Considerações sobre Sementes Crioulas na Produção Orgânica

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
UMA POLÍTICA NACIONAL DE FOMENTO AO COMÉRCIO JUSTO E SOLIDÁRIO
Advertisements

Inscrição de Viveiros de Mudas de Seringueira
SEMINÁRIO: POLÍTICAS PÚBLICAS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA
Como deve ser desenvolvido um plano de trabalho futuro considerando:
Atenção ao Servidor Recife julho/2011
I Curso de Nivelamento em Manejo de Sementes Florestais
I Curso de Nivelamento em Manejo de Sementes Florestais
9. TRANSGÊNICOS São organismos que, mediante técnicas de engenharia genética, contêm materiais genéticos de outros organismos. A geração de transgênicos.
LOGÍSTICA Operador Logístico.
“PATRIMÔNIO INTANGÍVEL E A DINÂMICA CULTURAL CAIÇARA”
Fortalecimento da Tecnologia da Agropecuária
SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO AGROPECUÁRIO E COOPERATIVISMO – SDC
TÍTULO Plano Safra Cuidados para não perder a cobertura do SEAF.
Aldilene Silva Célia Regina Daniela Alencar Maria do Socorro
C&T e Inovação: marco legal e reforma institucional Uma Agenda para São Paulo Carlos Américo Pacheco Campinas, 10 de maio de 2007.
Papel de Coordenadores e Técnicos na Execução das Ações no PBSM.
Projeto “Articulação para a geração e transferência de tecnologia, produtos e serviços, de base ecológica, para o desenvolvimento endógeno do Território.
LOGÍSTICA DE SUPRIMENTOS
AGRICULTURA FAMILIAR AGRICULTURA FAMILIAR NO BRASIL NO RS
SECRETARIA DA INFRA-ESTRUTURA
Participativo de Garantia
enquadramento de corpos de água
TEMA – 1- OS ESPAÇOS PARA VENDA DIRETA DE ORGÂNICOS EM SÃO PAULO
SISTEMA DE PRONTUARIO SOCIAL INTEGRADO (SPSI)
Histórico Até 2003 Projetos de Financiamento pelo PRONAF Cama e Café
SERVIÇOS AMBIENTAIS DAS TERRAS INDÍGENAS – MEIOS DE COMPENSAÇÃO
AGRICULTURA FAMILIAR, EVOLUÇÃO DA ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL NO BRASIL FISENGE - Salvador/BA 06 de novembro de 2009.
Passo-a-passo para compra e venda
GT BENS FINAIS NANOTECNOLOGIAS EXPECTATIVA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA.
PLANOS DE GERENCIAMENTO INTEGRADO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
José Alberto Ribeiro Carvalho
SIGEC – SISTEMA INTEGRADO DE GESTÃO DE EVENTOS E CURSO
MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO
Brasília, agosto de 2012 PRONATEC CAMPO Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA.
EIXO - 02 – SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO, CULTURA E ECONOMIA SOLIDÁRIA: PERSPECTIVAS PARA UM OUTRO MODELO DE DESENVOLVIMENTO. Utopia Concreta1 –
GRUPOS AGÊNCIAS DE FOMENTOS Conquistas: Processo histórico de maior participação dos trabalhadores (as); Aumento de parcerias com o poder público; Ampliação.
1 Análise comparativa entre Agro negócio e Agrossustento Pesquisas do setor privado Domínio de corporações Monopólio de patentes Controle da base biológica.
1 INSTITUTO SOLON TAVARES PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO INSTITUCIONAL GRUPO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 2007.
André Felipe C. P. da Silva
Segurança alimentar e mercados institucionais
Lei , de 11 de janeiro de 2010 Assistência Técnica e Extensão Rural para Agricultura Familiar e Reforma Agrária.
Plano Nacional de Assistência Técnica e Extensão Pesqueira e Aqüícola
De forma participativa é possível começarmos a resolver os problemas ambientais, sociais e econômicos do nosso país, da nossa região, da nossa cidade ,
PLANO DE TRABALHO FUTURO. Princípios da integração Pesquisa/ATER/AF Desenvolvimento Rural Sustentável; Gestão democrática e participativa ; Respeitar.
Simpósio Brasileiro sobre Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos
Auditoria e Acompanhamento.
TRÂMITE PROVIDÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E TOMADA DE CONTAS ESPECIAL
OFICINA DE DIVULGAÇÃO DO GHS A implantação do GHS na Indústria Química
Atuação dos agentes de Controle Social
ATER MARCO LEGAL.
Planejamento Urbano e Plano Diretor
P lantas Medicinais e Fitoterápicos: uma resposta nacional Curitiba, março de 2006 COP 8 - CDB Articulação Pacari.
PRODUTOR DE SEMENTES COMO EVITAR AUTUAÇÕES DOS ÓRGÃOS DE FISCALIZAÇÃO
PNGATI e Segurança Alimentar Segurança Alimentar e Nutricional na Amazônia Junho de 2015 Juan F. Negret Scalia CGETNO/FUNAI.
Legislação do Setor de Sementes e Mudas Florestais no Brasil
PLANO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA UNIDADE FAMILIAR
Profa. Dra. Renata Medici UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS ENGENHARIA AMBIENTAL GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS.
PROPOSTA DE METODOLOGIA PARA UMA MATRIZ ENERGÉTICA REGIONAL.
A EXPERIÊNCIA DA REDE ECOVIDA DE AGROECOLOGIA
A definição da agricultura familiar como público estratégico e prioritário vem seguido de uma serie de elementos norteadores das ações: O enfoque sistêmico.
COMPRAS 0122.
Mecanismos de Garantia da Produção Orgânica no Brasil Miriam Ester Soares Bióloga MSc em Educação Coordenadora da Comissão da Produção Orgânica CPOrg/MG.
AGRICULTURA FAMILIAR ALIMENTAÇÃO ESCOLAR. O encontro da AGRICULTURA FAMILIAR ALIMENTAÇÃO ESCOLAR 47 milhões de alunos da educação básicaeducação básica.
AUDIÊNCIA PÚBLICA: Política de Defesa Agropecuária no Brasil: Defesa agropecuária e integração dos entes da federação e Sistema Unificado de Atenção à.
PROGRAMA DE AGROINDUSTRIALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR LEGISLAÇÃO SANITÁRIA.
Evolução do Sistema de Avaliação da Educação Superior Brasília - maio de 2014 João Carlos Pereira da Silva Presidente da CONAES.
SISTEMA CONTAG DE ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO – SEC. DE POLÍTICA AGRÍCOLA - CONTAG –- 1 SISCOP SISCOP.
Formação de Agentes de ATER. Assistência Técnica e Extensão Rural - ATER: serviço de educação não formal, de caráter continuado, no meio rural, que promove.
A ESTRUTURA DO SETOR PÚBLICO
“Indicações Geográficas como ferramenta para o desenvolvimento regional” Coordenação de Incentivo a Indicação Geográfica de Produtos Agropecuários Departamento.
Transcrição da apresentação:

Considerações sobre Sementes Crioulas na Produção Orgânica Caminhos para a construção de uma Política Nacional de apoio às Sementes Crioulas e Orgânicas Considerações sobre Sementes Crioulas na Produção Orgânica

Sementes para a Produção Orgânica A legislação da Produção Orgânica nos impõe algumas necessidades: Sementes e mudas deverão ser oriundas de Sistemas Orgânicos de Produção. Está prevista uma exceção, quando os organismos de avaliação de conformidade (certificadoras e sistemas participativos de garantia) constatarem a falta ou inadequação ecológica. A exceção contudo, somente pode ser adotada até o dia 22/10/2013 (5 anos da publicação da IN 64)

Haverá abastecimento? Em 2003, o MAPA fez um levantamento junto às associações, certificadoras e sistemas participativos de garantia e apurou que, no Brasil, havia 850.000 ha em manejo orgânico. Considerando uma taxa média de crescimento de 7 % ao ano, a área poderá dobrar, até 2013 (10 anos). Hoje já se verifica a falta de sementes em quantidade suficiente: o que é feito para suprir a demanda futura?

Plano B Do ponto de vista legal, havendo desabastecimento, os atores da rede de produção orgânica poderão solicitar a dilação do prazo por mais n anos a exemplo do que se fez com o artigo 115 do Decreto 6.323/2007, através do Decreto 7.048/2009. Implicação 1: quem investiu na produção de material de multiplicação, até por incentivo dos órgãos oficiais como o MAPA, terá um cenário diferente do projetado quando da tomada de decisão. Implicação 2: o princípio estabelecido na IN 64 (sementes orgânicas para a produção orgânica) não será atendido: se nada for feito vamos perpetuar a exceção?

Desabastecimento O desabastecimento será total ou parcial? Faltará quantidade de sementes ou qualidade? As variedades disponíveis terão sido selecionadas, ou serão adaptadas para os sistemas orgânicos nos diferentes ambientes de produção? O tempo necessário para o desenvolvimento de um cultivar com a qualidade necessária pode superar os dez anos, ao selecionar características como: Adaptação ecológica Produtividade Aceitação dos consumidores Resistência a pragas e doenças

Possível solução: Abastecimento das necessidades por meio de cultivares crioulas, locais ou tradicionais*, porque: São cultivares já disponíveis Já sofreram processo de selecão Já são adaptadas às condições locais *O regulamento da Lei n.° 10.711/2003, aprovado pelo Decreto n.° 5.153/2004 os define como os produzidos, adaptados ou desenvolvidos por agricultores familiares, assentados da reforma agrária ou grupos indígenas.

Características dos cultivares crioulos São dispensados do registro no RENASEM (registro nacional de sementes e mudas) Não se sujeitam às regras de proteção de cultivares ou de padrões de identidade e qualidade Podem ser utilizados indefinidamente pelos agricultores Podem ser cadastradas no Registro Nacional de Cultivares – RNC e ter acesso ao mercado de sementes Para isso, é necessário o investimento significativo em pesquisa e testes para definição de valor de cultivo e uso (VCU)

Utilização dos cultivares crioulos, tradicionais e locais Podem ser utilizados e ser reconhecidos em programas de crédito e seguro rural desde que cadastrados no Cadastro Nacional Portaria n.° 51 /2007 do MDA (institui o Cadastro Nacional de Cultivares Locais, Tradicionais e Crioulos) Não garante o direito à posse do cultivar Não sujeita o cultivar à patente ou proteção O cultivar inscrito no Cadastro Nacional é um patrimônio sócio-cultural da comunidade

Cadastramento de Entidade Comprovar 2 anos de existência legal Desenvolver, pelo menos, duas atividades de resgate, manejo e/ou conservação de cultivares Designar técnicos com formação acadêmica em ciências agrárias ou outras áreas relacionadas aos trabalhos com cultivares e experiência no resgate e manejo de cultivares locais, tradicionais ou crioulas para levantamento das informações, responsabilizando-se pelas informações prestadas

Cadastramento de Cultivar desenvolvida, adaptada ou produzida por agricultores familiares, assentados da reforma agrária, povos e comunidades tradicionais ou indígenas características fenotípicas bem determinadas e reconhecidas pelas respectivas comunidades utilização pelos agricultores em uma dessas comunidades há mais de três anos não seja oriunda de manipulação por engenharia genética nem outros processos de desenvolvimento industrial ou manipulação em laboratório, não contenha transgenes e não envolva processos de hibridação que não estejam sob domínio das comunidades locais de agricultores familiares.

Entidades cadastradas

Cultivares registrados

O estoque de cultivares disponíveis é suficiente para suprir as necessidades dos sistemas de produção de base ecológica? Sim: Como ampliar o acesso dos agricultores às sementes? Não: Há necessidade da criação de um programa de seleção de novas variedades a partir de protocolos de produção baseados nos princípios da Produção Orgânica. Neste caso: é necessário localizar novas fontes de material genético

Ampliar o acesso às sementes Difundir e apoiar o trabalho das redes de troca de sementes Difundir a metodologia do trabalho que vem sendo executado com sucesso, com respeito à sua diversidade Identificar os programas existentes e ampliar sua abrangência SAF/MDA destina recursos para: ATER: formação de técnicos e agricultores Apoio às feiras de trocas Investimentos Realizar investimentos produtivos no setor Não atrapalhar: evitar centralização e burocracia excessiva Envolver novos produtores na manutenção e manipulação dos cultivares

Justificativa do Investimento Público Os cultivares crioulos, tradicionais e locais são patrimônio da humanidade: Derivam de variedades submetidas a processo de seleção durante séculos; Quantidade de trabalho humano empregado lhe confere alto valor agregado, não reconhecido comercialmente; Atendem aos princípios da Produção Orgânica: São adaptadas às condições de solo e clima Apresentam diversidade biológica Resistência à pragas e doenças Acesso e auto-suficiência das comunidades

Ações Possíveis Ampliar o resgate de cultivares Identificar e solucionar os problemas de acesso ao Cadastro Nacional Há poucos cultivares e instituições cadastradas Apoiar as iniciativas: Fluxo de materiais de multiplicação Fluxo de informações sobre os cultivares Identificar as demandas a partir do diálogo com seus atores (diagnóstico participativo)

Encaminhamentos Estabelecer um cadastro nacional informal? Levantamento das necessidades de sementes junto às entidades que acompanham a Produção Orgânica Certificadoras Sistema Participativos de Garantia Associações de Produtores Organismos de Controle Social (venda direta sem certificação) Delinear ações de seleção de cultivares Definição de procedimentos a serem adotados em iniciativas pontuais, solidárias e coordenadas em rede Sem direito à posse Sem centralização Estabelecer políticas de proteção aos centros de origem e manutenção Testes de desempenho e adaptabilidade Resgate da diversidade Mecanismos de financiamento público Estabelecer um cadastro nacional informal?

Marcelo Laurino Comissão da Produção Orgânica / SP SFA/SP/MAPA