Antropologia: uma abordagem no contexto das Ciências Humanas e Sociais

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Transcrição da apresentação:

Antropologia: uma abordagem no contexto das Ciências Humanas e Sociais Web Aula 4 Fundamentos das Ciências Sociais professor; Luciano Stodulny Email; stodulny@hotmail.com

Antropologia (do grego άνθρωπος, transl Antropologia (do grego άνθρωπος, transl. anthropos, "homem", e λόγος, logos, "razão"/"pensamento") é a ciência preocupada em estudar o homem e a humanidade de maneira totalizante, ou seja, abrangendo todas as suas dimensões. A divisão clássica da Antropologia distingue a Antropologia Cultural da Antropologia Biológica.

Divisões e campo A Antropologia, sendo a ciência da humanidade e da cultura, tem um campo de investigação extremamente vasto: abrange, no espaço, toda a terra habitada; no tempo, pelo menos dois milhões de anos, e todas as populações socialmente organizadas. Divide-se em duas grandes áreas de estudo, com objetivos definidos e interesses teóricos próprios: a Antropologia Física (ou Biológica) e a Antropologia Cultural, que se centram no desejo do homem de conhecer a sua origem, a capacidade que ele tem de se conhecer, nos costumes e no instinto.

Antropologia Física

Antropologia Cultural

História da Antropologia A construção do olhar antropológico e seus principais debates. Embora a grande maioria dos autores concorde que a antropologia se tenha definido enquanto disciplina só depois da revolução Iluminista, a partir de um debate mais claro acerca de objecto e método, as origens do saber antropológico remontam à Antiguidade Clássica, atravessando séculos. Sempre que o ser humano pensou sobre si mesmo e sobre as suas relações com "o outro", pensou antropologicamente.

A antropologia evolucionista Marcada pela discussão evolucionista, a antropologia do Século XIX privilegiou o Darwinismo Social, que considerava a sociedade europeia da época como o apogeu de um processo evolucionário, em que as sociedades aborígenes eram tidas como exemplares "mais primitivos". Esta visão usava o conceito de “civilização” para classificar, julgar e, posteriormente, justificar o domínio de outros povos. Esta maneira de ver o mundo a partir do conceito civilizacional de superior, ignorando as diferenças em relação aos povos tidos como inferiores, recebe o nome de etnocentrismo. É a «Visão Etnocêntrica», o conceito europeu do homem que se atribui o valor de “civilizado”, fazendo crer que os outros povos, como os das Ilhas da Oceania estavam “situados fora da história e da cultura”. Esta afirmação está muito presente nos escritos de Pauw e Hegel.

Método O método concentrava-se numa incansável comparação de dados, retirados das sociedades e dos seus contextos sociais, classificados de acordo com o tipo (religioso, de parentesco, etc), determinado pelo pesquisador, dados que lhe serviriam para comparar as sociedades entre si, fixando-as num estádio específico, inscrevendo estas experiências numa abordagem linear, diacrónica, de modo a que todo o costume representasse uma etapa numa escala evolutiva, como se o próprio costume tivesse a finalidade de auxiliar esta evolução. Entendiam os evolucionistas que os costumes se demarcavam como substância, como finalidade, origem, individualidade e não como um elemento do tecido social, interdependente de seu contexto.

Pensadores Apesar de a maior parte dos evolucionistas terem trabalhado em gabinetes, um dos mais conhecidos pensadores dessa corrente, Lewis Henry Morgan, tinha contacto com diversas tribos do norte dos Estados Unidos. É absurdo creditar a autores dessa corrente uma compilação cega das culturas humanas. Isso seria uma simplificação enorme, ao mesmo tempo que se deixaria de aproveitar esses estudos clássicos da Antropologia.

Debates pós-modernos Na década de 80, o debate téorico na Antropologia ganhou novas dimensões. Muitas críticas a todas as escolas surgiram, questionando o método e as concepções antropológicas. No geral, este debate privilegiou algumas idéias: a primeira delas é que a realidade é sempre interpretada, ou seja, vista sob uma perspectiva subjetiva do autor, portanto a Antropologia seria uma interpretação de interpretações. Da crítica das retóricas de autoridade clássicas, fortemente influenciada pelos estudos de Foucault, surgem metaetnografias, ou seja, a análise antropológica da própria produção etnográfica. Contribuiu muito para esta discussão a formação de antropólogos nos países que então eram analisados apenas pelos grandes centros antropológicos.

Ideias centrais na Antropologia pós-moderna Privilegia a discussão acerca do discurso antropológico, mediado pelos recursos retóricos presentes no modelo das etnografias. Politiza a relação observador-observado na pesquisa antropológica, questionando a utilização do "poder" do etnógrafo sobre o "nativo". Crítica dos paradigmas teóricos e da “autoridade etnográfica” do antropólogo. A pergunta essencial é:'quem realmente fala em etnografia? O nativo? Ou o nativo visto pelo prisma do etnógrafo? A etnografia passa a ser desenvolvida como uma representação polifónica da polissemia cultural, e nela deveriam estar claramente presentes as vozes dos vários informantes.

A antropologia estrutural A Antropologia estrutural nasce na década de 1940. O seu grande teórico é Claude Lévi-Strauss. Centraliza o debate na ideia de que existem regras estruturantes das culturas na mente humana, e assume que estas regras constroem pares de oposição para organizar o sentido. Para fundamentar o debate teórico, Lévi-Strauss recorre a duas fontes principais: a corrente psicológica criada por Wilhelm Wundt e o trabalho realizado no campo da linguística, por Ferdinand de Saussure, denominado Estruturalismo. Influenciaram-no, ainda, Durkheim, Jakobson (teoria linguística), Kant (idealismo) e Marcel Mauss.

Para a Antropologia estrutural as culturas definem-se como sistemas de signos partilhados e estruturados por princípios que estabelecem o funcionamento do intelecto. Em 1949 Lévi-Strauss publica "As estruturas elementares de parentesco", obra em que analisa os aborígines australianos e, em particular, os seus sistemas de matrimônio e parentesco. Nesta análise, Lévi-Strauss demonstra que as alianças são mais importantes para a estrutura social que os laços de sangue. Termos como exogamia, endogamia, aliança, consanguinidade passam a fazer parte das preocupações etnográficas.

CULTURA & SÍMBOLO CLAUDE LÉVI-STRAUSS “Qualquer cultura pode ser considerada como um conjunto de sistemas simbólicos na primeira fila dos quais se colocam a linguagem, as relações de parentesco, as relações económicas, a arte, a ciência e a religião” “Introdução à obra de Marcel Mauss”

“sistema complexo que engloba conhecimento, crença, arte, moral, leis, costumes¸ hábitos e muitas outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade.” Primitive Culture (1871)

SÍMBOLO “O homem vive num universo simbólico. A linguagem, o mito, a arte e a religião constituem partes deste universo. (…) O homem já não pode defrontar imediatamente a realidade; não pode vê-la, por assim dizer, face a face. A realidade física parece recuar na proporção em que a actividade simbólica do homem avança. (…) Razão é um termo muito inadequado para incluir as formas da vida cultural do homem em toda a sua riqueza e variedade. Mas todas estas formas são formas simbólicas. Por isso, em vez de definir o homem como animal rationale, devemos defini-lo como animal symbolicum. (…) Sinais e símbolos pertencem a dois universos de discurso diferentes; um sinal faz parte do mundo físico do ser; um símbolo faz parte do mundo humano do significado (…); os símbolos só têm um valor funcional” Cassirer, An Essay on Man

JANE GOODALL

CULTURA Utensílios/técnica/pedra (=> fogo; agricultura; domesticação de animais),… Sentimento da Morte (sofrimento; “sepulturas”; mistério) Versatilidade ambiental (sedentarismo) Universo onírico (“mundo dos dos sonhos” - “mundos paralelos” - valor do imaginário). Comunicação: Linguagem - gramática “escrita/sinais” simbólicos Valores religiosos (xamanismo, culto dos antepassados, animismo, “espaços privilegiados”; totemismo); fé=esperança; “eficácia simbólica”; “lendas & mitos”; ligação “religião/arte/magia” Sociabilidade/Poder Valores sociais; relação de troca (dom/”potlatch”); relações económicas; relações de poder Valores morais (“colocar-se no lugar do outro” - sentimento de afecto - empatia); “presentes” Intencionalidade (“ter intenções, projectos”) curiosidade; “aceitação”; ócio; valores cognitivos (ex.medicina) Valores estéticos (“arte corporal”, “objectos de adorno”; música…); vestuário; arte parietal; esculturas - “fertilização” Memória autobiográfica; “identificação pelo rosto” Sistemas de comédia e de ironia (riso) Relações de parentesco (“matriarcado”); exogamia Violência intra-específica (≠ agressividade)

ALTERNATIVA T.S.Eliot, Notes towards the definition of culture ”Podemo-nos perguntar se aquilo a que chamamos cultura e aquilo a que chamamos religião de um povo não serão dois aspectos diferentes da mesma realidade, sendo a cultura, por assim dizer, essencialmente a incarnação da religião de um povo.” T.S.Eliot, Notes towards the definition of culture

HIPÓTESE Todo o conjunto de valores, normas e utensílios que passa de geração para geração unicamente através da aprendizagem, no âmbito de uma estrutura social.

TOYNBEE “Sociedade é a rede total de relações entre seres humanos (…) Cultura como sendo o conjunto de regularidades no comportamento, interno e externo, dos membros de uma sociedade, excluindo aquelas regularidades que têm uma origem claramente hereditária (…) Civilização, estado da sociedade possuindo unidade histórica e cultural, no qual é possível discernir uma visão coerente do mundo” 1889-1975 A Study of History

Questão discursiva: 1. Veja os quadrinhos abaixo e responda as questões apresentadas: Enunciado de maneira menos formal, etnocentrismo é o hábito de cada grupo de tomar como certa a superioridade de sua cultura. “Todas as sociedades conhecidas são etnocêntricas”. “A maioria dos grupos, senão todos, dentro de uma sociedade, também é etnocêntrica”. “Embora o etnocentrismo seja parcialmente uma questão de hábito, é também um produto de cultivo deliberado e inconsciente. A tal ponto, somos treinados para sermos etnocêntricos que, dificilmente, qualquer pessoa consegue deixar de sê-lo”. Fonte: HORTON, P. B. & HUNT, C. L. Sociologia. Tradução de Auriphebo Berrance Simões. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1982. p. 46-47. a) A partir das informações prestadas e da leitura dos textos sugeridos, responda, se, de acordo com a história em quadrinhos protagonizada por Hagar e seu filho Hamlet, pode-se afirmar que a postura de Hagar é etnocêntrica ou relativista? Justifique. b) Pode-se afirmar que “é impossível não sermos etnocêntricos”. Justifique.

Questão de múltipla escolha: O professor de Sociologia, ao entrar na sala de aula, encontrou um grupo de alunos numa calorosa discussão sobre cultura. Aproveitando o interesse pelo tema, organizou um debate, no qual ficaram evidenciadas várias formas de entender o que é cultura. Algumas estão destacadas abaixo. Na perspectiva da sociologia crítica, qual a afirmação que MELHOR representa o que é cultura? Cultura é a leitura de muitos livros; é estudar bastante, é o saber lidar com muita coisa. (aluna Mara); Quando uma pessoa é bem educada a gente diz: Que culta! Então, cultura é uma boa educação, é tratar bem as pessoas, é escrever e falar corretamente. (aluna Sandra); A cultura é aquilo que a gente sabe, é aquilo que a gente faz… portanto, todas as pessoas têm cultura. (aluno Carlos); Marcos não tem muita cultura, porque só cursou às séries inicias do ensino fundamental. (aluno Eduardo); Cultura verdadeira é aquela que sabe reconhecer o que é uma boa música, um bom vinho e um bom livro.