DOR ABDOMINAL – UMA ETIOLOGIA A NÃO ESQUECER

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Transcrição da apresentação:

DOR ABDOMINAL – UMA ETIOLOGIA A NÃO ESQUECER Caso clínico Eusébio M.1, Abreu R.2, Pinto C.T.3, Sousa A.L.1 , Antunes A.G.1, Vaz A.M.1, Queirós P.1, Caldeira P.1, Guerreiro H.1 1Serviço de Gastrenterologia, 3Serviço de Medicina Interna 1, Centro Hospitalar do Algarve, EPE 2Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Hospital de Santa Marta, Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE

IDENTIFICAÇÃO Nome: E.G.S Sexo: masculino Idade: 54 anos Raça: branca Naturalidade: Olhão Residência: Olhão Estado civil: casado Profissão: Pintor de automóveis

ANTECEDENTES PESSOAIS: FAMILIARES: Hipertensão arterial essencial Hipertrigliceridemia Intolerância à glicose sob controlo dietético Hábitos alcoólicos de 30g/dia Tabagismo cessado (60UMA) Sem cirurgias prévias Medicação crónica: losartan 50 mg/dia, carvedilol 25 mg/dia, fenofibrato 145 mg/dia FAMILIARES: Sem antecedentes familiares de relevo

HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL Epigastralgia com 5 meses de evolução Sem irradiação Intermitente Exacerbada pela ingesta Agravamento progressivo Anorexia não seletiva e emagrecimento de 17Kg (>10% do peso) Vómitos biliosos esporádicos Períodos autolimitados de diarreia, sem sangue Epigastralgia Epigastralgia e emagrecimento > 10% 5 meses Domperidona Butilescopolamina Ibuprofeno Metamizol magnésico Tramadol SOS Pantoprazol

EXAME OBJETIVO IMC = 18 Kg/m2 Corado, hidratado, anictérico Abdómen não distendido, com ruídos hidro-aéreos normais, dor à palpação profunda no epigastro, sem sinais de irritação peritoneal, sem massas ou organomegalias palpáveis

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL EPIGASTRALGIA INTENSA PERDA PONDERAL ÚLCERA PÉPTICA PANCREATITE CRÓNICA NEOPLASIA DO TUBO DIGESTIVO/PÂNCREAS ANGINA MESENTÉRICA Ingestão de raticida

EXAMES COMPLEMENTARES DE DIAGNÓSTICO EXAMES INICIAIS Hb 14,6 g/dL Creatinina 0,55 mg/dL GGT 38 UI/L VGM 88 fL Na+ 136 mmol/L INR 1,2 Leucócitos 8 500/uL K+ 3,94 mmol/L Glicemia 115 mg/dL Neut./Linf. 65,7%/22% Cl- 99 mmol/L TG 158 mg/dL Plaquetas 259 000/uL AST/ALT 14 / 19 UI/L Col T. 170 mg/dL PCR 9 mg/L Bilirrubina T. 1,1 mg/dL C- HDL 55 mg/dL BUN 15 mg/dL FA 80 U/L C-LDL 94 mg/dL Eletrocardiograma: sem alterações

EXAMES COMPLEMENTARES DE DIAGNÓSTICO ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA Esófago e estômago: sem lesões Duodeno: úlcera de 10 mm na face anterior do bulbo úlcera com 12 mm na segunda porção duodenal EXAME ANATOPATOLÓGICO Mucosa duodenal sem alterações significativas Helicobacter pylori +

EXAMES COMPLEMENTARES DE DIAGNÓSTICO COLONOSCOPIA Discretas erosões aftóides no íleon e cólon direito EXAME ANATOPATOLÓGICO Alterações inflamatórias inespecíficas

TRATAMENTO E EVOLUÇÃO Suspensos anti-inflamatórios Inibidor da bomba de protões Erradicação de Helicobacter pylori Epigastralgia Epigastralgia e emagrecimento > 10% Claudicação intermitente

EXAMES COMPLEMENTARES DE DIAGNÓSTICO TOMOGRAFIA COMPUTORIZADA ABDOMINOPÉLVICA Aterosclerose difusa, exuberante na emergência da artéria mesentérica superior

EXAMES COMPLEMENTARES DE DIAGNÓSTICO TOMOGRAFIA COMPUTORIZADA ABDOMINOPÉLVICA Aterosclerose difusa, exuberante na emergência da artéria mesentérica superior

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ANGINA MESENTÉRICA Submetido a angiografia via umeral, sob anestesia local: Oclusão de um tronco comum celíaco-mesentérico Oclusão crónica da aorta abdominal infra-renal e da a. mesentérica inferior Angioplastia com stenting primário (Omega 4,5x 20mm) na origem comum celíaco-mesentérica Medicado com aspirina 100mg, clopidogrel 75mg

EVOLUÇÃO Regressão total das queixas Controlo dos fatores de risco Programado bypass aorto-bifemoral Ecocardiograma sem alterações Avaliação de restantes territórios vasculares Estenose moderada (50-70%) da artéria carótida interna esquerda; provável oclusão na carótida comum direita

EVOLUÇÃO

EVOLUÇÃO

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO ANGINA MESENTÉRICA Idade > 60 anos Diagnóstico em média 1,5-2 anos após início dos sintomas Lenta progressão da doença e riqueza de vasos colaterais Tríade dor pós-prandial + perda ponderal + “medo” de comer Consequências clínicas significativas e potencialmente fatais

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO ANGINA MESENTÉRICA Interesse do caso Tronco arterial comum celíaco-mesentérico, variante anatómica rara Quadro exuberante com evolução rapidamente progressiva Idade mais jovem que a habitual Aterosclerose difusa marcada Entidade bem descrita na Literatura mas rara RELEMBRAR ESTA ENTIDADE NO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE DOR ABDOMINAL CRÓNICA SOBRETUDO NO CONTEXTO DE DOENÇA ATEROSCLERÓTICA AVANÇADA

Obrigada