (fr. 24) “Permanece sempre no mesmo lugar, sem se mover; nem é próprio dele ir a diferentes lugares em diferentes ocasiões, mas antes, sem esforço, tudo abala com o pensamento do seu espírito [noou phreni].” (fr. 25f.)

→ modelo “alegórico” (no sentido literal: “dizer [agoreuô] outra coisa [allo]”).

-         Kurt Hübner: “Die Wahrheit des Mythos” (“A verdade do mito”, 1985) -         “A filosofia grega recebeu as suas questões fundamentais da herança mítica. O Logos não surgiu do nada, mas foi-se formando ao ocupar-se com o mito. Deste modo, transformou o mito, mas não o eliminou radicalmente. Sem tomarmos em consideração as suas raízes míticas não conseguimos compreendê-la.” (p.150)

Wolfram Hogrebe (1940*) 1. “Orphische Bezüge” (“Referências órficas”, 1997) 2. “Metaphysik und Mantik. Die Deutungsnatur des Menschen (Système orphique de Iéna)” (“Metafísica e mântica. A natureza interpretativa do homem (sistema órfico de Iena)”, 1992) → Def. “referência órfica”: auto-referência da consciência a uma actividade consciente, cujo funcionamento pressupõe que a consciência não se refere às suas próprias actividades.

Iintentio recta ≠ intentio obliqua. -        Se a consciência de si própria é intencional, i.e., se tem a estrutura de sujeito-objecto, conduzir-nos-á a uma referência órfica. Ccuidado: publicidade ! → A mesma ideia subjaz à teoria da auto-consciência da chamada “escola de Heidelberg” (Dieter Henrich, Ernst Tugendhat, Manfred Frank e outros). A intimidade da consciência de si própria não pode ser reflexiva.

Dieter Henrich: “Fichtes ursprüngliche Einsicht” (“A intuição original de Fichte”, 1967) Cf. recentemente: Gunnar Hindrichs: “Negatives Selbstbewußtsein” (“Autoconsciência negativa“, 2002). Manfred Frank: “Selbstgefühl. Eine historisch-systematische Erkundung” (“Sentimento de si. Uma pesquisa histórico-sistemática”, 2002).

Heidegger da última fase: “Beiträge zur Philosophie (Vom Ereignis)” (“Contribuições para a filosofia (Do evento)”, publicado: 1989): O pensamento metafísico como auto-explicação do Ser. A palavra alemã “Er-Eignis” tem dois sentidos (só em Heidegger!): Evento, acontecimento A-propriação (“Selbstwerdung”).

Apenas um Deus nos conseguirá salvar. (Heidegger) Entrevista na revista “Der Spiegel” (23.9.1966; publicado 1976): Apenas um Deus nos conseguirá salvar. (Heidegger) (Nur noch ein Gott kann uns retten)

Conclusão (contra o ponto de partida transcendental da escola de Heidelberg, mas com Schelling e Hogrebe): A consciência de si própria não pode fornecer o fundamento da filosofia. Ao invés, a consciência de si própria deve ser entendida como auto-explicação da mitologia sob pena de aceitarmos uma interpretação alegórica da mitologia.