CSO 001 – Introdução à Sociologia

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Transcrição da apresentação:

CSO 001 – Introdução à Sociologia Aula 11 auladesociologia.wordpress.com dmitri.fernandes@ufjf.edu.br

Norbert Elias (1897-1990) Sociólogo judeu-alemão que teve que deixar seu país durante a Segunda Guerra Mundial. Obra foi tardiamente reconhecida como digna de atenção (década de 1960) devido à ênfase dada somente à estrutura nos anos anteriores. Foi professor na Inglaterra (Leicester) durante boa parte de sua vida. Entre suas principais obras encontram-se O Processo Civilizador, A Sociedade de Corte, Estabelecidos e Outsiders e A Sociedade dos Indivíduos.

Afinal, o que é sociedade? É somente um punhado de indivíduos juntos? Há desenvolvimento consciente por parte daqueles que formam a sociedade? Ela é um produto do planejamento racional de indivíduos? A estrutura e as transformações históricas presenciadas pela sociedade dependem ou independem das intenções daqueles que a formam?

Respostas Díspares 1 – Sociedade e seus organismos são produtos de ação racional e deliberada de indivíduos; deve-se procurar saber quem criou originalmente essas instituições. 2 – Sociedade é concebida como entidade orgânica, substancial, supra-individual, independente daqueles que a compõem.

Resultados da separação Disciplinas científicas que se voltam ao estudo ou do indivíduo, de sua psiquê, ou das estruturas sociais. Abismo intransponível entre esses dois fatores. A ausência de modelos conceituais e de uma visão global que possam tornar compreensível como um número de indivíduos forma algo maior e diferente de uma coleção de indivíduos isolados. Visão de que a sociedade não tem um desenvolvimento próprio, independente do arbítrio dos indivíduos.

Meios e fins Aristóteles, Gestalt e o todo que é diferente da soma de suas partes. Entra neste ponto questão primordial, cuja base é política: a sociedade é o fim e os indivíduos são meros meios para realizá-la ou , ao contrário, o indivíduo é quem deve ser resguardado? Por fim: liberdade ou igualdade?

Resposta do Elias “Só pode haver uma vida comunitária mais livre de perturbações e tensões se todos os indivíduos dentro dela (sociedade) gozarem de satisfação suficiente; e só pode haver uma existência individual mais satisfatória se a estrutura social pertinente for mais livre de tensão, perturbação e conflito” (P. 17). Há uma ligação entre a discrepância que se faz em nosso pensamento e a discrepância que vivenciamos na prática, as contradições entre exigências sociais e as necessidades individuais.

Uma Nova Proposta “Mas e se uma compreensão melhor da relação entre indivíduo e sociedade só pudesse ser atingida pelo rompimento dessa alternativa ou isto /ou aquilo, desarticulando a antítese cristalizada?” (P. 18). “Considerados num nível mais profundo, tanto os indivíduos quanto a sociedade (...) são igualmente desprovidos de objetivo. Nenhum dos dois existe sem o outro. Antes de mais nada, na verdade, eles simplesmente existem.” (P. 18).

Pergunta sociologicamente bem-feita “Como é possível (...) que a existência simultânea de muitas pessoas, sua vida em comum, seus atos recíprocos, a totalidade de suas relações mútuas deem origem a algo que nenhum dos indivíduos, considerado isoladamente, tencionou ou promoveu, algo de que ele faz parte, querendo ou não, uma estrutura de indivíduos interdependentes, uma sociedade?” (P. 19).

A solução está na relação Não é a questão de se indivíduo é mais importante, se ele precede ou não a sociedade: o que vale saber é como se estabelece e se desenvolve a relação de interdependência. Ideia de que indivíduo, por ser um ente real, é a unidade de análise da sociologia, ao passo que a sociedade não passa de uma abstração, de um conceito, é errônea, assim como é errônea ideia de que sociedade é um todo harmonioso, completo, estático. “[A sociedade] Trata-se, na verdade, de um fluxo contínuo, uma mudança mais rápida ou mais lenta das formas vivas (...)”. (P. 20).

Há fluidez, porém também há fixidez Profissões, propriedades pessoais, imóveis, identidades, locais, funções, rendas são marcadores que “prendem-nos” a uma determinada figuração. “A ordem invisível dessa forma de vida em comum, que não pode ser diretamente percebida, oferece ao indivíduo uma gama mais ou menos restrita de funções e modos de comportamento possíveis. (P. 21).

Rede de interdependência I “Cada pessoa que passa por outra, como estranhos aparentemente desvinculados na rua, está ligada a outras por laços invisíveis, sejam estes laços de trabalho e propriedade, sejam de instintos e afetos. (...) Ela vive e viveu desde pequena, numa rede de dependências que não lhe é possível modificar ou romper pelo simples giro de um anel mágico, mas somente até onde a própria estrutura dessas dependências o permita; vive num tecido de relações móveis que a essa altura já se precipitaram nela como seu caráter pessoal.” (P. 22).

Rede de interdependência II “Entretanto, esse arcabouço básico de funções interdependentes, cuja estrutura e padrão conferem a uma sociedade seu caráter específico, não é criação de indivíduos particulares, pois cada indivíduo, mesmo o mais poderoso (...) é representante de uma função que só é formada e mantida em relação a outras funções, as quais só podem ser entendidas em termos da estrutura específica e das tensões específicas desse contexto total”. (P. 22).

Rede de interdependência III “É a essa rede de funções que as pessoas desempenham umas em relação às outras, a ela e nada mais, que chamamos ‘sociedade’. Ela representa um tipo especial de esfera. Suas estruturas são o que denominamos ‘estruturas sociais’. E, ao falarmos em ‘leis sociais’ ou ‘regularidades sociais’, não nos referimos a outra coisa senão isto: às leis autônomas das relações entre as pessoas individualmente consideradas” (P. 23).

Proposta de análise de Elias Não partir do indivíduo como unidade de análise, pois isso é reforçar procedimentos oriundos do senso comum. Se em ciências exatas ou biológicas é normal se partir do mais comum ao mais complexo, em sociologia e ciências humanas, não, pois lidamos com objetos históricos, não estáticos, fluidos, funcionais e interdependentes. As regularidade encontradas nas relações humanas são de ordem distinta das regularidades das substâncias inanimadas.

Hábitos mentais Para a correta equação do problema, devemos combater os hábitos mentais arraigados que nos fazem pensar indivíduo e sociedade em termos de substâncias separadas, isoladas e únicas. Devemos, sim, pensar em termos de relações e funções de interdependência, algo mais complexo do que estamos acostumados. Ou, nas palavras de Elias, “o que se faz necessário é uma revisão fundamental de toda a composição tradicional da autoconsciência”. (P. 26).

Uma única origem? Elias critica os mitos de origem que estabelecem uma única figura primitiva, um “pai originário”. Esconde-se, dessa forma, que todos somos parte de cadeia ininterrupta de pais e filhos; nascemos em grupo já existente antes de nós, e nos constituímos enquanto indivíduos sob a condição de nos inserirmos em uma figuração social. Há relação de interdependência desde o berço.

Maleabilidade É em sociedade que as crianças, criaturas com funções mentais mais maleáveis, transformam-se em seres complexos: em indivíduos adultos. É em um grupo que se aprende a fala, que se torna sagaz, que se aprende a controlar os instintos de uma ou outra maneira. Tais funções dependem, por sua vez, da estrutura do grupo em que a criança cresce e da posição ocupada por ela nesse grupo. Individualidade é algo que só se tornou possível em uma sociedade diferenciada, como a nossa.

Natureza biológica X Social Para Elias, a natureza genética, biológica ou o que for nesse sentido não confere de antemão características específicas às pessoas. Pode haver uma profusão de individualidades possíveis a uma criança, a depender da estrutura de relações e da posição que ela ocupa na sociedade. “O modo como essa forma realmente se desenvolve, como as características maleáveis da criança recém-nascida se cristalizam, gradativamente, nos contornos mais nítidos do adulto, nunca depende exclusivamente de sua constituição, mas sempre da natureza das relações entre ela e as outras pessoas” (P. 28).

Fenômeno reticular Indivíduos se moldam e remoldam mutuamente. As pessoas crescem, envelhecem e morrem em sociedade. Entram, se desenvolvem e saem dentro de um formato já legado por gerações passadas. Indivíduo é resultado da forma pela qual instintos e afetos foram sendo continuamente correspondidos e satisfeitos pelos outros. E isso muda em cada sociedade, no tempo e no espaço. Cada indivíduo, enfim, adquire sua marca individual a partir da história da rede humana na qual ele se insere. É uma prova encarnada da existência da sociedade.