José Irineu Rangel Rigotti (Professores da PUC Minas)

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Transcrição da apresentação:

José Irineu Rangel Rigotti (Professores da PUC Minas) DINÂMICA E CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO DA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE - 1960/2000 André Junqueira Caetano José Irineu Rangel Rigotti (Professores da PUC Minas)

1.      INTRODUÇÃO entre 1960 e 1970, a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) cresceu a uma taxa de 6,3% ao ano - um crescimento que virtualmente dobrou a sua população naquela década Este incremento, demograficamente vertiginoso, da RMBH se arrefeceu nas décadas seguintes, conseqüência de mudanças importantes na dinâmica demográfica

Por um lado, a fecundidade brasileira declinou acentuadamente a partir de 1970, primeiramente e, sobretudo, em suas principais áreas urbanas. Por outro lado, o papel dos fluxos migratórios rural-urbanos declinou, ao passo que os movimentos de origem e destino urbanos tornaram-se cada vez mais importantes No caso dos fluxos urbano-urbanos, deve-se levar em conta não somente aqueles com destino ou origem externos à RMBH, mas também os movimentos migratórios intrametropolitanos

OBJETIVOS Discutir o crescimento demográfico da RMBH entre 1960 e 2000, com ênfase no período 1991-2000, contextualizando o papel da fecundidade e da migração. Neste sentido, destacamos o declínio da fecundidade e a continuada, porém modificada, importância da migração

2. CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO DA RMBH em 1970 os municípios com 100.000 e mais habitantes concentravam mais da metade da população urbana brasileira, perfazendo quase 28 milhões de pessoas, ou 30% da população brasileira, naquele ano. Destas, 4,8% residiam nos municípios de Belo Horizonte e Contagem. Apesar de o número de municípios da RMBH com 100.000 e mais habitantes ter aumento de dois em 1970 para seis em 2000, a participação destes municípios na população urbana do país caiu para 4% em 2000.

Decompondo o crescimento entre pólo e demais municípios, a taxa de crescimento anual de Belo Horizonte nos anos 1950 foi 7%, contra 3,4% do conjunto dos demais municípios, resultando em um crescimento da RMBH de 5,9% ao ano (Tabela 1) O papel da migração vai se tornar ainda mais proeminente a partir do decênio seguinte, porém com uma inversão dos papéis do núcleo e dos demais municípios no protagonismo do crescimento populacional da região metropolitana

A partir de 1970, as taxas de crescimento populacional brasileiras, que se mantiveram relativamente estáveis nas décadas de 1950 e 1960, iniciam uma tendência continuada de queda. A mortalidade assumiu um ritmo mais lento de queda a partir de 1980, influindo pouco nas variações das taxas de incremento populacional Se o país chegou à fecundidade de reposição em 2004, a TFT do município de Belo Horizonte estava abaixo deste nível já no início da década de 1990. Os números são 1,95 filho por mulher em 1991 e 1,65 em 2000

Como seria de se esperar, o crescimento populacional dos demais municípios da RMBH não foi homogêneo: os municípios com grau de integração muito baixo apresentaram um crescimento bastante pequeno ao longo dos trinta anos em questão Os municípios do grupo de baixa integração tiveram um incremento importante no ritmo de crescimento de sua população devido ao crescimento dos municípios de Mateus Leme nas três décadas, Rio Acima no período 1980-91 e Brumadinho no período 1991-00. Mas esta categoria representava apenas 1,8% da população da RMBH em 2000, patamar alcançado em 1980 (Tabela 3).

Os municípios de grau médio de integração, por sua vez, apresentaram, no seu conjunto, taxas de crescimento altas, porém, relativamente estáveis Do total da população dos seis municípios de alta integração em 2000, 55% eram residentes de Sabará e 22,5% residiam em Esmeraldas. Enquanto Sabará cresceu a 2,8% ao ano, tanto Esmeraldas quanto o conjunto dos outros quatros municípios deste grupo cresceram a uma taxa anual de 7,6% Este grupo apresentou a maior taxa de crescimento no período 1991-00 dentre os grupos de municípios, superando inclusive a taxa do conjunto de municípios de muito alta integração

indicadores de crescimento e peso proporcional na população da RMBH, revelam que o jogo pesado do crescimento demográfico no período analisado foi, de fato, jogado, para baixo, pelo município pólo e, para cima, pelo grupo de alta integração, com destaque para Contagem (crescimento de 2% ao ano), Ibirité, Ribeirão das Neves, Betim e Vespasiano (crescimento de 5% ao ano) Ainda que o crescimento demográfico deste grupo tenha amainado no período 1991-00 em relação à impressionante taxa da década de 1970, o crescimento observado no período 1991-00 pode ser adjetivado de explosivo

3. MIGRAÇÃO Diante destes indicadores, fica evidente que a migração tem um papel de relevo no crescimento diferenciado dos grupos de municípios da RMBH, em particular no crescimento do pólo metropolitano e dos municípios do grupo de alta integração Uma compreensão mais abrangente do processo migratório da RMBH deve mostrar as inter-relações entre esta região com o restante do Brasil, com os municípios do interior de MG e, também, a integração entre os próprios municípios desta área

Os períodos analisados foram 1986-1991 e 1995-2000, mas em relação aos fluxos inter-estaduais, ocorreram poucas alterações Comparando os dois mapas percebe-se que as áreas que enviavam a maior parte dos migrantes para a RMBH eram também as áreas que mais recebiam aqueles que a deixavam, isto é, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e Distrito Federal (exceto como destino). O estado de Goiás se juntou ao rol daquelas que mais enviaram migrantes para a RMBH no período 1995-2000. Houve também um enfraquecimento das entradas de migrantes de áreas com participação expressiva do setor agrícola, como Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Pará.

Apesar da importância dos fluxos populacionais entre a RMBH e o restante do Brasil, a maior parte do intercâmbio migratório se dá com o interior de Minas Gerais (Rigotti e Vasconcellos, 2003): O destaque fica por conta das localidades mais populosas, especialmente as cidades de porte demográfico intermediário, como Montes Claros, ao norte; Governador Valadares, ao leste; Juiz de Fora, no sudeste; Varginha. Mas de maneira geral, observa-se que há uma concentração desses fluxos na porção norte e leste do estado de Minas Gerais.

Em relação aos fluxos daqueles que deixaram a RMBH rumo ao interior do estado, os centros regionais também são os lugares preferenciais dos emigrantes, destacando-se Montes Claros, Uberlândia, Juiz de Fora e Governador Valadares. Entre estes grandes eixos, situa-se um imenso leque de fluxos populacionais, mostrando o forte papel exercido pela RMBH na redistribuição do espaço demográfico mineiro. Desta vez, o leque de movimentos não está tão concentrado no norte e leste, como no caso anterior.

No entanto, estes mapas apresentam alguns espaços pouco densos em relação ao envio e recebimento de migrantes, evidenciando a fraca articulação entre algumas regiões do estado e a RMBH. Na verdade, não se trata de vazios, mas de fluxos de menor porte, como mostra a Figura a seguir. Na verdade, todos os municípios se articulam com a RMBH, formando um centro de gravidade ao seu redor e se espraiando à medida que dele se afasta.

Em relação à interação entre os municípios da própria RMBH, Rigotti e Vasconcellos (2003) já haviam notado que, durante o período 1986-1991, os municípios da RMBH que mais receberam migrantes do restante da região foram, por ordem de magnitude: Contagem (40,4 mil), Ribeirão das Neves (29,5 mil), Betim (23,0 mil), Santa Luzia (17,2 mil), Ibirité (16,2 mil), Belo Horizonte (8,6 mil) e Vespasiano (8,4 mil). Foram portanto, ou municípios com grande participação do setor industrial, ou aqueles com maior oferta de moradias populares.

O maior destaque para Belo Horizonte deve-se ao seu papel de emissor de pessoas para o entorno, haja vista que mais de 120 mil migrantes que mudaram de município no primeiro período saíram da capital (71% do total de pessoas). No período seguinte não ocorreram alterações substanciais e Belo Horizonte continuou sendo o local da maioria dos emigrantes que se dirigiram para o interior da RMBH (140 mil pessoas, que correspondia a 62% do total).

Enfim, nota-se que o pólo, Belo Horizonte, possui um forte intercâmbio com os municípios conurbados e populosos. Por exemplo, Contagem, Ribeirão das Neves e Santa Luzia apresentaram grande inter-relação com a capital, justificando sua categorização entre aqueles de alto grau de integração Aqueles municípios de baixa ou muito baixa integração estão, em geral, na área limítrofe da região metropolitana, são relativamente menos povoados e com maior presença de população rural

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS na década de 1970, quando municípios do entorno, como Ribeirão das Neves, passam por um vertiginoso crescimento populacional, recebendo, em grande parte, os emigrantes da capital. Pode-se dizer que este é um processo inacabado, pois outras localidades, como Esmeraldas, também sofrem um intenso incremento em sua população.

A (re)distribuição da população dentro da área metropolitana é comandada pelos fluxos com a capital. Em um primeiro momento, as áreas mais próximas e receptoras do investimento industrial, como Contagem e Santa Luzia, foram aquelas que mais se interagiam com Belo Horizonte. Outros municípios serviam de residência para os trabalhadores, principalmente da capital, como Vespasiano, além da já citada cidade de Ribeirão das Neves e, mais recentemente, Esmeraldas Somado ao alto crescimento de Betim, especialmente na última década, estes fenômenos resultaram na intensificação entre os fluxos populacionais dos municípios da RMBH, principalmente entre os mais próximos de Belo Horizonte, que também são os mais populosos.