DESENVOLVIMENTO E DIGNIDADE HUMANA

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Transcrição da apresentação:

“Não é a falta de alimentos a causa da fome, mas a insuficiência de renda para comprar comida”.

DESENVOLVIMENTO E DIGNIDADE HUMANA Amartya Sen

Vivemos em um mundo de opulência sem precedentes.

O século XX estabeleceu o regime democrático participativo como modelo de organização política.

Os conceitos de direitos humanos e liberdade política hoje são parte da retórica prevalecente.

As pessoas vivem em média muito mais do que no passado.

As regiões do globo estão mais estreitamente ligadas do que jamais estiveram.

Entretanto, vivemos igualmente em um mundo de privação, destituição e opressão extraordinárias...

Existem problemas novos convivendo com os antigos...

... a persistência da pobreza e de necessidades essenciais não satisfeitas, fomes coletivas e fome crônica muito disseminadas...

...violação de liberdades políticas elementares e de liberdades formais básicas...

... ampla negligência diante dos interesses e da condição de agente das mulheres...

...e ameaças cada vez mais graves ao nosso meio ambiente e à sustentabilidade de nossa vida econômica e social.

Superar esses problemas é uma parte central do processo de desenvolvimento.

É importante o reconhecimento simultâneo da centralidade da liberdade individual e da força das influências sociais sobre o grau e o alcance da liberdade individual.

Para combater os problemas que enfrentamos, temos de considerar a liberdade individual um comprometimento social.

A expansão da liberdade é vista, por essa abordagem, como o principal fim e o principal meio do desenvolvimento.

O desenvolvimento consiste na eliminação de privações de liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas de exercer ponderadamente sua condição de agente.

Algumas liberdades instrumentais são cruciais: oportunidades econômicas; liberdades políticas; facilidades sociais; garantias de transparência; e segurança protetora.

Indivíduos vistos como agentes ativos de mudança, e não como recebedores passivos de benefícios...

O desenvolvimento pode ser visto como um processo de expansão das liberdades reais que as pessoas desfrutam.

O enfoque nas liberdades humanas contrasta com visões mais restritas de desenvolvimento, como as que identificam desenvolvimento como o crescimento do Produto Nacional Bruto (PNB), aumento de rendas pessoais, industrialização ou avanço tecnológico.

X

O desenvolvimento requer que se removam as principais fontes de privação de liberdade: pobreza e tirania; carência de oportunidades econômicas e destituição social sistemática; negligência dos serviços públicos; intolerância ou interferência excessiva de Estados opressivos.

Às vezes a ausência de liberdades substantivas relaciona-se diretamente com a pobreza econômica...

... que rouba das pessoas a liberdade de saciar a fome...

... de obter uma nutrição satisfatória ou remédios para doenças tratáveis...

... a oportunidade de vestir-se ou morar de modo apropriado, de ter acesso à água tratada ou saneamento básico.

Em outros casos, a privação de liberdade vincula-se estreitamente à carência de serviços públicos e assistência social, como por exemplo, a ausência de programas epidemiológicos, de um sistema bem planejado de assistência médica e de educação ou de instituições eficazes para a manutenção da paz e da ordem locais.

Ou, ainda, a violação da liberdade resulta diretamente de uma negação de liberdades políticas e civis por regimes autoritários e de restrições impostas à liberdade de participar da vida social, política e econômica da comunidade.

Exercício democrático: o que as pessoas conseguem positivamente realizar é influenciado por oportunidades econômicas, liberdades políticas, poderes sociais e por condições habilitadoras como boa saúde, educação básica e incentivo e aperfeiçoamento de iniciativas.

As disposições institucionais que proporcionam essas oportunidades são ainda influenciadas pelo exercício de liberdades das pessoas, mediante a liberdade para participar da escolha social e da tomada de decisões públicas que impelem o progresso dessas oportunidades.

Entre os desafios cruciais do desenvolvimento inclui-se a necessidade de libertar os trabalhadores de um cativeiro explícito ou implícito que nega o acesso ao mercado de trabalho.

É necessário examinar a persistência de privações entre os segmentos da comunidade que permanecem excluídos dos benefícios da sociedade orientada para o mercado.

A privação da liberdade econômica, na forma de pobreza extrema, pode tornar a pessoa uma presa indefesa na violação de outros tipos de liberdade.

Compreensão mais abrangente de desenvolvimento O processo de desenvolvimento integra as considerações econômicas, sociais e políticas.

Essa abordagem nos permite reconhecer o papel dos valores sociais e costumes prevalecentes, que podem influenciar as liberdades que as pessoas desfrutam e que elas estão certas ao prezar.

Normas comuns podem influenciar características sociais como a igualdade entre os sexos, a natureza dos cuidados dispensados aos filhos, o tamanho da família e os padrões de fecundidade, o tratamento do meio ambiente e muitas outras.

O exercício da liberdade é mediado por valores que, por sua vez, são influenciados por discussões públicas e o exercício democrático da liberdade de participação

Liberdades instrumentais (1) liberdades políticas, (2) facilidades econômicas, (3) oportunidades sociais, (4) garantias de transparência e (5) segurança protetora.

As liberdades não são apenas os fins primordiais do desenvolvimento, mas também os meios principais.

As liberdades instrumentais ligam-se umas às outras e contribuem com o aumento da liberdade humana em geral.

O crescimento econômico não pode sensatamente ser considerado um fim em si mesmo. O desenvolvimento tem de estar relacionado sobretudo a melhora da vida que levamos e das liberdades que desfrutamos.

Formas de privação da liberdade Um número imenso de pessoas em todo o mundo é vítima de várias formas de privação de liberdade. Fomes coletivas continuam a ocorrer em determinadas regiões, negando a milhões a liberdade básica de sobreviver.

Muitas pessoas têm pouco acesso a serviços de saúde, saneamento básico ou água tratada, e passam a vida lutando contra a morbidez desnecessária, com frequência sucumbindo à morte prematura.

Mesmo em países muito ricos, às vezes a longevidade de grupos substanciais não é mais elevada do que em muitas economias mais pobres do chamado Terceiro Mundo.

Além disso, a desigualdade entre mulheres e homens afeta a vida de milhões de mulheres e restringe em altíssimo grau as liberdades substantivas para o sexo feminino.

A um número enorme de pessoas em diversos países do mundo são sistematicamente negados a liberdade política e os direitos civis básicos.

Dois papéis da liberdade Relação de mão dupla: atenta-se para a expansão das “capacidades” das pessoas de levar o tipo de vida que elas valorizam – e com razão. Essas capacidades podem ser aumentadas pela política pública, mas também, por outro lado, a direção da política pública pode ser influenciada pelo efetivo das capacidades participativas do povo.

Ter mais liberdade melhora o potencial das pessoas para cuidar de si mesmas e para influenciar o mundo, questões centrais para o processo de desenvolvimento: “aspecto da condição de agente”.

Rendas e capacidades A privação de capacidades individuais pode estar fortemente relacionada a um baixo nível de renda, relação que se dá em via de mão dupla: (1) o baixo nível de renda pode ser uma razão fundamental de analfabetismo e más condições de saúde, além de fome e subnutrição; e (2) inversamente, melhor educação e saúde ajudam a auferir rendas mais elevadas.

Se nossa atenção for desviada de uma concentração exclusiva sobre a pobreza de renda para a ideia mais inclusiva da privação de capacidade, poderemos entender melhor a pobreza das vidas e liberdades humanas com uma base informacional diferente.

Pobreza e desigualdade Pobreza, para além de baixas rendas, envolve a privação de capacidades básicas: morte prematura, subnutrição, morbidez, analfabetismo...

Liberdade, capacidade e a qualidade de vida A perspectiva baseada na liberdade apresenta uma semelhança com a preocupação com a “qualidade de vida”, a qual também se concentra no modo como as pessoas vivem (talvez mesmo nas escolhas que têm) e não apenas nos recursos ou na renda que elas dispõem.

Valores e processos de valoração A liberdade política reside na oportunidade que ela dá aos cidadãos de debater sobre valores na escolha de prioridades e de participação da seleção desses valores = compreensão cooperativa de problemas e soluções.

Como a participação requer conhecimentos e um grau de instrução, negar a oportunidade da educação escolar a qualquer grupo é imediatamente contrário às condições fundamentais de liberdade.

Quando nos concentramos nas liberdades ao avaliar o desenvolvimento não estamos dizendo que exista um “critério único” de desenvolvimento, a partir do qual as experiências podem ser medidas e ordenadas. A motivação que fundamenta a abordagem do “desenvolvimento como liberdade” não consiste em ordenar todos os Estados.

Os papéis constitutivo e instrumental da liberdade A liberdade é considerada (1) o fim primordial e (2) o principal meio do desenvolvimento. Respectivamente, papel constitutivo e papel instrumental da liberdade.

Papel constitutivo: importância das liberdades substantivas (condições de evitar privações de fome, subnutrição, morbidez evitável e morte prematura), bem como liberdades associadas de saber ler, fazer cálculos, ter participação política e liberdade de expressão. Papel instrumental: diferentes tipos de liberdade apresentam inter-relação entre si, e um tipo de liberdade pode contribuir para promover liberdades de outros tipos.

Democracia e incentivos políticos A liberdade política na forma de disposições democráticas ajuda a salvaguardar a liberdade econômica (especialmente a liberdade de não passar fome extrema) e a liberdade de sobreviver (à morte pela fome).

O principal impacto do crescimento econômico depende muito do modo como seus frutos são aproveitados.

Pobreza como privação de capacidades A pobreza deve ser vista como a privação das capacidades básicas em vez de meramente como baixo nível de renda, que é critério tradicional de identificação da pobreza.

A relação instrumental entre baixa renda e baixa capacidade é variável entre comunidades e até mesmo entre famílias e indivíduos.

Exemplos: Capacidade afetada pela idade, pelos papéis sexuais e sociais, pela localização onde reside, pelas condições epidemiológicas e por outras variações sobre as quais uma pessoa pode não ter controle ou ter um controle limitado.

É fundamental compreender que a expansão das capacidades e das liberdades das pessoas constitui-se no fim primordial do processo de desenvolvimento.

As relações instrumentais (provisão de saúde, educação, segurança social), por mais importantes que sejam não podem substituir essa compreensão.

O desenvolvimento é essencialmente um processo de expansão das liberdades de que as pessoas desfrutam.

Giana Diesel Sebastiany Elaboração: Giana Diesel Sebastiany Maio de 2013