Síndrome de Rowell, uma entidade clínica ou um espectro do lúpus?

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
Acrodermatite Contínua de Hallopeau em paciente com hepatite C
Advertisements

Síndrome Nefrótico Síndrome NEFRÍTICO
Doenças reumatológicas mais frequentes na infância
CEPEM- Centro de Estudos e Pesquisas da Mulher. Rio de Janeiro, Brasil
Eritema-ab-igne: Relato de caso
Nevo conjuntivo zosteriforme: Relato de caso
Siringofibroadenoma écrino: Tumor raro com apresentação exuberante
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO(LES)
Acroceratoelastoidose de ocorrência familial
Miopatias inflamatórias
LÚPUS E SUAS MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS
Incapacidade física e participação social em pessoas acometidas pela hanseníase após alta da poliquimioterapia Igor Eli Balassiano Natalia Regina.
Lupus eritematoso hipertrófico tratado com infiltrações intralesionais
X Insuficiência terapêutica recidiva em hanseníase multibacilar
Penfigoide gestacional: Relato de caso
Mastocitose sistêmica com comprometimento cutâneo
Alopécia neoplásica: Relato de caso
Perfil clínico epidemiológico do vitiligo na criança e adolescente
CREST com boa resposta aos imunossupressores: Relato de caso em homem jovem e negro, com fibrose pulmonar Eduardo Mastrangelo Marinho Falcão Pablo.
Acometimento renal na Síndrome de Sjögren
PODOCITOPATIAS EM PACIENTES COM LUPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO
Envolvimento renal na síndrome antifosfolípide
Discussão Anátomo-Clínica Portal da Sociedade Brasileira de Nefrologia
Glomerulonefrite Anti-MBG
GLOMERULONEFRITE PÓS INFECCIOSA
Lesões sarcoidose-símile na paracoccidioidomicose:
DOENÇA DE CAMISA: uma rara variante da Síndrome de Vohwinkel
HANSENÍASE: casos novos detectados nas sessões de matriciamento em dermatologia na estratégia de saúde da família Caroline Omram Ahmed, Gustavo Amorim,
Síndrome do Anticorpo Antifosfolipídio ou Síndrome de Hughes
Reunião Anatomoendoscópica
Human-Human Hybridoma Autoantibodies with Both Anti-DNA and Rheumatoid Factor Activities Aluna: Paula Fernandes Carneiro Professor: Michel Gantus.
Hanseníase tuberculóide (HTT)
DIPLOPODA Felipe Nazareth Felipe Cupertino Taissa Canedo
Adenomegalias em pediatria: o que fazer?
III Curso de Dermatologia na Atenção Primária à Saúde
Resposta completa a terapia com Octreotato-177Lu em paciente com gastrinoma e múltiplas metástases hepáticas – Relato de caso. Gomes, G.V. ; Souza, D.S.F.;
Desenvolvimento de carcinoma epidermóide em sequela de Hanseniase
ERITEMA NODOSO ATÍPICO X PANICULITE FACTÍCIA: relato de um caso
Psoríase e Doença de Crohn
Paquidermoperiostose primária: relato de um caso
Dr. Fabrício Prado Monteiro Hospital Regional da Asa Sul/SES/DF
LÚPUS DISCÓIDE HIPERTRÓFICO: relato de três casos
PSEUDOTÍNEA AMIANTÁCEA: estudo de 7 casos
VII Sessão Conjunta UERJ-UFRJ Abril
CASO CLÍNICO APRESENTADOR: Tatiana Larissa Medeiros Arcanjo
Manifestações cutâneas na doença mista do colágeno
Referências 1. Batra P, Wang N, Kamino H, Possick P. Linear lichen planus. Dermatol Online J. 2008;14: Kanwar AJ, Handa S, Ghosh S, Kaur S. Lichen.
Lúpus Eritematoso Giselly De Crignis.
Hospital Regional da Asa Sul/SES/DF
Análise crítica da terapia anti-IgE
Paula Miguel Lara -Reumatologia- SCMSP
Doenças autoimunes.
Úlcera de Martorell: Relato de caso
Necrólise epidérmica tóxica com rápida progressão em paciente com SIDA
Hérica Barra de Souza Residente de Reumatologia do Hospital Heliópolis
GERA 06/08/2015 Natalie L. Leal R4 ICESP.
Prof. Dr. José Henrique Pereira Pinto
Polimiosite: Relato de Caso
1 Médica Residente em Clínica Médica do Hospital Regional de Cacoal. 2 Médica dermatologista e Preceptora do Programa de Residência em Clínica Médica do.
CASO CLÍNICO APRESENTADOR: Tatiana Larissa Medeiros Arcanjo
NEUROFIBROMATOSE TIPO 1 – DISCREPÂNCIA CLÍNICA IMAGENOLÓGICA
SÍNDROME DE SJÖGREN Dr. Sergey Lerner UNIVERSIDADE POSITIVO.
Tolerância Imunológica Indivíduos normais – Toleram seus antígenos. Sistema imune não reconhece Ag próprios. Linfócitos que reconhecem antígenos próprios.
Tratamento ambulatorial de pacientes com ferida cirúrgica complexa: coorte histórica * Enfº José Ferreira Pires Júnior Estomaterapeuta TiSobest.
1-INTRODUÇÃO Colelitíase transitória e lama biliar são manifestações não raras em pacientes internados em uso de ceftriaxone. A Ceftriaxona é uma Cefalosporina.
Perfil alimentar de pacientes com doenças bucais: enfoque em lesões cancerizáveis e câncer de boca Ciências Médicas e da Saúde Prockmann, Stephanie*; Piñera,
Granuloma de Majocchi CONCLUSÃO
Transcrição da apresentação:

Síndrome de Rowell, uma entidade clínica ou um espectro do lúpus? Mariana Martins de Mello, Celso Tavares Sodré, Tullia Cuzzi, Thales Pereira de Azevedo, Gustavo Amorim, Camila Marçal de Melo Pinto Serviço de Dermatologia, Curso de Graduação e Pós-Graduação HUCFF-UFRJ, Faculdade de Medicina - Universidade Federal do Rio de Janeiro Ausência de conflito de interesse

INTRODUÇÃO O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é raramente associado com lesões tipo eritema multiforme (EM)1 Em 1963, Rowell e cols. descreveram um subgrupo de quatro pacientes com lúpus eritematoso discóide (LED), que desenvolveram um padrão característico de lesões de EM na pele e um perfil imunológico anormal. As manifestações de sobreposição de lúpus e EM foram posteriormente denominadas síndrome de Rowell (SR) Todos os pacientes apresentavam um padrão imunológico característico que incluía positividade de FAN pontilhado, fator reumatóide (FR) e anticorpos antiRo e antiLa2 Em 2000 Zeitouni e cols. propuseram critérios diagnósticos maiores e menores afim de caracterizar melhor a SR

INTRODUÇÃO Desde 1963, pacientes são relatados na literatura com a SR No entanto, a maioria deles não apresentaram todas as características clínicas e sorológicas descritas primariamente por Rowell Desde então, um novo tipo específico de LE cutâneo (LEC), ou seja, LEC subagudo (LECS) foi identificado, e os critérios diagnósticos, bem como as características clínicas do EM definidos Assim, vários autores têm questionado a existência da SR5

RELATO DE CASO Paciente feminina, 56 anos Com dois meses de aparecimento de máculas eritematosas anulares de cerca de 2 cm de diâmetro, inicialmente pruriginosas, algumas confluindo para placas, acometendo os membros superiores e inferiores, abdome e dorso (Figuras 1 e 2) Clinicamente o centro mais hipercrômico e bordas mais eritematosas sugeriam lesões em alvo de eritema multiforme Nenhum evento precipitante de EM foi identificado

Figura 1: Presença de máculas eritematosas, muitas sugerindo lesões em alvo, em MMSS

Figura 2: Máculas anulares eritematosas, algumas sugerindo lesões em alvo em abdome

RELATO DE CASO Há anos apresenta fenômeno de Raynaud em mãos, livedo reticular em MMII e esclerodactilia Há 1 ano miopatia difusa, e nos últimos 2 meses febre diária, perda ponderal de 22kg, disfagia baixa para sólidos, artrite em punhos e interfalangeanas distais e proximais De história prévia, possui hipotireoidismo auto-imune, em uso de levotiroxina 75mcg Na investigação laboratorial evidenciou-se hemoglobina 9,8, leucócitos 2200, proteinúria, FAN positivo, FR 296, CPK 979, Anti-DNAds 111,45, Anti-Sm positivo, Anti-Ro positivo, Anti-La negativo

RELATO DE CASO A biópsia cutânea de lesão abdominal demostrou dermatite psoriasiforme (discreta) e de interface (focal) com aumento de mucopolissacarídeos dérmicos, compatível com doença do tecido conjuntivo Visto todos os achados, foi firmado o diagnóstico de síndrome de superposição (LES e esclerodermia)

DISCUSSÃO A SR é uma associação clínica única de lúpus eritematoso (LE) com lesões tipo EM e um padrão imunológico característico. A etiopatogenia é desconhecida. Zeitouni e cols. al revisaram os critérios diagnósticos e incluiram 3 critérios maiores: LE (sistêmico, discóide ou subagudo); lesões tipo EM com ou sem envolvimento das mucosas; e padrão pontilhado de FAN; e 3 critérios menores: perniose, anticorpos antiRo ou AntiLa e FR positivo.6 Todos os 3 maiores e pelo menos um dos critérios menores são necessários para o diagnóstico de SR1 Baseado no aspecto clínico de lesões tipo EM sem fatores precipitantes, no diagnóstico de LES, FAN positivo, FR positivo, Anti-Ro positivo e achados de perniose acreditamos que o diagnóstico de nossa paciente seria consistente com a SR, no entanto a histopatologia da lesão foi compatível com LE e não com EM

DISCUSSÃO A SR permanece uma entidade controversa porque é difícil distinguir as lesões de EM de lesões lúpicas clinicamente semelhantes às de EM.4 Devido à semelhança clínica e histológica entre EM e LECS, vários autores sugeriram que a SR deve ser considerada como um dos tipos de lesões do lúpus cutâneo, em vez de uma doença distinta7 O achado histológico de lúpus eritematoso cutâneo em nossa paciente demonstra que a SR e a LECS podem ser doenças sobrepostas ou espectros de uma mesma doença, visto que as lesões de LECS podem se apresentar com morfologia anular e policíclica, principalmente em áreas com fotossensibilidade. Nosso caso, com início de erupção generalizada de lesões cutâneas do tipo EM em portadora de sobreposição de LES e Esclerodermia, em associação com um padrão imunológico complexo, incluindo anti-Ro (SSA), reforçaria a tese de que a SR seja apenas uma variante de manifestação cutânea do lúpus e não uma entidade nosológica que associa LE ao EM com padrão imunológico específico

DISCUSSÃO Além disso, o Ro (SSA) e La (SSB) antígenos, são também os marcadores séricos clássicos de LECS, o perfil imunológico da SR não pode ser considerado único. As lesões de perniose não são uma característica específica da SR, sendo uma das manifestações cutâneas no espectro de LE8 Outro ponto que dificulta a diferenciação entre estas duas entidades está em função das alterações histopatológicas. Como um exemplo, os queratinócitos necróticos podem ser encontrados não só no EM, mas também em lesões cutâneas LECS9 Concluímos que, pelo menos no caso relatado, as lesões tipo EM no LE representaram apenas uma das manifestação ao longo do espectro de processos de interface graves relacionados com o lúpus cutâneo

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Yachoui R, Cronin PM. Systemic lupus erythematosus associated with erythema multiforme-like lesions. Case reports in rheumatology. 2013 Mar; 2013(1):1-3. Antiga E, Caproni M, Bonciani D, Bonciolini V, Fabbri P. The last word on the so-called 'Rowell's syndrome'? Lupus. 2012 Apr; 21:577- 85. Reilly C, Deng A, Wiss K, Belazarian L, Han R. Rowell syndrome in a pediatric patient. J Am Acad Dermatol. 2014 May; AB142. Huynh M, Grove D, Berliner J, Fox L, Rosenblum M, Asch S. Severe cutaneous lupus erythematosus mimicking erythema multiforme: A series of 3 cases. J Am Acad Dermatol. 2014 May; AB119. Shteyngarts AR, Warner MR, Camisa C. Lupus erythematosus associated with erythema multiforme: does Rowell's syndrome exist? J Am Acad Dermatol. 1999 May; 40:773-7. Solanki LS, Dhingra M, Thami GP. Rowell Syndrome. Indian Pediatrics. 2012 Oct; 49:854-5. Yang S, McHargue C. Rowell syndrome: A case of erythema multiforme-like skin lesions in the setting of preexisting subacute cutaneous lupus erythematosus. J Am Acad Dermatol. 2014 May; AB59. Kacalak-Rzepka A, Kiedrowicz M, Bielecka-Grzela S et al. Rowell’s Syndrome in the course of treatment with sodium valproate: a case report and a review of the literature data. Clin Exp Dermatol. 2008; 34:702-4. Zeitouni NC, Funaro D, Cloutier RA et al. Redefining Rowell’s syndrome. Br J Dermatol. 2000; 142:343-4.